Políticos usam pouco a internet nas eleições

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O processo eleitoral deste ano começou com uma mudança de regras que alterou sensivelmente a forma como os partidos políticos fazem suas campanhas. Trata-se da Lei 11300/06. Entre essas mudanças está a proibição a candidatos e partidos de distribuir camisetas, chaveiros, bonés, canetas, cestas básicas ou qualquer outro bem material que possam significar benefícios ao eleitor. Também foi proibida a participação de artistas e cantores em comícios dos candidatos.

Outro veto imposto pela legislação é a utilização de outdoors para a propaganda eleitoral. A empresa responsável, os partidos, coligações e candidatos que utilizarem esta mídia podem ser condenados à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de 5.000 a 15.000 Ufirs.

Com tantas restrições à outras mídias, era de se imaginar que a internet pudesse ser a grande arma das campanhas deste ano. Contudo, a poucos dias do pleito, esta expectativa parece não ter se confirmado. Pelo menos não com a intensidade que se esperava.

A web se caracteriza pela interatividade e capacidade de aproximar pessoas entre si e de aproximar pessoas à idéias, conceitos, produtos, empresas e marcas. Olhando friamente, é tudo o que os partidos precisam: aproximar pessoas de suas idéias e propostas. Mesmo assim a utilização desta mídia nas campanhas tem sido no mínimo superficial.

Como exemplo do potencial desta mídia, podemos citar o e-mail marketing, que tem se revelado uma das estratégias mais baratas e eficientes de divulgação e formação de relacionamentos. Um estudo feito pelo Winterberry Group nos Estados Unidos mostrou que campanhas de marketing por e-mail geram um retorno 17 vezes maior do que campanhas feitas por correio convencional e até 73 vezes maior do que campanhas de telemarketing (Fonte: revista Webdesign. Ano 3, n.33, setembro/2006, p.8). Mesmo assim, este dispositivo está sendo utilizado com muita timidez pelos partidos nestas eleições.

Esses são apenas alguns exemplos. Além desses, um grande número de outras vantagens e motivos para a utilização da internet nas campanhas eleitorais poderiam ser citados aqui. Contudo, na prática, o que estamos vendo é o foco das campanhas voltado quase que exclusivamente ao horário eleitoral gratuito no rádio e televisão e às ações presenciais, como reuniões, comícios, atos públicos e caminhadas junto a eleitores.

Políticos com foco nas classes C e D

É claro que para nós profissionais desta mídia isso é lamentável, mas temos que procurar enxergar os motivos para o fraco ritmo do crescimento da utilização da web em campanhas políticas. Da mesma forma que as vantagens são óbvias, os motivos para sua pouca exploração também são óbvios. Vamos analisar alguns números.

Segundo o censo do IBGE, o Brasil tem pouco mais de 180 milhões de habitantes. O TSE divulgou que para as eleições 2006 somos mais de 120 milhões de eleitores habilitados.

Quando comparamos este universo com o número de usuários atingidos pela mídia internet, as coisas começam a ficar mais claras. Segundo o Ibope/NetRatings, em junho/2006 a internet tinha no Brasil 13,4 milhões de usuários ativos. Isso representa apenas pouco mais de 10% de todo o universo eleitoral.

As pesquisas eleitorais têm mostrado que quem está decidindo as eleições deste ano são as classes C e D, enquanto que a audiência da internet é formada principalmente pelas classes A e B.

Tudo isso nos mostra que, mesmo com todas as vantagens oferecidas, a baixa penetração social do acesso à internet ainda não a credencia como uma ferramenta capaz de atingir o número de pessoas necessário, o suficiente para alterar o resultado das eleições.

Outro motivo: as grandes vantagens da web atualmente giram em torno da exploração dos recursos multimídia, com áudio, vídeo e animações. Como sabemos, estes recursos, para serem bem aceitos pelos usuários, dependem de uma conexão de banda larga. Contudo, uma estimativa da E-Consulting mostra que até o final de 2006 deverão existir no Brasil apenas cerca de 4,1 milhões de usuários conectados em banda larga. Número irrisório quando comparado ao universo de 120 milhões de eleitores.

Público formador de opinião

Estas desvantagens, bem ou mal, justificam a não exploração da internet nas campanhas eleitorais com a mesma intensidade que esperávamos depois das sanções impostas pela legislação a outras mídias. Apesar disso, ainda há pelo menos um argumento que daria à internet um papel estratégico fundamental nas campanhas eleitorais: ela é povoada por formadores de opinião.

