O fator Google ameaça o modelo dos portais

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Na semana de 21 a 27 de agosto, o Google liberou versões beta (de desenvolvimento) de dois novos produtos: o Google Desktop e o Google Talk.

Apesar de ter feito isso sem grande alarde e passar despercebido pela maioria dos internautas, o evento é emblemático. Não tanto pelos produtos em si – que ainda estão em seu período embrionário e, portanto, toscos, com grande espaço para desenvolvimento – mas por uma cada vez mais caracterizada mudança no formato de negócios da empresa.

O Desktop não chega a ser uma novidade nem no próprio Google. O primeiro beta foi lançado há vários meses. Trata–se de uma ferramenta que traz, para dentro do micro do usuário, indexando seus arquivos, o poder do famoso sistema de busca que batiza a companhia.

A novidade desse novo beta é que agora ele inclui um “sidebar”, um painel retrátil que fica na lateral da área de trabalho do Windows. Ele engloba uma série de novos recursos e integra alguns outros produtos do Google, incluindo o recém–lançado mensageiro instantâneo Talk.

O que mais impressiona nessa segunda novidade não é o sistema de mensagem instantânea em si, que é espartano, mas sim a qualidade das conversas por voz que realiza entre seus usuários PC a PC, equiparáveis às do aclamado Skype.

O Talk ainda não conversa com nenhum outro produto da categoria, apesar de o Google já ter entrado em contato com os grandes players desse mercado – MSN, AOL e Yahoo! – para promover a interoperabilidade entre seus produtos, por enquanto sem sucesso.

Mas o que deve ser considerado nesses lançamentos não são os produtos em si, e sim as mudanças que sinalizam e que devem afetar toda a internet a médio prazo.

O Google vem diversificando o seu portfólio de produtos, lançando novidades com uma velocidade impressionante. Além disso, está migrando de um domínio de produtos em que os internautas usavam anonimamente, como é o caso do próprio buscador, para produtos que cada vez mais identificam claramente seus usuários.

O mais importante desses produtos, lançados no ano passado, foi o GMail, o sistema de e–mail gratuito que balançou a internet mundial por oferecer, na época, um gigabyte de espaço de armazenamento (hoje está em dois gigabytes). Depois veio o site de relacionamentos Orkut, que se transformou em uma verdadeira febre no Brasil, surpreendendo até mesmo seus criadores.

Agora chega a vez de um sistema de mensagens instantâneas, algo essencial para quem quer seus usuários ligados de vez a seus produtos. Qualquer serviço online consciente que queira manter tal fidelidade de seus usuários, gravitando em torno de sua marca, deve possuir um produto nessa categoria, assim como um e–mail realmente robusto. Não por acaso, os grandes nomes do mundo online têm sistemas absolutamente consolidados nessas duas categorias: MSN, seguida pela AOL e finalmente pelo Yahoo!. O Google parece disposto a entrar definitivamente nesse seleto grupo de empresas.

Isso não quer dizer que esteja abandonando sua ferramenta de busca, que continua seu carro–chefe. Mas, com o aumento da concorrência no setor, especialmente da MSN, a empresa de Mountain View está se mexendo. Cada vez mais, fica parecida com a AOL e a MSN, mas sem se preocupar com conteúdo editorial (apesar de seu Google News) ou oferta de acesso à internet.

Ela se foca em produtos extremamente simples no uso, porém poderosos e eficientes. Cada vez mais ligados a nome e sobrenome de seus usuários, eles procuram realizar bem apenas as poucas tarefas a que se propõem. Para que isso passasse a ter a sensação de unicidade necessária a um pacote de soluções online completo, faltava um integrador de todos esses produtos, que garantisse a interoperabilidade de tanta eficiência. O Google Desktop, com seu sidebar, parece ser a resposta a essa demanda essencial.

Apesar de pouca gente ter percebido a importância desse movimento da empresa, ele não chega a ser exatamente revolucionário e o Google não é o único que caminha nesse sentido.

Recentemente, a AOL americana liberou o seu conteúdo editorial total e gratuitamente, rompendo um modelo econômico de 20 anos, que pregava que ele era exclusivo de seus assinantes. O império online massificado por Steve Case parece disposto a se concentrar em seus produtos, em detrimento de seu conteúdo, para definir seu diferencial: liberam as funções essenciais e reservam o “crème de la crème” a quem assinar seu serviço.

A MSN parece seguir o mesmo caminho, investindo pesadamente nas últimas versões do Hotmail, do Messenger e especialmente do MSN Busca, concorrendo justamente com o Google nesse mercado de buscadores que é considerado um filé mignon da web.

Aparentemente, essa nova onda ainda não chegou aos portais brasileiros, que continuam insistindo em investir em conteúdo editorial como a principal forma para reter seus assinantes ou mesmo conseguir novos. É uma clara influência do UOL, que sempre apostou em seu conteúdo como diferencial. Apesar de não ser mais o líder do mercado brasileiro, é certamente um nome com uma autoridade enorme sobre os outros players locais.

O fato é que os portais brasileiros têm negligenciado bastante a questão de produtos online de alta qualidade, principalmente se comparado ao que temos visto no exterior. Os produtos locais estão uma ou duas gerações atrás dos equivalentes americanos, perdendo mesmo para produtos gratuitos, oferecidos irrestritamente, como é o caso do já citado GMail.

Essas empresas ainda não desenvolveram a consciência da importância de se ter a “identidade virtual” de usuários (assinantes ou não) em torno de sua marca. Continuam vendendo (ou dando), como principal produto, o acesso à internet, uma herança infeliz de um produto que é, na realidade, parte do portfólio das teles. Acham que isso irá “amarrar” seu assinante à marca.

É uma visão distorcida dos fatos, pois, cedo ou tarde, seja por lobby, seja pela popularização da banda larga, o acesso passará a ser produto de quem realmente o detém. E aí poderíamos perguntar o que sobraria aos portais brasileiros, que já não mais poderiam ser chamados também de provedores de acesso. Não seria espantoso se os assinantes migrassem para uma combinação das teles com provedores de produtos americanos, especialmente MSN, AOL, Yahoo! e Google. Isso é muito sério, e vem acontecendo debaixo do nariz dos portais tupiniquins. Algo realmente para se pensar. [Webinsider]

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<strong>Paulo Fernando Silvestre Júnior</strong> é jornalista, professor e atravessou seus dez anos de internet na Folha, no UOL e na AOL.

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Uma resposta

  1. Prezado Paulo Fernandes

    É com prazer que leio sua reportagem, porém os pequenos ficam massificados por falta de opção.

    Estou em busca de reestruturar nosso site, e ai o bicho pega, preços caros e sugestão sem objetividade.

    Como podemos encontrar característica ao que você noticia.

    abraço

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