A dinâmica do mercado e as exigências de prazo

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Assim como diversas profissões, o design gráfico, nas últimas duas décadas, vive uma revisão de valores em conseqüência das transformações globais. A prática e ascensão do design gráfico como profissão no Brasil está diretamente ligada à introdução e popularização das tecnologias digitais.

Os instrumentos de trabalho de um designer gráfico, até 1985 consistiam em papéis, lápis, lapiseiras, estilete, canetas hidrocor e nanquim, réguas, esquadros, curvas francesas, colas, letraset etc. As tarefas de desenvolvimento de layouts exigiam, além de tempo, grande habilidade manual por parte dos executores, além do domínio de técnicas que hoje se tornaram obsoletas.

A partir de 1985 deu–se início à popularização dos computadores pessoais e a profissão se popularizou e sofreu transformações de grande impacto. Hoje a rotina do designer conta com um ambiente totalmente informatizado, em constante evolução. A tecnologia digital oferece inúmeras possibilidades como ferramenta de trabalho, com o objetivo de reduzir o tempo de processamento de uma operação, seja qual for sua complexidade.

A indústria gráfica atual tem a internet como uma grande aliada, Através da interatividade, a rede mundial de computadores possibilitou o aumento da velocidade de transmissão de informações de forma jamais vista até então. O e–mail e o PDF surgiram como facilitadores da transmissão de informações e aceleradores dos processos de transmissão de dados e aprovação de projetos.

Não se pode fechar os olhos aos benefícios trazidos pela era da informação. Mas é preciso analisar também aspectos menos positivos desencadeados pela evolução tecnológica. O mesmo computador que permite ultrapassar os limites da criatividade e possibilita novas técnicas de planejamento e produção é também responsável pelas alterações das relações entre tempo e trabalho.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia dinamiza a produção gráfica e reduz o tempo de transformação de uma idéia em um produto de design, ela também provoca transformações sociais. Essas transformações sociais, especialmente as de caráter comercial, implicam em produtos com ciclo de vida progressivamente menores, e por conseqüência demandam serviços (como os de design) que sigam esta métrica. Ou seja, o cliente passou a exigir resultados rápidos com o objetivo de atender suas necessidades comerciais.

Somam–se à evolução da tecnologia e ao aumento da velocidade de transmissão de informações dois outros fatores responsáveis pela redução dos cronogramas de projeto: a falta de planejamento do cliente e uma deficiente “cultura de design” por parte dele. A falta de conhecimento da importância do design gráfico bem feito pode influenciar o resultado dos negócios. A mesma arte capaz de alavancar as vendas de um produto, atrair novos consumidores ou aumentar a procura de um serviço, pode ser responsável pelo fracasso do negócio, se feita às pressas e sem planejamento. Não que isso seja uma regra, mas um trabalho executado sob pressão tem muito mais chances de dar errado do que o projeto trabalhado dentro de um cronograma.

As conseqüências das mudanças

Escritórios estão repensando suas estratégias para se adaptar a um novo mercado que diante da revolução tecnológica e digital passou a exigir respostas mais rápidas, trazendo como conseqüência a diminuição de prazos para entrega de projetos. Tudo é “para ontem”.

Diante da concorrência e da condição do consumidor moderno envolvido num mundo de tecnologia onde as informações são trocadas na velocidade dos “bytes”, os clientes buscam soluções que atendam as suas exigências com qualidade no menor tempo possível. Nesse ambiente dinâmico a flexibilidade torna–se uma aliada para enfrentar os desafios impostos pelo mercado.

O principal desafio dos designers gráficos é cumprir as exigências do cliente no prazo desejado, de forma que o produto final impresso seja eficiente aos olhos do público final consumidor, o que significa, em alguns casos, abrir mão do tempo em favor de resultados rápidos. Esse fato ocorre devido às necessidades comerciais de cada cliente.

Cada projeto é um caso a parte, porém quanto mais claras forem as etapas de execução, maiores são as chances do resultado final ser bem sucedido. Muitas vezes, dependendo da complexidade, algumas etapas se sobrepõem ou se misturam, assim como novas etapas podem surgir em decorrência de necessidades especiais. Não existe uma regra a ser seguida, mas alguns pontos podem esclarecer como funciona o processo de projetar design gráfico.