Mesmo representando apenas pouco mais de 10% do universo eleitoral brasileiro, a web é uma mídia privilegiada, pois a maioria de seus usuários é formada por pessoas das classes A e B, com alto grau de instrução. Há na internet um grande número de pessoas capazes de gerar e liderar mobilizações sociais.

Ou seja, mais do que 13,4 milhões de usuários, a internet tem 13,4 milhões de multiplicadores de idéias e formadores de opinião, que podem retransmitir as mensagens recebidas via web a um grande número de pessoas a quem estão socialmente ligadas. Não dá para não levar isso em conta. [Webinsider]

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<strong>Sérgio Mari Jr</strong> (sergio@infonauta.com.br) é diretor de planejamento da <strong><a href="http://www.cedilha.com.br" rel="externo">Cedilha Comunicação e Design</a></strong> e professor do curso de Comunicação Social da Faculdade Pitágoras campus Londrina-PR.

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12 respostas

  1. Ainda bem que esses caras usam pouco a internet!
    Já basta lidar com esse bando de fdps na TV, Rádio e nas ruas em muros, outdores..

    Eles têm que ficar longe de internet mesmo..

  2. Faltou dizer, que assim como a propaganda hum…analógica sofreu sérias restrições a regulamentação da propaganda eleitoral na Web também é bem rígida, o que deve ter ajudado a espantar boa parte dos candidatos.

  3. O próprio Websinsider já publicou um artigo que falava sobre a explosão dos Blogs e como esse recurso está mudando o jornalismo.

    Devemos considerar formas inteligantes de se usar os recursos disponíveis na internet; e-mails ou blogs ou outro que venha a surgir só terá efeito positivo sobre o eleitor se tratá-lo com respeito, seriedade e transparência.

    Promessa de candidato pela internet é coisa que dificilmente vamos ver, porque elas poderão ser cobradas, arquivadas e levadas ao questionamento por milhares de pessoas.

    Nossos candidatos atuais não estão preparados para usar esses recursos de forma inteligente, seus discursos sempre foram e serão por muito tempo ainda para as classes C e D.

    Acho arriscado deixar a geração atual de políticos poluir a internet com textos vagos, promessas falsas e planos de governo que nunca saem do papel.

    Tudo na internet é transparente, na política já não se pode dizer o mesmo.

  4. A Internet é um espaço bem democrático, onde se alojam o bem e o mal. É onde existem espaços para todos poderem opinar e externar sua tolerância.

    Aqui vi várias tentativas de uso da Internet como meio de divulgação eleitoral, e que para tal se mostrou um grande fiasco, pois, do mesmo modo em que existem meios de divulgação existem meios de combatê-los.

    Veja o exemplo do Orkut, entre em um site de candidato, está repleto de mensagens reclamando das invasões inoportunas de privacidade com o envio de mensagens não solicitadas, chegando ao ponto de alguns criarem comunidades para reclamar.

    Veja bem, emails e mensagens indesejadas já são bastante chatas, mas ao contrário de uma propaganda na rua, onde a maioria apenas resmunga e não age, Aqui na Internet, os mecanismos para combatê-los estão à mão, e os candidatos não são bobos, já notaram isto.

  5. Discordo parcialmente. Acredito que a web seja usada, no entanto, da maneira errada, com o envio massivo de spam por alguns candidatos.

  6. Ninguém mais gosta de spam.
    Parem de defender tanto o email marketing, que pra mim é quase um spam disfarçado.
    Por mais que voces digam que sim, ningúem gosta de receber este tipo de mídia. Apenas novatos na internet.
    Spam (que voces insistem em chamar de email-marketing) morreu para empresas sérias.
    Se eu receber um de algum candidato ele estará queimado comigo para sempre.

    Não estamos mais em 2002, onde isso era comum.

  7. Infelizmente o que falta no Brasil é essa consciência de que a internet pode mudar muitas coisas. Um exemplo disso é o que o Cocadaboa.com faz quase que diariamente criando polêmica ou mesmo o que o Kibeloco fez a alguns tempos atrás alterando resultado de enquetes.

    É um caso a pensar, ainda mais se pensarmos que a maioria dos brasileiros que acessam YouTube e Orkut estão na faixa dos 15 – 20 anos (eleitores novos) e que praticamente não tem paciência com o horário eleitoral.

    O próprio Orkut, por exemplo, poderia ser usado para aproximar os candidatos dos eleitores mais jovens. Sem contar que os candidatos com um tempo menor na TV poderiam colocar videos com maior tempo de duração no YouTube.

    Um dia eles aprendem…

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