Os web standards na arquitetura da informação

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Em meados da década de 90 o “web designer” era um sujeito indefinido com muitos predicados. Era programador, era redator, elaborava a navegação, configurava um servidor, escrevia o HTML, tratava as imagens e executava tudo isso sozinho. A web era relativamente nova e os profissionais que se destacavam eram aqueles que entendiam de todo o processo até o fim. As coisas não estavam tão definidas quanto hoje e o futuro era um pouco incerto. Hoje não temos mais este cenário.

No lugar temos os especialistas em redação, usabilidade, design, programação, banco de dados, métricas, analistas, marketing, SEO, HTML etc. Com isto surgiram também novos nomes e novas disciplinas como arquiteto da informação, webwriter, designer de interface, designer de interação e por aí vai. E é da arquitetura da informação, que envolve todos os processos, que estamos falando aqui.

Conceito

No geral a arquitetura da informação engloba tudo referente a como as informações de um site serão organizadas e classificadas e em como os usuários vão se relacionar com estas informações para obter o que precisam em uma experiência de interação perfeita. O “problema” deste profissional é pegar todas as informações que um site deve ter, tratá-las e classificá-las de modo que facilite a vida de um usuário ao utilizar o site. Bibliotecário é arquiteto da informação, sabia?. Segundo Rosenfeld, a arquitetura de informação é a arte e a ciência de organizar, estruturar e categorizar a informação, tornando-a mais fácil de encontrar e de controlar. Podem ser arquitetos da informação os webdesigners, jornalistas, analistas, profissionais da usabilidade, publicitários, designers de interface, bibliotecários etc. Ou seja, todos aqueles profissionais que tratam informações de uma forma ou de outra para torná-las mais fáceis de entender e de usar. Fica claro aqui que o foco deste conceito está entre informação e o usuário e sua inter-relação certo?

Uma peça depende da outra

Falando no contexto de web, tratar de arquitetura da informação envolve vários processos distintos até a conclusão de um projeto. E nem todos eles são feitos pelo webdesigner como era na década de 90. Os processos vão do levantamento de informações, do briefing, conteúdo de um site, passando pelo design, usabilidade, programação, até chegar no site funcionando já em HTML com todo o conteúdo, imagens etc. Cada um destes processos envolve várias habilidades distintas e profissionais diferentes.

Imagine agora um website em que um destes processos é falho. Apenas um deles, e não mais que um. Imagine um exemplo em que a usabilidade do projeto final é perfeita, onde as nomeclaturas das sessões estão bem definidas e visíveis, a busca realmente funciona, o design é lindo e claro mas os textos são muito longos e exigem que o leitor/usuário tenha que garimpar textos enormes para simplesmente descobrir o que uma empresa faz. Imagine que todos os textos são demasiadamente redundantes e as informações sempre confusas. Neste contexto a arquitetura da informação deste site falhou como um todo. O processo que foi falho matou o restante da experiência.

Imagine um outro contexto em que os textos ficaram perfeitos, bem objetivos e informativos e sem o jargão marketeiro inútil que só atrapalha o entendimento do usuário ao ler o “about” de uma empresa. Neste site o design também é lindo, clean e não agride. Mas imagine que a busca não está visível e a organização da navegação é horrível. Os nomes das sessões não são claros e você parece ficar confuso ao tentar encontrar informações preciosas o que te dá a sensação de nem ao menos saber se essas informações existem lá, porque de qualquer jeito você não as encontra. Ou seja, a usabilidade deste site é horrível e a experiência do usuário também será. Mais um exemplo em que a arquitetura da informação responsável por tratar da relação de todos estes processos falhou, mesmo que todos os outros processos sejam perfeitos.

Nas relações criadas acima, um processo facilmente mata o outro quando falha. É o mesmo que 15 pessoas estarem na mesma canoa e apenas um deles decidir fazer um único furo embaixo do próprio assento. Todos afundam. Seu cliente não quer uma canoa com um único furo, ele a quer sem nenhum.

E os web standards?

Mas nos exemplos acima eu não considerei que processos de implementação dos padrões web como HTML, CSS, semântica, acessibilidade etc pudessem em algum momento colocar em risco a experiência do usuário. Na verdade realmente isso raramente acontece, podemos considerar. Isso ocorre porque todos pensam que HTML bom é aquele que “funciona”, ou seja, se um site “roda” nos principais browsers e não possui nenhum erro de renderização, então tudo está perfeito, certo?

A relação entre usabilidade e informação é um processo muito importante, ninguém duvida disso. Mas e a relação entre informação e meta-informação (leia-se código semântico) responsável por dar significado as máquinas da mesma informação que será utilizada pelo usuário? Será que a otimização de mecanismos de buscas (SEO) e acessibilidade não deveriam ser partes importantes dos processos da arquitetura da informação ao relacionar o conteúdo do seu site com as informações do restante do mundo? Não seria isso um tipo de tratamento a ser dado a informação e conseqüentemente uma parte importante da arquitetura da informação?

Web standards influencia na interação do usuário?

