China censura web, Microsoft e Google ajudam

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É comum encontrar afirmações de que é impossível controlar a internet. Para isso seria necessário instalar filtros em cada uma das múltiplas faces que compõem a rede hoje em dia. Seria necessário refazer toda a internet de baixo para cima e de cima para baixo, trabalho considerado impossível por seu custo incalculável. No entanto a China está disposta a tentar.

Com a cumplicidade explícita de vários fabricantes ocidentais de software e hardware, o governo chinês deu início a uma perigosa experiência que pode levar a fragmentação e talvez ao colapso da internet na forma como conhecemos hoje (leia mais na Slate).

Desde o final de junho todos os blogueiros chineses devem estar registrados junto ao governo ou se arriscam a sofrer com pesadas represálias. E isso é só o começo. Recentemente a Microsoft reconheceu que seu sistema de blogs em chinês impede literalmente que se escrevam termos como “liberdade” ou “democracia”. Já é de conhecimento geral que os resultados de buscas no Google China não incluem páginas na internet que incomodam o Partido Comunista Chinês.

O fato aberto é que a China tenta colocar limites na internet com ajuda explícita de empresas multinacionais. Os termos desta inusitada colaboração entre o governo chinês e as empresas de tecnologia são simples: ou se colabora ou o maior mercado do planeta ficará fora de seu alcance. Em tempos onde a economia chinesa e seu mercado sem fim são o sonho dourado de todos, quem resiste? Se para o Google e a Microsoft censurar suas páginas é um preço bom para entrar no mercado chinês, quem poderá dizer o contrário? Não pense na IBM, ela já é chinesa.

O governo chinês quer uma internet limitada, uma gigantesca infovia, mas local, com pequenos e muito bem vigiados pontos de contato com a rede no resto do mundo. Para atingir este objetivo, além da cumplicidade das empresas que controlam as maiores e melhores fatias da internet, a China já estão desenvolvendo a tecnologia necessária.

Na internet os únicos países reais são os idiomas. Para o governo chinês basta controlar os conteúdos para conseguir seu propósito final. Controlando os pontos chaves da rede, como provedores de acesso em seu território, conexões internacionais, principais provedores de conteúdo e os buscadores, é possível eliminar com critério tudo o que lhe incomoda e pode ser uma ameaça interna.

Na prática não é tão simples assim. O governo chinês precisa promover a mudança de equipamentos e pressionar empresas estrangeiras. Uma ação deste tipo tem um custo impossível de se calcular, mas o governo chinês parece disposto a pagar o preço, seja lá qual for, para atingir seu objetivo. Dinheiro não é o problema. Em breve a internet na China será muito parecida ao panorama econômico do país: liberdade controlada por um regime autoritário.

Se você acha que a China é um país muito distante e está aí se perguntando enquanto olha para o seu umbigo: e o que eu tenho a ver com isso? Se o governo chinês decide isolar o país do resto do mundo o problema é deles. Não é isso? Mas não é bem assim.

Se a China obtiver êxito em sua tentativa de desenvolver uma extensa tecnologia capaz de erguer uma nova Grande Muralha online, muitos outros países se sentirão à vontade para seguir o exemplo. Todas as ditaduras do mundo ficariam aliviadas. A internet não seria mais aquele sonhado instrumento sem fronteiras. Iria para o buraco a idéia de que as ditaduras não têm mais espaço em um mundo conectado globalmente. A internet se dividiria em várias intranets com conteúdo fiscalizado.

Seria o fim do sonho da aldeia global. E não apenas para países com regimes autoritários. Governos assombrados pela guerra contra o terrorismo, perseguições religiosas e outras campanhas internas poderiam usar o advento da tecnologia chinesa para controlar suas próprias redes e limitar o acesso a conteúdo externo.

O governo chinês é o único neste momento que tem o poder, o dinheiro e a falta de oposição para dar o pontapé inicial a um propósito temeroso. Não há nenhum governo, ONG, entidade ou o que seja disposto a impedi–los. Alguém duvida que terá êxito? [Webinsider]

<strong>Gustavo Mansur</strong> (gusman@pobox.com) é jornalista.

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5 respostas

  1. Se a china conseguir isso nao vai demorar uma semana para o chaves fazer o mesmo,e consequentemente outros paises da america latina tambem poderiam aderir a ideia. Isso seria muito ruim para o brasil, tanto comercialmente como na comunicacao.

  2. A Internet é a porta para se viajar pelo mundo sem pecisar de passaporte, para que burocratizar?
    Está na hora de dar um basta aos ditadores, não só na China mas no mundo, aqueles que detem o poder temem com a aquisição de novos conhecimentos novas culturas.

  3. Devemos divulgar aos chineses alguns programas de desbloqueio tais como o UltraSurf e o Freenet, que eu costumo usar aqui na minha faculdade. Pelo que eu sei, isso também acontece em alguns países do Oriente Médio, tais como os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e a Arábia Saudita. Portanto, ao encontrar cidadãos desses países aqui pela net, vamos divulgar esses programas a eles.

  4. Infelizmente lemos notícias e as esquecemos.

    A sociedade humana precisa aprender a reagir.

    Chega de aceitar.

    O grande contraste, em qualquer país, é o que confronta a grande maioria de cidadãos e a minoria que detem o poder.

    Por que a maioria assume o medo? Vive o medo?

    Que poder é esse?

    Aqui no Brasil não temos outra coisa senão uns poucos ladrões governando o que é nosso.

    Na China, uns poucos determinando o que pode…

    Onde está a inteligência? O livre arbítrio do semelhante a Deus?

    E Deus? A despeito de tudo que houve, há e haverá de errado no mundo, o que pensaria?

    Tudo não passa de mentira.

    Humanidade é retórica. Termo de dicionário.
    Inexistência.

    .

  5. A informação é algo que assusta quem detem o poder. Somos criados desde nossa origem para acreditarmos nos valores dos nossos ancestrais. Na família, no Deus único, no respeito aos mais velhos (isso ainda existe no Brasil?), no respeito as autoridades constituídas e a lista continua.

    Digamos, que desde sempre, fosse dito que no meio do pacífico existe uma ilha onde fica o paraíso. Daí, um belo dia aparece um site com fotos de satélite e a ilha não está lá.

    A China vive um sistema que foi implantado com o apoio de jovens que não tinham a menor idéia de nada e queriam ter autoridade. Muitas pessoas acham que ter autoridade é ter poder. Na verdade, ter autoridade é ter uma pequena pontinha de poder.

    Isso explica o comportamento de muitos policiais. Também explica a forma como um bandido de posse de uma arma se sente magnífico e se impõe contra 20 ou mais pessoas.

    O acesso a informação na China pode mostrar para quem está lá o que existe lá fora e por comparação permitir que as pessoas pensem no que é melhor.

    Me lembro do caso do fim da Alemanha oriental e da querda do muro de Berlim. Hoje temos jovens felizes com a liberdade enlatada que obtiveram e idosos que lamentam não terem mais casa e comida.

    Contrastes é disso que o mundo é feito…

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