Confúcio, Sun Tzu e a gestão do conhecimento

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(com Francisco Antonio Pereira Fialho e Marcelo Macedo)

Prosseguindo o texto anterior (O pensamento oriental e a gestão do conhecimento, ao lado), vamos ver que o pensamento estratégico é antigo no Japão e que confucionismo dá enorme importância à educação.

Os regimes feudais reinavam sem contestação em boa parte da Ásia até pouco tempo atrás, no século dezenove. A Etiqueta e a Conduta que conferiam o sim ao príncipe, além de sua eficácia e virtude, tornaram–se unânimes na corte de vassalos.

Sun Tzu escreveu o maior clássico antigo sobre estratégia, a Arte da Guerra. Pouco sabemos, infelizmente, sobre o autor. O livro começa assim:

“A arte da guerra é de importância vital para o Estado. É uma questão de vida ou morte, um caminho tanto para a segurança como para a ruína. Assim, em nenhuma circunstância, deve ser negligenciada”.

E termina assim o prefácio:

“Dessa maneira, apenas o governante esclarecido e o general criterioso usarão as mais dotadas inteligências do exército para a espionagem, obtendo, dessa forma, grandes resultados. Os espiões são os elementos mais importantes de uma guerra, porque neles repousa a capacidade de movimentação de um exército”. (Clavel, 2000, p. 8)

Neste clássico de 2.500 anos notamos a preocupação com estratégia e a inteligência estratégica. A primeira tradução para o Ocidente foi feita pelo jesuíta francês, Padre Amiot, em 1782. Segundo o tradutor, o livro foi usado por Napoleão, a quem ajudou a alcançar sucesso militar.

Na estratégia militar, segundo Sun Tzu, há cinco fatores constantes: Moral, Clima, Distâncias/Relevo (logística), Método e Disciplina. O livro dá importância ao plano de guerra (planejamento estratégico) e, na guerra, ressalta a logística, o planejamento dos recursos e os custos advindos dos deslocamentos e do tempo de guerra:

“Quando nos empenhamos numa guerra verdadeira, se a vitória custa a chegar, as armas dos soldados tornam–se pesadas e o entusiasmo deles enfraquece. Se sitiarmos uma cidade, gastaremos nossa força e se a campanha se prolongar, os recursos do Estado não serão iguais ao esforço. Nunca esqueça, quando as armas ficarem pesadas, seu entusiasmo diminuído, a força exaurida e seus fundos gastos, outro comandante aparecerá para tirar vantagem da sua penúria. Então, nenhum homem, por mais sábio, será capaz de evitar as conseqüências que advirão”. (Clavel,2000, p. 22).

O pensamento estratégico advindo da Arte da Guerra continua muito vivo no Oriente. Após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, Akio Morita, da Sony, sentenciou que o Japão se reergueria com a vitória na guerra comercial com os países ocidentais. Vinte anos após, o Japão já figurava como segunda economia do mundo, com aplicação de estratégias comerciais radicais e uma revolução na produção de produtos bons, inovadores e baratos.

A base educacional do Confucionismo

O nome de Confúcio era célebre em toda a confederação chinesa. Nasceu em 551 a.C., em Lu, atualmente a província de Shatung. Reza a tradição que teve 72 discípulos, que teriam compreendido perfeitamente seus ensinamentos.

A paixão de ensinar através do comentário marca o surgimento de uma predileção pelas formas pragmáticas de ensino. Ele tentou fazer com que se reconhecesse o valor de uma psicologia positiva, habituando seus discípulos a refletirem em comum sobre incidentes cotidianos (Granet, 1999).

O confucionismo é tido atualmente mais como um conjunto de normas comportamentais. Acreditava–se, segundo Sgarioni (2004), que a China de sua época necessitava de uma reforma política baseada na moral e na ética, as únicas maneiras de instaurar a ordem e a justiça no país.

Para Confúncio, a política era uma extensão da ética, tanto que decidiu elaborar um código de conduta para quem exercesse o poder. É dele a frase tradicional: “Um governo é feito de homens e não de leis” (idem,p. 45).

