A vida em 110m com barreiras

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Sábado à tarde, eu estava numa tradicional rede de produtos ópticos, escolhendo um novo par de óculos escuros. Aí entra um senhor e pergunta para a menina que estava me atendendo: “vocês revelam fotos”?

A menina balançou a cabeça negativamente e o senhor saiu com uma cara meio decepcionada. Mas a cara que me chamou mais a atenção foi a da jovem. Apesar de ter atendido com extrema elegância e educação, deixou entrever uma leve estranheza, como se a pergunta não fizesse mais sentido. E isso fez esse homem de marketing aqui pensar.

A pergunta fazia sentido, sim. A tal rede, não faz tanto tempo, tinha como um dos carros chefe de seu business a revelação de fotos. Eu me lembro, com carinho até, das gigantescas máquinas que ficavam nos fundos da loja, cuspindo fileiras e fileiras de memórias ternamente acalentadas por milhares de pessoas.

Voltando ainda mais no tempo, quando eu era garotão, o ritual de férias obrigatoriamente incluía, na volta, aquela ansiedade de esperar pela “revelação” e ver se aquela foto que achávamos que tinha ficado sensacional realmente correspondia à expectativa. Não raro, a tal foto havia ficado tremida. Fazia parte.

Mas o tempo passou, o mundo mudou radicalmente nos últimos 15 anos e o que interessa num artigo de business, a tal rede de lojas descartou o que não servia mais, realinhou a rota e seguiu seu rumo. Pelo menos aparentemente, permanece um business sólido e competitivo.

Esse é o ponto. Um grande dinossauro (no bom sentido) teve que saltar uma barreira. E saltou. Provavelmente isso exigiu um enorme esforço de sua direção e seu time de marketing. E tempo, o ativo mais precioso que existe. Além de cortar na carne, ou alguém imagina que tirar aquelas gigantescas máquinas do fundo da loja não doeu? Empresas também têm história, pô.

Agora, reflita comigo. Embora o tempo já fosse curto há uma década, pelo menos a tal rede de lojas teve algum. As empresas e profissionais modernos, de qualquer segmento, não têm tanta sorte. O tempo sumiu. A gente corre não um 400, mas um 110 metros com barreiras. E experimenta não pular, pra você ver.

Mudanças drásticas aconteciam em gaps geracionais, coisa de décadas. Agora, se você pensar bem, o Orkut é de 2004, e se você falar nele para algumas pessoas, vai dar a impressão de que ainda revela fotos. O Facebook tem uns quatro anos, por aí, e a gente fala nele como se tivesse brincado disso a vida toda. E as tecnologias? Outro dia um cliente meu estava estudando comigo mexer numa plataforma que tinha quatro anos, e acabamos diagnosticando que, de tão obsoleta, era melhor partir pra uma nova.

Como trabalhar, como produzir com qualidade, como dar resultado e agregar valor num cenário desses? Embora uma parcela da humanidade, por perfil, se sinta naturalmente estimulada e desafiada por uma situação assim, vamos falar da média: em geral, o ser humano tem uma maior ou menor resistência às mudanças, e isso gera ansiedade. Principalmente quando o relógio pessoal, aquele que marca quantos fios de cabelo branco você tem na cabeça, vai passando. E é inevitável o sujeito se perguntar, em bom português: “p…, toda vez que eu aprendo alguma coisa nova ela muda”?

Muda. Tem algum jeito de lidar com isso? Não tenho respostas prontas, mas algumas sugestões. Veja se faz sentido:

1. Evite a “angústia da informação”. Esse é um mal do nosso tempo. De tanto que a galera fala, parece que se você não conhecer a última novidade de plantão, é um homem de neandhertal. Nonsense. Assuma que acompanhar tudo é impossível e mantenha o foco (seu e do business), ou a barreira vai chegar, você vai esquecer de pular e tropeçar. Ser antenado é necessário, mas ser onisciente é coisa para o Todo Poderoso. Relaxe e preste atenção no que interessa.

2. Use o manancial de conhecimento à sua volta. O que para você é difícil, para os seus funcionários de 20 e poucos anos é natural. Eles enxergam a barreira antes, e sinalizam. Essa dica ouvi de um antigo chefe, e foi útil pra caramba. Você não precisa ser capaz de acompanhar tudo: precisa ter gente à sua volta que seja. E aí, botar juízo na história, inclusive com a sua experiência, que nunca perde o valor.

3. Cultive o desapego. As antigas máquinas de revelação que estão aí dentro do seu cérebro (e acredite, há várias) vão ter que abrir espaço, não tem jeito. Guarde as memórias, mas tire as máquinas e abra espaço para o novo. Ou, você vai virar um dinossauro no sentido clássico e o único pulo que você vai dar é para a Chácara do Padre (profissionalmente, pelo amor de Deus).

4. Reveja seus conceitos de negócios. Convença-se de que você não tem clientes, tem trabalho. Você tem que reconquistar o cliente todo santo dia, a cada job. Num mundo 110m com barreiras, não convém estimular em si próprio nenhum tipo de zona de conforto. Nenhum.

5. Negocie o caminho, nunca o destino. Essa, na minha opinião, é a parte mais difícil. Ao mesmo tempo em que você tem que se adaptar o tempo todo, você deve manter as suas crenças. Ser firme em meio à própria angústia e ansiedade não é fácil, mas é o único caminho para que não nos tornemos um bando de robozinhos replicadores da última tendência. Só não confunda firmeza com teimosia.

Ah, mais uma coisa: mesmo se você tropeçar de vez em quando, lembre-se que sempre é possível se levantar. E não se esqueça de se divertir no percurso, como diz outro grande amigo meu. [Webinsider]

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Tulio Paiva é presidente e diretor executivo de criação da Paiva Comunicação, Twitter @paivacomunic.

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Uma resposta

  1. Gostei muito do texto e das dicas. O mercado solicita cada vez mais à criatividade de todos, principalmente a dos recém-formados. Vida que segue com barreiras e tudo mais.

    Parabéns pelo texto!
    Fernanda Mourão

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