Usabilidade em interfaces para crianças

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Dando sequência ao último artigo sobre cognição em crianças de 5 a 7 anos baseados nos estudos de Jean Piaget, separei algumas perguntas e respostas interessantes cujo resultado se deu através de uma série de estudos de Alexandre Mano e José C. Campos, ambos da Universidade do Minho, em Portugal.

Antes de apresentar as questões quero enfatizar que esta primeira parte que exponho a vocês está baseada em princípios de um dos estudiosos da cognição infantil que tem por sua premissa indicar as diferentes fases das crianças através de sua idade.

Outros estudiosos do assunto, que trarei em breve, também tratam o desenvolvimento da criança por outros âmbitos (cultural, social etc.) e teremos a oportunidade de observar e comprovar suas linhas de pensamento.

A leitura desta sequência de artigos tem a intenção de provocar reflexões sobre como criar interfaces digitais para uma camada de internautas muito expressiva e particular, e desta forma encontrar formas de adequar a demanda deste mercado e não de criar novos dogmas e paradigmas de criação para projetos infantis.

1. As crianças são capazes de reconhecer um link apenas com imagens ou um link de texto e imagem é mais eficiente?

As interfaces, na maior parte dos casos por questões de estilo, tendem a associar ideias com imagens ou símbolos. Esta associação só é eficiente se for universal até ao ponto em que utilizadores consigam percebê-la tão imediatamente quanto perceberiam o texto correspondente.

Se a relação falhar, podemos atribuí-lo ao egocentrismo da criança (não compreender que uma imagem pode significar uma ideia diversa daquela que tem pré-concebida), raciocínio transdutivo (associação incorreta entre imagem e ideia) e intuição incorreta.

2. As crianças são capazes de manipular uma aplicação que utilize o teclado?

Todas as teclas no teclado são maiúsculas. Para crianças que iniciam a sua escolaridade, pode ser difícil utilizá-lo se não houver algum cuidado na construção da interface. Pode ocorrer que a criança se centre na forma dos caracteres (centração) e não consiga associar a mesma tecla a caracteres com formas diferentes ou que a sua intuição a leve a não pensar nessa associação.

Entendemos que é adequado não utilizar muitos textos onde a criança precise entender para completar a tarefa e se for utilizado que seja em fontes caixa alta acompanhado de som que repita o que está sendo lido.

3. Como deve ser uma interface para criança? Aleatória ou com eventos para educar?

Se a interface pretende transmitir um conhecimento, a ênfase deve estar na apreensão do conhecimento em si, e não na apreensão da manipulação da interface.

Se a interface sugere diversão com aprendizado, as relações causa-efeito da interface não devem induzir à memorização de sequências que podem levar a uma aprendizagem incorreta (conforme o raciocínio transdutivo das crianças), mas devem despertar o interesse com eventos divertidos que contenham o elemento educacional com o cuidado de não deixar transparecer somente a função divertida.

4. A criança é capaz de associar corretamente imagens como link para ações?

Se uma imagem desencadear uma série de ações, pretende-se saber se a criança compreende esta relação. Por exemplo, quando uma pasta é removida, todos os arquivos que estão contidos nela também são removidos.

Além do exposto na pergunta 1, a criança deve ser capaz de perceber a relação entre as partes e o todo e não confundi-los (sincretismo) e também classificar as ações em questão. Desta forma as imagens devem possuir uma clara relação com a ação e esta tem que ser parte do conhecimento já adquirido da criança.

5. As crianças são capazes de reconhecer numa interface uma ação que deve ser desfeita?

Para serem capazes, as crianças devem conseguir perceber o “ponto de vista” da aplicação, perceber o efeito de reverter as últimas ações; lembrando da irreversibilidade das crianças em idade de 5 a 7 anos, a possibilidade de voltar para a ação anterior tem que despertar o interesse para que a relação volta/prossegue possa ter um efeito.

Em outras palavras, despertando o interesse em clicar em um determinado botão que retorna uma ação é mais fácil que a criança perceba esta possibilidade do que tentar deixar o botão apenas com sua função padrão.

6. As crianças são capazes de repetir ações bem sucedidas na interface?

Da mesma forma que na questão anterior, para refazer uma ação a criança deve “entrar” na aplicação, ou seja, adotar o modelo mental do designer da interface e deve sentir vontade de fazer esta ação acontecer.

7. As crianças são capazes de resolver uma ação que precisa de vários passos independentes?

Para isso é necessário mobilidade de pensamento (reversibilidade e solidariedade) e capacidade de interpretar sequências (se a ordem das ações for importante).

8. As crianças são capazes de utilizar um link de ajuda ou a ajuda deve estar disponível na interface?

Para utilizar um link de ajuda as crianças devem reconhecer a necessidade de ajuda para completar a tarefa. Para isto, devem novamente adotar o “ponto de vista” da aplicação (egocentrismo). Além disto, devem descobrir o link de ajuda (centração).

9. O número de controles interativos deve ser minimizado

Conforme explicado anteriormente, a criança deve ultrapassar o egocentrismo e perceber a aplicação como um todo para compreender que alguns controles não têm qualquer relação com a tarefa que deseja realizar.

10. As crianças são capazes de perceber a divisão em categorias de uma interface?

A divisão em categorias só é compreendida se a criança conseguir classificar e seriar as ações. [Webinsider]

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Íris Ferrera (iris.ferrera@gmail.com) escritora, estudante, arquiteta de informação e consultora de user experience nas horas vagas. Twitter @irisferrera.

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2 respostas

  1. Excelente artigo. Parabéns!!!!
    É um estudo muito abrangente que requer muito cuidado e pesquisa, adorei essa lista de perguntas e respostas.
    Patricia Gil

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