Acredita–se que Montesquieu, filósofo do iluminismo europeu do século XVI, se baseou em Confúcio para dizer que: “quando um povo tem bons costumes, as leis se tornam simples”. Confúcio afirmava que somente homens que possuíssem qualidades morais e éticas alcançadas por meio de uma rígida educação poderiam exercer o poder. Para ele o cerne da corrupção e da degradação humana estava na falta da educação.

Conforme o sinólogo Bueno (apud Sgarioni, 2004), Confúncio passou quase toda a vida lecionando e acreditava que se todas as pessoas fossem educadas, elas saberiam como viver em harmonia com a natureza e com a sociedade. Ainda Bueno:

“A pedagogia confuciana estava à frente de seu tempo, preconizando um ensino aberto para todos, sem diferenciação de origem social. Suas aulas eram a céu aberto e seu método levava em conta as aptidões de cada um de seus discípulos” (p. 46).

O Confucionismo foi perseguido de 221 a.C. até 207 a.C. pela dinastia Qin(Chin) e renasceu com o advento da dinastia Lan (206 a.C a 220 d.C.), que reconstruiu as escolas de Confúcio.

Como a China era a grande referência cultural da época, o confucionismo foi introduzido nos países vizinhos, como Japão, Coréia e Vietnã. A escrita por ideogramas foi importada pelo Japão e fatores importantes do sucesso atual japonês recebem influência confuciana, como lealdade, honra, relações sociais e familiares, além da educação para a ação.

No próximo texto veremos que as comunidades de prática são um elo comum nas abordagens ocidental e oriental e também as bases do sucesso oriental na gestão estratégica do conhecimento. [Webinsider]

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Referências bibliográficas

– Clavel, J. A Arte da Guerra – Sun Tzu. Rio de Janeiro: Record, 2000

– Drucker, P. Sociedade Pós–Capitalista. São Paulo: Pioneira, 1999

– Granet, M. O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997

– Nonaka, I.; Takeuchi, H. Criação de Conhecimento na Empresa. Rio de Janeiro: Elseiver, 1997)

– Kondo, Y. Motivação Humana. São Paulo: Editora Gente, 1994

– Fleury et al. Gestão Estratégica do Conhecimento. São Paulo: Atlas, 2001

– Sgarioni, M. et al. As Lições do Mestre – Super Interessante. São Paulo: Abril, 2004 (edição 208)

– Weinberg, M. 7 Liçoes da Coréia para o Brasil. São Paulo: Veja (número 1892), 2005.

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Conheça mais dos autores no livro Empreendedorismo na Era do Conhecimento

Tibério da Costa Mitidieri (architib@terra.com.br) é doutorando em gestão do conhecimento

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4 respostas

  1. Olha sou evangelica mais a professora de filosofia passou um trabalho pedindo cinco caracteristicas da etica no confucionismo e ate agora ñ achei nada

  2. E VERDADE QUE SUN TZU FEZ UM PACTO COM O CAPETA QUNDO BUSCOU INSPIRÇÃO PARA ESCREVER O LIVRO A ARTE DA GUERRA? POIS SE FOI, JÁ TIVE UMA EXPERIÊNCIA DESAGRADÁVEL QUANDO ME ENPENHEU EM LÊ-LO. QUEM LER ESTE COMENTÁRIO E SE TIVER ALGUM CONHECIMENTO SOBRE O QUE ESCREVO, POR FAVOR MANDE ALGUMA ARTE PARA MINHA CAIXA DE MENSAGEM.

  3. Estou concluíndo uma pesquisa científica que tem como tema O capital intelectual , tenho me preocupado com o nível de conhecimento das pessoas em suas funções e lideranças, o que as pessoas que ocupam cargos de liderança tem feito para agregar valor dentro de suas organizações, para produzir e aplicar conhecimento ? tratando- se das imprevisíveis mudanças no mercado global…

  4. O livro A arte da guerra, e um livro que mostra valores que devem ser usados no dia-dia profissional. Podendo ser desdobrado em diversas profissões, mostrando o valor da educação.

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