Relações sociais se apropriam amplamente da internet

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Em seu início, a internet era eminentemente um instrumento de entretenimento, de pesquisa e de comunicação de massa. Através dos portais, nos limitávamos a ouvir música, ler notícias e pesquisar informações. O máximo de interação eram as ferramentas ou os sites de bate-papo. Fora isso, era uma via de mão única.

Com o tempo a internet amadureceu e adquiriu contornos inesperados. Ela evoluiu para deixar de se constituir mero reflexo do mundo que vivíamos para se tornar sua extensão. Se ontem a web retratava o mundo à nossa volta, hoje ela se constitui sua parcela onde também vivemos.

Através dela podemos nos expressar emocional, intelectual e até artisticamente e podemos também utilizá-la como instrumento de mobilização de massas (o que Marx teria realizado se em sua época já houvesse a internet?).

Ao derrubar as barreiras que distanciavam as pessoas e criar uma nova plataforma de interação social, a internet rompeu os paradigmas das relações sociais. Ela levou o mundo a também adquirir uma dimensão virtual onde também vivemos, nos relacionamos, emocionamos e somos emocionados.

Uma extensão do mundo que não é estanque mas que, pelo contrário, interage com a vida tal qual a conhecíamos. Nesse novo paradigma, crianças são reconhecidas e admiradas pelos seus pares pelos seus feitos em jogos online. No limite, rixas nascidas no ?mundo virtual? já chegaram ao ponto de serem resolvidas ?no mundo real?.

Se ontem o playground do mundo eram as ruas onde brincávamos, atualmente o playground do mundo é a web. Nele adolescentes paulistas se juntam com companheiros nordestinos para derrotarem crianças alemãs em jogos online.

Essa nova realidade não se limita ao mundo dos jogos. Pelo contrário, ela é multifacetária. No plano emocional, por exemplo, atualmente expressamos nossas emoções no silêncio eloqüente de mensagens deixadas no Messenger (ao lado dos nossos nicks).

Já, no plano político, manifestamos nossa indignação através de blogs onde conclamamos companheiros anônimos à luta. No plano social expressamos ao mundo nossas preferências através das nossas comunidades do Orkut. Arte é produzida coletiva e anonimamente como no caso do blog postsecret.blogspot.com. Diariamente, centenas de pessoas enviam fotos e imagens ao seu mantenedor Frank Warren, que seleciona as melhores imagens para compor uma verdadeira obra coletiva.

Comunidades

Nesse sentido, as comunidades são uma conseqüência natural desse novo paradigma. Elas claramente são produto da natural disposição humana para interagir em sociedade, assim como das pontes que a internet lançou tanto sobre os diversos povos, como sobre o anonimato das grandes cidades.

Diante desses fatos, não surpreende que hoje estejamos vivendo essa revolução, nem que ela se manifeste de forma especialmente intensa no Brasil. Pelo contrário, considerando a nossa natureza cordial e nossa formação latina, é natural que esse fenômeno tenha encontrado tamanha receptividade aqui.

O que na verdade surpreendente é que esse mesmo fenômeno tenha se manifestado em escala ainda mais intensa nas sociedades asiáticas. Afinal, é notória a dificuldade que esses povos têm para interagirem socialmente. Quando paramos para pensar a respeito somos obrigados a concluir que apenas a distância e o anonimato nas relações assegurados pela web podem explicar tamanha contradição.

É que essas características das relações via a internet possuem a capacidade de romper as barreiras culturais que impedem os asiáticos de interagirem entre si com a mesma facilidade com que nós fazemos de forma direta e pessoal. Com isso ela acaba por viabilizar a satisfação de uma necessidade humana reprimida por fatores sócio-culturais.

Como se pode perceber, os efeitos da internet sobre as relações sociais não estão relacionados à espontaneidade com que elas naturalmente se manifestam nas diversas sociedades. Pelo contrário, a experiência tem demonstrado que eles estão muito mais relacionados à natureza coletivista que as diversas culturas eventualmente possuam do que a qualquer outro fator.

?O que é natural, afinal, nas sociedades coletivistas ?os indivíduos são integrados, desde o berço, em grupos coesos? […] ?Como conseqüência, a própria identidade resulta da rede a qual a pessoa pertence?. Essas sociedades se opõem às sociedades individualistas. Lá, ?as ligações entre os indivíduos são relativamente fracas e as pessoas? […] ?preocupam-se, preferencialmente, consigo mesmo [1](sic)?.

Isso provavelmente explica porque a internet não tem repercutido de forma semelhante nas sociedades anglo-saxônicas e asiáticas. Afinal, no particular, o grande mérito da web é abrir novos canais de manifestação das relações sociais. Em outras palavras, ela não desperta o seu interesse, apenas as viabiliza em novas dimensões.

De qualquer forma, não deixa de ser admirável vermos a engenhosidade humana permitir que a beleza das relações humanas se replique em novas plataformas e em dimensões jamais imaginadas pelos nossos avós. [Webinsider]

…………………………………………………………….
[1] Hanke. M. Comunicação Intercultural ? Uma Perspectiva para as Diferenças entre as Culturas Nórdicas e Latinas. Smiosfera., Rio de Janeiro, ano 5, n.8. outubro de 2005. Disponível no site da Eco UFRJ. Acesso em 12 abril de 2006.

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<strong>Paulo Santos</strong> (psantos@rajacomunicacao.com.br) é mestre em administração de empresas, gerente de projetos da <strong><a href=?http://www.rajacomunicacao.com.br/" rel="externo">Raja Comunicação</a></strong> e professor da cadeira de contabilidade gerencial do <strong><a href="http://www.igroup.com.br/mba/index.php" rel="externo">MBA em planejamento, gestão e marketing digital</a></strong>.

