Me faz um viralzinho? Aqui o diminutivo não se aplica

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Algumas palavras, na minha opinião, deveriam ser proibidas de serem ditas no diminutivo. Isso mesmo: colocou ?inho? onde não deve, quatro pontos na carteira. Catástrofe, por exemplo, é uma delas. Você nunca vai ler na Folha de S.Paulo uma manchete assim: ?Catastrofezinha em Bangladesh mata só 3.000?. Não dá.

Mas dá pra listar vários outros substantivos que perdem todo o sentido quando são diminuídos: tsunaminho, rinocerontico, avalanchezeca, explosinha, mastrodontinho, etceterinha. Agora precisamos, urgentemente, incluir o termo “viral” nessa listinha. E, principalmente, na cabecinha de alguns profissionais de comunicação.

Desde que o YouTube passou a ser o Santo Graal dos clientes, todos estão dispostos a fazer de tudo para aparecer por lá. Ou melhor, quase tudo. Alguns, temerosos em perder o controle da ação e ? pior ? o bônus no final do ano, ficam com medo de arriscar todas as fichas em algo semi-imprevisível. Mas como esse assunto já foi capa da Veja, eles também sabem que não podem ficar de fora em hipótese alguma. É aí que surgem diálogos desse tipo no Messenger:

– Oi Eco, td bem? Preciso falar urgentemente com vc. Tô querendo fazer um viralzinho pro lançamento de um produto nosso.
– Uma ação viral, vc quer dizer?
– Isso mesmo! Pra espalhar no YouTube. Mas também não precisa ser algo pra TODO MUNDO ver?
– Ué, como assim?
– Ah, queria impactar só meu target mesmo: AB, 25-35, Gde São Paulo.
– Mas? tem certeza que é um viral mesmo que vc precisa?
– Sim, claro. Por isso que precisa ser um “viralzinho”, pra gerar um buzz só nesse público. Se puder, dá um pulo aqui e te explico com detalhes. Tem tempo prum cafezinho mais tarde?

É incrível como alguns clientes ? a maioria, felizmente, já entendeu ? ainda não captaram o verdadeiro potencial de uma ação viral. E a responsabilidade que é colocar sua marca em um vídeo, foto ou texto que pode ser visto e comentado por qualquer um. É uma exposição pública que precisa ser muito bem planejada antes de ser feita. Afinal, se o tiro sair pela culatra, pode causar um belo “rombinho” na imagem da sua empresa.

Costumo apelidar esse tipo de cliente de “punk comportado”: querem usar o cabelo espetado e pintado de verde pra chamar a atenção de todo mundo, mas não podem, de maneira nenhuma, deixar a camisa pra fora da calça. Não dá, né? Ou você assume que vai fazer algo ousado, de risco, ou nem faz. E se realmente decidir fazer, pense muito bem em como irá fazê-lo. Melhor ainda: pense como o seu público faria. Afinal, nessa nova forma de comunicar, o maior concorrente não é mais a empresa ao lado. É o apartamento em frente.

Como o poder passou para as mãos dos internautas, está cada vez mais difícil competir com vídeos de chineses trancados em casa cantando Backstreet Boys ou de celebridades fazendo sexo no quarto, na banheira e/ou na praia. Sempre digo isso: a Paris Hilton é muito mais viral que o Hotel Hilton. E qualquer ação que tenha a marca de uma empresa por trás é mais difícil de ser viralizada do que qualquer bobagem filmada por uma celebridade. Mas já que agora todos podem brincar de Silvio Santos, cabe a nós achar um meio de diferenciação nesse show de milhões.

Criar paródias do Silvio, como o Pânico faz na TV, pode não ser a melhor solução para a web. Mas muita gente insiste em achar que, quanto mais tosco for o vídeo, mais ele vai viralizar. Criou-se então a “Estética Shrek”, e os monstros se tornaram os príncipes na internet.

