O ônus da cultura do funcionalismo público

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Opinião: perdemos muito quando nossos jovens profissionais mais bem preparados preferem trabalhar para a administração estatal em vez de empreender. Você concorda?

 

Parece realmente tentador: salário vitalício, benefícios garantidos pelo Estado, estabilidade, carga horária conveniente… Quem nunca desejou passar em um concurso público para dar fim às aflições motivadas pelas incertezas do conturbado cenário econômico-social atual?

De fato, milhões de pessoas em todo o Brasil têm se dedicado à exaustiva maratona preparatória para os diversos concursos oferecidos pelo setor público, em todas as suas esferas. Alguns dedicam anos de estudo, investindo não apenas tempo, mas, também, dinheiro, muito dinheiro. Cursinhos, material didático, inscrições, viagens, estadias… Se tudo for colocado na ponta do lápis, o ROI (retorno sobre o investimento) de algum felizardo deve tardar uma barbaridade.

Tudo bem, cada um sabe onde aperta o sapato e o que é melhor para a sua vida. A grande questão é que o sonho do concurso público tem gerado um prejuízo enorme para o nosso país.

A lógica é simples: temos uma boa parcela de nossos talentos buscando vagas em trabalhos que não acrescentam em nada ao avanço da nação. A maior parte dos cargos públicos volta-se à operacionalização e manutenção da máquina estatal e nada mais que isso. Não estou menosprezando a grande importância do serviço público em nosso país, e tampouco me refiro aos professores e pesquisadores das nossas instituições públicas, longe disso. A questão é que apenas manter a máquina não gera crescimento econômico. É algo como uma locomotiva funcionando sem sair do lugar.

Normalmente, as pessoas que almejam um cargo público têm uma certa aversão a riscos. Entretanto, não conseguem enxergar os grandes riscos que estão por trás de suas escolhas. Enquanto se preparam para os concursos, os candidatos deixam de desenvolver as competências e habilidades extremamente necessárias na iniciativa privada. Não acumulam experiência, não fazem contatos, e colocam em seu currículo apenas os cursinhos preparatórios para concursos. Parecem nunca ter o pensamento “e se eu não passar?”.

Um concursado leva, muitas vezes, mais tempo para passar em um concurso do que um acadêmico leva para se fazer doutor. E em que contribuem os anos de estudo do “caçador de concursos” para o avanço da ciência? Em nada. E para a geração de novos negócios? Pior ainda…

Justamente, um dos principais vetores do desenvolvimento econômico e social de um país é a sua capacidade de produzir ciência, tecnologia e inovação. As modernas teorias acerca do crescimento econômico apontam a inovação como o fator mais importante, não apenas no desenvolvimento de novos produtos ou serviços, como também no estímulo ao interesse em investir nos novos empreendimentos criados.

Nesse cenário, surge o empreendedor como uma força positiva no crescimento econômico, fazendo a ponte entre a inovação e o mercado. Vou mais além: o empreendedor é a figura principal desse processo. Apenas pesquisa e desenvolvimento e investimentos em capital físico e humano não causam o crescimento. Essas atividades tomam lugar em resposta às oportunidades de crescimento, e tais oportunidades são criadas pelos empreendedores.

Lembrando Schumpeter, os empreendedores são os impulsionadores do desenvolvimento econômico, os responsáveis pelas mudanças econômicas em qualquer sociedade. O seu papel envolve muito mais do que apenas o aumento de produção e da renda per capita. Trata-se de iniciar e constituir mudanças na estrutura de seus negócios e da própria sociedade. Essas mudanças são acompanhadas pelo crescimento e por maior produção, o que possibilita que mais riqueza seja dividida pelos diversos atores sociais.

Entretanto, em nosso país a cultura empreendedora cede lugar, cada vez mais, à cultura do funcionalismo público. Por aqui, empreender é apenas a saída para os menos inteligentes, para os mais necessitados, para aqueles que não têm condições de arrumar um emprego decente ou de passar em um concurso público.

Está tudo errado. A carreira acadêmica não atrai os jovens em virtude dos baixos soldos e falta de reconhecimento profissional. O empreendedorismo não os atrai em virtude dos elevados riscos e das enormes dificuldades para se fazer negócios no Brasil.

O resultado dessa equação é trágico: empaca-se o avanço da ciência e dos negócios, a oferta de empregos diminui, a economia estagna e mais e mais pessoas passam a almejar um posto nas instituições públicas, alimentando esse círculo vicioso.

