A história das marcas: Xerox, Apple e Microsoft

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No texto anterior, falamos sobre a origem da Coca-Cola, marca que vende sempre o mesmo tipo de produto. Hoje vamos abordar marcas que tiveram suas trajetórias ligadas em algum evento no passado.

Os detalhes sobre a história de cada uma continuam presentes e no meio do caminho seus protagonistas se esbarraram.

Xerox – Estados Unidos. Fotocopiadoras. 1906.

marcas_xerox_logo_novo.jpgA empresa The Haloid Company funcionou por mais de 40 anos fabricando papéis fotográficos e fazendo também manutenção de algumas câmeras. Era uma companhia antiga e estável, mas teve que trocar de nome quando um pesquisador chamado Chester Carlson bateu à sua porta em 1946.

Carlson veio falar de uma máquina que inventou oito anos antes. Tinha o funcionamento bastante complicado, porém era capaz de produzir um resultado fantástico: fazia cópias de documentos.

Como ele conseguiu tamanha façanha? O processo é complicado, não se engane. Envolve energia estática, tinta em pó e luz. Eu juro que entendi, mas teria que escrever duas páginas para explicar. Então vai a explicação pobre mesmo, é o jeito.

marcas_xerox_carlson.jpgQuando o documento é inserido na máquina, uma luz bem forte passa sob ele. Isso você já viu, não é verdade?

A luz passa através do papel, formando a “sombra” do documento. As partes sem nada escrito ficam mais claras, enquanto as partes com letras e figuras ficam mais escuras. O conjunto claro e escuro que forma a “sombra” do documento usando a luz viaja até o fundo da máquina.

Lá embaixo há um tambor energizado, ou seja, toda sua superfície está carregada negativamente. Quando a “sombra bate nessa superfície, as partes claras fazem com que o que era negativo fique neutro, e as partes escuras ficam negativas mesmo.

E assim o tambor fica com uma “impressão” do documento original. Nesse momento a máquina joga a tinta em pó sobre essa tal “impressão”. O toner é positivo, por isso é atraído para as partes escuras/negativas, ou seja, as partes com letras e figuras. Assim se forma sobre o tambor a cópia do documento. Então, para finalizar, o papel em branco é pressionado sobre o tambor, formando a cópia.

Mais ou menos isso, numa explicação bem porca. De qualquer informa, interessa saber que Chester batizou sua nova técnica unindo a palavra grega xero (seco) ao sufixo grafia (escrever). Ele julgava que a fotocópia era uma espécie de fotografia à seco, uma vez que para ser revelada não precisava de produtos químicos “molhados”.

Pois bem, com essa grande invenção nas mãos, o senhor Chester chegou na The Haloid Company pedindo um pouco de grana para melhorar a máquina. Ele já fazia isso há quase uma década, mas ninguém tinha topado.

Finalmente a Haloid aceitou a parceria. Em 1948 apresentaram a invenção pela primeira vez. Passaram mais 11 anos em desenvolvimento, até deixá-la barata e eficaz o suficiente para ser comercializada.

marcas_xerox_914.jpgEm 1959 lançaram o modelo Xerox 914, batizado assim por ser capaz de tirar cópias no tamanho 9 por 14 polegadas. Detentores da patente de uma invenção absurdamente útil, em dois anos a empresa já acumulava milhões, fazendo com que a The Haloid Company mudasse seu nome para Xerox.

Agora com um grande capital em mãos, a companhia passou a investir também em outros segmentos de mercado. Na década de 70 abriram o Xerox Palo Alto Research Center, centro de pesquisa destinado especialmente a estudos sobre informática.

Foi lá que em 1973 surgiu um protótipo de microcomputador chamado Alto. Essa nova máquina simplesmente criou todas as bases para os produtos que mais tarde formariam a indústria de informática. Nele encontramos o primeiro software com interface gráfica (com ícones e janelas), o mouse, tela colorida e editor de texto. Tudo isso tornou o computador algo muito mais acessível ao usuário comum, abrindo as portas para um novo e promissor tipo de mercado.

Obviamente os pesquisadores da Xerox sabiam que tinham nas mãos uma grande descoberta. Porém, suas expectativas foram frustradas pela própria empresa. Ao apresentarem o protótipo para a diretoria da Xerox, composta em sua maioria por senhores da época da máquina de escrever, a equipe de pesquisa não recebeu sequer um elogio. Os chefões disseram que aquela invenção era ridícula e que o dinheiro investido no departamento tinha sido desperdiçado.

É possível imaginar a decepção desse pessoal. No entanto, a coisa ficaria bem pior?

Apple – Estados Unidos. Microcomputadores. 1976.

