Dez livros para entender o século XXI (parte II)

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Conforme comentado na matéria anterior (veja ao lado), esta lista é composta de dez livros – mas o autor desta matéria se permite alguns acréscimos. A idéia original era compilar uma lista independente de tamanho. A relação passava de 50 livros, mas este espaço se pretende sucinto (sem perder a profundidade do conteúdo, claro). Daí a redução para dez…

… e um adendo especial com dois livros de brinde para o leitor. O primeiro, indicado pelo colega de Webinsider Fernando Villela; o segundo, lançamento recentíssimo, que chegou às livrarias no dia 28 de janeiro de 2002. Ambos indispensáveis. Com vocês, a lista.

Estratégia da Decepção (Paul Virilio). Considerado um “inimigo ideológico” de Pierre Lévy pela mídia (embora ambos não respondam a essas provocações), Virilio não compartilha da visão quase–utópica de Lévy. Este livro (junto com A Arte do Motor e Velocidade e Política) traça um panorama bastante interessante do que os governos fazem com os meios de comunicação para estabelecer e reiterarem sua dominação. Este livro é particularmente interessante porque se volta para a questão dos Bálcãs e da guerra da Bósnia, e da responsabilidade que governos como o dos EUA e organismos como a ONU tinham sobre a região – assuntos que voltaram à ordem do dia depois da crise de 11 de setembro nos Estados Unidos.

Microfísica do Poder (Michel Foucault). Todo estudante de Comunicação Social com mais de trinta anos certamente leu este livro, uma coletânea de ensaios do filósofo francês sobre mecanismos de controle e vigilância. Juntamente com Vigiar e Punir, este livro merece atenção redobrada nos dias de hoje. Analisando a sociedade francesa do século XVIII, Foucault estava se referindo o tempo todo à nossa. Ele sabia disso, mas será que nós sabemos? Destaque para a transcrição das palestras proferidas na UERJ no começo da década de 1970, sobre o nascimento do hospital e o que a incipiente indústria armamentista de trezentos anos atrás teve a ver com isso.

Império (Michael Hardt e Antonio Negri). A melhor análise já feita dos mecanismos de poder que regem o mundo. Parece exagero? Não é: Hardt e Negri (este último, escrevendo de uma penitenciária italiana, onde cumpre pena por motivos políticos de 1997) partiram de onde Foucault parou e dissecaram as estruturas do Império – a saber, a sociedade global neoliberal, da qual até mesmo os Estados Unidos seriam apenas um dos tentáculos. Os autores começaram a escrever este livro após a Guerra do Golfo, mas se encaixa como uma luva – como não poderia deixar de ser – na situação mundial após o 11 de setembro.

Antropologia do Ciborgue (Donna Haraway). Incrivelmente anônima em terra brasilis, a pós–feminista Donna Haraway está sendo responsável por uma das maiores revoluções do pensamento nos últimos tempos, tão importante quanto as discussões em torno da web e da revolução digital: somos todos ciborgues. Agora. Já. Sem precisarmos recorrer a implantes ou próteses – embora estes dispositivos também caracterizem ciborgues. Só o fato de lidarmos com tecnologias como internet, MP3 players e celulares tão intimamente o dia todo amplia e transforma a idéia de humanidade para algo nos moldes que McLuhan havia vislumbrado em seu livro Understanding Media (comentado na primeira parte da lista). A premissa de Haraway, que deixou muitas feministas de cabelo em pé, representa um chute no conceito de vamos–nos–unir–à–Mãe Natureza e a adoção imediata do mundo em que vivemos como um mundo pleno de possibilidades.

Uma Ética para o Novo Milênio (Sua Santidade, o Dalai Lama). Epa! O que o Dalai Lama está fazendo nesta lista? Acho que não deveria ser necessário explicar: neste livro, escrito de próprio punho por Tenzin Gyatso, o décimo–quarto Dalai Lama (ao contrário da maioria que tem sido vendida de uns três anos para cá, igualmente interessantes e válidos, mas transcritos a partir de conversas ou entrevistas) propõe, sempre com base no budismo, ações concretas para que cada um de nós possa fazer sua parte em um mundo melhor. Sem utopia, sem demagogia. Não é tão difícil quanto parece.

Adendo camarada:

Seis Propostas para o Próximo Milênio (Ítalo Calvino). Neste livro, que o escritor italiano não chegou a ver concluído, foram reunidas cinco palestras que Calvino havia sido convidado a proferir na Universidade de Harvard, em 1984. Numa reflexão apaixonada sobre as potencialidades da literatura como recurso expressivo da humanidade para o futuro, Calvino escreveu sobre rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade, e leveza. Morreu antes de terminar a sexta proposta, sobre a consistência. Jamais proferiu as palestras, mas os textos ficaram – e provocam até hoje um forte impacto em quem as lê.

11 de Setembro (Noam Chomsky). Este eu já havia visto em inglês, mas relutei em indicar porque ainda não havia tradução. Tive a grata surpresa de saber que a Bertrand Brasil (selo da Editora Record) acaba de publicar o texto – na verdade um pequeno ensaio, mas, como tudo o que Mr. Chomsky faz, de grande qualidade. Uma análise sobre o dia que marcou os EUA e não deixou ninguém indiferente no resto do mundo. Uma dica para os porto–alegrenses: ele estará no Fórum Social Mundial hoje, dia 2, e talvez autografe o livro. [Webinsider]

Fábio Fernandes é jornalista, tradutor e escritor. Na PUC-SP, é responsável pelo grupo de pesquisa Observatório do Futuro, que estuda narrativas de ficção científica e a forma como elas interpretam e são interpretadas pelo campo do real.

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2 respostas

  1. Ótimo artigo, ótimo!

    Recomendo O Novo Imperialismo – David Harvey pela Loyola.

    Abração e continue disseminando a idéia. 😀

  2. de bom gosto seletivo esta página.alegro-me em ver que neste mundo ainda existem pessoas que valorizam uma boa leitura conectada com o mundo que vivemos, a cada dia mais complexo de ser compreendido.

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