Sites do governo têm muito a melhorar nas interfaces

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Pelo mundo afora existem administradores do setor público que encaram a internet como uma força no sentido de melhorar o atendimento do Estado aos cidadãos.

Mas há também o contrário: aqueles governantes que vêem na rede uma ameaça ao seu poder e procuram cerceá-la ou controlá-la de diversas formas. O exemplo mais emblemático disto tem sido a China, país cujo governo deseja transformar a web numa gigantesca intranet, bloqueando a liberdade de expressão (com a colaboração inclusive de diversas empresas ocidentais, como Google, MSN, etc).

Felizmente, o nosso país se posicionou no primeiro grupo. Com a crescente importância da internet no setor público, o Brasil desenvolveu o projeto de governo eletrônico com a proposta de ser um instrumento para a transformação da sociedade e do próprio Estado.

O papel do e-Gov no Brasil orienta-se para as demandas dos cidadãos e deve promover o acesso aos serviços públicos, o direito à informação e o direito ao usufruto do próprio tempo (economia de tempo e deslocamentos). Outro papel do e-Gov seria o de funcionar como catalisador de mudanças – diminuindo a burocracia e combatendo os feudos de poder que existam dentro do setor público.

Observa-se que as mudanças introduzidas pela tecnologia da informação e a internet não devem reproduzir as lógicas tradicionais de funcionamento do Estado. Não se trata somente de colocar serviços e informações do governo disponíveis na internet. Lógico que este é o primeiro passo, mas é importante fazer com que se promova o seu efetivo acesso e uso pelos cidadãos.

A visão do e-Gov envolve a participação e o controle social. Esta visão inclui atender as necessidades e demandas dos cidadãos individualmente, mas a vincula a princípios de universalidade. Ou seja, a inclusão digital é um elemento constituinte da política de governo eletrônico.

Brinquedinho de tecnólogos?

Na prova de acesso e uso – me corrijam se eu estiver enganado -, parece que o Estado brasileiro tira notas baixas. Tem pouca consciência sobre as questões relacionadas à usabilidade de suas interfaces. Apesar da lei existente, o Estado pouco tem feito na prática para garantir a acessibilidade de seus portais. A maior parte das organizações públicas encaram os seus sites como peças de marketing ou como brinquedinhos para seus tecnólogos e não como o que realmente são – uma interface com o cidadão.

A evidência disso é que, em alguns órgãos do governo, os sites são avaliados e aprovados por executivos que têm pouca ou nenhuma idéia de como se comporta um usuário real. Em muitos portais do governo, os sites são estruturados com foco em processos internos de decisão e se apóiam em linguagem cifrada ou siglas incompreensíveis para o comum dos mortais. Percebe-se o desrespeito a um dos princípios elementares da arquitetura de informação.

Não há nem sombra da implementação do ciclo de design centrado no usuário ou da engenharia de usabilidade. Testes de usabilidade quase nunca são realizados. O cidadão – que deveria participar do desenvolvimento dos sites, num processo de design participativo – é negligenciado. Além disso, ainda são pouquíssimos os sites de governo que se adequam aos padrões de acessibilidade do W3C (World Wide Web Consortium).

Mais que isso: é preciso alargar o próprio entendimento de acessibilidade. Sites acessíveis devem beneficiar também grupos de indivíduos com deficiências cognitivas, para quem o material deve ser criado com simplificação da linguagem – o que é importante para muitas instituições que trabalham com informações complexas. Mais do que uma questão tecnológica, importa a acessibilidade do conteúdo, principalmente em um país como baixos índices educacionais, como o nosso.

A utilização de imagens, textos, gráficos, animações, contextualização, histórias e multimídias pode fazer parte de um movimento para apresentar ao cidadão informações complexas de modo simples, o que é a base da arquitetura de informação. Todo esse esforço vale a pena para democratizar o fluxo da informação do Estado e para evitar que a sua utilização se torne um privilégio de especialistas. [Webinsider]

Luiz Agner (luizagner@gmail.com) é doutorando em Design pela PUC-Rio e programador visual do IBGE

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Mais lidas

14 respostas

  1. Além do desconhecimento sobre o funcionamento de um site por parte da maioria dos gestores públicos, há ainda as políticas de comunicação que engessam o formato das páginas. Vejamos como exemplo que apesar de já se falar em internet 3.0 os sites governamentais ainda nem chegaram à web 2.0. Não abrem um feedback leal com o seu´público principal: o cidadão. No máximo apresentam um local para um “e-mailzinho”, uma enquete com muito sentimeno de culpa, ou um telefone de contato com um ilustre desconhecido e despreparado funcionário público e eleiminam completamente espaço para comentários. A transparência é maquiada com design hora pomposo hora supersimples.

