Usabilidade para crianças: a cognição de 5 a 7 anos

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A gente sabe que falar em crianças é falar de um universo muito rico em possibilidades, retenção de informação e aprendizado. E também cheio de comportamentos cognitivos específicos para algumas faixas etárias.

Piaget define o processo de cognição infantil – estudo dos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento – dividido em faixas que são identificadas segundo grupos etários:

  • 0 a 2 anos. Sensório-motor
  • 2 a 7 anos. Pré-operatório
  • 7 a 11 anos. Operações concretas
  • 12 anos em diante. Operações formais

Jakob Nielsen, ao divulgar seu último estudo sobre comportamento infantil em navegação na internet, percebeu que atualmente muitas crianças em fase pré-operatoria estão acessando e navegando a internet e com isto muitas informações na construção de ambientes virtuais para elas devem ser revistas e adaptadas à faixa a que pertencem.

Embora a faixa etária compreenda graus distintos de formação da cognição infantil, foi possível perceber características de navegação tanto de rejeição quanto aceitação, comum a estas idades, como por exemplo a recusa da repetição de métodos de navegação. Ou seja: método utilizado em uma determinada navegação que tenha gerado sucesso pode ser recusado em outra.

Ele nos apontou também a importância de refinar a segmentação do público alvo: a divisão de crianças que se limita de 03 a 12 anos precisa ser repensada e deve se considerar os grupos apontados por Piaget no que diz respeito a fases de cognição. É fundamental para o sucesso do projeto web que se desenvolvam tecnologias distintas para grupos de 3 a 5 anos, 6 a 8 anos e 9 a 12 anos.

Se a criança for convidada a navegar em um site que não pertença à sua faixa etária (falando em termos cognitivos) ela simplesmente o rejeitará.

Outro ponto importante a salientar é que crianças não percebem a natureza comercial dos sites e não identificam a intenção publicitária. Por outro lado podem fixar determinadas marcas em suas mentes através de informações que sejam visualmente interessantes e relacionadas com diversão.

Como criar interfaces para crianças?

Por conta das possibilidades e restrições, o estudo de interação entre crianças e computadores tem recebido atenção nos últimos anos pela quantidade de crianças que já utilizam computadores e internet (antes mesmo de completar a alfabetização) e pela crescente consolidação dos games no cenário infantil como brincadeira predileta.

E neste momento é que foi percebida a quantidade de internautas que têm entre 5 e 7 anos e desta forma foi identificado como um público crescente e com potencial de fidelização para alguns segmentos de sites (jogos, brincadeiras, aprendizado) que podem ser utilizados para envolver a criança com uma marca de produto ou serviço.

Com a intenção de identificar o comportamento da criança diante de um computador, Alexandre Mano e José C. Campos – Universidade do Minho, Portugal – fizeram um estudo para entender crianças entre 5 e 7 anos quando interagem com computadores. A intenção do estudo foi perceber os motivos que levam as crianças a utilizar ou não a interface que lhe é oferecida.

Eu achei bem interessante o estudo e vou deixar aqui alguns pontos bem interessantes e pertinentes para se utilizar na construção de interfaces. Já na primeira parte do estudo foram apresentadas as características cognitivas de crianças entre 5 a 7 anos baseado no trabalho de Jean Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo.

Primeito vamos conhecer a descrição das principais características desta faixa etária (Bee, 1984 e Richmond, 1970):

Egocentrismo
As crianças tendem a centrar o seu raciocínio no seu próprio ponto de vista, e por vezes não consideram a possibilidade de existência de outros pontos de vista. Ela pensa que tudo tem ação direta com suas vontades e ocorre por causa de alguma coisa que tenha feito, por exemplo: quando eu durmo tudo dorme também, quando eu acordo tudo acorda também.

Raciocínio transdutivo
A criança liga fatos que não possuem relação entre si. Ex: Quebrei um vaso da mamãe, coelhinho da Páscoa está triste e não vai me trazer ovos, a chuva é ele chorando de tristeza. O raciocínio transdutivo está ligado ao egocentrismo, onde a criança sente que os fatos estão ligados, ou são influenciados, por sua vontade.

Reversibilidade
As crianças normalmente apenas consideram o momento atual, presente. Não são capazes de entender que certos fenômenos são reversíveis, isto é, quando mudamos algo, podemos também desfazer a mudança.

Centração
A centração é a incapacidade de considerar os múltiplos aspectos ou características de uma situação, como por exemplo altura e largura de um objeto.

