SACD e downloads de áudio de alta resolução

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Este ano estamos vendo um aumento, ainda tímido, de lançamentos e downloads de material de áudio de alta resolução. Falta muito, porém, para ver este mercado alcançar a credibilidade que ele necessita.

2011 está vendo um tímido, porém real, regresso de edições SACD ao mercado fonográfico, surpreendente até para os mais otimistas dos entusiastas por áudio.

Paralelamente, a Sony, empresa que havia anunciado o abandono do formato, lançou recentemente cerca de dez leitores Blu-Ray na linha 2010 e agora em novos modelos na linha 2011 com capacidade para reproduzir SACD, com saída DSD ou PCM, por HDMI.

Fora a Sony, Oppo, Yamaha e Dennon continuam fazendo parte de uma lista de fabricantes que constroem leitores universais, muito úteis para quem tem uma discoteca com áudio de alta resolução em outras mídias, como o DVD-Audio.

Para os interessados por gravação, a Korg, conhecida fabricantes de teclados e sintetizadores, disponibiliza um modelo para DSD para o mercado doméstico. A Korg usa um formato um pouco diferente de arquivos (DSDIFF), mas já é possível se fazer downloads deste tipo de material, para reprodução no seu equipamento.

Com a morte iminente do DVD-Audio comercial (se morreu, esqueceu-se de enterrar), o SACD fica consignado como talvez o único formato em disco de alta resolução disponível para quem gosta de áudio e música. E nós já poderíamos nos sentir aliviados, se não fosse pelo ainda altíssimo preço de mercado cobrado pelas gravadoras e distribuidoras de fonogramas.

Este fato, por si só, é profundamente desanimador! É claro que ninguém é ingênuo a ponto de achar que áudio é um hobby de massa, ou que as pessoas dentro do consumo de massa façam questão de áudio de boa qualidade, mas a iniciativa da prática de preços extorsivos é um claríssimo indicativo de que o SACD continuará por muito tempo sendo um produto para o acesso pela parte financeiramente privilegiada do mercado, ou então por aqueles que sacrificam o seu orçamento pela ligação afetivo-obsessiva com áudio ou música.

Lançamentos de material recuperado

Lançamentos previamente feitos para DVD-Audio, por etiquetas como a Warner Music, por exemplo, voltam ao mercado no formato multicanal de SACD.

Os japoneses apresentaram um produto chamado de SHM-SACD, partindo de argumentos meio estranhos, como, por exemplo, a ausência de som multicanal por considera-lo inábil quanto à boa reprodução do áudio, mídia feita com um material supostamente esotérico de cor verde (Super High Material ou SHM) e finalmente um disco de camada única, que omite a camada de CD, essencial para manter íntegro o material de origem.

A nossa experiência com produtos esotéricos não é boa. Geralmente eles são fabricados para enganar aqueles que acreditam no poder de sugestão da propaganda. Assim, se o SHM dos SACD é de fato superior em resolução, resta saber se o processo de melhoramento anterior desses discos nos estúdios não suplanta o poder da mídia propriamente dita, o que, sinceramente, eu acho bem mais provável.

O fato é que, para ter a tal mídia verde, o usuário desembolsa uma grana sentida, e ainda fica sem som multicanal e sem disco híbrido, quer dizer, a reprodução é exclusiva em leitores SACD. Em uma recente análise sobre a bilionésima edição do conhecido disco Getz/Gilberto, a analista diz acreditar na superioridade da edição SHM-SACD em relação às edições SACD anteriores, mas para quem conhece esta gravação fica difícil acreditar que se está conseguindo algo mais de uma fonte notoriamente limitada! Na dúvida, eu sou um que não me arrisco! E mais ainda: ouvindo a edição SACD da Verve, o som é melhor do que qualquer um poderia antecipar, para este tipo de gravação!

Recentemente também a etiqueta Analogue Productions comissionou aos restauradores Steve Hoffman e seu sócio uma parte do catálogo de fitas da Capitol gravadas por Nat King Cole. Algumas destas matrizes foram feitas em 3 canais e algumas dessas sessões remixadas para lançamento em Lp mono, porque era o mercado dominante na época. Na realidade, a Capitol Records gravou várias destas sessões (“After Midnight”, por exemplo) em mono mesmo. Depois modernizou os estúdios com transportes de 3 canais e reaproveitou o que era mono para um estéreo simulado, que levou o nome comercial de “Duophonic”.

Pois bem: a idéia de transcrever matrizes com 3 canais literalmente está mais do que correta e o restaurador alega que praticamente não tocou em nenhum parâmetro (compressão, limitação ou equalização) que pudesse comprometer o resultado final. Ótimo, então!

