Comunicação é a conquista fundamental do homem

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Quase ao final do primeiro ano do novo século, no dia 12 de dezembro de 1901, pontualmente 12 horas no meridiano de Greenwich, o físico italiano Guglielmo Marconi recebe, no Canadá, a primeira transmissão telegráfica emitida por ondas de rádio a partir da Inglaterra. A longa viagem da humanidade acabava de receber impulso fundamental, porque a eterna conquista do Homo Sapiens sempre foi baseada na sua capacidade de comunicação.

Num ensaio daquilo que hoje chamamos virtual, o rádio eliminou as distâncias, unindo virtualmente todos os confins da Terra.

Ao mesmo tempo em que a inquieta natureza do homem o faz olhar com atenção para o céu, ela também o leva a buscar seu interior mais profundo. Num mesmo ano, 1903, o cientista russo Konstantin Tsiolkovsky publica um trabalho surpreendentemente avançado que lançaria as bases para a construção de foguetes espaciais, e o casal de cientistas franceses Pierre e Marie Curie recebe o prêmio Nobel por suas pesquisas relativas ao raio-X.

A então incipiente ciência do século 20, com estas e tantas outras descobertas, começou a perceber a necessidade de reduzir ou eliminar as distâncias que separavam as diversas fontes do conhecimento. A comunicação rápida e eficaz passava a ser imprescindível para a aceleração das conquistas do saber.

Não sem razão, no ano seguinte surge a válvula eletrônica que traz avanços significativos ao rádio, por permitir o envio de sons, além dos sinais telegráficos em código Morse.

Enquanto os foguetes ainda se resumiam ao plano teórico, o espírito conquistador dava asas literais aos irmãos Wright, norte-americanos, e ao brasileiro Alberto Santos Dumont que, com suas engenhocas voadoras, assombravam o mundo nos primeiros anos do século.

Em 1908, quando aviões ainda eram conhecidos por poucos e mais pareciam assunto de ficção, Henry Ford apresentava seu automóvel modelo T ao grande público. Se o cidadão comum ainda não podia voar, ao menos já poderia locomover-se com maior conforto e, o que é mais importante, com maior velocidade. Reduzindo-se os tempos de percurso, reduziam-se as distâncias.

No mesmo ritmo com que a engenhosidade humana produzia maravilhas mecânicas e elétricas, a capacidade dedutiva, de observação científica e a eterna curiosidade do homem o levam a prospectar ainda mais profundamente seu interior e o de todos os seres vivos. 1909 é o ano do anúncio da existência do gene, a unidade elementar da hereditariedade. Mais dois anos e o princípio dos supercondutores e a teoria geral do átomo são apresentados. Como quem prepara as malas para uma longa viagem, a humanidade começa a recolher subsídios técnicos e científicos numa escala sem precedentes.

O salto que Johannes Guttenberg, inventor da imprensa, dera à difusão da informação 450 anos antes, multiplicava-se infinitamente em potencialidade com o rádio, os novos meios de impressão dos jornais e as pesquisas científicas primordiais para tudo aquilo que, mais tarde, viria a se configurar na moderna comunicação.

O advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) não iria mudar apenas a configuração geopolítica da Europa; alteraria o comportamento de toda humanidade pois, ao par dos horrores causados, a guerra exigia velocidade no desenvolvimento tecnológico, particularmente nos meios de transporte e nas comunicações, itens tão estratégicos.

O grande tropeço bélico não impediu, contudo, que o homem continuasse a sonhar com a conquista que realmente importava. No ano em que eclode a guerra, Robert Goddard, um obscuro físico norte-americano patenteava os conceitos básicos da moderna tecnologia de foguetes, sonhando, segundo ele, em ?fazer um dispositivo que chegasse até Marte?.

Em 25 de janeiro de 1915 a primeira ligação telefônica transcontinental percorre mais de 4 mil quilômetros de fios suspensos por 130 mil postes, para que Alexander Graham Bell pudesse, de Nova York, conversar com seu assistente em São Francisco, na costa oeste dos Estados Unidos. Desnecessário relatar o que o telefone representou a partir daí.

A grande conquista humana dá um de seus maiores passos com a publicação, em 1916, da Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein. Desde então, o olhar humano enxergaria o cosmo de modo completamente diferente e com muito maior interesse.

Os anos 20 marcam o apogeu da comunicação. Com o surgimento da cultura de massa, o homem passou a conviver com a troca de informações num volume e numa velocidade jamais sonhados. A comunicação leva o lazer e o entretenimento. A música escapa das salas de concerto e invade os lares dos cidadãos comuns.

A notícia é instantânea. O cinema amadurece ao ponto de até começar a falar, em O Cantor De Jazz, com Al Jolson, em 1927. E ganha cores, com Toll Of The Sea, primeiro longametragem rodado em Technicolor. Multidões se comprimem nas portas das salas de exibição para sonhar com seus astros e se informar com os documentários apresentados. Pela primeira vez se podia acompanhar os fatos do mundo com som e imagens em movimento. Nunca idéias e conhecimento transitaram com tamanha intensidade. A comunicação mostrava que o mundo estava realmente ficando menor. E o ardor da grande conquista humana, muito maior.