A história da Apple começa com dois amigos com o mesmo nome. O primeiro, Steve Wozniak, um gênio da eletrônica. O segundo, Steve Jobs, um gênio do marketing.

Wozniak sempre gostou de matemática, a ponto de ser considerado meio doido quando era estudante no ensino básico. A mãe dele ficou com pena e resolveu colocar o garoto para estudar eletrônica, uma forma de canalizar suas energias.

A ideia deu certo, pois mais tarde ele foi trabalhar na Hewlett-Packard ganhando uns trocados. Certo dia, ao ler uma revista sobre eletrônica, Wozniak aprendeu a construir um microcomputador. Entrou então em contato com um amigo que possuía uma loja de informática e conseguiu vender algumas máquinas.

Até então isso era apenas um hobby para Wozniak, assim como também para muitas pessoas, em meados da década de setenta. Em um encontro de entusiastas, ao levar um de seus micros, ele bateu com um velho conhecido chamado Steve Jobs.

Os dois tinham sido apresentados por um amigo em comum, mais ou menos cinco anos antes. Jobs era mais novo e tinha uma noção de comércio excepcional.

marcas_apple_founders.jpgAo ver a máquina montada por Wozniak, logo notou que ela tinha potencial de venda, uma vez que todos seus componentes vinham montados numa placa só, inovação à época.

Dono de um perspicaz espírito empreendedor, Jobs rapidamente conseguiu convencer uma loja a comprar 50 máquinas do modelo criado por Wozniak, batizadas de Apple I.

A origem do nome, que significa maçã em inglês, tem várias versões, nenhuma delas muito coerente, na minha humilde opinião. Uns dizem que Jobs gostava muito de música, sendo fã dos Beatles. A gravadora dos quatro de Liverpool, como todos sabem, se chamava Apple Records. Daí teria surgido a denominação Apple Computers.

marcas_apple_first_logo.jpgOutra história, contada por Wozniak, diz que antes da fundação da empresa, Jobs passou um longo período em uma comunidade hippie. Lá, vivendo no meio rural, colhia maçãs.

Há outra versão mais profunda, a qual parece ser mais verdadeira se levarmos em consideração o desenho do primeiro logotipo da empresa. Segundo ela, Jobs teria escolhido a maçã por estar associada às grandes descobertas físicas feitas por Sir Isaac Newton.

No entanto, o logotipo mais moderno nos traz outra teoria. Essa tem fundamento no texto bíblico, que associa a maçã ao conhecimento. Desse modo, ao mordê-la ainda no Éden, trocamos o paraíso pela oportunidade de fazer ciência e, conseqüentemente, computadores. Por esse motivo o segundo logo da empresa seria uma maçã mordida.

marcas_apple_computer.jpgHistorinhas à parte, a verdade é que a Apple cresceu e foi crucial na popularização da informática. Isso aconteceu principalmente por causa do Macintosh, um enorme sucesso de vendas, responsável por mudar a percepção que as pessoas tinham dos computadores.

Porém, a realização do Macintosh só foi possível por causa de outra empresa.

Em 1979 chegou aos ouvidos de Jobs que a Xerox havia desenvolvido uma máquina absurdamente inovadora. Steve fez algumas ligações e marcou de passar lá e dar uma olhada. É claro, os pesquisadores da Xerox não queriam isso, mas a antiquada diretoria da empresa não viu problema. Afinal, Jobs disse a eles que daria algumas ações da Apple em troca.

Foi assim que a maçã copiou toda a idéia do Alto, para mais tarde lançar o revolucionário Macintosh e seu software com interface gráfica chamado Mac OS.

Mas até chegar no lançamento do Macintosh a Apple precisou desenvolver muito a idéia emprestada da Xerox. Para isso contratou um promissor engenheiro de software chamado William Gates para compor a equipe de pesquisa.

Jobs se arrependeria amargamente dessa contratação?

Microsoft – Estados Unidos. Softwares. 1975

A Microcomputer Software foi fundada por William (Bill) Gates e Paul Allen, dois estudantes de computação. Especializados em softwares, o trabalho deles era fornecer programas a empresas que fabricavam hardwares.

marcas_ms_gates_allen.jpgO começo foi difícil, pouca grana, muito trabalho. Até o dia que surgiu a grande oportunidade: a IBM precisava de um soft para rodar em seu novo computador pessoal.

Gates se ofereceu para fornecer o programa, mas na verdade não tinha nada pronto ainda.

Porém Allen lembrava de ter visto um ótimo sistema operacional, criado por uma pequena empresa chamada Seattle Computer Products. Quase com o prazo estourado, os dois foram até lá e fizeram a proposta para comprar o Q-DOS.