É fundamental revertermos essa tendência e trabalharmos no sentido de fomentar a cultura empreendedora em nosso país. Quando coloco os verbos reverter e trabalhar na primeira pessoa do plural, quero puxar a responsabilidade para as nossas mãos, cidadãos comuns. Não podemos esperar que o poder público faça a sua parte, pois o Estado faz justamente o contrário: inibe a atividade empreendedora ao elevar a carga tributária e criar empecilhos burocráticos absurdos, buscando sempre financiar os altos gastos do setor público com mais tributos e endividamento.

A impressão que passa é de que o Estado é um inimigo da sociedade. Já que não podemos vencê-lo, devemos resistir fortemente à tentação de nos juntarmos a ele. [Webinsider]

. . .

 

Concurso público atrai, mas pelos motivos errados

Por que abri mão de bom cargo em empresa pública

Leandro Vieira é o criador e editor do portal Administradores.

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11 respostas

  1. No Estado do Paraná são mais de 130 mil funcionários. Destes, 70 mil professores(médio+superior0 e uns 30 mil policiais, mais uns 15 mil de saúde. Portanto somando educação, segurança e saúde são 115 mil, ou seja a maior parte, e são os de menores salários.
    Proporções semelhantes estão em todos os Estados, além dos municípios e federação.

    Na verdade o seu artigo refere-se a uma pequena, mas bem pequena porcentagem dos funcionários públicos, que exagerando não chega a 5%.

    De fato a questão POLÍTICA influencia muito nisso tudo. Os altos cargos são sempre políticos, e raramente estão combinados com competencia profissional

  2. Olha eu acho que você colocou suas opiniões de uma forma muito imatura. Não da pra dizer que se o serviço público não fosse “confortável” as pessoas seriam empreendedoras, até porque existem diversas pessoas que não são nem um e nem outro e por opção. Eu odiaria ter a minha própria empresa, mesmo fora do Brasil, acho um saco as tarefas administrativas e todo o blá blá blá envolvido, e o emprego público também não me enche os olhos.

    Aliás eu poderia escrever um texto do tamanho do seu falando que empreender faz as mentes sairem de suas respectivas áreas, as pessoas não tem tempo de buscar conhecimento em sua área para se dedicar a administração de sues negócios o que provoca a estagnação de seu campo de atuação. Viu como esse tipo de argumento é falho?

    No mais, tem partes excelentes. Empreender realmente é uma atividade de alto risco no Brasil, tem que ser meio maluco para empreender quando há outra alternativa. E funcionalismo público realmente é confortável demais, a pessoa passa a vida inteira estudando para chegar lá e não fazer mais nada, é como se o trabalho fosse estudar e passar no concurso a aposentadoria. Não que não existam pessoas interessadas em trabalhar e crescer, mas essas pessoas encontram diversos obstáculos. É um departamento tentando freiar o outro, o desgaste é tão grande que você acaba desistindo dessa ideia tola de trabalhar.

  3. A discussão é válida. Sabemos que o funcionalismo público é necessário. E mesmo nas empresa privadas há tb funcionários “preguiçosos” e ficam anos no cargo, política interna de cada setor. Em todo lugar há gente assim.
    Acredito que a questão do empreendedorismo no Brasil ainda é um problema cultural. Temos o hábito de achar que todo empresário é ladrão, desculpa o termo. E sabemos que não é assim e ao contrário deveríamos ter orgulho de pessoas que se arriscam e possibilitam a criação de empregos, e que indiretamente vão contribuir com a família e com a economia de cidades.

  4. O debate é bom, mas o texto é cheio de preconceitos. Tá cheio de funcionário público que corre muito atrás assim como no mercado privado tem quem viva anos na base da amizade com trabalhos fracos.

    “Normalmente, as pessoas que almejam um cargo público têm uma certa aversão a riscos”

    Leandro, professores da rede público que ganham menos do que qualquer PH da vida discordam, médicos que ganham mais em seus consultórios também e é difícil pesquisadores em muitas áreas encontrarem incentivos fora do setor público.

    E pra fechar, quem passa anos só estudando para concurso é exceção. O que vejo com frequência é as pessoas trabalharem e estudarem para irem subindo de posto.

    Por fim, o mercado privado pede cada vez mais do que o Estado dá. Estudei em escola pública e tive amigos que estudaram inglês, mas não fizeram TOEFL ou intercâmbio por falta de dinheiro e foram preteridos por isso no mercado. A melhor chance deles foi estudarem e passarem em um concurso público. Para muita gente a ascensão social vem mais rápido daí.