Como se não bastasse, foi nos anos 20 que se viu nascer a televisão. Em 1925, o escocês John Logie Baird já havia transmitido a imagem da silhueta de um jovem amigo de um recinto para outro em sua casa. Faltavam poucos anos para que seu invento rudimentar tomasse as proporções de mais importante meio de comunicação jamais criado. Com a televisão, o mundo ficaria incrivelmente menor do que se poderia imaginar à época.

Até o final da primeira metade do século já estariam lançadas as bases do desenvolvimento que experimentamos hoje. A segunda guerra mundial, a despeito de todos seus estragos e carnificina, trouxe novidades como radares bastante aperfeiçoados e muitas melhorias nos sistemas de comunicações que viriam a ser incorporadas ao dia-a-dia das pessoas comuns.

1946 é o ano em que cientistas da Universidade da Pensilvânia constróem o primeiro ?cérebro eletrônico?, o ENIAC, um amontoado de 18 mil válvulas e 30 toneladas, que consegue a façanha de realizar espantosas 5 mil operações matemáticas por segundo.

A partir dele, muita coisa iria se transformar radicalmente. Mas a ansiedade pela conquista era tanta que bastou só mais um ano para as válvulas ficarem obsoletas, com a invenção do transistor pelos laboratórios Bell.

Em poucos anos, meios de comunicação como o rádio e a televisão passariam a ser portáteis e, mais uma vez, a comunicação entre os homens se expande. A televisão conquista definitivamente os lares do mundo todo e, simultaneamente, o homem começa a materializar a conquista do espaço.

As teorias de Konstantin Tsiolkovsky e Robert Goddard são resgatadas e aplicadas na corrida espacial. Os soviéticos dão o primeiro passo, com o lançamento, em 1957, do satélite Sputnik e, logo a seguir, com Yuri Gagarin, primeiro homem no espaço; alguns anos mais tarde os norte-americanos revidam, com Neil Armstrong fincando sua bandeira em solo lunar. Este último feito, aliás, apresentado ao vivo para os televisores de todo o planeta.

Hoje, a televisão nos leva confortável e instantaneamente aos principais eventos do planeta, do esporte às guerras. Quem não se lembra das últimas finais de copas do mundo, ou de Peter Arnett, da CNN, cobrindo ?ao vivo? a Guerra do Golfo?

E quando, há poucos anos, acreditávamos haver alcançado o máximo em comunicação, surge a internet. Não apenas assistimos aos espetáculos; participamos deles. Reportagens sobre o Museu do Louvre são substituídas pelas visitas virtuais. Em breve, uma carta com envelope e selo será reduzida a uma boa lembrança: o e-mail transformou o selo num clique, e a correspondência chega imediatamente a qualquer ponto da Terra.

Com a internet, cientistas do mundo todo cooperam entre si em torno de um mesmo projeto científico reduzindo espantosamente o prazo para a obtenção de resultados. Graças também à ajuda deste novo meio de comunicação o genoma humano foi decodificado, e estamos em vias de conhecer detalhadamente o DNA.

Conquistamos o microcosmo com a mesma velocidade com que as sondas espaciais rumam ao exterior do sistema solar. Leonardo da Vinci, com o helicóptero e outras máquinas; Júlio Verne, com o submarino Nautilus; tantos foram os sonhos e os sonhadores. A ciência de agora já desenvolve modelos teóricos buscando realmente alcançar a velocidade de dobra, algo só imaginado nas aventuras do capitão Kirk e do sr. Spock em sua nave Enterprise de Jornada nas Estrelas.

De um certo modo, a história se repete: cientistas criam e trocam informações avançadas, comunicam-se, olhando para o cosmo com as mesmas dúvidas e ansiedades com que nossos antepassados sonharam, certo dia, com o além-mar.

Produzimos e distribuímos volumes incalculáveis de informação através dos nossos admiráveis meios de comunicação. Atualmente, uma pessoa comum aprende em um único dia o que seu ascendente de há mil séculos não conseguia aprender em toda uma vida. Simplesmente porque tem informação em abundância ao seu alcance, e, claro, os meios de fazê-la transitar com rapidez.

A capacidade humana de se comunicar nos deu a oportunidade de sonharmos com a conquista do universo. Talvez nós o conquistemos. Por ora, temos em mãos todas as ferramentas para alcançarmos um mundo muito melhor, mais justo, criativo e produtivo. Só depende de extrairmos o máximo deste dom com que o Criador nos brindou: a comunicação.

Talento é o que não nos falta. Com a bagagem da comunicação nós, os Homo Sapiens High Tech, já estamos prontos para a segunda etapa da grande jornada. [Webinsider]

Texto originalmente publicado no livro Deus é inocente, de 2004, pela Editora Atlas.

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Zeca Martins é é sócio-diretor da Editora Livronovo.

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5 respostas

  1. essa é a verdade…podemos aprender em tudo o que está escrito por aí, pois, o fato, é que está tudo mais fácil e rápido. mas, ainda existem os preguiçosos mentais que esperam acontecer e perdem uma boa oportunidade de fazer e mudar alguma coisa…

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