Trabalhando nos bastidores: a praticidade

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Sempre fico tentando entender quais são as prioridades das pessoas no momento de fazer uma escolha. O que seria mais importante para elas? Por que isso e não aquilo?

Nas últimas semanas notei três exemplos que me fizeram pensar em pontos importantes, mas paradoxais, sobre a prioridade dada à facilidade de uso, um dos principais resultados do trabalho do profissional de usabilidade.

Praticidade versus privacidade

A primeira situação foi a relação entre praticidade e a preocupação com privacidade. Participei de uma discussão sobre o Facebook e notei uma coisa interessante. Quando questionadas se a privacidade era um ponto de atenção, todas as pessoas confirmaram que sim. Foi consenso que a privacidade era um dos pontos de maior preocupação ao participar da rede social. Porém, quando perguntaram se elas já tinham alterado suas configurações de privacidade na ferramenta, a resposta geral foi: “Até vi que dava para fazer, mas achei tão complicado que não mexi”.

Ou seja: as pessoas dizem que se preocupam com privacidade mas, sendo difícil configurar a segurança, preferem continuar usando a ferramenta mesmo que se expondo mais do que gostariam. A comodidade parece ser mais forte do que a preocupação com privacidade.

Praticidade versus planejamento

No segundo exemplo observa-se a relação entre praticidade e planejamento com futuro. Seria natural pensar que as pessoas se preocupam com suas situações financeiras quando tiverem que parar de trabalhar.

Segundo um estudo de Richard Thaler, nos EUA muitas empresas oferecem planos de previdência privada que saem praticamente de graça para seus funcionários. Isto porque, em alguns casos, quem opta pelo plano pode descontar tudo que pagou de seus impostos e ainda
tem a metade da contribuição coberta pelo empregador.

Ou seja: a adesão é um excelente negócio. Mas… mesmos nestes casos o índice de adesão é cerca de apenas 30%! Thaler sugere que isto acontece porque o funcionário é quem deve tomar a iniciativa, entender o regulamento complicado e, só então, aderir e fazer uso do benefício. A maioria das pessoas simplesmente fica com a papelada na gaveta para “ler com calma algum dia” e, optando pelo mais fácil, acaba não fazendo nada. Nesse caso a comodidade parece ser mais forte do que a preocupação com o futuro.

Praticidade versus legalidade

Por último, fiquei pensando na relação entre praticidade e preocupação com a legalidade. Na última Times de 2010 tem uma matéria interessante falando sobre o histórico de download ilegal de músicas na internet, começando pelo Napster e indo até os torrents da vida. E a matéria
menciona um ponto muito importante: muitas pessoas não fazem download ilegal de música por ser de graça, e sim por ser mais fácil.

Prova disso é o sucesso do iTunes. Steve Jobs criou uma experiência simples de consumo de músicas, dentro da legalidade tão almejada pelas gravadoras. E, devido à praticidade, muita gente aderiu. Mas onde não tem iTunes toda uma massa de consumidores de músicas, que pagaria se fosse fácil, continuou fazendo seus downloads piratas. Aqui a comodidade parece ser mais mais forte que a preocupação com a legalidade.

Três exemplos bem diferentes que apontam a mesma conclusão: as pessoas colocam praticidade à frente no momento da escolha, mesmo que não percebam.

Mesmo que outros fatores sejam ditos, racionalizados, como mais prioritários. Para o designer de interação, profissionais de usabilidade e afins fica clara a importância de questões como a
inércia das pessoas e a força das opções default. Estar atento para isso é fundamental desde a concepção de layouts até a definição de políticas públicas.

Mas uma questão mais subjetiva é que trabalhamos com uma das coisas mais desejadas do mundo, a facilidade de uso, mas simplesmente as pessoas não assumirão isso.

É uma prioridade real, mas não consciente. Por isso temos que estar preparados para continuar a trabalhar nos bastidores. [Webinsider]

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Feliphe Lavor é engenheiro de produção pela UFRJ e trabalha como designer de interação.

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Uma resposta

  1. Justamente, por ser inconciente somos mal entendidos e sempre aos olhos dos outros estamos perdendo tempo com algo sem importancia. Temos que continuar firmes no que acreditamos e nao nos deixar por vencidos.

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