Quando a arquitetura real e virtual se encontram

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Desde que me lembro, há uma constante associação da internet e seus ambientes virtuais ao mundo físico e os respectivos ambientes habitacionais, arquiteturas e projetos de urbanização. São diversos os livros, ensaios ou artigos que tratam da questão da ocupação espacial da rede e das áreas e convívio social, de trabalho, escolares etc.

Não sou arquiteto das concretudes, sou (por estudo e profissão) arquiteto da informação. Mas acredito que no ciberespaço os conceitos se dissolvam e remodelem-se na concepção de novas arquiteturas interacionais.

O lugar digital

Primeiro vieram os websites (lugares) e conteúdos acessíveis a todos os conectados. Posteriormente, a arquitetura da informação influenciou não apenas o ponto de vista de quem constrói um site, mas também dos caminhos trilhados pelos usuários no acesso às informações, na construção de narrativas multilineares e nas comunidades do conhecimento.

Todas essas etapas do desenvolvimento na web se deram por associações conceituais ao mundo físico, quando reinaram os ícones e a desmaterialização do espaço e do tempo. Agora, o avanço das tecnologias de transmissão de dados e de processamento trouxeram a possibilidade de “concretizarmos” a metáfora das arquiteturas físicas no mundo digital.

Já tínhamos o caminho indicado há quase 20 anos com os clássicos SimCity e, mais recentemente, The Sims. Porém, estes jogos eram limitados quanto ao envolvimento comunitário e construção do conhecimento coletivo – por mais que o termo seja diversificado.

A falsa segunda vida

Acredito que foi com o Second Life que finalmente transportamos nossos paradigmas habitacionais e interacionais para o mundo digital, fazendo deste uma versão da vida onde não somos limitados fisicamente pelo ambiente ou leis da física.

No Second Life, finalmente exploramos e interagimos com as construções arquitetônicas na plenitude das percepções sensoriais que pudermos experimentar – ou que o software permitir.

Porém ainda é falso, ou melhor, é um simulacro. Ainda estamos simulando nossas possíveis outras vidas. A integração plena da urbanidade com a tecnologia está na mão contrária. Está no fato de “tirarmos” do computador as interações que são necessárias para a vida cotidiana, transformando a capacidade de processamento digital em serviços e produtos de uma nova arquitetura urbana e social.

Para transpor as utopias

No livro E-topia: Urban Life, Jim–But Not as We Know It, o professor William Mitchell, do MIT, prevê uma urbes digitalizada em sua essência. Há, em sua concepção, uma rede digital única que será a alma de nossas vidas e seus processos.

As construções, o trabalho, as ações sociais e econômicas e mesmo as relações afetivas estarão intrinsicamente interligadas, suportadas e potencializadas pela tecnologia de redes. A idéia de um PC que centralize o acesso das pessoas à internet e seus serviços soará como a de um monolito, um objeto de adoração irracional de um tempo primitivo que já se foi.

O livro já nem é tão novo, a concretização de seus preceitos ainda é uma esperança. Acho que, ano após ano, as turmas de calouros nos cursos de arquitetura irão se deparar com matérias que até então lhes eram desconhecidas ou, nas melhores faculdades, opcionais.

Temas como Ciência da Computação, Usabilidade, Gestão da Informação e Modelagem de Dados farão parte da formação daqueles que deixarão de construir ambientes meramente habitacionais para dedicar-se aos ambientes interacionais.

Assim, quem sabe, teremos a tecnolgia tão presente na noção de vida e no funcionamento das instituições sociais que não mais nos preocuparemos com seus desafios, só com sua boa gestão. Quem sabe, assim, deixaremos de lado as simulações e passaremos as tardes de domingo batendo um papo com os amigos nas praças de nossas cidades? cidades cibereais. [Webinsider]

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Leonardo Oliveira é mestre em Jornalismo Digital pela ECA/USP.

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2 respostas

  1. Oi Gustavo

    Quando terminei este artigo e vi que tinha usado a palavra simulacro imaginei o resultado. A associação com Matrix é inevitável, por mais que não tivesse sido proposital.

    Todavia, não acredito em uma inteligência artifical plena, como sonham os cineastas de Los Angeles. As máquinas obedecem protocolos e mesmo quando estiverem aptas a fazer associações informacionais que hoje nos parecem improváveis, só o farão porque as programaremos para tal.

    Quando o prof. Mitchell imagina suas cidades digitais inteligentes, acredito que seja com o mais otimista dos pensamentos. Porém, também o faz com ceticismo, pois sem profissionais aptos para a gestão da tecnologia da informação, de nada adiantaria tanta expectativa.

    Abraço

  2. The Matrix has you…

    Cada dia que passa vejo que uma realidade virtual coletiva onde todos podem ser o que quiserem ser está cada vez mais próxima. Não apenas dentro do Second Life ou World of Warcraft, mas, neste outros projetos, como o Home da Sony.

    Quando leio Vernor Vinge e sua teoria de Singularidade Tecnológica fico pensativo, tento imaginar o depertar das máquinas para uma IA integrada. Será que as 3 leis de Asimov serão respeitadas??

    Torço para que sim! =D

    Caso contrário, será escravidão na certa!!!

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