Intuição
As crianças julgam muitas vezes as situações através da criatividade e imaginação. Se estes dados não são ajustados pelo seu raciocínio, podem não ser capazes de avaliar as situações corretamente;

Sincretismo
Onde a criança não forma classes entre os diferentes atributos dos objetos; ela apenas os agrupa de forma desorganizada formando amontoados. Assim, uma criança que se encontra nesse período, quando solicitada a formar grupos com diferentes objetos (plantas, animais, objetos de cozinha etc.), poderá colocar juntos objetos que não possuem relação entre si como por exemplo animais e objetos de cozinha.

Dificuldades de classificação
As crianças normalmente experimentam dificuldades para estabelecer e relacionar classes de objetos ou situações;

Dificuldades de seriação
As crianças frequentemente têm dificuldades em ordenar ou criar séries.

Com estas informações podemos enxergar claramente que muito estudo e cuidado são necessário para projetar interfaces para crianças. No próximo artigo vamos falar sobre o resultado aplicado da pesquisa. [Webinsider]

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Íris Ferrera (iris.ferrera@gmail.com) escritora, estudante, arquiteta de informação e consultora de user experience nas horas vagas. Twitter @irisferrera.

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7 respostas

  1. Obrigada professor Hugo pela fantástica contribuição! Vc tem toda a razão no que diz respeito às condições culturais e sociais que a criança estar inserida e tenho aprendido bastante coisa sobre isto ao estudar Vygotsky.

    De qualquer forma, é importante que as pessoas que são responsáveis por projetos para crianças saiba que existem niveis de desenvolvimento cognitivo e fica ai a proposta de pensar e provocar o profissional de interfaces digitais a pensar com mais profundidade sobre a criação de seus projetos.

  2. Íris,

    O estudo das questões ligadas ao desenvolvimento humano é fundamental para qualquer profissional interessado em ergonomia cognitiva. No entanto, temo pelas abordagens superficiais do problema, especialmente aquelas que sugerem que o desenvolvimento é um processo linear, com estágios definidos e propriedades claras.

    O Piaget é uma excelente referência, mas não é a única nem, na minha humilde opinião, a mais rica para esse diálogo com a usabilidade. Vale ressaltar que o interesse dele era investigar um sujeito epistemológico e não um sujeito sócio-histórico, o que faz toda a diferença.

    As crianças estão inseridas em culturas, dialogando com outras criaças, com adultos, com o ambiente artificial no sentido pleno (mídia, tecnologias etc) e esse contexto é tão importante de ser considerado quanto as questões do sujeito em desenvolvimento em si. O próprio Piaget sugere que para o desenvolvimento acontecer, não basta maturação biológica; não basta a experiência do sujeito; não basta a transmissão cultural. O processo de equilibração articula todas essas questões, mas nenhuma delas sozinha explicaria ou seria suficiente para o desenvolvimento.

    Em outros termos: Crianças de 5 a 7 anos que vivem onde? Que conheciam o que? Que conversavam com quem? Que já tinham feito o quê antes de chegar ali? Se o desenvolvimento é processo e estamos em busca da gênese de determinadas operações, não podemos pensar em fases estanques e crianças classificáveis segundo padrões.

    Pra quem gosta do Piaget, sugiro a leitura do Seymour Papert, que trabalhou especificamente com a perspectiva da psicologia genética aplicada à informática para crianças.

    A discussão é ótima. Parabéns pelo artigo.

  3. Achei o artigo muito interessante. Sou formado em Ciências da Computação e também tenho licenciatura em Educação Física. Na Licenciatura, estudei Piaget. Como professor trabalho nas duas áreas, mas na maior parte do meu tempo com tecnologia. Gosto muito de reportagens que possam nos enriquecer com informações sobre o desenvolvimento cognitivo e motor do ser humano. É um mundo à parte que deve ser explorado para que possamos utilizar melhor dos meios existentes para a formação do ser humano. Parabéns Íris.
    Quero aproveitar para pedir sua autorização para colocar os seus artigos no meu blog (que é muito visitado pelos meus alunos de todas as faixas etárias – até idosos). Obrigado pela oportunidade de ler conteúdos tão interessantes.

  4. Artigo muito interessante! Estou curiosa para ler os trabalhos citados, Jakob Nielsen e Alexandre Mano e José C. Campos – Universidade do Minho, se você puder me enviar as referências dos trabalhos fcarei muito grata!

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