O valor da arquitetura de informação em dólares

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Para quem trabalha com Arquitetura de Informação (AI) no Brasil, é sempre gratificante ter notícias de colegas de ofício. Melhor ainda é saber que há arquitetos de informação espalhados pelo mundo e que a maioria tem as mesmas preocupações que você.

Nos dias 8 e 9 de junho (de 2004) tive a oportunidade de assistir a Information Architecture Conference, que aconteceu em Paris, com a presença de 70 arquitetos de vários países, do Zimbábue à Suécia. Tudo bem que a maioria dos inscritos vinha de países europeus, mas a necessidade de justificar a importância de uma etapa do processo tão conceitual e complexa como a AI era de interesse geral.

O congresso fez parte da i–expo, uma espécie de Fenasoft francesa, e teve como principal palestrante Peter Morville, co–autor do importante “Information Architecture for World Wide Web” ou “O Livro do Urso Polar”.

Morville falou sobre busca, navegação, usabilidade, deliverables e outros temas recorrentes no dia-a-dia de quem trabalha com web. Mas o mais interessante foi a objetividade com que conseguiu demonstrar o valor da AI para um projeto.

E não foi só batendo nos conceitos óbvios de organização, usabilidade e findability – ele é fanático por findability . Usou dados de institutos de pesquisas para mostrar o impacto de uma AI mal estruturada em aspectos difíceis de aferir, como a percepção de valor e credibilidade da marca de uma corporação. Faz todo o sentido se lembrarmos de alguma experiência mal sucedida na internet (não conseguir encontrar um produto numa loja virtual ou ficar confuso na hora de preencher um cadastro online, por exemplo). Some a isto o fato de que um cliente insatisfeito conta o acontecido para cerca de dez pessoas (dado da Forrester Research) e a credibilidade de uma marca pode ser arruinada rapidamente.

Seis semanas perdidas por ano

Peter cita o inconveniente de não encontrar informações facilmente como conseqüência de uma AI mal estruturada e dá alguns exemplos numéricos. Em sites de e–commerce, a perda pode ser de metade dos potenciais clientes. Nas intranets das empresas, o tempo perdido pelos funcionários é estimado em até seis semanas por ano e a reformulação para uma AI mais intuitiva pode proporcionar uma economia de cerca de US$ 5 milhões por ano para uma companhia americana média.

Necessidades precoces de redesign e altos custos de desenvolvimento e manutenção também foram argumentos numericamente justificados por Peter. Quando a AI não é bem pensada, o risco de ter que fazer mudanças estruturais no site é bem maior. Por isso, estima–se que uma companhia americana de médio porte vai precisar gastar algo entre US$ 1,5 e 2 milhões para redesenhar ou fazer modificações complexas no período de um ano.

É claro que os números apresentados por Peter Morville não estão próximos da realidade brasileira. O investimento em internet que as nossas empresas podem bancar é muito inferior ao das companhias americanas e o nosso nível de exigência ainda está muito abaixo do mercado americano. No entanto, é importante mostrar que considerar Arquitetura de Informação como etapa fundamental num projeto web pode economizar dinheiro, além da grande dor de cabeça que é começar a desenvolver um site sem saber direito qual será sua estrutura.

As palestras da Margaret Hanley, arquiteta sênior da BBC, também foram ótimas. Ela falou sobre metadata, criação e manutenção de vocabulários controlados, thesaurus e contou um pouco da experiência dela no redesign da BBC e em outros projetos, como as “Yellow Pages” da Austrália. Margaret mostrou alguns exemplos de documentos de AI e de métodos de trabalho, dois assuntos de interesse geral.

Depois de tantas questões teóricas, Huibert Evelink apresentou o case do redesign da Opera, a intranet do sistema Amadeus, que interliga as companhias aéreas e os sistemas de reservas e compras de passagens em mais de 200 países. Huibert é senior manager de marketing corporativo e comunicação da Amadeus e é responsável pelo design e pela navegação da Opera. Ele comentou sobre a estrutura descentralizada da corporação e como é possível administrar o crescimento da Opera, com suas necessidades regionais, sem perder o controle.

Durante o congresso, percebi que algumas das minhas preocupações, como encontrar a melhor forma de comunicar o trabalho de AI e como demonstrar a relevância do trabalho em um ambiente web, eram partilhadas por grande parte das 70 pessoas presentes. As questões sobre retorno de investimento, processos de trabalho e futuro da profissão despertaram o interesse de todos.

Por outro lado, também pude constatar as diferenças de realidade entre os países. Enquanto 90% dos participantes vinham da Europa, eu era a única representante da América do Sul. Também havia muitos bibliotecários e representantes de bibliotecas e instituições públicas, o que imagino ser impensável aqui no Brasil pela distância que ainda existe entre a prática da biblioteconomia e da AI. [Webinsider]

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As palestras feitas durante a IA Conference estão disponíveis para download no site do evento.

Laura Cretton Lessa é diretora de User Experience da HUGE no Brasil e responde pela pesquisa e estratégia de UX.

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Uma resposta

  1. Laura, não é impensável que bibliotecários atuem na área de AI, principalmente porque se trata de organizar a informação que é que o já fazemos. Inclusive já existe na Universidade de Brasília o mestrado em Arquitetura de Informação oferecido pelo Departamento de Ciência da Informação e Documentação. Segue o link para o edital do início de 2006 (as inscrições começam em dezembro para o ano de 2007) para que possa comprovar que Biblioteconomia e AI estão muito mais próximas do que se imagina.
    Acredito que os profissionais de biblioteconomia e ciência da informação tem e muito a acrescentar para que a AI cresça no Brasil.
    Abs.

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