A dura realidade do estudante do período noturno

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A rotina diária de levantar cedo, trabalhar o dia todo, e enfrentar as dificuldades de trânsito e transporte faz parte da realidade de dezenas de milhões de brasileiros.

Entretanto, para 2,7 milhões, esse hábito é seguido de atividades estudantis no período noturno, alimentação inadequada e um percurso de volta ao lar marcado pela insegurança. Acresça-se ao cenário uma reduzida quantidade de horas de sono, pouco lazer e a própria legislação trabalhista, que não oferece flexibilização de horário de trabalho para o estudante-trabalhador e não propicia benefício-alimentação adicional que assegure uma refeição antes das aulas, uma vez que a locomoção é feita diretamente do local de trabalho para a instituição de ensino.

Essa foi a constatação de uma tese desenvolvida sobre o impacto do “entorno educacional” no cotidiano do estudante do ensino superior noturno, a qual pesquisou 340 estudantes da cidade de São Paulo e de dois municípios do interior paulista, um da região de Campinas e outro de Araçatuba.

O ensino superior noturno é recente no Brasil – tem menos de 50 anos de existência. No entanto, possui alta representatividade numérica e mostra-se crescente: totaliza 60% do total de matrículas do país e 70% do Estado de São Paulo. Ao longo dos últimos anos, transformou-se em instrumento de inclusão social, pois nele o jovem busca sua formação profissional, enquanto o trabalho remunerado durante o dia oferece-lhe subsídios financeiros para viabilizar os estudos.

Os pesquisados reclamam das aulas expositivas não-dialogadas, com baixa interatividade, pouca utilização de recursos tecnológicos que estimulem sua participação, causando desinteresse, apatia e sono.

Na Capital, o trânsito e o trabalho depois do expediente normal são fatores que causam atrasos, perda de aulas e provas. No interior do Estado, o longo trajeto em estradas é outro fator dificultador, porque, muitas vezes, o curso desejado não é oferecido na cidade do estudante. O que há em comum para os estudantes das cidades pesquisadas é a presença da violência após o encerramento das aulas, quando estes ficam expostos aos riscos da noite, período de maior índice de delitos.

Os pesquisados (86% são estudantes-trabalhadores) alegam que os atrasos na chegada à instituição os impedem de realizar pesquisas antes da aula ou mesmo freqüentar bibliotecas, diminuem o convívio social e impedem que se alimentem. As dificuldades atingem de forma indiscriminada estudantes de todos os níveis sócio-econômicos.

Passando ao largo pelo protecionismo ou assistencialismo, destaca-se que a instituição de ensino e o “extramuros” não reconhecem essas dificuldades. A instituição deveria disponibilizar infra-estrutura (biblioteca, secretaria, laboratórios) em horários depois das aulas, bem como ter seu projeto pedagógico compatível com a realidade do aluno do noturno, e oferecer recursos tecnológicos e capacitação ao corpo docente, possibilitando o desenvolvimento de conteúdos atualizados. Também deveria buscar integração com empresas de transportes para compatibilizar horários e demandas.

Nessa mesma linha, as prefeituras deveriam criar e manter faixas de travessia de pedestres, iluminar as áreas próximas às instituições, organizar o fluxo de veículos na chegada e saída dos estudantes. Já a Secretaria de Segurança Pública poderia ter um contingente repressivo maior no período noturno (entre 22 horas e meia-noite), horário de maior circulação de estudantes, e estender a realização de rondas escolares às instituições de ensino superior.

Adicionalmente, os empresários, em meses letivos, poderiam flexibilizar o horário de trabalho e ampliar o valor do benefício-alimentação para tais estudantes.

Muito se fala sobre a importância da Educação na formação de um país, de seu povo e, sobretudo, das conseqüências da melhoria na qualidade de vida. Na atualidade, falar em Educação como prioridade transformou-se em discurso politicamente correto de intelectuais, empresários e políticos.

Essa é a hora de dar um basta na expectativa de que “o outro” faça algo, pois a Educação clama por ações imediatas tanto do extramuros como do intramuros das instituições de ensino. Ações que sejam integradas, sincronizadas e amparadas por planos e políticas públicas; que se sobreponham a cores partidárias, tendo um real compromisso com a sociedade e a formação do povo brasileiro. [Webinsider]

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Armando Terribili Filho é diretor de projetos da Unisys Brasil e professor da Faculdade de Administração da FAAP.

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19 respostas

  1. Quando estudava e trabalhava senti muita dificuldade. A solucao passa por uma acao conjunta do poder publico, Instituicoes de ensino e do proprio alunado do periodo noturno que tem que reivindicar melhores condicoes, pois
    nesse pais so se consegue algo com muita luta e ate greve de fome as vezes. Estou fazendo uma pesquisa a respeito e espero chegar a conclusoes .
    torco por melhorias na educacao superior para o periodo noturno.

  2. Minha dissertação de mestrado na área da Educação tem uma proposta alternativa que vem a minimizar os efeitos nocivos do cansaço acarretado pela horas laborais de trabalho e estudo que este público é submetido, melhorando assim sua qualidade de vida.
    Se houver maiores interesses terei maior boa vontade de dar maiores esclarecimentos.

