DTS vs Dolby Digital: qual é o melhor?

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Mesmo com o passar dos anos, ainda é possível ouvir ecos de um dos debates mais incipientes e egóicos da história recente dos home theaters. Sem conseqüência prática alguma, “ouvidos de ouro” praticam tiro ao alvo em fóruns de internet na tentativa de macular a reputação do Dolby Labs pelos méritos na implementação do formato AC-3 de áudio.

No final dos anos 90, teve início uma sórdida campanha de entusiastas em fóruns americanos para tentar forçar os estúdios a lançar mais discos com som DTS. Só que, para tal, muita gente fez de tudo para desacreditar a qualidade das trilhas sonoras codificadas em Dolby Digital (AC-3) quando comparadas com as trilhas em DTS.

Como vimos no artigo anterior, o som DTS chegou ao DVD com considerável atraso e, quando chegou, quase não havia decoders para reproduzi-lo. A razão é que a taxa de compressão original do DTS a 1509 kbps, usada no cinema e nos laserdiscs, não poderia ser implementada no DVD sem causar deterioração da qualidade do vídeo, por pura falta de espaço.

AC-3 e DTS, as diferenças

Os primeiros DVDs com som DTS trabalhavam com uma trilha previamente enviada aos laboratórios da DTS, para codificação, fugindo assim ao controle do laboratório de autoração. Então, de lá voltavam com uma qualidade diferente da mesma trilha autorada em AC-3 Dolby Digital.

E foram as primeiras comparações dessas trilhas o estopim para uma guerra suja que durou um bom tempo em fóruns especializados na internet. Aparentemente, ninguém parecia muito preocupado em descobrir o motivo de as trilhas DTS estarem diferente das trilhas Dolby, embora se suspeitasse de manipulação proposital das primeiras.

É fácil entender a suspeita: o ouvido humano é facilmente iludido por diferenças de pressão sonora, ou até mesmo por diferenças de equalização, implementação de certos filtros e assim por diante. Logo, é possível existir uma diferença de percepção abismal entre a masterização 1:1 (direta e sem retoques) e outra com requintes adicionados, sem você saber.

Para os debatedores, entretanto, não fez a menor diferença. O som DTS, segundo os defensores puristas, tem uma resposta de baixa freqüência mais articulada, uma resposta de médios que torna o som transparente e mais definido, a separação entre canais é melhor porque não há “vazamento” entre eles etc. Um resumo dessas alegações, o leitor pode ver nesta página.

A explicação, segundo os entendidos, é amparada na taxa de compressão dos dois codecs: o Dolby Digital comprime o áudio da fita master na relação de 12:1, portanto, perdendo informação de forma excessiva, enquanto o DTS comprime apenas na proporção de 3:1, preservando melhor o som original.

Tirando a prova

Durante um bom tempo, as pessoas não podiam se colocar contra aos “ouvidos de ouro”, sob pena de serem achincalhadas nos fóruns por não conseguirem “ouvir direito”.

Com o devido tempo, porém, certos fatos se mostraram relevantes. Surgiram as primeiras denúncias de que as salas de autoração não tinham nenhum controle sobre as trilhas em DTS; depois, a própria Dolby, cansada de ser taxada de “inferior”, resolveu arregaçar as mangas e colocar o lado prático desta coisa para funcionar.

A Dolby esperou a disponibilidade do encoder DTS modelo CAE-4 e do seu respectivo decoder. Entregou este encoder, junto com os modelos Dolby para autoração a 384 kbps e 448 kbps (padrões no DVD) a alguns estúdios ingleses, para fazer testes com a mesma trilha sonora. Os resultados foram publicados em PDF em um arquivo no site da empresa, mas que pouco tempo depois foi tirado do ar. Trechos do documento ainda podem ser vistos neste link

Na essência, a pesquisa diz ser incorreto fazer comparações auditivas sem a certeza de que as fontes para teste são as mesmas, que foi uma falha imperdoável dos primeiros defensores pró-DTS. Mesmo assim, muita gente não viu com bons olhos a resposta pífia da DTS sobre a pesquisa, que ainda está no ar até hoje.