Com o código de um site escrito semanticamente correto, completa separação entre conteúdo e apresentação técnicas de acessibilidade implementadas racionalmente, pode não influenciar diretamente na experiência que um usuário pode ter no seu site. Isso é verdade. Um site com código mal desenvolvido não é visível ao usuário final e não influencia na “experiência” que ele pode ter ao navegar pelo seu site. Não tem como você saber ao olhar para um site se ele usa tabelas ou CSS para estruturar o conteúdo ou se o código é limpo ou sujo. Ou seja, isso não influencia em nada na experiência final do usuário, certo?

Você estaria certo pensando assim se o único site existente na web fosse o seu. Se o seu site fosse a única experiência que um usuário poderia ter em toda a web sobre determinado assunto. Você estaria certo se somente lá, no seu site e em nenhum outro lugar, ele pudesse encontrar informações sobre determinado assunto ou então você fosse uma empresa tão excepcional que ninguém em sã consciência procuraria um concorrente seu mesmo sabendo da existência deles. Mas o mundo e a realidade não são assim.

Web standards é sim um dos processos importantes da arquitetura da informação

A arquitetura da informação é um processo extremamente importante considerando que o usuário já está dentro do seu site. Mas pensar nos padrões web como parte desse processo de criação é se posicionar diante do mundo e permitir que as informações que serão organizadas e compartilhadas no seu site possam também competir em relevância com outros sites do mundo todo. Que vença o melhor.

Quando o seu cliente está com o Google aberto prestes a procurar por um serviço, imagine que seja o tipo de serviço que o site que você desenvolveu recentemente oferece e você sabe que a arquitetura da informação deste site está impecável e sem erros, apesar do código “sujo”. O cliente que está no Google prestes a fazer uma busca vai encontrar seu site lá nos resultados orgânicos? Hoje o Google é responsável por cerca de 45% das visitas únicas que chegam ao meu site diariamente. A busca por uma informação na web hoje para a maioria dos usuários começa no próprio Google e não dentro do seu site. Uma busca lá dentro geralmente fará parte de um segundo processo e não o primeiro quando se procura informações na web inteira.

Se eu quero saber algo sobre o escritor James Joyce, eu vou ao Google e digito esta query lá ao invés de digitar www.jamesjoyce.com que acaba te redirecionando para um restaurante chamado Kitty O’Shea. Os sites das livrarias que tiverem uma boa relevância por terem seguidos alguns princípios básicos de SEO são aqueles que sairão ganhando ao terem os livros de James Joyce relacionados nos resultados orgãnciso. Neste caso, a arquitetura da informação dos sites que se preocuparam em relacionar as informações contidas em seu próprio site com o restante do mundo seguindo os padrões web de desenvolvimento, são aqueles que possuem uma maior relevância.

Essa é uma realidade muito mais abrangente do que pensar na arquitetura da informação de um projeto procurando relacionar a informação do site somente com o ambiente dentro do próprio site. Isto é importante mas é metade do potencial que a informação pode ter. Só o desenvolvimento seguindo os padrões web é capaz de relacionar as informações com relevância no mundo exterior, aumentando a competitividade do negócio e sua própria relevância.

Leitura recomendada:

  • Projetando websites compatíveis – Jeffrey Zeldman
  • Information Architecture For The World Wide Web, 2Ed – Peter Morville e Lou Rosenfeld – O’Reilly
  • Ambient.Findability – Peter Morville – 2005 – O’Reilly
  • Ansiedade de Informação 2 – Richard Saul Wurman – 2001 – Editora de Cultura

Henrique C. Pereira é UX/UI na Zup, ficou zen, sumiu da internet e fotografa a vida passando nas horas vagas.

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9 respostas

  1. Oi Henrique! Belo texto. Concordo contigo que as coisas, em tempo de produção para web, tem que andar entrelaçadas mesmo. Em projetos desse tipo, como você mesmo disse, uma peça depende da outra.

    Agora já numa uma visão pessoal, creio que exista AI fora dos padrões da Web. Vejo AI até fora da Web (resquicios de cliente servidor ainda em atividade, sist. legados e coisas que se manterão durante anos em produção, consoles e games, comp. móvel, eletrônicos, etc). Acho que isso vai continuar existindo pelo menos por pelo menos mais algum tempo, enquanto a web ainda segue amadurecendo.

    Abraços, feliz ano novo =).

  2. Henrique, concordo com você quando diz que a arquitetura envolve vários processos distintos. Acredito também que ela vai desde o planejamento até a parte de TI, principalmente porque envolve desde o planejamento da informação que vai ser colocada no ar, a arquitetura dessa informação propriamente e o arcabouço da mesma, ou seja, a informação por trás da informação, ou melhor, a meta-informação.
    Um livro bem legal é o do prof. Ailton Feitosa, Organização da Informação na Web.

  3. Gostei dessa matéria.

    Por se tratar de web, muita gente trata com desdém achando que a informação pode crescer de maneira desordenada, pois ficou uma certa cultura ainda amadora no que diz respeito à Internet no Brasil.

  4. Amigo Paulo,

    Web Standards em sua tradução padrões para web é o título empregado pela W3C ou World Wide Web Consortium ou ainda www. É esta organização que define o que é de uso padrão para a Web em termos de desenvolvimento. Dizer que você trabalha com Web Standards, signifíca que você conhece esses padrões e a partir daí você desenvolve seguindo estas regras.

    Para saber mais acesse: http://www.w3.org

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