Inovação nas agências: verdades a serem ditas

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Há quase um ano não estou mais em agência trabalhando com diversos públicos. Venho trabalhando em dois portais de conteúdo e público mais específico, o que me agrada bastante e estou curtindo muito até agora.

Está certo que o público não é tão específico quanto de um hotsite ou campanha, mas acredito ser muito mais específico e selecionado do que muitos possam imaginar. Por exemplo, é um público que compra na internet, que usa cartão de crédito, que viaja a turismo ou trabalho constantemente. Logo não é um público de pouca renda ou com baixo nível de conhecimento de internet, acredito eu, apesar de alguns estudos e dados não confirmarem tanto.

Constantemente debato com meus colegas se nosso público é básico, se temos usuários com idades superiores a 60 anos (normalmente com dificuldade de leitura e coordenação motora, salvo exceções), se temos usuários com dificuldade de visão… e, por não ter uma resposta concreta, acabo me frustando ao desenhar nossas interfaces.

Não acredito que isso seja verdade. Acredito que o nosso público seja de usuários médios para avançados, que já tenham uma experiência de compra online e que não tenham mais medos e dúvidas sobre tal experiência.

Assim como ter que manter um site/projeto para IE6 e 1024×768 de resolução de tela. Se a pessoa não possui um computador atualizado, vai ter dinheiro para gastar comprando online? Comprando objetos, livros, passagens aéreas, fazendo transações bancárias e etc? Duvido.

Estudos dizem que brasileiros gastam boa parte do tempo para fazer transações, compras e usar redes sociais durante o dia e no horário de trabalho. Se o cara trabalha numa empresa que mantém os computadores desatualizados, essa mesma empresa deve vetar o uso de alguns sites no horário do expediente, logo, essas pessoas devem realizar essas transações no conforto do lar no seu laptop, smartphone (alguns em tablets) ou desktop. É raro hoje em dia encontrar computadores à venda com monitores menores que 17? e com isso resoluções menores que 1024×768 vão ficando cada vez menos comuns.

Claro que não posso ignorar os novos usuários que estão chegando, a famosa inclusão digital (como eu odeio esse termo). Esses novos usuários que ainda estão aprendendo a usar as coisas, aprendendo a comprar e que têm um poder de compra alto. Ou seja, não dá mesmo para tirá-los da base.

Porém a cada ano a curva de aprendizado ao uso de novas interfaces e mídias é mais curta e rápida, logo, não é motivo. E esses novos usuários já compram computadores melhores, do que disse no parágrafo anterior, graças as facilidades de carnês e cartões de crédito.

Outro grande problema que encontro é a famosa quebra de paradigmas. Pessoas que trabalham com internet, porém, são conservadoras demais e acabam não se atualizando com a mesma velocidade e frequência da rede (Brasil só levou um cyber, prata, em Cannes por exemplo). E não me venham falar de verba, porque o brasileiro é reconhecido mundialmente como um po(l?)vo criativo que dá nó em pingo d’água.

Não me falem que não tem tempo ou a equipe não pode ser parada para melhorar um projeto ou começar um novo do zero. Medinho é uma coisa que me deixa puto. Se você tem uma equipe de 1 front, 1 developer e 1 designer, realmente você não pode fazer muita coisa num projeto que já está todo errado. Mas se você pode dividir a equipe em duas, uma (re)constrói de forma certa o que está errado e a outra fica mantendo (por hora) o que está no ar, qual problema disso sr. 06? Quer passar o comando pra quem tenha colhão suficiente? Então passa.

Se grandes empresas seguem investindo em novas ideias, novas interfaces, têm um público variado e milhões de acessos por mês, tentam e fazem a coisa funcionar, por que você, que tem alguns milhares e um público semelhante, também não pode?

Brasileiro é assim mesmo, preguiçoso e com uma zona de conforto grande. Segundo minha grande amiga Ana Erthal:

O problema todo é que as agências ainda pensam, em pleno século XXI e no meio dessa turbulência de informações e mobilidade social e cultural, como se pensava há 40 anos. Elas pensam como veículos de massa. E não é mais assim. A comunicação se fragmentou juntamente com a identidade dos sujeitos e da cultura… e não tem mais volta. Desde a invenção do controle remoto a comunicação se tornou individualizada e promíscua na ultilização de meios e ferramentas.

E as agências, em vez de perceberem esse movimento natural evolutivo, elas continuam olhando para trás, usando modelos ultrapassadíssimos para tentar entender o sujeito contemporâneo e sua pluralidade. É triste. E é esse o motivo que não as deixa caminhar pra frente: daqui não sairá nenhum cyber.

Aí se você vem com ideias e ideais que batem de frente e que forçem as pessoas a pensar e a inovar, você é de outro planeta ou está tentando pensar muito na frente, dando um passo maior que a perna e não vai alcançar a outra margem do rio.

