Por que não criamos um banco open source?

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Basta pôr a cabeça para fora de nossas janelas para percebermos que estamos cercados de instituições falidas. O comunismo nunca veio e já foi. Nosso Governo, nosso modelo republicano constitucional foi milimetricamente projetado para nunca, jamais, funcionar direito. O capitalismo está aí, firme e forte nos drive–thrus piscantes e nas crianças cheirando cola. As ONGs sofrem, em geral, de uma brutal miopia. Só enxergam o que querem, ou se afundam numa utopia disfuncional.

Só uma coisa parece funcionar, pelo menos para quem, como eu, acompanha de perto tanto o mundo dos flanelinhas nas calçadas como o universo virtual da internet: a criação colaborativa. O Wikimundo.

A Wikipedia, enciclopédia aberta em que qualquer um pode alterar ou inserir conteúdo e que qualquer um pode consultar e reproduzir, é apenas um dos mais recentes exemplos de um capitalismo sem fins lucrativos. Um capitalismo colaborativo. Desde seu nascimento, a World Wide Web tem dependido tanto dos bilhões de dólares que escoam pelas bolsas de valores como do esforço de abnegados visionários que criam as coisas não (só) pensando em ficar rico, mas em compartilhar coisas legais. Em permitir que o mundo (afinal, SEU mundo) seja melhor. Mais simples. Mais rápido. Mais bonitinho. Mais cool.

Nenhum desses grupos – da força–tarefa por trás do DIVx, o equivalente ao MP3 para filmes e vídeos aos pingüins fanáticos do Linux – abre mão das mecânicas capitalistas. Todos têm uma paixão inata por tecnologia e pelas maravilhas da grande indústria. Todos usam marketing, e, à medida em que se profissionalizam, acabam por constituir empresas praticamente comuns.

Neste ponto, muitos são cooptados pela máxima perversa do “o objetivo é o lucro”, ou pela raiz–de–muitos–males do “retorno máximo para o acionista”. Mas nem sempre é assim. E nem precisa ser. É possível obter o lucro sem explorar o próximo. É possível gerar riqueza e distribuí–la. É possível que esse “acionista” seja a gente.

Imagine um Wikibanco. Para todos os efeitos, um banco comum. Tem produtos, serviços, tecnologia, recolhe o dinheiro de seus correntistas e o aplica em empresas, manipula em títulos, mercados. Enfim, um banco. Digamos que, como todo banco nesse País, ele dê, sei lá, R$ 1 bilhão de lucro no final do ano. O que fazer com esse dinheiro? Lembre–se que, como falamos de lucro, todos aqueles que trabalham na operação já receberam seus (justos) salários. Não estou propondo filantropia aqui. Trabalhou, ganhou.

E aí? Um banco normal reinvestiria parte dessa bolada e outra parte seria embolsada por seus acionistas (em geral, uma família trilhardária e centenas de pequenos investidores). Mas poderia ser diferente. E se essa grana toda (fora o reinvestimento) fosse toda distribuída a seus milhares de correntistas? Teríamos aí a figura do correntista–acionista. E nada mais justo! É o dinheiro dos correntistas que faz o banco. Com esse retorno acabaríamos chegando, por um equilíbrio natural, a valores justos de tarifas, serviços etc. Um banco do bem.

Será que ele funcionaria? Será que a ânsia colaborativa dos correntistas–acionistas permitiria que ele fosse lucrativo? Será que os administradores (eleitos ou auto–impostos como o pai da Wikipedia) resistiriam à tentação de embolsar algum dindim a mais? Só tentando.

É possível ser ético. É possível fazer o bem. A gente só não está acostumado a isso. Mas se dá para fazer até um banco que gera e distribui riqueza, que seja eficiente (mais uma vez). Não proponho caridade. Não é o Banco da Providência. O ser humano tem um DNA complicado demais pra viver de esmola). Se até um banco pode ser do bem, todo o resto é possível.