  2. Sou estudante de comunicação integrada da Puc-São Gabriel -MG.
    Acabei de ler o texto .
    Que bacana!
    Concordo com você luis!E como esses sites precisam melhorar!O excesso de informação é tão grande…
    Me desespero quando preciso acessar um site do tipo.Fico imaginando uma pessoa que precisa acessá-los com certa frequência.Que tristeza!

    Gostei do que li.

    Reijane Cardoso

  3. Estou envolvido no trabalho do Portal governamental, e só o fato de haver um projeto pra unificar aquilo que os sobrinhos tornaram um carnaval, já é um bom sinal.

    Estou lutando pela Arquitetura da Informação e usabilidade do site e realmente os egos são sempre um obstáculo – mas acho que uma boa argumentação e um trabalho sério de taxonomia e AI acaba deixando os grandões felizes com os resultados.

    É claro que nem tudo são flores, e as vezes tenho que aceitar uns flashs, bolds, etc… porém numa visão otimista, os avanços estão acontecendo, sim.

  4. Prezados Colegas,
    Não estou muito atrasada para deixar meu comentário.
    Vejo apenas na falta de conhecimento, informação.

    Tudo começa com um trabalho de conscientização da importância toda metodologia adotada para criação de um portal, acredito que assim vc terá um pouco mais de força para começar seu projeto.

    Resumindo apenas:
    1. levantamento de dados;
    2. Organização de conteúdos;
    3. Categorização;
    4. Arquitetura;
    5. Usabilidade (testes);
    6. Acessibilidade;
    7. Desenvolvimento;
    8. e muito mais…

    Ah! Não esqueçam do cronograma, senão… nada vai pra frente… e só mais uma dica… documente tudo, quem sabe alguém não dê continuidade?

    Abraços!!!
    Carolina Quelotti

  5. Luiz, é difícil generalizar, viu? Já tive a oportunidade de trabalhar em alguns projetos do governo como ministérios e bancos e não é nada fácil.
    Os problemas abrangem desde profissionais das instituições que são despreparados, contratos forjados com sobrinhos até autoridades arrogantes. A troca de autoridades então é a pior, a rivalidade entre estas é ridícula. Já participei de projetos onde o site estava praticamente pronto e tivemos que refazer tudo porque mudaram a direção. E o site já estava pago, hein? Pagaram pra fazer outro.
    Mas já tive também o prazer de trabalhar com pessoas que sabem o que fazem e por isso mesmo são muito exigentes.
    Acredito sim que os portais do governo ainda tem muito o que melhorar e principalmente adequar aos padrões que a W3C estabeleceu. Mas já estão sendo feitos esforços com relação a isso, prova disso é o projeto do SERPRO – Acessibilidade na Web(http://www.serpro.gov.br/acessibilidade/).

  6. Muito oportuna esta matéria. A maioria dos governantes – e a Prefeitura de Maceió se insere nesse contexto = se contenta apenas em divulgar seus sites e e-mails. Contudo, as caixas postais estão sempre cheias, o que demonstra inefîciência ou irresponsabilidade. E assim de nada adianta o contribuinte formular qualquer reclamação ou até mesmo sugstões.

    Convinha que os srs. chefes de executivo e de departamentos atentassem para o fato. Ou cancelarem tais correios, já que não servem para nada.

  7. O Ministério da Educação recentemente aderiu a política de uso de sw livre do governo e criou uma comissão para tratar dos assuntos pertinentes ao novo portal, buscando, inclusive, descentralizar as tarefas de atualzação de conteúdos. Para isso a comissão se baseou nas regras da w3c e chamou, se preocupou com o usuário, fez cursos para os membros da comissão, utilizou trabalhos (teses e dissertações) que tratam de questões específica em portais governamentais… houve inclusive visita, análise (preditiva) e curso com o pessoal da Acesibilidade Brasil objetivando também orientar os administradores de conteúdo. Eu não participei desta comissão (participei de algumas poucas reuniões ao final do processo – e foi difícil dar sugestões), entrei como adminitradora de conteúdos e identifiquei alguns pts que poderiam ser melhorados. Infelizmente a equipe (programadores) que desenvolveu a infraestrutura do portal se dissolveu logo após a conclusão do sistema, deixando para trás alguns problemas que posteriormente identificados que afetam tanto o usuário que busca informações quanto o administrador que precisa lidar com um processo que, sem dúvida, poderia ser simplificado. Hoje o Portal MEc ganhou o selo de acessibidade daSilva, muito embora não atenda ao requisito básico de reconhecimento de links no meio dos textos (e esta história tbm é longa). Ainda existem problemas de usabilidade, mas, embora exista a vontade institucional exite tbm uma grande rotatividade de pessoal querendo mostrar empenho e perdendo muito tempo no aprendizado dos muitos sistemas que começam a entupir os servidores governamentais. Não tenho certeza de concordo com a contratação de agências – consultores sim. Talvez a mudança de paradigma facilite a constituição de equipes de sistema de informação, informática, ou seja lá que nome leve, objetivando um processo de desenvolvimento e manutenção mais adequado ao sistema governamental.