  3. O ensino noturno é inviável, pela minha experiência. Ele trata apenas de fornecer um diploma.
    Quanto ao tédio, está mais do que na hora de entender que há uma parcela enorme de tédio e violência simbólica (leia-se autoritarismo) IMPRESCINDÍVEL a qualquer sistema educacional. Daí que o sistema brasileiro abandonou essas prerrogativas em função da leveza e prazer (sic) das aulas. No noturno não há nem um nem outro.

  4. Espero que todo esse nosso esforço do dia-a-dia, seja recompensado no futuro, pois cada dia é uma nova batalha a ser conquistada!!!

  5. Eis aí uma excelente matéria!
    Fácil é julgar maus alunos, difícil é despertar neles o interesse. Isso sim é o desafio.

  6. O pior é que tudo isso desmotiva o aluno a continuar os estudos.

    Quando paga uma faculdade particular, ter que pagar e enfrentar todos esses problemas. Quanto estuda em uma faculdade do estado ou do governo, na maioria dos casos, as condições não são muito boas.

    Será que o governo investe mesmo na educação da população ?

  7. Enfrento isto todos os dias.. minha faculdade fica em outra cidade… tenho que pegar ônibus.
    Mas, até que ponto podemos culpar apenas as instituições de ensino?
    Para mim, tudo começa lá de trás… No Brasil, com a má distribuição de renda, não podemos viver as custas dos pais (se eles trabalharem) apenas estudando.
    Os salários estão cada vez mais baixos… E se formar hoje não garante que o seu salário aumente.
    Por isso, garantir esta experiencia trabalhando o dia inteiro se faz necessário (estagiário trabalha de 4 a 6 horas por dia, mas os salários são 3 vezes menores do que trabalho efetivo, o que vocês preferem?), e isto acaba nos prejudicando, tanto na faculdade como no próprio emprego…
    O ideal seria todos os estudantes ganharem bolsas de estudo, para apenas estudarem…

  8. Este artigo é a realidade por si só. Que tal abordar também o assunto: Estagiários, mão de obra barata?.
    Atualmente há um parcela mínima de estagiários que atuam realmente em sua área de estudos. O complicado é que, com tantas contas para pagar (tranporte, mensalidade, alimentação, xerox…) e cobrança do mercado por experiência, nem sempre é possível esperar para conseguir algo realmente bom. O que o universitário deve fazer, neste caso?
    []s

  9. É pessoal,tal questão me faz pensar que algo não está errado…a ordem natural das coisas, não deve ser essa realidade!
    Sei que tal sacrifício sempre existiu,mas as 08:00hs trabalhadas são intensas, juntando com mas 03 horas de estudo noturno ! é barra ! vamos ter cuidado com o que estamos lendo e a que estamos sendo expostos pessoal.Temos que filtrar bastante,se não ficaremos frustados tetando ser superprofissionais
    Conversando com um senhor bem idoso um dia,ele me falou algo que me deixou reflexivo. Ele falou: sabe qual é a diferença da percepção de tempo da minha mocidade e da sua ? na minha juventude os dias eram curtos, e os anos eram longos. Agora, os dias são longos e os anos curtos.
    Espero não ter disfocado muito do tema, mas… temos que viver também ter qualidade de vida! viver !
    Um abraço a todos ! vamos trabalhar e estudar com reponsabilidade, porém não devemos começar do final para o começo !
    não quero me abidicar de tudo AGORA p/
    depois APROVEITAR temos que buscar equilíbrio.

  10. Ae pessoal.

    Bom vamos por partes.
    O texto é bom e retrata realmente o estudante brasileiro. Porem temos que ponderar. O que acontece no Brasil é que nosso sistema de ensino é antigo, arcaico, nosso dinheiro não vale mais nada – a recessão que passamos não deixa a gente evoluir, e além disso, os sites das universidades, com raras excessões é purgueiro inutil, que não coopera com o aluno. Raras são as universidades que tem um site que acompanha o ritmo do aluno, e que realmente funciona como um ponto vital. Então a amoral da história é: Estudante noturno sofre sim, mas a sociedade brasileira sofre totalmente em conjunto. O problema é mais embaixo que apenas passar fome, cansaço e sono. É um problema social criado pelo governo que não ajuda o povo, e o povo que não age pois precisa salvar com unhas e dentes seu salário, e conviver com nossa sociedade com doses paliativas de respeito e de esperança.

    T+
    Nex

  11. Caramba, parece q esse artigo foi escrito para mim, rs.
    Falando sério, essa vida é muito difícil mesmo, só quem quer realmente algo da vida para aguentar até o final.
    Eu moro na z/s Santo Amaro, trabalho na z/l Anália Franco e estudo na Vila Mariana, ou seja, corto SP todos os dias.
    Para conseguir chegar no trabalho a tempo, ás 9:00 (e ainda ñ consigo), tenho q sair de casa no máximo 6:30 da manhã, depois do dia todo de trabalho, enfrente ônibus, metro (caos) e vou para faculdade na Vila Mariana.
    Estudo na FIAP e quem conhece sabe da estrutura da mesma, mas mesmo assim muitas vezes é inevitável a perda de atenção na aula, o sono depois de um dia desses, etc. Chego em casa meia noite ou mais, faço algumas coisas q preciso antes de dormir.
    Por noite durmo 3,4 horas, muito difícil!