O que muitos não percebem, no entanto, é que, ao adotar como referência padrões de produção de vídeo acessíveis a qualquer leigo, jogamos fora o único trunfo que temos na manga contra o exército de internautas: a possibilidade de viabilizar qualquer idéia. Explico: nossos vídeos podem ter, por exemplo, um diretor de fotografia. Os deles, só o cameraman. Nós podemos, se a idéia pedir, montar uma mega produção. E mega produção, pro público em geral, é um tripé e olhe lá.

Dessa forma, de animações em 3D a filmagens com tomadas aéreas, podemos explorar uma gama de idéias muito maior do que a de um adolescente que comprou uma câmera de vídeo no free shop na sua viagem de volta da Disney. Porque, no final das contas, o que vai viralizar é a idéia. E cabe a nós ? que somos pagos pra isso ? criar algo que chame mais atenção do que um Mentos jogado dentro de uma garrafa de Coca-Cola (pra quem ainda não sabe o que acontece, digite essa combinação no YouTube e veja quantos vídeos aparecem). Mas enquanto as idéias deles forem melhores que as nossas, não adianta: nem se filmarmos na Antártida vamos conseguir ser tão assistidos quanto eles.

Difícil a nossa tarefa? Sim. Muito. Tanto que algumas empresas já estão adotando o discurso: ?se você não pode vencê-los, junte-se a eles?. Doritos, por exemplo, cedeu o espaço comercial que comprou no intervalo do último Super Bowl (os segundos de TV mais caros do mundo) para um vídeo caseiro que venceu um concurso na internet. Loucura? Talvez. Ousado? Com certeza. Viralizou? Bom, se você não é fã de futebol americano e agora sabe que a Doritos fez isso, o diretor de marketing deles acaba de garantir o bônus de fim de ano.

Para encerrar, voltemos ao debate semântico sobre diminutivos. Não existe “viralzinho” ? ou, pelo menos, não deveria existir. Se você vai falar em um megafone, não cochiche. Grite. Mas lembre-se: o passo mais difícil é tomar a decisão de fazer um viral. Pense muito bem antes de expor sua marca ao público. E se você realmente quiser dar as caras, mergulhe de cabeça. Sem medo.

Confie na sua idéia e faça de tudo pra que ela seja executada da melhor forma possível. Só assim você vai sair da vala comum e se destacar no meio de tantas porcarias tentadoras que rondam a web. A regra é clara: quanto mais ousada sua idéia, mais usada ela será.

Mas nunca subestime o poder da opinião pública. Ou você já se esqueceu que o homem mais poderoso do nosso país é um metalúrgico? [Webinsider]

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Eco Moliterno é publicitário.

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7 respostas

  1. É isso aí, mas enquanto os publicitários dominantes não se derem o respeito, vamos continuar a ver viralzinho, sitezinho e outros inhos por aí e o dinheiro do cliente indo direto pro ralo, enquanto o ego do pseudo-profissional infla de orgulho por ser tão muderno e antenado…

  2. Este texto deveria ser lido por todos que dizem trabalhar com comunciação digital, integrada, web e afins.Vou até economizar com a terapia depois de ler este artigo.

  3. Concordo com o artigo, menos em uma coisa: ninguém faz viral. O que podemos fazer é diversificar nossas ações de marketing com a web, fazendo além de filmes para a TV, filmes interessantes para o meio digital (considerando suas especificações) que podem ou não acabar viralizando se cairem no gosto do público. Não adianta apresentar pro cliente uma superestratégia viral, por mais interessante e ousada que ela seja, porque se um grande número de usuários não tiverem o trabalho de ver e recomendar pros amigos, ela simplesmente não é viral.

  4. No meu limitado entendimento consegui associar uma coisa com as reportagens q venho lendo, me corrijam se estiver pessimista:

    Anunciar na WEB é bom e barato… mas é uma faca de 2 gumes em q vc nao tem o controle da outra ponta. Não é uma moeda muito forte que vc põe em risco caso algo de errado?

  5. ótimo artigo, muito bom mesmo.

    E o pior que isso não acontece apenas com o viral, acontece com tudo que pode aparecer na web, seja um sitezinho, bannerzinho ou um portalzinho.

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