Não somos prejudicados

O importante de tudo isso é que, hoje, finalmente os entusiastas se sentem na obrigação de explicar, ao usuário normal, que ele não está sendo lesado por comprar um disco que não tem trilha sonora DTS.

Muita gente não percebe que o áudio é subjetivo, e portanto, pessoal e intransferível. A lógica ditaria que se a gente tem bom ouvido e aprecia um bom som, não deve ter preconceito, nem discriminar quem não se interessa por isso. Muitos participantes de fóruns, até mesmo gente da chamada “imprensa especializada”, ajudam a criar mitos que não têm base em medição alguma.

A indignação dos Laboratórios Dolby tem sentido: o AC-3 tem méritos tecnológicos que o DTS não tem. O formato se propõe, essencialmente, a codificar áudio fora do espectro 5.1, o que gera uma economia de bits considerável. Uma fonte master 1.0 ou 2.0, por exemplo, pode ser codificada a 192 kbps, ao invés de 384 ou 448 kbps, sem nenhuma perda de qualidade.

As codificações 2.0 permitem a preservação tanto do estéreo convencional, quanto do estéreo matricial (Lt/Rt). O AC-3 permite ainda a inclusão do LFE (o “.1”) em qualquer um desses formatos (de 1.0 até 5.0). Ele também prevê a normalização automática do diálogo, que é um recurso útil, tanto ao engenheiro de autoração quando ao ouvinte.

E finalmente, o Dolby Digital, por causa da sua versatilidade de implementação, tem grande portabilidade e pode ser usado, sem problemas, em aplicações de broadcasting com a mesma qualidade dos DVDs.

Até onde o usuário típico de home theater pode perceber, não existe nenhum indício visível nas implementações dos softwares nos decoders mais recentes. Mas a melhora de desempenho de qualquer codec é bem sensível. Eu mesmo comentei, alguns artigos atrás, sobre a implementação de upsampling para CD em decoders de alta definição, agora disponíveis a custo baixo em vários equipamentos. (leia aqui)

Dolby e DTS, corretamente instalados, dão ao ouvinte um som de alta qualidade. Se não for assim, a culpa pode ser tanto da autoração do disco, quanto das limitações do seu equipamento de reprodução- que é mais provável. Em breve, tanto Dolby quanto DTS vão surgir em versões HD (High Definition) dos seus softwares. Com elas, não haverá mais compressão alguma. Assim, teoricamente não haverá mais espaço para qualquer tipo de detratação. E se houver, serei um que não estarei lá para conferir. [Webinsider]

____________
Links para referência:

http://www.dvdreview.com/html/what_makes_dts_so_special_.html, http://www.movielocity.com/d/r.cgi?ID=1108 e http://www.accesswave.ca/~madastar/dvddolby.htm)

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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12 respostas

  1. Oi, Danilo,

    As saídas coaxial e ótica obedecem ao protocolo S/PDIF (Sony/Philips) e não deveria haver diferença alguma de performance entre elas. No passado remoto, havia uma disputa entre qual delas era melhor, mas nunca se chegou à conclusão alguma.

    Toda vez que você usa uma destas saídas, e se você seta o seu aparelho para enviar o sinal nativo da fonte (bitstream), a decodificação deste sinal é feita externamente. E aí, neste seu caso, os resultados deveriam ser os mesmos e não diferentes, como você constatou.

    Para saber se estes resultados são confiáveis é importante verificar o setup de cada um dos aparelhos transmissores, para saber se as respectivas saídas estão ajustadas de forma equivalente.

  2. Não sei se há influência, mas temos que lembrar que o som digital tem duas opções de conexão diferentes: A coaxial e o cabo óptico (aquele que emite uma luz). Aqui em casa tenho um Home Theater com essas duas entradas e pude ver a diferença de perto das duas conexões. Tenho o DVD do filme Conair que tem suporte ao Dolby e ao DTS. E tenho aqui duas fontes distintas: Um DVD Player da Sony (cuja conexão do som digital é feita pelo coaxial) e um PS3 (cuja conexão do som digital é feita pelo cabo óptico). Não usei a TV como intermédio, liguei o som de ambos aparelhos diretamente no Home.

