A paralaxe entre o que é vendido e o que é produzido

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O filósofo Olavo de Carvalho anda debruçado sobre um estudo que analisa se o que os grandes pensadores da humanidade escrevem encontra eco no mundo real. Essa diferença entre o que se fala e o que se faz – batizada pelo filósofo de paralaxe – é muito presente no ramo de desenvolvimento web.

Uma analogia de Carvalho sobre o assunto utiliza as antigas máquinas fotográficas. Nelas, o visor e a objetiva eram separados por uma certa distância. Quando um fotógrafo ia capturar uma imagem, era preciso saber que o que ele tinha no visor não era o mesmo que estava sendo focalizado pela objetiva. Havia um deslocamento e era preciso dominar isso para tirar uma boa foto.

A teoria é a de que os grandes pensadores explicam a humanidade por critérios que não explicam eles mesmos. O resultado é uma certa perda da ligação entre o eixo da construção teórica e o da experiência real. É como se eles escrevessem suas teorias como quem escreve uma peça de teatro.

Existe inclusive um estudo mostrando que se a mente humana funcionasse como o filósofo René Descartes a descreve no seu livro Meditações, então ele mesmo não poderia ter escrito tal livro. E isso vale também para Maquiavel, Rousseau, Karl Marx e outros, com suas respectivas teorias.

Você percebe a semelhança disso com as áreas de vendas e mesmo com a área acadêmica relacionada ao desenvolvimento web? Existem muitas vendas de sites e sistemas nas quais o que está escrito – ou o que está sendo dito – é completamente diferente da realidade, semelhante a que o marketing faz para nos vender sabão em pó.

Da mesma maneira, muitos articulistas e acadêmicos tratam o desenvolvimento web em seus estudos sob uma ótica do mundo das idéias, onde prazos, orçamentos e condições são sempre os ideais. Quando isso é tentado levar para a prática, muita vez não encontra reflexo no mundo real. É como se quem escreve ou vende algo não tivesse a mesma perspectiva das pessoas que põem a mão na massa no dia-a-dia.

Isso quer dizer que todos os donos de empresas, ou ao menos o pessoal da área de vendas, deve vir obrigatoriamente da área de produção? Não necessariamente, mas sem dúvida têm mais chances de sucesso as empresas que possuem donos ou executivos que conhecem bem o trato da matéria, que entendem a produção do que estão vendendo.

Do contrário, a organização pode sofrer uma autofagia, sendo engolida pelo teatro mental que ela própria utiliza para vender seus produtos e conquistar seus clientes. [Webinsider]

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Walmar Andrade (walmarandrade @wenetus.com) é jornalista com MBA em Planejamento, Gestão e Marketing Digital, diretor-executivo da Wenetus Interactive e autor do blog FatorW.com.

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5 respostas

  1. Eu entendi perfeitamente o que o autor quiz dizer… pois vivi esse problema durante os últimos anos, trabalhando como consultora de implantação de ERP de uma empresa.
    A situação era a seguinte o Setor Comercial vendia um sistema onde Tudo Tinha! Tudo Podia! e com base nessas respostas, o cliente comprava um sistema completo, flexível, moderno,
    personalizado…
    Só que o que ele levava era um software padrão, fechado, com implementações/mudanças pagas à parte e com uma equipe de retaguarda com dificuldades para conseguir manter o sistema atualizado ou até mesmo fazer as implementações necessárias.
    Essa é a pralaxe entre o que é vendido e o que é produzido
    E a nós os consultores cabia a difícil (e em muitos casos impossível) missão de convencer o cliente que um sistema padrão,fechado,não parametrizável era o que ele precisava, era isso o que ele tinha comprado (mas isso tinha que ser dito com jeitinho, falar sem nem de perto dizer exatamente isso) e fazê-lo utilizar esse sistema…mesmo que ele estive longe das necessidades (e do projeto que ele comprou) do cliente.
    Essa á realidade de muitas empresas… vendem uma coisa, mas na hora do vamos ver, entregam outra…bem diferente, e sem direito a reclamação e tentam a todo custo te convencer que foi VOCÊ que comprou errado e não eles que te venderam outra coisa… outro produto… outro sistema…outro projeto.

  2. é completamente diferente da realidade, semelhante a que o marketing faz para nos vender sabão em pó.
    Tenho cá minhas dúvidas se o articulista é profissional de marketing. Tá mais para dono de padaria, onde nunca se têm certeza se o pão vende muito porque é quentinho ou é quentinho porque vende muito.
    Quem é do meio estratégico de marketing, como eu, não costuma – mais – aceitar comentários pejorativos à atividade profissional que exercemos que é diferente de picaretagem publicitária ávida por premiação.
    Assim, espero que reveja seus conceitos sobre marketing, se é que você é do ramo.

  3. Tenho lido, não regularmente, alguns artigos do Webinsider. Os temas abordados são ótimos. Mas, como o Rafael que comenta acima, invariavelmente fico com aquela sensação de que poderiam ser mais aprofundados.
    Entendo que a proposta deve ser esta mesmo. Até porque nem todo mundo se dispõe a ler artigos extensos. Mas talvez uns parágrafos a mais possam amenizar essa sensação de quero mais.
    Neste artigo, por exemplo, o Walmar absteve-se apresentar exemplos palpáveis para sua tese por acreditar, como eu, que todas as partes sabem das agruras cotidianas das pessoas que põem a mão na massa no dia-a-dia, dos que carregam o piano. É que para muitos convém fazer vista grossa para essa questão.

  4. Não discordo do conteúdo do artigo, acho que tem procedência a crítica do autor. No entanto, embora tenha sida muito claro os males do teatro mental, pouco foi dito da experiência real, carecendo de exemplos palpáveis para que ele mesmo deixasse claro a paralaxe entre o que é vendido e o que é produzido.

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