Após o contato com o cliente, resumidamente as etapas de um projeto consistem nos seguintes passos: briefing, levantamento de dados, conceituação do projeto, geração de alternativas, apresentação para o cliente, ajustes da proposta aprovada, desenvolvimento do projeto, indicações para produção, revisão, finalização do arquivo, fechamento de arquivo, pré–impressão, impressão, entrega e/ou distribuição.

A competição entre os escritórios em busca de novos clientes, a disputa para manter clientes conquistados e a saturação do mercado de trabalho em algumas regiões têm levado profissionais a aceitar projetos de prazo muito curto, fazendo disso uma prática cada vez mais comum. Todos trabalham sob pressão, em busca de um atendimento eficiente.

O encurtamento dos prazos por parte dos clientes, que exigem trabalhos da noite para o dia, leva a verificação de até que ponto a redução dos cronogramas pode influenciar na qualidade projetual e no seu resultado final.

As conseqüências da redução de prazos

O fato de um cliente querer um trabalho com pouco tempo de execução não significa que sua exigência em relação à qualidade seja proporcional ao tempo dispensado ao projeto. Prazos curtos não são exceção à regra. Trabalhos assim são conseqüência da falta de planejamento por parte do contratante do serviço de design e também da falta de uma cultura de design.

Muitos ainda acreditam que o computador faz tudo sozinho e não compreendem a necessidade de prazos um pouco mais folgados. O cliente que contrata um serviço nessas condições tem que estar ciente que a diminuição do tempo de execução pode prejudicar não somente quem o executa, mas as conseqüências podem se refletir no produto, no usuário e nos resultados comerciais.

Outro fator que prejudica a qualidade dos projetos são as correções de última hora. O cliente passa as correções por telefone e não há tempo para conferências minuciosas. Fazer com que o cliente assine o “boneco” ou passe uma aprovação escrita por e–mail ou assinada por fax são pontos imprescindíveis para diminuir o risco de erros. A assinatura do cliente também isenta parcialmente o designer pela culpa de maiores prejuízos, o que poderia ser fatal para um escritório de pequeno porte.

Analisando a parte estética, correr contra o tempo significa acelerar o processo de criação. As horas economizadas graças ao computador poderiam ser gastas na concepção do projeto, gerando mais qualidade. A empresa contratante perde a chance de apresentar ao mercado um projeto melhor acabado, pois aplicação de vernizes, grampos, relevos, hot–stampings, colagens e um sem número de acabamentos exige tempo. Às vezes é necessário abdicar de qualquer acabamento especial em favor do tempo. Economicamente falando, o prazo reduzido reduz as possibilidades de escolha de gráficas. A impressão do trabalho será feita por aquela gráfica que estiver disponível no momento da exigência de impressão, seja qual for o orçamento.

Como amenizar o problema

Para minimizar é preciso planejar. Se o cliente não tem planejamento, o prestador de serviço deve fazer uso da gestão interna de seu escritório para cobrir o erro do contratante.

Antes de tudo é relevante listar alguns fatores que garantem o cumprimento dos objetivos de um projeto de design de maneira eficiente:

▪ O projeto deve preencher os requisitos do briefing, atendendo as necessidades do cliente, de forma que seu produto transmita a mensagem desejada ao seu consumidor;

▪ Do ponto de vista técnico, o projeto deve ser bem impresso, ter qualidade gráfica, fotos com definição, bom acabamento, fidelidade de cores e outros cuidados gráficos que caso não sejam cumpridos podem pôr a perder toda a estratégia estabelecida;

▪ Do ponto de vista estético, a peça deve ser bem desenhada e agradar o cliente, que conseqüentemente deseja agradar/conquistar seu consumidor final. Lembrar que o design reúne aspectos subjetivos e une conhecimento técnico e criatividade, cujos resultados não são fruto de uma ciência exata e exigem um tempo indeterminado para amadurecer. Uma marca, por exemplo, pode levar uma hora para ser feita, dois meses ou mais.

▪ Do ponto de vista da gestão, o designer, ou a empresa prestadora do serviço de design, deve assegurar que se cumpram os objetivos do projeto nos prazos planejados.

