Publicidade dentro do elevador: será que cabe?

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Meu dia começou como muitos outros: pegando o elevador com um vizinho eloqüente. Ele fez uma série de perguntas óbvias sobre assuntos óbvios e, obviamente, respondi todas elas com respostas óbvias que ele, óbvio, já sabia quais seriam. Quando chegou no térreo, nos despedimos (óbvio) e cheguei a uma conclusão bastante óbvia: o elevador é o ambiente mais consensual do planeta.

É um exemplo de democracia utópica, um estágio ?elevado? de igualdade de opinião. Tudo isso graças única e exclusivamente ao tipo de assunto abordado ali dentro: verdades inquestionáveis a curto prazo. Ou seja, temas que pressupõem um acordo mútuo ? firmado silenciosamente por ambas as partes ? para que o assunto, aconteça o que acontecer, não dure mais de 1 minuto.

Para você entender melhor, vamos exemplificar. Imagine o seguinte diálogo em um elevador:

– Bom dia.
– Bom dia.
– Sabia que eu sou plenamente favorável à esterilização ilegal das mulheres de regiões mais carentes em prol da contenção do aumento demográfico como meio de melhorar a distribuição de renda e diminuir o abismo social? O que você acha disso?
– Err, depende?

Impossível de acontecer. Papo de elevador consiste em um enredo de perguntas retóricas com a função de preencher o espaço vazio deixado pelo incômodo da falta de intimidade ? evitando, obviamente, temas muito polêmicos. Afinal, você não conhece direito a pessoa que está presa ao seu lado naquele cubículo, e nada melhor do que puxar um assunto que, com certeza, ela vai entender. E, de preferência, algo que você já saiba a resposta que ela vai dar.

É um exemplo de democracia instantânea que também tem sua oposição. Os anarquistas que discordam desse modelo permanecem, em forma de protesto, olhando silenciosamente para algum ponto fixo durante todo o trajeto, procurando se distrair com qualquer coisa que estiver à volta: logomarca da fabricante do elevador, diferença entre os números 5 e 6 em braile, ano em que foi outorgada a lei que proíbe a ?discriminação racial, social ou étnica de qualquer pessoa que??. E pesquisas recentes comprovam: 99,4% dos opositores já fizeram as contas para saber quantos quilos por pessoa cada elevador consegue agüentar.

Esses ?rebeldes? são exatamente o público-alvo dos painéis de elevador, que vieram para salvá-los do tédio claustrofóbico com notícias curtas sobre esportes, economia, mundo, trânsito etc. Além da previsão do tempo, é óbvio ? um assunto em que os papos de elevador só ficam atrás das conversas com taxistas. Agora a publicidade, como não poderia deixar de ser, está começando a usar esse novo meio para invadir aqueles míseros metros quadrados em busca dos poucos segundos de atenção forçada ? oportunidade bastante rara hoje em dia.

Se eu pudesse, criaria algo totalmente diferente: links diretos de um elevador para o outro. Já pensou? Seria um ?BigBrother.zip?: mini-reality-shows transmitidos ao vivo entre elevadores! Ou seja, do elevador da sua empresa você poderia assistir como estão as pessoas nos elevadores de outras empresas no mundo. Fico imaginado as legendas nos vídeos: ?Unilever, Londres? (corta) ?Siemens, Berlim? (corta) ?WTC, Sao Paolo? ? pois, como seria um broadcast internacional, os nomes em português jamais apareceriam com a grafia correta. Isso serviria como consolo para sua solidão, pois seria um alívio ver que outras pessoas estão, assim como você, sem absolutamente nada para fazer. Ou seja, um Big Brother como qualquer outro.

Mas aí, óbvio, diriam que os custos óbvios de transmissão seriam, obviamente, elevados demais pra isso e que a idéia jamais seria aprovada pelo cliente, é óbvio. Então é melhor continuarmos com as obviedades de sempre, como as notícias sobre provas mais do que óbvias de corrupção no Congresso. Assim, pelo menos, evitaremos discussões óbvias e manteremos a ?paz irretocável? dentro dos elevadores. Um ambiente condenado à maior das maldições para um criativo: o óbvio eterno. [Webinsider]

.

Eco Moliterno é publicitário.

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10 respostas

  1. Não vejo o por que de ser caro, um notebook (asus eepc) com webcam, com uma internet 3G ou wireless do próprio prédio, conectado à um servidor de streaming de vídeo, onde um script que possa rodar em browser ter acesso randômico aos publish-points de cada localidade solucionaria o custo do stream, acredito que o custo poderia ser pago em publicidade por grandes players do mercado, como philips, sony, walmart, e outros teriam interesse, apesar da quantidade de passageiros ser pequena, porém publico qualificado.

    Mas saindo um pouco da minha viagem de concordar e calcular os custos à essa hora, tomando coca-cola no trabalho, gostei do artigo e já tinha pensado também nesse clima amistoso que há dentro dos elevadores, parabéns pelo post!

  2. Muitos elevadores ja sao usados pra publicidade, claro que a ideia de um broadcast e inovadora, mas por enquanto muito cara.
    No mesmo espaco de briga dos elevadores entram os banheiros, metros, …,

  3. Poderiam utilizar o ambiente como parte do anúncio. Como por exemplo as portas serem uma boca de tubarão ou algo assim.. colocar alguma coisa no painel..

    Criatividade é com os publicitários rs..

    []´s

  4. acho que há espaço para mta criatividade dentro do elevador. falta a publicidade descobrir os caminhos. achar que não há espaço e pronto é ser simplista demais..

  5. kkkkkk…. adorei a criatividade do texto.
    Informações como essa em elevadores pode sim ser muito útil. Pelo menos, por trás da camera vão saber a hora de trocar o informativo. Ou seja: Quando ninguém mais estiver lendo
    Mas sou a favor sim da ESTERILIZAÇÂO LEGAL.
    Bom Dia.

  6. Mt bom o post…

    Já havia feito uma análise das conversas de taxi. Embora o assunto sempre comece com coisas triviais (tempo, etc), sempre acaba levando a uma opinião polêmica dos taxistas…

    POr exemplo, nenhum taxista pondera pontos positivos e negativos na política. Sempre elogiam muito, ou criticam ferozmente determinado candidato. O motivo? O cara passa o dia inteiro no taxi, qnd pega algum passageiro, precisa puxar assunto pra fazer o tempo passar. (tvz por isso tantos deles sejam malufistas, quer opinião mais polêmica q essa?)

    Inclusive eu até desenvolvi uma resposta padrão para esses casos: o famoso É complicado… Um jeito de não discordar do cara, mas também não concordar com o absurdo q ele tenha dito.

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