Dimensões do design e limitações dos designers

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Há sempre bastante confusão quando o assunto é design. Muitos não conseguem entender a amplitude e a importância desta atividade.

Talvez o motivo de a atividade [de design] no Brasil ainda ser tão limitada não seja porque faltam necessidade e espaço para trabalho, mas porque ainda estamos limitados em nosso entendimento e competências.

Parece que ainda não estamos prestando atenção ao todo, parece que ainda estamos na superfície. De acordo com o grande pensador do design Jay Doblin, a atividade do Design toca quatro dimensões:

1. A dimensão do ser humano ––

Uma intervenção de design está localizada entre o sujeito e o objeto, na interface, entre o ser humano e o mundo artificial. Por isso, é fundamental conhecer os aspectos deste ser humano, tanto os passíveis de serem medidos, como os intangíveis, cognitivos e difíceis de serem medidos.

É nesta dimensão que o design toca as áreas da antropologia, ergonomia, psicologia cognitiva, sociologia e filosofia, entre outras. Todo este conhecimento sobre o comportamento dos consumidores tem se tornado cada vez mais importante para direcionar estratégias de desenvolvimento e marketing.

2. A dimensão da Arte ––

Design toca a arte quando a forma, cor, textura, tipologia, e movimento, entre outros, são usados no processo de criação do artificial. Este processo é chamado de Styling.

É preciso sensibilidade e conhecimento sobre a composição e equilíbrio dos elementos, porém, design não é arte. Creio que esta é uma grande fonte de confusão. A mídia tem uma tendência de reduzir o design a um simples embelezamento superficial, uma atividade não muito séria.

A influência européia no design brasileiro, principalmente nas escolas de design, nos aproximou muito dos assuntos do styling, que são bastante importantes, mas nos afastou dos assuntos do método, das técnicas, do mercado, da economia, da estratégia. Perdeu–se o equilíbrio.

Todos conhecem a auto–propaganda do Philippe Starck, mas poucos sabem que não se pode andar a mais de 60km/h na bela motocicleta que ele projetou porque ela vibra devido aos graves problemas aerodinâmicos.

Esta confusão e redução têm feito com que o sonho de muitos estudantes de design em todo Brasil não seja ser um competente profissional, mas ser um novo poeta formal, tipo os irmãos campana. A maioria está sonhando em ser a próxima estrela, sem saber que estão caindo em uma armadilha.

3. A dimensão da Tecnologia ––

Esta é a dimensão dos processos de fabricação, materiais, e mecanismos. Designers precisam saber como o mundo material funciona.

Mas design também não é engenharia. Designers estão mais próximos da exploração criativa da pergunta, O que fazer? Do que dos detalhes do como fazer. Como se o Design estivesse mais próximo do planejamento e a engenharia mais próxima da implementação.

4. A dimensão da Ciência ––

Esta é a dimensão menos conhecida pelos designers. Ciência é a análise do objetivo, a busca do entendimento do fenômeno físico, é olhar o mundo com lentes.

É nesta dimensão onde se encontram profundas investigações em design. Onde se buscam teorias para entender, simular ou otimizar o processo de design. É para esta dimensão que deverão estar orientados os mestrados e doutorados em design. Mas design também não é uma ciência.

Assim, por mais inclinados que estivermos para uma ou outra dimensão do design, não podemos reduzir o conceito e a própria definição do design. Estamos redefinindo design de acordo com as nossas limitações.

Há bastante espaço para atuação de designers no Brasil. Mas parece que boa parte dos designers está reclamando, outros estão tentando ser estrelas e poucos estão realmente preparados.

Fazer design não é tão superficial quanto parece. Não é uma área para quem não é bom em biologia, matemática, ou qualquer outra disciplina, mas é para aqueles que são bons em todas elas. [Webinsider]

Charles Bezerra é diretor-executivo do Gad’Innovation e autor dos livros O designer humilde e A máquina de inovação. Mantém o blog Reflexões sobre inovação.

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2 respostas

  1. Olá!
    Muito interessante seu artigo.
    Poderia me passar a referência do livro ou artigo que o conteúdo foi extraído?
    Muito obrigada!
    Bruna

  2. Olá, gostaria de parabenizar sobre o texto, gostei muito sobre o assunto tratado, e acho que é isso que me deixou longe de entrar na faculdade de Design e optar primeiro na area programatica da coisa, apesar de desenhar a anos, trabalhar com softwares de ponta, na questão de deseign, eles sabem a estrutura o Styling, mais em um mercado como curitiba que é exigente e chato, é bem dificil e digo bem pouco Valorzado $$$,

    bom acho que é isso muito obrigado até mais,aguardo novos posts

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