    Ao asistir no DVD, com DTS, o som é simplesmente fantástico e o Douby fica aquém do esperado, coisa que fica muito mais perceptível quando o avião está caindo.

    No PS3, o DTS se manteve impressionante, mas o Douby melhorou absurdamente. Em algumas partes ficou até melhor. Me parece que a distribuição de som ficou mais próxima do real, acredito, e o som ficou bem mais nítido do que no DVD.

    Agora não sei se há diferença de fato na conexão ou se a diferença está nos aparelhos, pois não tenho em mãos um mesmo aparelho que permita conexão de som digital por coaxial e óptico ao mesmo tempo, mas gostaria de compartilhar esse teste que fiz aqui.

  3. Muito bom este artigo. Particularmente sempre tive duvida sobre as duas codificações até que adquiri meu receiver e posteriormente as caixas, assim, pude testá-los pessoalmente e com certeza acho o DTS muito superior ao DD, não que este seja ruim, pelo contrario, mas mesmo algumas pessoas dizendo que o DTS tendo seus +- 1.500Kbps acaba não sendo tão distante do DD com seus +- 640Kbps já que o ouvido humano não é capaz de assimilar certas freqüências presentes no DTS e “cortadas” no DD, afirmo que noto diferença sim entre os dois, sendo que, o DTS além de apresentar um som mais impactante, possui em meu ponto de vista muito mais profundidade sonora e perfeição nos correspondentes harmônicos entre freqüências. Em outro ponto, notei em determinadas mídias tanto de Filmes como de Musicas, que o DTS ficou um pouco “Embaçado”, já o DD se destacou pela clareza do som e perfeição na divisão de canais. Em fim, como já citaram anteriormente, dependendo da forma como o áudio foi gravado e codificado, um pode se sobre sair ao outro, mas ainda fico com o DTS.

    Grande abraço aos fãs de áudio como eu.

  4. é realmente. eu eu ja ouvi ana carolina e vanessa da mata, ambos tem DTs e DD, mas o DD soa melhor aos meus ouvidos. um outro exemplo é Senhor dos Aneis, em que a trilha DD EX está primorosa como dizem no HT forum. Hoje, ao ver um filme, eu quase não me apego em questões de codecs e sim aos efeitos, já que todos estão no mesmo nível praticamente.

    obrigado pelo seus esclarecimentos.

  5. Olá, Augusto,

    Tudo depende da maneira do saber fazer. eu tenho um concerto com Dolby 2.0 que soa melhor do que muitos CDs que eu tenho.

    O DTS do DVD é bem mais limitado do que o do laserdisc, coisa que chateou muito fã de DTS há algum tempo atrás, mas hoje, com o Blu-Ray, ele voltou ao padrão antigo.

    Até hoje, me parece que essa coisa do codec está muito ligada à manipulação de alguns estúdios, e foi isso que a Dolby reclamava do DTS, porque no início eram eles quem “fabricavam” o som nos discos. E, de fato, depois que a autoração passou para terceiros, o som DTS dos discos ficou muito mais mundano. É muito fácil impressionar as pessoas mudando a equalização.

    Eu ouço ambos sem constrangimento. Em alguns discos, um soa um pouco melhor que o outro. E no caso do Blu-Ray esta discussão caiu finalmente no vazio.

    No Blu-Ray, se o sujeito quiser ser chato, ele se agarra ao PCM. Mas, você repara que são poucos os discos mais novos com PCM. Daqui a pouco vai virar peça de colecionador! Isto é devido aos codecs avançados lossless comprimidos, que permitem colocar mais conteúdo nos discos, mais nada! Eu tenho ainda discos com PCM e Dolby TrueHD, todos dois excelentes.