  8. Concordo em parte com os comentários… com algumas observações:

    – Sites de sobrinhos, para o governo, são impossíveis. Não tem como. A lei não deixa, não não e não.

    – Quem já trabalhou com o governo sabe como é complicado lidar com os egos… coisas como quero tudo em bold e fonte grande na home porque meu departamente é super importante são lugar comum.

    – Eles SABEM de tudo. Não adianta você ir lá com PHD em design do botão de ok, eles SABEM o jeito certo. E contra isso, cara… não tem muito o que dizer. Não me venha com essa de se o profissional é bom convence, não convence nada… além do que, se insiste muito, ainda gritam contigo no telefone e perguntam se tu tá sabendo com quem tu tá falando. E ponto. Quem acha que isso não existe ou tá fora da realidade ou nunca trabalhou com governo (ou trabalhou de maneira excusa, o que daí facilita, porque todos tem que ser amigos pra falcatrua funcionar…)

    – O portal Brasil (www.brasil.gov.br) é o melhor, disparado. Fazia parte de um projeto para adequar todos os sites do governo ao nivel 2 de acessibilidade, zope e tudo mais… mas sabe como é, so um pedaço foi feito. E mesmo nesse, depois de entregue os caras mudaram um monte de coisa lá nos departamentos de web deles mesmos…

    Em resumo: Governo, ainda mais brasileiro… vocês querem competência? Pra quem já trabalhou com eles, sabe que é sonho…

  9. Não há dúvidas sobre o quanto deve ser melhorado. Para ilustrar e com o objetivo de contribuir, posso mostrar dois exemplo: 1-Site da Receita Feceral. No fale conosco, caso sua questão não se enquadre no menu disponível, a resposta é para vc se dirigir aos fiscais; 2-Site da Prefeitura de SP. Para atualização cadastral de imóvel, uma das opções oferecidas é pela internet. Ao acessar o endereço, há apenas o lay-out do formulário que deve ser impresso, assinado, anexando um dos documentos exigidos e…entregue na Subprefeitura.

  10. O problema é que a maioria dos sites é feita pelos famosos sobrinhos, que mal sabem usar um Frontpage. Talvez nem saibam o que é usabilidade ou que exista a W3C.

  11. Também concordo plenamente com esta idéia, creio eu que estes websites são desenvolvidos por profissionais internos, concursados, e que na maioria das vezes não é o profissional ideal para desenvolver tal projeto, com estes departamento interno o governo acaba não contratando uma agência com especializada para desenvolver tal projeto.
    Na minha opinião este trabalho deveria ser tercerizado, pois se a idéia é acessibilidade, agilidade nas informações, para facilitar a vida dos usuários, eles estão muito longe disso.
    não sei se estou certo no que falei ai, se estiver errado por favor me corrijam.
    Obrigado
    Abraços

  12. A Matéria vêm abrir um debate primordial.
    No caso da Câmara Municipal de Fortaleza, com o site em funcionamento desde 1997, adotamos o criterio de abrir uma porta para as informações Legislativas.
    O Uso da Documentação Eletrônica e da Transmissão de Audio e Video veio facilitar a interação do Poder com o publico em geral.
    Uma Câmara Municipal normalmente muda sua administração a cada dois anos, o que dificulta a continuidade de trabalhos realizados por uma equipe de TI, que logo apos a mudança tem muitas vezes que mostrar aos atuais dirigentes, a importância do trabalho que esta sendo realizado e de sua continunidade.
    O Trabalho da Imprensa é fundamental na divulgação das informações diponiveis através da Internet por estes orgãos.

  13. so dezu.

    ainda não é perfeito, mas o salto qualitativo que os serviços públicos na web deram nesses ultimos anos é inegavel.

    de fato, são poucos os sites do governo que ganham o carimbinho da w3c ou mesmo se preoucupam com questões de acessibilidades… mas acho que chorar as pitangas por causa disso é um pouco além.

    Falta talvez um planejamento mais coeso, mas a vontade esta ali.

  14. Concordo com as constatações do Luiz.

    Entretanto gostaria de deixar aqui registrado alguns cases que fogem aos abordados no artigo.

    São projeto que foram produzidos por uma Equipe do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior:

    http://www.desenvolvimento.gov.br

    http://www.telecentros.desenvolvimento.gov.br

    http://www.cicex.desenvolvimento.gov.br

    http://www.aprendendoaexportar.gov.br/sitio/paginas/index.html

    Nossos projetos são focados exclusivamente no usuário final do site e de acordo com o objetivo de negócio proposto.

    Dessa forma passamos pelas fases: Planejamento, Arquitetura de Informação, Interface, Design, Engenharia de sistemas e Implementação. [não necessariamente nesta ordem]


    Flávio Ludgero
    flavioludgero@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *