Arquitetura da informação e jornalismo digital

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A transposição do modelo jornalístico convencional, tal qual nos acostumamos a interagir em suas interfaces impressas, televisivas, radiofônicas etc., vive um momento de readaptação às mídias digitais, buscando enfim configurar, seja na organização do conteúdo, seja na disposição formal, o que já nos acostumamos a tratar por jornalismo online.

Vivenciamos o que Marcos Palacios, professor e coordenador do GJOL–FACOM–UFBA (Grupo de Jornalismo Online – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia) aponta ser o webjornalismo de terceira geração, ou seja, um momento em que as empresas jornalísticas não mais se preocupam em meramente levar à rede as metáforas de seus jornais impressos, transpondo os modelos de páginas e textos lineares (webjornalismo de primeira geração) ou em que se utilizam de recursos auxiliares como e–mails para contato com jornalistas ou hiperlinks para artigos complementares ao tema abordado (webjornalismo de segunda geração).

Ao contrário, o que se pede atualmente é que se desenvolvam matérias reconfiguráveis, explorando as linguagens multimidiáticas (texto, áudio, vídeo, gráficos etc.), com recursos de interação entre leitor e sistema, no qual o primeiro se utiliza dos recursos técnicos inerentes ao ciberespaço para acessar a informação sob demanda e participar ativamente na construção de suas narrativas multilineares.

Mas toda esta evolução, diga–se, em poucos anos de vida da web comercial, necessitou não só de revisões de alguns dogmas culturais e jornalísticos, mas também do desenvolvimento de uma infra–estrutura técnica que suportasse tamanha descentralização produtiva e interação multimidiática.

A arquitetura da informação é uma das disciplinas que mais contribui para a construção destes sistemas complexos, nos quais atuamos dicotomicamente como leitores e autores.

Não só para construir websites com uma melhor usabilidade, mas principalmente para estruturar sistemas de gestão para estes jornais digitais, os famosos sistemas administradores, ou ADMIN, que fazem a mediação entre o jornalista, o banco de dados (server side) e a interface web (client side).

Gestão de conteúdo

Os sistemas de publicação são utilizados desde a publicação dos primeiros jornais digitais, em parte porque não podia se exigir dos jornalistas conhecimentos de programação e implementação de páginas na web. Em parte também porque a dinâmica do meio e a necessidade de acessos remotos e publicações instantâneas gerava uma demanda para a construção e organização dos sites e para a concepção das matérias e seus conteúdos multimidiáticos.

Também conhecidos com CMS (Content Management System), os sistemas publicadores ganham mais relevância na medida em que se compreende sua importância para o tratamento da informação, que integra a hipertextualidade na estrutura narrativa da notícia, fazendo com que cada matéria constitua um projeto a ser pensado individualmente.

Sem os conceitos e a documentação da arquitetura da informação, como os sitemaps e os wireframes, seria muito difícil obter sucesso com um sistema complexo, que pudesse gerenciar a produção de conteúdos para diferentes interfaces de acesso, como websites, palmtops ou celulares.

O jornalista–arquiteto

Para construir estas matérias, cada vez mais propícias às interações, utilizando plenamente as funcionalidades de um sistema administrador, é necessário que o jornalista atue também como um arquiteto de informação e saiba retrabalhar os dados continuamente, a fim de que estejam sempre identificáveis e disponíveis para utilização.

É urgente, portanto, que as faculdades tratem de temas como a arquitetura da informação e a gestão de banco de dados. Os novos profissionais encontrarão um mercado totalmente digitalizado, independentemente do segmento jornalístico em que atuarem, e terão que lidar diariamente com megabits de dados indexados. O aprendizado contínuo e multidisciplinar será um dos maiores aliados para a formação profissional e pessoal destes trabalhadores.

Para ilustrar a importância da interrelação entre as disciplinas do jornalismo e da arquitetura da informação, cito o professor Ramón Salaverria (diretor do MediaLab da Universidade de Navarra, Espanha) em entrevista concedida para minha dissertação de mestrado:

“Me parece que el aprendizaje de la arquitectura de la información será algo esencial para los periodistas que trabajen en el futuro para los cibermedios. De hecho, a mi modo de ver, es una disciplina que sintetiza las tres principales aportaciones del ciberespacio: hipertextualidad, interactividad y multimedialidad. La combinación eficaz de esos tres ingredientes sólo puede realizarse desde una perspectiva arquitectónica del cibermedio.”

Para saber mais

MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos Silva (org.). Modelos de Jornalismo Digital. Salvador. Edições GJOL; Calandra, 2003. Coleção Pixel.

SALAVERRÍA, Ramón. De la pirámide invertida al hipertexto. Novática – Revista de la Associación de Técnicos de Informática. Vol. 142, Noviembre–diciembre de 1999, pp. 12–15. [Webinsider]

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Leonardo Oliveira é mestre em Jornalismo Digital pela ECA/USP.

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Uma resposta

  1. A evolução é muito rápida, a aceitação também, pois as pessoas perderam o medo das tendências dando lugar as espectativas (o quem vem agora), com isso se adaptando rapidamente. A formação de profissionais não é tão rápida gerando grande preocupação. O Jornalismo digital está aí e por increvel que pareça ainda temos problemas com arquitetura das informações e usabilidade, e usuários cada vez mais exigentes, por isso o artigo serve como alerta e chamada de profissionais para um mercado promissor, parabéns.

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