    Eu acho também que uma coisa que desgastou aquela fama do DTS foi o notório avanço dos atuais decodificadores. E é interessante ver como a passagem do sinal por HDMI em alguns players muda muito a qualidade do áudio. Eu atribuo isso ao aumento da permanência do sinal no ambiente digital, com pouca ou nenhuma filtragem, mas como não sou engenheiro, a minha opinião é meramente especulativa.

  6. sei que esse assunto ja antigo, mas esse é um tema que sempre me chama atenção. Antes achava dts o maximo (se o dvd tivesse dts, eu nem queria ouvir o DD). Porem, ao comparar o DD e o DTs em alguns shows que possuo, vi que não há diferença alguma, exceto, que o DD é levemente mais alto que o DTS. Depois disso, parei com essa mania de só querer DTS. Ambas pra mim tem o mesmo potencial.

    eu queria sabe o que o Sr. acha disso. em sua opinião, qual é melhor?

    obrigado.

  7. Realmente, na minha opinião, o DTS é melhor, mais claro e nitido. O sinal não se misturam………
    Tenho um anime chamado AKIRA …. ( excelent ) ….. em DVD que tem os dois formados, dolby e DTS, mas no DTS é excelente, no meu home theather a nitidez é gritante…….. parabéns pelo estudo….. arigato kuzaimas nee-san.

  8. Paulinho,

    Obrigado pela leitura. Apenas um esclarecimento:

    Não se trata de transformar um Fusca num Ferrari. O áudio digital original do CD tem qualidade suficiente para uma performance acima de qualquer tipo de crítica, tipo falta de harmônicos e outras bobagens que muitos audiófilos vinham dizendo.

    O que acontece é que a maioria das implementações nos estágios finais de saída dos reprodutores de CD (e de DVD também), particularmente na conversão digital para analógico, é flagelada por uma série de problemas. E neste particular, uma das virtudes dos métodos que usam o upsampling é diminuir drasticamente estes problemas. E, como eu já disse antes, o upsampling é quase que um acidente de percurso tecnológico, porque se trata, em última análise, de uma adaptação de um processamento DAC dentro de um chip, no qual ele é necessário para se ajustar ao batimento do mesmo. Com isso, o sinal corre debaixo do mesmo clock, o que em si é um tremendo avanço.

    Tanto o upsampling quanto o oversampling são possíveis porque ambos extrapolam estatisticamente a inserção do número de pontos necessária ao aumento da amostragem. A precisão com que este cálculo é feita e muito alta, e portanto a incidência de erro é praticamente nula!

  9. Olá, estou aqui novamente… gostei do seu post, essa encrenca generalizada entre DTS e AC-3 ainda vai longe.

    Mas eu gostaría de comentar sobre o upsampling: Essa é outra discussão que vai longe. Existe um mito ai!
    Pois quando se fala em upsampling entende-se que vamos passar de uma taxa de amostragem x para 2x ou 4x, por exemplo de 48Khz para 96Khz ou 192Khz. Ocorre que, depois que a amostra de som foi convertida de analógica para digital, e ela tem um número fechado bits, não é mais possível melhorar a definição(sample rate) do som captado, é como tentar pegar um saco de 1Kg de farinha e tentar encher um saco de 60Kg, o espaço que sobra é ar, no caso do upsampling é zero. Não tem como um aparelho recriar ou criar detalhes que não existem na amostra de som original.

    Não duvido que esses aparelhos que fazem upsampling, convertam o som em taxas maiores( de 44 para 88Khz por exemplo), o que é digitalmente impossível é fazer um CD comum virar um super-hiper Hi-Fi. Se realmente existir alguma diferença ela feita por processadores internos que irão maquiar o som, melhorar não dá.

    Não sei se existe vantagem nisso, é como tentar transformar um Fusca em Ferrari, ele pode até ficar bonito, mas continuará sendo um Fusca.

    Abraços,

    Paulinho Uda

  10. Resumindo:

    Boa explicação, Péssima conclusão.

    Muito bem explicado, porém, não teve uma conclusão do tipo:

    Este é melhor que Aquele.

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