Jornalismo online hoje: o case da Copa do Mundo

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Imagine se o carnaval não fosse mais anual. Se a partir de agora só pudesse ser comemorado de quatro em quatro anos, porém durante um mês todo!? É isso aí, 30 dias de folia.

É claro que o país iria literalmente parar e os veículos de comunicação não perdoariam: seria uma overdose de “luz, divina luz”, “naveguei pelas águas da felicidade”, “explode coração”, entre outros lugares-comuns que atualmente temos que suportar, ano após ano.

Bem, é exatamente esta a sensação que tenho ao acompanhar a cobertura da Copa do Mundo da Alemanha. Todos os veículos de comunicação do país, desde a Rede Globo com seus mais de 180 profissionais até a rádio Marco Zero, de Macapá, com seus “2 heróis” que foram cobrir a Copa dos excluídos, inundam os meios de comunicação com boletins minuto-a-minuto do que acontece nas cidades-sede e, principalmente, com a seleção brasileira.

– Ronaldinho Gaúcho acordou! – Ronaldo “Fenômeno” diz que não está gordo! – Ronaldinho Gaúcho jogou videogame! Parreira diz que Ronaldo não está gordo! – A família do Kaká mandou um beijo! – Ronaldo diz que emagreceu! E assim se vão os dias, e com eles a paciência.

Se analisarmos exclusivamente o que ocorre com os jornais online, o fenômeno (com f minúsculo) se torna sintomático. Todos os portais criaram áreas especiais para a Copa, até com muitas boas e relevantes informações históricas do evento, bem como dados sociais e geográficos do país e das cidades que receberão os jogos.

Há também um sem-número de blogs, de todos os tipos e tamanhos, para todos os gostos. E em todos eles o internauta pode “interagir” postando comentários que, se der sorte, serão até respondidos pelo mantenedor. Há também as narrações minuto-a-minuto das partidas, que não foram criadas agora, para a Copa, mas estão presentes em todos os sites. Isso sem falar nos paparazzi da bola, aqueles “jornalistas” que seguem os jogadores até dentro dos banheiros, se for possível, fazendo das concentrações verdadeiros reality shows.

Bem, mesmo com todo este aparato de pessoas e equipamentos digitais, quase nada de importante é noticiado. Faça um teste: visite os principais portais do país e suas manchetes sobre a Copa. Todas serão similares, replicações ou versões do mesmo tema. Você selecionará, no máximo, umas quatro ou cinco notícias que fazem alguma diferença ou tenham impacto real sobre o evento.

Faço todas estas observações, não porque não gosto de futebol e estou de saco cheio com a Copa (aliás, é bem pelo contrário). O que realmente incomoda é o paradoxo que estamos vivenciando: quanto mais variadas são as possibilidades de comunicar, menos relevante se torna a informação. Não uma ou outra informação específica, mas o todo do noticiário.

Bem, isso tudo nem é novidade e alguns teóricos da vida em rede alertaram sobre a questão, há algumas décadas atrás. Porém, nós só aprendemos mesmo é com cabeçadas na parede. Com o jornalismo digital ocorre a mesma coisa.

Afoitos por noticiar tudo, de todas as maneiras e a todo momento, esqueceu-se de apurar o modelo de uma linguagem própria para o jornalismo na rede. Esta nova linguagem, que já deixou o estágio embrionário, não se trata meramente de uma questão formal, mas também conceitual. Explorar as possibilidades do meio não quer dizer que se deva produzir todo o tipo de conteúdo, em todos os formatos possíveis, initerruptamente.

É necessário produzir com pertinência. As matérias podem ser editadas de verdade, de maneira que as narrativas se tornem únicas para cada usuário, de acordo com os circuitos pessoais que ele traça.

Toda informação caracterizada como hard news continuará a existir, é claro, mas será um commodity, oferecido por todos, com pouquíssimas variações. Porém teríamos também opções à mesmice, com matérias aprofundadas, contextualizadas e multilineares, que explorem com inteligência as propriedades do texto, vídeo, podcast, infográficos e, principalmente, a participação dos leitores.

Já que é do que se trata por estes dias, podemos dizer que é necessário trazer a web 2.0 também para o jornalismo digital, com todas as suas boas possibilidades e implicações. E não há porque esperar, afinal, a Copa de 2010 está aí. [Webinsider]

Leonardo Oliveira é mestre em Jornalismo Digital pela ECA/USP.

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Uma resposta

  1. Já trabalhei como jornalista em uma agência on-line, (Rede de Notícias – ES) e vejo que ainda é um processo em evolução este encontrar sinceridade e real informação neste veículo. Veja a cobertura do caso do metrô de São Paulo; o companhamento passo a passo mantém o interesse do leitor / navegador na informação, bem como a morte do Saddam Hussein, apesar de feriri todfos os preceitos éticos de informação. O niteressante é observar que ainda se faz polêmica sobre um fato que foi visto como que na íntegra, Ditador orou antes de morrer. Não bastou vê-lo na execução ?? Deve-se ainda buscar o que falar sobre ??? E o caso Cicarelli You Tube ?? Está lhe rendendo o seu programa por uma questão de capricho pessoal, pedir a retirada do vídeo para depois negar a sua responsabilidade ?? É um veículo com muito a evoluir ainda em um conceito ético.

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