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8 respostas

  1. O Paulo (autor do artigo) se justificou agora a pouco (aparentemente apenas em PVT) a respeito da sua opção por restringir o escopo ao que ele chamou de comunidades devido à limitacao do espaco.

    O ponto ainda é o mesmo…
    BBS, Listas de Discussão, undernet, e canais de IRC obviamente também são exemplos de comunidades.

    Como disse antes:
    Isto limita bastante o entendimento de comunidades e também o da própria internet.

  2. Gostei do texto. Concordo muito com esse trecho:

    É que essas características das relações via a internet possuem a capacidade de romper as barreiras culturais que impedem os asiáticos de interagirem entre si com a mesma facilidade com que nós fazemos de forma direta e pessoal. Com isso ela acaba por viabilizar a satisfação de uma necessidade humana reprimida por fatores sócio-culturais.

    Já tive experiências com isso e a segurança que a internet confere no caso do fracasso numa interação deste tipo, entre culturas, geralmente vale o esforço e estimula um maior intercâmbio cultural entre os indivíduos.

    Boa. 😉

  3. Ops….O Comentário não foi publicado na integra…Aí vai de novo…

    Oi Paulo,

    Bom te ver por aqui. É sempre bom ler sobre de que forma a natureza virtual da web e outras características da internet faça com que ela se torne um novo canal de interação pessoal para pessoas/grupos sociais/povos que no mundo real interagem pouco. Sobre isso tem um miríade de assuntos para discutir. Mas concordo com o Manuel que o texto se perdeu em algum lugar, pois ora você se espanta que os asiáticos têm usado mais a internet para relações interpessoais do que o fazem no mundo real, e em outro momento voce diz que asiáticos e anglo-saxões usam menos a internet para isso. Que tal corrigir a contradição e nos falar especificamente sobre esse assunto? Acho que dá um bom novo texto para matar nossa sede discussão sobre o assunto.

    Abraços, Fabiana

  4. Oi Paulo,

    Achei bem relevante a sua observação sobre o fato de que a natureza virtual da web faça que ela se torne um novo canal de interação pessoal para pessoas/grupos sociais/povos que no mundo real interagem pouco fisicamente. Sobre isso tem um miríade de assuntos para discutir. Mas concordo com o Manuel que o texto se perdeu em algum lugar dizendo que os asiaticos usam a internet para relações sociais q

  5. Paulo,

    O lado positivo da web foi bem apresentado e achei oportuno mostrar um pouco lado negro da força. A Internet como carro, dinheiro e tantas outras coisas podem ser maléficas dependendo do uso.

    Vejam no link abaixo o que aconteceu em Porto Alegre, um garoto que disponibilizou no próprio blog o dia e a hora em que iria se matar, além de ser incentivado por outros internautas.

    Se queremos ainda aproveitar dos benefícios da internet temos que trabalhar para evitar que mais fatos como esse se repitam assim como Pornografia Infantil, tráfico na web, etc.

    http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=6189&template=&start=1&section=&source=a1255421.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual=

    Abraços,

    Jessé Rodrigues

  6. Muito interessante o ponto abordado. Muito mais reflexao sera necessaria pare se defenir se as interacoes sociais virtuais sao puro reflexo das interacoes sociais do mundo real ou se realmente a internet criou novas interacoes em diferente dimensoes.

    Na verdade, nao estou bem certo se a comparacao das relacoes sociais que se dao no mundo virtual e no mundo real sao apropriadas tendo em vista que um mundo eh tao real quanto o outro em minha opiniao. Como posso chamar de virtual um relacao na qual meus atos sao capazes de fazer outro ser humano chorar, rir, se matar, etc… esse relacao eh tao real quanto a que eu tenho com o meu vizinho, a unica diferenca he a distancia o que ao meu ver nao eh elemento caracterizador de relacao social. Seguindo esse paradigma, duvido que exista alguma coisa que o homem faca que seja virtual, mas esse eh um outro tema.

    Quanto ao comentario do Manuel que se refere a aparente contradicao achada no texto, acredito que o autor simplesmente comparou as scoiedades anglo-saxônicas e asiáticas e que a internet se desenvolveu de forma diferente nas duas sociedades devido a primeira ser individualista e a oura coletivista. A redacao realmente da margem a interpretar que as duas desenvolveram as relacoes sociais pela internet de forma igual o que contradiria o autor na sua primeira abordagem do tema no comeco do artigo. Contudo uma exegeze mais aprofundada do texto rules out essa ultima interpretacao.

  7. Oi Paulo, tudo bom?

    Achei esse trecho um tanto contraditório ou talvez eu não tenha entendido corretamente. É esse aqui:

    O que na verdade surpreendente é que esse mesmo fenômeno tenha se manifestado em escala ainda mais intensa nas sociedades asiáticas.

    e

    Isso provavelmente explica porque a internet não tem repercutido de forma semelhante nas sociedades anglo-saxônicas e asiáticas.

    E meu ponto de vista é que, tirando o lado poético das comunidades na internet, não podemos esquecer que ela é um instrumento alienante tanto quanto a televisão.

    A fragilidade emocional e moral com que a internet produz pessoas que, quando adultas, lidam com a realidade é preocupante.

    Por isso vemos a escassez de pessoas se mobilizando aqui, no mundo real, para lutar ou protestar contra guerras ou abusos de poder no governo.

    A internet tenta simular o que existe a bilhões de anos. Não acho admirável essa adaptação e sim preocupante, com certeza. Preenchimento do vazio, para quem não sabe viver na lei da selva.

    Abraços!

    Manuel

  8. Engraçado não citar as BBSs, a undernet, o irc ou mesmo listas de discussão.

    limita bastante o entendimento de comunidades e também o da própria internet.

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