Em defesa do GMail, do simples e da inovação

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Dizem que Karl Marx tinha uma profunda admiração por Honoré de Balzac, apesar das tendências de direita deste último. Fico imaginando o famoso prussiano se deliciando com as linhas do francês e, ao mesmo tempo, se contorcendo de angústia, pensando nos argumentos das cartas que nunca lhe chegaria a escrever.

Dia desses, tive meus momentos de Marx. Passeando aqui no Webinsider, li um excelente texto do Paulo Rebêlo sobre o GMail (veja ao lado). Em suas próprias palavras: “Uma vidência ranzinza sobre GMail, Orkut e toda a excessiva popularidade da marca”. Por mais que me apaixonasse pelo estilo, que me envolvia como uma mulher fogosa em seus braços, meus princípios empurravam a tentação para longe, com um único pensamento: preciso defender o Google!

Sim, porque minha relação com o Google é a mesma que a de Diego Rivera com Frida Kahlo, tão bem expressa no diálogo do filme de Julie Taymor, onde o muralista diz para a pintora: “Não posso te prometer fidelidade, mas te prometo lealdade”. Não sou fiel ao Google, não! Enamoro–me de yahoos e até mesmo de hotmails da vida, mas sempre volto, no final da noite, para os braços da minha querida.

E por que volto ? É aí que discordo do Rebêlo. Volto porque há algo de diferente em tudo que o Google faz. Há sempre uma pitada de inovação. A começar pelo buscador. Em uma época em que muitos ainda utilizavam o cadastro como forma de armazenar/encontrar dados, o Google inventou uma ferramenta que simplesmente revolucionou a busca na internet. Quem sabe este seja o principal, mas definitivamente não o único exemplo: o Orkut se sobrepôs a outras comunidades, como o friendster, com uma singeleza e elegância que conquistou milhões de usuários em poucos meses.

Por último, há o GMail, que chegou oferecendo o céu e a terra, 1Gbites (G de Giga e de Google), em uma época em que os usuários de hotmail tinham que pagar para obter cem vezes menos espaço.

E eu admiro profundamente esta coragem googliana. Sim, porque nada os impediria de lançar um e–mail com capacidade de 10Mb e se darem por satisfeitos. Ninguém ia achar estranho. E muitos iam acabar por migrar para o e–mail do Google de toda maneira (o autor deste texto, entre eles). Mas não, o Google tem um prazer em provocar… Um quê de Michael Moore, como que desvelando a hipocrisia do inimigo (ah… o que eu não daria para estar na sala dos poderosos da MSN ao receberem a notícia da nova empreitada do Google… O ar de vergonha da companhia inteira, ao observar o funcionário que foi encarregado de ir lá, na página do hotmail, retirar o linque para o “pague apenas $19.95 e receba 10 Mb de espaço”).

Sim, é verdade, agora estão todos aí, oferecendo maravilhas… É o Yahoo que dá 100 Mb, o Hotmail que promete 250. Por que mudar, então ? Ora, se me faltassem outros argumentos, bastaria dizer que é em agradecimento. Um obrigado à companhia que mudou a cara dos e–mails gratuitos na internet.

Mas não me faltam argumentos. Mudo pro GMail também porque acho genial a interface, e as novas utilidades oferecidas. Sim, Rebêlo tem alguma razão, e se não fosse tão seguro no meu amor pelo Google, seu texto bem que me poderia convencer de que não vale a pena mudar, de que webmail é um retrocesso, de que a organização de mensagens em threads é coisa antiga e de que o Google está próximo de se tornar uma Microsoft da web.

Mas, meu amor é sólido. Webmail é sim, mais lento. Mas em um mundo onde as conexões rápidas são cada vez mais comuns e a mobilidade é algo essencial, é normal imaginar que a liberdade de poder encontrar a mesma interface, independente do lugar onde se deseja consultar seu e–mail, é algo a se considerar. Além disso, nas minhas comparações entre as páginas do Yahoo, GMail e Hotmail, o GMail corre, o Yahoo anda e o Hotmail rasteja.

Quanto aos threads, sim, é coisa antiga. Mas coisa antiga no mundo dos newsgroups. Idéias geniais nascem muitas vezes do olhar descompromissado para outros lugares. Um exemplo ? Na década de 70, John Holland, um professor da Universidade de Michigan, decidiu aplicar as teorias da evolução de Darwin a um contexto de otimização matemática e acabou por criar os “algoritmos genéticos”, que por muito tempo foram encarados como a panacéia dos otimizadores. Ainda hoje, suas idéias são extremamente utilizadas em inúmeras áreas e não estranharia se alguém me dissesse que tais algoritmos fazem parte de algum código interno do Google. Tudo bem, a idéia dos threads para o e–mail pessoal não chega a tal grau de revolução, mas não deixa de ser surpreendente que algo tão simples e útil tenha escapado da vista de dezenas de programadores.

Poderia continuar a enumerar as vantagens do GMail: a conveniência de se poder marcar mensagens importantes com um simples clique (e com este clique listar estas mensagens em uma pasta à parte), a eficiência dos filtros, a beleza e simplicidade da página, etc, mas acho que já fiz propaganda demais para uma empresa só. E é claro, há sempre o risco, como lembrado por Rebêlo, de que esta empresa se torne uma Microsoft, imagem do mal. Eu duvido, mas, nessa vida, é sempre bom ter as barbas de molho.

Enquanto isso não acontece, eu sigo usando meu GMail, discutindo na comunidade de Frida Kahlo no Orkut e usando o google.com para obter informações sobre tudo o que quero, desde Holland a Michael Moore. E, aproveitando que vivo em uma época bem diferente daquela de Marx e Balzac, posso mandar este texto ao Rebêlo e me enriquecer com seus comentários, guardando todos eles, no meu Gigabite de memória! [Webinsider]

<strong>Alysson M. Costa</strong> (alysson@gmail.com) é professor do ICMC/USP São Carlos e trabalha na área de otimização combinatória.

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