É só fazer. Chega de cooperativas de catadores de conchas. A gente pode ir mais longe. Alguém se habilita? A idéia é open source, isto é, livre para quem quiser tocar. E fazer o mundo um pouco melhor. E um pouco mais cool. [Webinsider]

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Roberto Cassano (rcassano no Twitter) é blogueiro e diretor de estratégia da Agência Frog.

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8 respostas

  1. Realmente, como cita o Bruno Rosa, o que você propôe existe sim: são as Cooperativas de Crédito.

    O Bruno cita o Sicoob (www.sicoob.com.br), que é o maior sistema cooperativo de crédito do país, mas existem ainda outros. O Sicred, Unicred (da Unimed) e o Federal Cred são os de maior destaque, além de cooperativas individuais, que não fazem parte de nenhum sistema.

    É por falta de informação do brasileiro que os nossos sistemas são pouco conhecidos do grande público. Hoje, movimenta cerca de 2% de todo o mercado financeiro nacional, oferecendo os mesmos produtos e serviços que o bancos: conta-corrente, poupança, cartões de crédito, linhas de crédito e financiamento, com taxas e juros, geralmente, bem menores que os praticados pelos bancos.

    Não é uma “iniciativa parecida” como o Gumercindo coloca. É exatamente o que você propõe, dentro do que é permitido pela legislação (Banco Central).

    Na Holanda e na França , onde o cooperativismo de crédito é mais presente, 70% e 50% do mercado financeiro, respectivamente, passa pelas cooperativas de crédito. O maior “banco” holandês é, inclusive, cooperativo.

    Na Alemanha a participação também é muito grande.

    Nós é que estamos atrasados neste aspecto. Comodismo do brasileiro que aceita pagar por lucros recordes de bancos, ano após ano, e não se preocupa em contestá-los.

  2. Ele já existe! É um banco cooperativo, o mais famoso do Brasil é o SICOOB que tem crescido muito! Na Europa grandes bancos já são cooperados e eles que ditam as regras em questão de Juros, pois os bancos privados não conseguem competir. Falta apenas mais divulgação sobre o tema!

  3. Independentemente se já existem outras iniciativas parecidas ou não, o importante é que a idéia é boa..
    Acho que está faltando um pouco de união às pessoas e um espírito colaborativo, sem intenções exploradoras etc etc etc.

    Parabéns a mãos à obra!!! 🙂

  4. Sinto muito, mas você está defasado.
    Isso já existe a muito tempo!!!
    Essa modalidade gera alguns problemas como a inadimplencia, a qual todos terão de pagar, pois todos são acionistas. Mas isso depende basicamente da gestão do banco em relação a poupança vs investimentos.
    Na maioria das vezes é sucesso, pois as pessoas conseguem crédito mais barato entre outros benefícios.
    São chamados de Bancos Comunitários! É só pesquisar no google.
    Cuidado na escolha de seus temas.
    As inovações conceituais como o opensource, web 2.0, etc na maioria das vezes não são novidades, apenas nomenclaturas que popularizam um pensamento que de periférico passou a ser centro e pode levá-lo a armadilhas na busca da reinvenção da roda!

  5. Bem, posso começar dando-lhe os parabens. Curti a ideia. propus ao meu socio analizar essas caracteristicas e montar um Plano de Negocios para esse tipo de atividade. Imagino que sempre que vc procura fazer o bem para um grupo de pessoas, muitas outras, acostumadas com o mundo que vivemos, serao contra. A revolução esta no ato de fazer diferente, ser diferente, pensar diferente. Vamos lutar por um mundo mais justo e colaborativo. vamos buscar pessoas que pensem como agente pensa.

  6. Com certeza pode contar comigo!

    Roberto além de fazer um ótimo artigo, foi mais longe! Propos uma idéia open muito boa. Enxergou mais que padrões. Mostrou que o pensamento aberto pode fornecer muitos benefícios à sociedade como um todo.

    Sucesso e pode contar com meu apoio!

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