A febre do Orkut, networking com padrão Google

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Tem novidade na área. A recomendação é uma das moedas mais valiosas da internet. Em 26 de janeiro, recebi a seguinte mensagem: “[radinho] INFO Online – Plantão Info – Google põe no ar Orkut, o rival do Friendster – (26/01/2004)”. Uma semana depois, veio o convite do primeiro amigo. Mais sete dias e aterriza na caixa postal o segundo. As três fontes são heavy users, gente que habita o front do mundo digital. Estava na hora de eu conferir o novo projeto do Google.

Orkut, como o Friendster, é mais um site de relacionamentos a pôr em prática a hipótese dos seis graus de separação. A idéia é que quaisquer duas pessoas na terra estão separadas entre si por até seis elos. Entre o bêbado da esquina, o Dalai Lama, o presidente Bush e a sua avó existem no máximo seis pessoas. As ferramentas de relacionamento funcionam como uma espécie de caderneta de endereços compartilhada. Ela permite que você liste os seus amigos e que eles façam o mesmo. Você navega da sua caderneta para a deles e de lá, para a dos amigos deles, e assim por diante.

Um mercado aberto para networking

Eu não participo do Friendster, mas conhecia a fama desta iniciativa que tem mais de um milhão de participantes inscritos. Nunca tinha usado uma ferramenta dessas e me surpreendi com as possibilidades que elas abrem. O inusitado da experiência é observar a emergência de redes de relacionamento que podem facilitar a organização de ações de interesse coletivo. Imagine que uma pessoa normal tenha aproximadamente vinte amigos próximos listados no Orkut. Cada uma dessas pessoas tem relacionamentos com grupos diferentes, amigos da família, da escola, do trabalho. Com a mediação da internet, um usuário com vinte contatos tem acesso direto a quatrocentas pessoas, que são os amigos dos amigos. Esse é o prêmio de quem participa do Orkut: capital social. Quanto mais pessoas você conhece, maior é o numero de contatos que você acrescenta à sua lista.

E para que servem estes contatos? Isso fica por sua conta. O Orkut é uma ferramenta genérica. Ao preencher o cadastro e o registro (é rápido e pouco invasivo), você determina que tipos de relacionamento está procurando: amizade, contatos profissionais, romance ou a defesa de uma bandeira comum. Sim, porque além de possibilitar o encontro através de contatos, o usuário tem acesso a um banco de dados de comunidades temáticas. Qualquer um pode criar uma lista sobre um tema de interesse – Linux, por exemplo – e convidar gente do seu círculo de amizades para participar. Essa comunidade pode ficar aberta para que desconhecidos com interesses em comum entrem e dessa forma, emergem redes complexas intercomunitárias aglutinando, por exemplo, entusiastas do Open Source do mundo inteiro.

Como funciona

Outro aspecto positivo do Orkut é a navegação. Seguindo a linha do Google de que “menos é mais”, o site é intuitivo, não exige experiência prévia. Se a ferramenta se propõe a enlaçar pessoas, existem três pontos a serem cobertos: 1) você, 2) os outros e 3) a ligação entre os dois. Do lado esquerdo da tela ficam os elementos sobre você: suas fotos, seu perfil, como você quer visualizar a interface. Do lado direito, estão os outros, com um menu dividido entre amigos e comunidades. Com um clique você abre a sua lista de contatos ou de grupos. O menu superior serve para unir as duas partes. O usuário publica mensagens para seus amigos, qualifica o grau de intimidade que tem com cada pessoa, busca pessoas por nome ou tema, e outras ações do gênero.

Aliás, essa questão da mediação entre desconhecidos é central para os sites colaborativos: como confiar em pessoas que você não conhece pessoalmente? O Slashdot, talvez o site colaborativo mais bem sucedido da web hoje, criou uma solução tecnológica chamada de “karma”; o sistema segue os passos de cada usuário registrado e examina seus hábitos de navegação. Quem participa mais, tem mais amigos, recebe mais votos de confiança da comunidade, tem mais karma. O Orkut aproveitou essa idéia possibilitando que o usuário identifique em sua teia de contatos, qual é o grau de proximidade que tem com cada um. Assim você diferencia quais são os conhecidos, os colegas e os amigos. Ao navegar pelo perfil dos outros, você pode ver no topo da página quantas pessoas recomendam e confiam naquela pessoa.

Uma solução sofisticada e elegante

Um elemento em geral mal resolvido nas ferramentas colaborativas é o modo como o usuário se relaciona com a comunidade. Nas listas de discussão, as mensagens chegam ao usuário pela caixa do correio. Essa solução exige menos esforço que o fórum de mensagens, onde o participante precisa ter a iniciativa de entrar na página para procurar os temas e as mensagens postadas. Por outro lado, o mural armazena a informação catalogando cada qual por assunto, permitindo que o debate prossiga independente do tempo; enquanto, na lista, uma mensagem enviada no mês passado possivelmente estará enterrada sobre centenas de outras que vieram na seqüência.

O Orkut utiliza as duas soluções extraindo o melhor de cada. O e–mail serve para indicar quando alguém se relaciona com você. Pode ser uma pessoa que queira listar o seu nome entre os amigos dela. Pode ser a resposta ao seu pedido para ser listado entre os contatos de alguém. Essa comunicação aumenta a qualidade da participação. O usuário não precisa entrar no site a menos que tenha alguma coisa para fazer lá. Mas o e–mail não é o meio de comunicação em si; ele apenas informa que existem atividades pendentes no site.

Também vale a pena mencionar o cuidado que os criadores do projeto tiveram com a proteção da privacidade dos usuários. Na medida em que preenche o formulário de perfil, cada um determina quem pode ver cada tipo de informação. Por exemplo: o seu telefone fica disponível apenas para os seus amigos, ou seja, para quem estiver na sua lista direta. Ao mesmo tempo, você pode definir que o seu e–mail fique visível para os amigos e para os amigos dos amigos. E assim por diante com cada informação privada.

Vale a pena experimentar

Somando os pontos a favor e contra, eu recomendo uma experiência no Orkut. Você não vai queimar muitos neurônios porque ele é fácil de usar. Precisa saber um pouco de inglês, mas nada mais que qualquer pessoa que surfa na rede não saiba. É preciso tomar cuidado, principalmente os novatos na rede, com paixões fulminantes e promessas de dinheiro fácil. No começo é sempre bom observar e desconfiar, até saber quais são as regras do meio. Ao contrário do Friendster, o Orkut é grátis. Tudo de bom! Mas lembre–se que em contrapartida, qualquer conteúdo publicado lá passa a pertencer ao site.

Fica pendente apenas uma questão: este site é só para convidados. Se você não conhece ninguém que participe, infelizmente terá que esperar. Esse impasse suscitou uma situação curiosa: usuários registrados vendendo o acesso pelo Ebay por até 10 dólares. Mas isso não será um problema para você, caro leitor. Estou lançando uma proposta: a primeira pessoa que me explicar o que diabos significa a palavra Orkut será contemplada com um convite. Respostas criativas também serão aceitas. 🙂 [Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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