A Microsoft mudou o nome para MS-DOS e passou a primeira versão do programa para a IBM, como combinado. O sistema era muito bom e fez muito sucesso, colocando a companhia de Gates no mapa.

Poucos sabem, mas a genialidade de Gates foi propor a IBM uma venda diferente. Em vez de vender os direitos de uso do MS-DOS à empresa, ele exigiu receber uma quantia para cada máquina que fosse vendida com ele instalado. Precisando do programa, a IBM aceitou e a Microsoft faturou.

Gates continuou a desenvolver software juntamente com outras companhias. Certo dia soube do sucesso da interface gráfica do sistema Alto, concebido pela Xerox. Soube também que Steve Jobs o havia copiado e o estava desenvolvendo.

Observando ali uma ótima oportunidade, Bill procurou Jobs e se ofereceu para ajudá-lo. O dono da Apple estava receoso, no entanto precisava de uma forcinha para lançar seu novo produto o mais rápido possível.

Quando finalmente se integrou ao projeto, Gates aprendeu tudo o que podia sobre a interface gráfica. Aprendeu tanto que no dia em que Jobs lançou oficialmente o Macintosh soube que a Microsoft já estava vendendo versões piratas do Mac OS no Japão, batizadas com o nome Windows. Jobs ficou irado. E a coisa piorou um tempo depois, quando Gates tornou-se um das maiores acionistas da Apple.

Curiosidades de sobremesa

1. Quando viu a besteira que fez, a Xerox chegou a lançar seu próprio micro com interface gráfica, antes mesmo da Apple. No entanto, o programa ainda não estava totalmente desenvolvido e acabou funcionando mal, tornando-se um fracasso.

2. Steve Jobs perdeu seu cargo de chefe na Apple quando alguns acionistas julgaram que ele não estava dirigindo bem a companhia. Ele abriu outra empresa, chamada Next Inc., a qual foi responsável pelo criação da Pixar, que antes pertencia ao estúdio do George Lucas (o cara do Star Wars). Dez anos depois, a Apple comprou a Next e recontratou Jobs, pois passava por uma crise. Gênio do marketing, Jobs voltou à empresa e lançou os micros com design inovador, dando novo fôlego ao negócio. Depois você já sabe, surgiram os Ipods e iPhones, o renascimento da Apple.

3. Apesar do pioneirismo, a Microsoft dormiu no ponto quando a internet começou a surgir. De qualquer forma, isso não impediu Gates de tentar dominar o segmento com o Internet Explorer, depois de um polêmico estrangulamento do Netscape. É claro, ele não sabia que o Google ia mudar tudo! Mesmo assim, o negócio de Gates ainda é o maior no setor de softwares. Ele não tem do que reclamar, pois conseguiu ficar bilionário vendendo esses programas que vivem travando.[Webinsider]

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Eduardo Nicholas (eduardonicholas@uol.com.br) é escritor e mantém o blog Dicionário das marcas e o Twitter @eduardonicholas.

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17 respostas

  1. Faltou imparcialidade no final… vinha muito bem… mas no final… foi muito infeliz no comentário… era pra deixar de lado o fanatismo!

  2. Toda vez que leio textos históricos percebo como seria melhor se nós brasileiros fossemos mais históricos do que geográficos. Lidar com o tempo é bem mais fascinante do que com o espaço. A cronologia esclarece, enquanto que a topografia tende a limitar. A linha do tempo ajuda a que encontremos significados e compreensão, enquanto que a localização no espaço não traz tanta percepção.Que bom seria se pudéssemos contar as histórias de nossos empreendedores e de suas longevas empresas e produtos.rio. 19/04/2011.marcos

  3. Eduardo parabens pelo texto,simples e objetivo.

    Gostei muito,houvi outros sites mas que me confuniram,mas voce me deu uma visao muito boa.
    Voce tem um email?

  4. simplesmente incrível o seu texto, adoro ler a história dessas 3 empresas que tanto fazem parte de minha vida ;P

    Parabéns pelo texto, adorei!

  5. Dizem que ler um texto longo na internet é algo raro, o que não é o caso, sua forma de escrever é interessante, envolvente, fora que o tema é maravilhoso… Parabéns!

  6. programas que vivem travando, essa é boa uahuhea

    pior que é verdade, quando sai do windows
    e mexe com leopar, ou ate mesmo os servicos online do google, tipo o docs

    nunca mais vc volta pro windows. nuca mesmo.

  7. Muito bom.
    Simples, Claro e Objetivo.
    Parabéns!
    Vai ser matéria de aula amanhã cedo, meus alunos do CCEL vão adorar.

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