Já ouvi pessoas dizendo que ainda não acreditam em mobile apps mesmo depois do sucesso astronômico do iPhone e Android, mesmo com tudo convergindo e mostrando o contrário. E não foi estagiário que falou isso não, hein.

No Twitter mesmo, canso de ver pessoas que se dizem responsáveis por mídias sociais ou que tenham foco nelas, postarem coisas com uma semana, um mês e às vezes mais tempo de atraso achando que é novidade, com a desculpa que estava muito ocupado com o job do cliente e n?o teve tempo de ler ou ver o que aconteceu na semana.

Me desculpe, mas esse job desse cliente aí vai ser antigo quando ele for lançado então viu, capitão?

Felizmente em alguns casos não é assim, mas vejo muitos projetos, agências, empresas que ficam pensando muito no hoje e no ontem e não no amanhã.

É por isso que tem tanta gente boa saindo do país pra “fazer internet” lá fora. Agências dos EUA e da Europa estão anos luz à frente das tupiniquins em termos de planejamento, estrutura e principalmente condições de trabalho. Se você dá liberdade pro seu profissional criar, seja ele de criação ou não – porque boas ideias vêm de qualquer um e de qualquer lugar – tenho certeza que os projetos vão ficar cada vez melhores.

Um exemplo disso são os hackdays e hackathons da vida como fazem o Facebook, o Google e o Linkedin. Boas, não, excelentes ideias surgiram desses exemplos: Orkut, Gmail, GoogleDocs no Google, vídeo, like, face tag no Facebook, exportar seu currículo, grupos no Linkedin.

Os profissionais são incentivados a sempre buscar novas soluções por puro prazer e não porque é o trabalho deles.

É aí que está toda a diferença cultural da coisa. [Webinsider]
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Daniel de Paola é diretor de arte e freelancer. Mantém mantém o blog d'paola e o Twitter @dpaola.

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6 respostas

  1. Muito obrigado pelo feedback galera. Realmente é uma boa discussão essa levantada e comentada por vocês.

    Wágner e Cesar, relamente se as instituições que “formam novos empresários” tivesse mais empenho em inovação e apoio para tal, teríamos um mercado de um modo geral, não só digital, muito melhor.

    É isso que eu digo sobre a questão cultural. Só quem pensa em inovação é quem está trabalhando com isso. O “tio” da padaria da esquina infelizmente não está nem aí se o negócio dele precisa de um sistema de pedidos on-line, se a padaria sustenta bem a vida dele.

    Diferentemente do que rola nos EUA e na Europa.

  2. Concordo com o Wagner.
    Daniel, também já atuei na criação, internamente, sem muitas vezes ouvir as atrocidades que os clientes conseguem pensar e proferir.
    Hoje estou do outro lado. De frente pro cliente.
    Sou doido por inovação. O mundo só evoluiu por causa dos inovadores….mas nós somos pouquíssimos…e na ponta mais fraca da corda. Temos que viver de nosso trabalho, e ai, deixamos o retrógrado vencer. Quer saber de quem acho que é a maior culpa? Dos mestres e instituições, que “ainda” formam empresários com “certezas” acadêmicas, com fórmulas de séculos passados e muito pouco da ousadia dos que ousaram criar estas “novas fórmulas” nos tempos idos. A inovação ainda não chegou no ensino…como queremos que chegue às ruas?

  3. Excelente artigo!

    Concordo plenamente com o que foi dito. Mas tudo tem um porém: apesar de eu ser o ‘dono do buteco’ aqui, tentamos inovar cada vez mais e trazer coisas diferenciadas a nossos clientes, mas sabe qual é a nossa barreira de entrada de inovação? O próprio cliente. É ele quem na maioria das vezes bloqueia a inovação no projeto, geralmente por não querer ousar demais ou por vários outros motivos que aí em cima foram destinado à agência. E aí vai tudo contra o que foi dito aí em cima.

    Esta é a minha visão baseada no trabalho com empresas de pequeno e médio porte.

    Grande abraço a todos…Wagner

  4. A agência em que trabalhava realmente não sabia o significado da palavra design, costumava fazer trabalhos sem projeto, sem briefing, não havia um brainstorm, assim que sai da empresa vi que ela não era a única na região, então penso em aproveitar esse defeito ou esse rombo na comunicação da minha região para agir, vejo muitas empresas vivendo no passado ou seja, projetando suas campanhas para monitores 1024×768 e esquecendo da interatividade que esta em evidência. Ótimo artigo Daniel, aquele abraço

  5. Site não é apenas um canal com pobres informações, e sim um sistema de informações estruturadas onde toda interação ou processo tenha objetivo para o negócio e principalmente para o usuário. Um bom site é projetado por demanda conforme a necessidade do cliente/negócio. Agências cobram caro e não perceberam que site tem vida própria, vida longa, necessitam de bons profissionais e gestão full time.

  6. Parabéns pelo artigo, a agência onde trabalho precisa sair da passado urgentemente, eles insistem em seguir padrões antiquados mesmo sabendo que já caiu em desuso.

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