Muitos outros itens poderiam ser listados, mas nenhum requisito é tão importante quanto fazer a comunicação eficiente ao consumidor. Esta eficiência se traduz em satisfazer o cliente que por sua vez quer comunicar seu produto a um consumidor final, dentro de um espaço de tempo. De nada adianta um trabalho impecável se ele não ficar pronto no prazo estipulado.

Conscientizar o cliente da importância de um trabalho feito com tempo, explicando os riscos que ele corre com um trabalho executado as pressas é um fator a ser trabalhado pelo designer contratado.

Alguns pontos podem ser enumerados para que o escritório esteja preparado para atender o cliente com agilidade:

▪ Atualização tecnológica – o profissional deve ter equipamentos eficientes à sua disposição;

▪ Eficiência no atendimento e interação da equipe de design com outros setores da empresa – estruturas burocráticas podem ser prejudicadas pela falta de agilidade no fluxo de informações;

▪ Aprimoramento de técnicas – atualização profissional, especializações, cursos técnicos, etc.;

▪ Quanto mais se conhecer do cliente, maiores são as chances de cumprir o prazo com um projeto eficiente que se enquadre no perfil desejado. Nesse caso é também válido fidelizar o cliente;

▪ Ter uma equipe confiável e experiente conta pontos nesta corrida. Saber a quem delegar as tarefas na hora do “corre–corre” pode ser o ponto mais importante. Um designer mais experiente e com a familiaridade necessária com as rotinas de criação provavelmente trará respostas mais eficientes num espaço de tempo menor;

▪ Contar com profissionais atualizados, “antenados” nas questões mais diversas, sejam tendências relacionadas ao segmento do cliente, sejam ao segmento de design (gráfico, produto, moda, etc.) aumenta a capacidade de oferta de um trabalho diferenciado;

▪ Capacidade de estabelecer alianças com parceiros e fornecedores – muitas vezes a eficiência do projeto está vinculada a outros profissionais que fazem parte da cadeia de produção do design gráfico. Fornecedores como fotógrafos, ilustradores, redatores, tradutores, fotolitos e gráficas devem fazer parte de uma cadeia que em parceria com o escritório seja capaz de resolver o problema do cliente;

▪ Para finalizar não se pode esquecer que a tecnologia é apenas mais uma ferramenta e também pode falhar. Além de prever todas as possibilidades de problemas, pode ser crucial fazer back–ups diários dos projetos em andamento no caso de falha mecânica.

Não há como evitar trabalhos “para ontem”. Os clientes estão aí assim como as necessidades do mercado. Mesmo os clientes que já possuem uma educação de design eventualmente vão precisar de um projeto de última hora. Os escritórios que estiverem preparados para o atendimento imediato vão sair na frente. [Webinsider]

Referências

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BATAGLIESI, Rogerio. Informática e produção de design gráfico. In: O Valor do Design: guia ADG Brasil de prática profissional do designer gráfico. São Paulo: Editora Senac; ADG Brasil Associação dos Designers Gráficos, 2003.

BRESCIANI. Giuliano. Arquitetura do Consumo. In: Marketing Place

BERTGES, Luiz Antonio. A tecnologia da informação. In: Tecnologia da Informação, 1999.

FARIAS, Priscila L. Tipografia digital. O impacto das novas tecnologias. Rio de Janeiro: 2AB, 1998.

FERREIRA, José Natanael. Revolução Tecnológica. In: Wikipedia, a enciclopédia livre, 2005.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

MELO, Franciso Homem de. O processo do projeto. In: O Valor do Design: guia ADG Brasil de prática profissional do designer gráfico. São Paulo: Editora Senac; ADG Brasil Associação dos Designers Gráficos, 2003.

NOSSA, Claudio. O que o e–mail tem de bom. In: WideBiz, 2003.

NOVA EMPRESA, A. In: HayGroup, 2002

Que é Adobe PDF, O. In: Adobe. 2005

ROBLE, Luiz Renato. Muito além do cliente. In: Datamaker Designers, 2003

RODRIGUES, Zé Henrique. PF à la carte. In: ABCDesign, n.º 13, p. 36–37, set 2005.

SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Mutações do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 1999.

<strong>Claudia Crepaldi</strong> é designer e especialista em gestão do design gráfico.

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