    E eu, com tantos amigos assim e uma mãe que é funcionária pública, jamais tive vontade de me inserir no setor. Como disse lá em cima: o debate que você quer provocar é pertinente, mas você exagerou nas generalizações. A falta de cultura empreendedora é um problema mais sério que o número de concursos públicos.

  5. Concordo com o Leandro. Funcionalismo público, é sinônimo de inoperância e de atividade profissional medíocre e frustrante.
    Fui funcionária pública por 2 anos e saí de lá correndo, pois eu estava regredindo, não só como gente, mas principalmente como profissional. Chefias incompetentes e todos lutando para “deixar tudo como está”. Um horror aquilo.

  6. Só a título de informação: a estabilidade do servidor já foi quebrada. O que ocorre no serviço público é falta de gestão. Muitos gerentes estão em seus cargos apenas por critérios políticos, que ddevem ser levado em conta, claro, e não se leva en conta também sua competência na área. A CF, em seu artigo 41, III, determina que servidor que não atinge patamares razoáveis de desempenho, deve ser demitido, assegurada a eles a ampla defesa. Agora não dá para querer que o Estado, vire uma empresa! A Administração no setor privado tem princípios que não podem ser aplicados ao Estado, e vice-versa. Nem o setor privado adota mais conceitos puramente liberais, afinal seres humanos não são peças de uma máquina. São pessoas. That´s all.

  7. Caro Leandro,

    Discordo. O perfil de quem almeja ser um funcionário ou servidor público é justamente contrário ao perfil do empreendedor. Enquanto em um busca-se a estabilidade, noutro se aventura nos riscos (positivos e negativos). O foco e o fomento deve ser dado a quem tem interesse e pré-disposição em inovar.

    A grande percepção é contrária, mas o Brasil tem uma das menores proporções de empregos públicos no mundo (para saber mais: http://glo.bo/oaJvgR e http://bbc.in/bqjYqG). O Estado não é o inimigo. Não estamos perdendo mão de obra inovadora ao governo. O baixo empreendedorismo no Brasil deve-se a fatores culturais, financeiros e educacionais. E não é só aqui no nosso país. Veja a América do Sul como um todo.

    O grande ônus do funcionalismo público é a baixa produtividade. É um ônus ao Brasil como instituição administrativa. Enquanto o modelo for baseado em estabilidade, isto não vai mudar. É um modelo falho, inadequado e ultrapassado. Há bons exemplos entre as agências (Apex-Brasil, por exemplo, que segue o regime CLT), mas constituem exceções.

    Recomendo a leitura de um artigo-desabafo publicado aqui no Webinsider que trata do perfil genérico do servidor público, os problemas de produtividade que ocorrem e a postura de um profissional que tem sim um perfil empreendedor e estava no lugar errado:

    http://webinsider.com.br/2011/05/09/por-que-abri-mao-de-um-bom-cargo-em-empresa-publica/

    Grande abraço,
    Giovanni Giazzon

  8. Leandro Vieira, parabéns pela matéria é a mais pura verdade, concordo com tudo que foi dito, entretanto, na teoria é lindo, mas na prática temos que olhar para o outro lado. Vamos tomar um programador como exemplo. Qual é a média salarial de um programador hoje? Ele pode ser mandado embora de uma empresa e ter muita dificuldade de recolocação. E quando um programador ficar velho? Novo é fácil mas quado tiver por volta dos 55 anos? Aí é que entra o funcionalismo público, altos salários e estabilidade sem se preocupar em matar um leão por dia.

    Não me entenda mal, eu sou empreendedor, tenho meu próprio studio e não trocaria para ser funcionário público. Sou a favor do empreendedorismo, mas diante das circunstâncias atuais não só do Brasil mas do mundo, para um jovem o funcionalismo público é uma ótima idéia.

    Muito sucesso a todos!

  9. Quanto preconceito! O país da sua Universidade, os EUA, tão empreendedores, estão com a economia em frangalhos. Acho que a iniciativa privada ali deixou poucos muitos ricos, só que esqueceram do país… Sinceramente, estou me sentido ofendida com esse artigo. Quer dizer que quem é bom, está no setor privado e nós, do setor público, somos os ineficientes? O nome disso em jornalismo é generalização, e em filosofia, esteriótipo. Resumindo: pura ignorância.

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