  12. Acabo de me formar e senti exatamente tudo isso na minha própria pele. Fiquei vária vezes sem comer, já levei mais de 3h para chegar na faculdade (sem contar todas as vezes que tive que andar muito para fugir do trânsito), já vi colegas sendo assaltados e me vi várias vezes rezando no ponto para o ônibus chegar o mais rápido possível para me tirar dali.

    È muito complicado estudar a noite. Só consegui melhorar minha situação quando passei a estudar em casa, pois antes eu tinha que percorrer uns 80km para deslocar do meu serviço (que era na Zona Leste de São Paulo) para ir para faculdade (que fica na Zona Sul); sem contar que eu moro na Zona Oeste.

    A minha rotina, como a de muitos, era acordar antes do sol sair e voltar para casa quando a lua está indo dormir.

    Acredito que o principal movimento que poderia ajudar (e muito) os estudantes-trabalhadores é uma flexibilização ou até redução na carga horária de trabalho, pois trabalhar de 40h-44h semanais impede qualquer um de aproveitar bem a universidade.

    Um grande abraço,

    .faso

  13. Concordo em tudo.
    Porém não podemos generalizar. Na faculdade onde eu estudo (período noturno), as coisas são um pouco diferente.

    – Transporte
    A faculdade disponibiliza, gratuitamente, um onibus que vai do metrô até a porta. O ônibus vai das 18:40 – 20:00 e das 22:30 – 23:10. Sim, é ida e volta.

    – Aulas
    Totalmente digitalizadas. Apesar de ter uma lousa, 99% das aulas são em telões. A interatividade é muito maior, uma vez que o próprio professor incentiva isso. Sempre tem discussões sobre pontos de vistas envolvendo o tema discutido em sala.

    – Instalações
    A faculdade fica aberta desde cedo. Sempre tem laboratórios abertos, secretaria digital, mas também sempre tem alguém ali, qualquer horário. Biblioteca vasta.

    Não vou falar o nome porque não ganho um desconto pra merchan.

    Agora vem o outro lado da moeda. De manhã eu trabalho em outra faculdade, que ainda usa mais o nome que o método de ensino e tratamento de aluno. Aqui a noite é mais fácil ir pra casa ou bar do que ficar querendo estudar. Já tive que acompanhar aulas de professores, por causa de sistemas e realmente, é massante.

    E sempre aquele jeito brasileiro. Falamos em melhorias, esperamos a ajuda divina, mas fazemos de fato muito pouco… É uma pena

  14. O efeito mais negativo dos cursos superiores noturnos é que os estudantes acabam estendendo o curso por muito mais tempo do que o previsto. Ou concluem no tempo, mas com rendimento abaixo do esperado. Isso acontece porque é impossível fazer bem todas as disciplinas de um semestre trabalhando oito horas por dia. Este fato é sem dúvidas frustrante para o aluno e prejudica ainda mais o seu desempenho. Acredito que a única maneira de melhorar os resultados do ensino superior noturno é uma mudança de paradigma. O modelo atual prova-se ineficiente.

  15. O pior de tudo não é o sono, é a cabeça cheia de stress do trabalho, o que parece bloquear nosso cérebro para receber novas informações. O ideal seria uma faculdade no período matutino.

  16. Bom, essa é a dura realidade que temos que conviver todos os dias. Fora todos os fatores que você citou Armando, um em especial que gostaria de enfatizar é sobre até a alimentação ao qual você disse.
    Acho que pelo valor que pagamos pelos estudos, deveria ter algum benefício desse tipo em todas as instituições. Em todas que conheço tem as tais cantinas ou lanchonetes, mas, imagina todos os dias você pagar pra comer, seria um pouco a mais do seu salário que vai embora. Deveria a instituição estabelecer um prato fixo diário para sustentar os estudantes, pois estudar com fome, de estomago vazio é uma coisa que eu não recomendo pra ninguém. A falta de alimentação muitas vezes tira a sua atenção na aula. Deveriam, como disse, pelo valor pago por cada estudante, tirar uma porcentagem e investir nessa parte para não termos que ficar pagando para nos alimentar.
    Acho que nem todos (os trabalhadores-estudantes) que saem do trabalho direto para a faculdade tem dinheiro para comprar um lanche que seja, as vezes tem só o dinheiro do valor da faculdade e nada mais, se mata para pagar, tenta economizar o máximo para não ficar atrasado com suas prestações, isso gera até uma abstinência, com essa economia para não atrasar no valor do estudo, ele fica até sem comer e é pior para nós também. Mas as instituições não pensam nisso, pensam apenas no bolso deles e em nada mais. Agora, deixa atrasar 2 dias depois do vencimento da mensalidade para você ver, ai sim eles vão saber que nós existimos.

    O BRASIL É UMA VERGONHA !!!

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