Colaboração essencial versus colaboração tangencial

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Discutir jornalismo colaborativo, às vezes, soa óbvio demais. No entanto, há ocasiões em que o entendimento que as pessoas têm sobre esse tema diverge largamente. E isso é super natural quando se trata de algo ainda novo. São nessas horas que surgem perguntas como:

  • Slashdot é jornalismo?
  • Noticiários colaborativos podem ser escritos em primeira pessoa?
  • O que leva alguém a se tornar cidadão repórter?
  • É correto remunerar os colaboradores?
  • O Brasil está preparado para ter jornalismo colaborativo?
  • O editor é um censor?
  • Onde fica a credibilidade da notícia? E a imparcialidade?

Outras lacunas não surgem em perguntas, mas em premissas, o que é ainda pior. A última ouvi de uma jornalista que atua no site de uma grande revista de informação, durante um evento promovido pelos alunos da ECA/USP.

Perguntei a ela se seu site dispunha de uma área de jornalismo colaborativo. Ela foi rápida e pareceu animada: ?Sim, sim! Oferecemos um endereço de e-mail para o internauta mandar perguntas para os nossos entrevistados?.

Suspirei. Naquele coffee break, equilibrando copinhos de suco e torradinhas, reuni toda a paciência que não tenho e respondi que sim, isso até era legal. Mas o internauta não produz notícia, reportagem, artigo, né? Não, isso ainda não.

O que eu queria dizer a ela era que o fato de um internauta enviar uma pergunta é uma maneira de promover a colaboração, sim, mas tão incipiente a ponto de não poder ser considerada ?conteúdo colaborativo?, muito menos ?jornalismo?.

Outra agravante: o site dela não é dedicado 100% a entrevistas, mas antes disso, a notícias, reportagens. E esse filé não é entregue nas mãos do público.

Entendo que um site pode se dizer efetivamente colaborativo quando o cerne de sua atividade for desenvolvido por colaboradores, além da equipe que administra o espaço.

Assim, um noticiário colaborativo é aquele em que as notícias são feitas pelo público. Um site colaborativo de literatura permite que escritores de plantão publiquem seus contos, crônicas e romances. Uma página colaborativa de gastronomia agrega receitas de uma porção de donas-de-casa. Ou seja: a informação principal, o core editorial do site tem produção compartilhada.

Talvez seja apropriado chamar isso de ?colaboração essencial? ou ?interação essencial?, já que toca na essência do conteúdo.

Por outro lado, ocorreria ?colaboração tangencial? ou ?interação tangencial? em sites que dedicam áreas editorialmente coadjuvantes à ocupação do público leigo. A exemplo, a página de reportagens e breaking news onde o internauta pode, no máximo, interferir enviando comentários, sugestões de pauta ou perguntas aos entrevistados. Fóruns, enquetes, testes, fale conosco e outras formas tangentes de interagir com o conteúdo também entram nesse escopo.

Isso evitaria, desejavelmente, que páginas estáticas e minimamente preocupadas com a participação do usuário se auto intitulem ?2.0?. E o internauta saberia identificar quais os espaços em que, essencialmente, pode se manifestar.

Aqui se abre a discussão sobre em que circunstâncias a qualidade ?2.0? pode ser atribuída a um site. Meras palavras? Prefiro acreditar que se trata de uma preocupação em preencher lacunas de compreensão que nascem quando algo muito novo se populariza sem o devido amadurecimento. A chance de confusão é grande. Certas terminologias se tornam bons rótulos marketeiros e acabam vendendo gato por lebre.

Pela não banalização do jornalismo colaborativo, saibamos diferenciar colaboração essencial da colaboração tangencial. [Webinsider]

.

<strong>Ana Maria Brambilla</strong> (anabrambilla@gmail.com) é jornalista, mestre em comunicação e autora do blog <strong><a href="http://www.anabrambilla.com/blog" rel="externo">Libellus</a></strong>. No Twittter é <strong><a href="http://twitter.com/anabrambilla" rel="externo">@anabrambilla</a></strong>

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4 respostas

  1. Gostei do artigo amigo, parabéns.

    Gostaria de ressaltar ainda que muita gente faz MESMO confusão com a web 2.0, mas o motivo disso é simples. A web 2.0 não é uma ferramenta, um site ou nada disso. É apenas um CONCEITO. Uma ferramenta 2.0 é aquela onde o usuário tem livre acesso para adicionar ou alterar o conteúdo que alimenta tal ferramenta. Wikipédia, YouTube, entre outras ferramentas são de conteúdo colaborativo, ou seja, fornecido pelos próprios usuários.

    Mas o conceito é simples… antigamente a internet era vista com uma relação humano X computador. Hoje com a web 2.0 e seu conteúdo colaborativo e compartilhado a relação se torna humano X humano, onde o computador é apenas a ferramenta dessa relação. Web 2.0 vem para marcar a data onde os desenvolvedores resolveram usar o maior potencial da internet a favor dela mesma: o número de usuários!

  2. Ana, parabéns pelo seu artigo…

    Acho q o conteúdo colaborativo é fundamental para as empresas, vide o caso da mineiradora que abriu seus mapas ao público, Quase dobraram a quantidade de ouro que extraiam. (Livro: Wikinomics)

    Também acho muito fraco a exploração desse conceito no Brasil e no mundo.

    Estou lançando um projeto 100% com conteúdo colaborativo. Estou em fase final e em janeiro lançarei a versão beta.

    Gostaria de trocar algumas idéias e também de apresentar-lhe meu projeto. Por favor, entre em contato por email.

    Obrigado.

  3. Oi Diego!
    Obrigada por ler e comentar.

    Sim, vários sites têm praticado conteúdo colaborativo com êxito, aliás, estás em um deles 😉

    Tenho muito como exemplos de jornalismo colaborativo o OhmyNews (sul-coreano e em inglês também). Há outros, inclusive no Brasil e América Latina.

    Mas aproveitando que falastes em formação, treinamento, o próprio OhmyNews acabou de lançar uma escola de jornalismo cidadão. Fica lá em Seul, claro. Mas a proposta é bárbara: eles querem justamente treinar cidadãos leigos a como atuar como cidadãos repórteres. Acho isso fantástico e não ameaça a profissionalização do jornalismo.

    O legal desses modelos colaborativos é que há lugar para todo mundo.

    Um abraço!

  4. Olá Ana,
    Primeiramente parabéns pelo artigo.
    Penso que o o colaborador pode veicular notícias, mas um treinamento ou um ajustamento de perfil é necessário. Não digo isso em referência à censura de texto mas a qualidade na veiculação de informações. Há alguma comunidade que tem realizado o jornalismo colaborativo com sucesso?

    Um abraço,
    Diego

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