O problema é que, primeiro os discos, apesar de anunciados, custam a sair no mercado, e segundo, quando saem as prensagens são limitadas e os preços já estão lá em cima, na verdade muito acima do que mesmo um audiófilo consciencioso se proporia a pagar. E isto não é exceção para absolutamente nenhum lançamento da Analogue Productions, diga-se de passagem.

E alguma gravadora ou etiqueta se importa com isso?

A impressão que me passa é que ninguém se importa. Uma vez feita uma tiragem de qualquer disco, a partir de licenciamento de terceiros, e com uma prensagem em número suficiente para cobrir custos e ter algum lucro, é o que basta.

Para o consumidor, isto significa a ausência de um catálogo consistente e o desparecimento dos títulos de interesse a médio ou longo prazo, dependendo da velocidade em que eles se esgotem no fornecedor. O colecionador não pode, a princípio, pensar duas vezes: diante das circunstâncias, ou ele investe o dinheiro pedido pelo disco ou corre o risco de ficar sem ele.

Para o colecionador consciencioso a obtenção de material restaurado é importante, não só para a preservação da memória, mas também para a obtenção de recursos modernos de reprodução, que anteriormente não eram possíveis!

Neste aspecto, pode-se notar que a maior parte dos melhores trabalhos antigos em estereofonia em estúdios americanos e europeus foi feita em uma época onde dois, três e depois quatro canais eram a norma de captura padrão. E esta norma pode ser fielmente transcrita para a mídia moderna, a partir das matrizes de primeira geração, o que tende a gerar um som nunca antes ouvido por qualquer consumidor. Aliás, o máximo de qualidade que se podia obter em tempos remotos era conseguido com o uso de fitas magnéticas pré-gravadas em 7 ½”, reproduzidas em decks de alta qualidade. Na versão em Lp, os estúdios manipulavam as fitas originais, convertendo-as para um formato capaz de ser corretamente cortado nas matrizes de acetato levadas depois para a prensagem dos discos.

Então, por conta disso, a situação atual seria a ideal, uma vez transcritos os originais, como foi feito no projeto dos SACDs de Nat King Cole, mas não em um mercado que se recusa a ser acessível à maioria do público.

Downloads sobre suspeita

Dias atrás, eu recebi um e-mail de Robert Witrak, proprietário e responsável pelas remasterizações da empresa High Definition Tape Transfers (HDTT). Mr. Witrak estava aborrecido (e com razão) por ter sido acusado de falsificar a qualidade dos downloads e discos disponíveis. E em função disso, escreveu um editorial, que foi postado em seu site.

A sua indignação tem base no fato de que Witrak usa material original (fitas comerciais antigas) comprado por ele e remasterizado para a amostragem que ele quiser. Não há, portanto, nenhuma necessidade de fazer uma matriz para, digamos, PCM 96 kHz e 24 bits, e depois pegar esta matriz e subir a amostragem para 192 kHz. E como ele passou a oferecer matrizes regravadas nesta última amostragem, ele começou a ser acusado de “upsampling” do material antigo, e, pior ainda, tentando iludir o seu cliente com uma remasterização em amostragem alta de um material que não teria conteúdo para justificar isto.

A acusação partiu da revista inglesa Hi-Fi News And Record Reviews, que também não poupou críticas principalmente ao site da Chesky Records (HD Tracks), acusado de vender downloads de faixas de CD submetidas ao upsampling para 96/24 ou 88.2/24, no caso de edições anteriores de SACD.

Para piorar mais ainda, a acusação exaltou ânimos de usuários que se sentiram enganados e teve o endosso de mais de um crítico na Internet, que não deixou de botar mais lenha na fogueira. Ironicamente, parte das críticas acaba endossando as defesas de quem vende os downloads, como, por exemplo, o fato de que há efetivamente uma limitação em faixa de freqüência oriunda do material de origem, no caso de gravações analógicas muito antigas.

Entretanto, o argumento não convence porque o que se quer com o aumento de amostragem na conversão digital analógico é tornar a faixa de baixo mais plana, mais detalhada e isenta de ruídos. Mesmo que se faça uma filtragem pós 22 kHz, ainda assim este material teria que soar resolvido e com dinâmica idêntica ao programa original.

Então, a questão se resume à honestidade de quem provê estes downloads. Se a empresa oferece áudio com uma resolução de 96 kHz e 24 bits e na verdade usou uma fonte PCM standard a 44.1 kHz e 16 bits, ele estará enganando o consumidor. Porque qualquer um pode fazer isso em casa, com a sua coleção de CDs, e com o uso de equipamentos diversos, inclusive leitores de DVD.

A base das queixas

A desconfiança sobre quem provê dowloads de alta resolução sem na realidade o sê-lo é baseada na análise espectral do material baixado. A noção de que amostragens de valores acima de 44.1 kHz têm que necessariamente mostrar algum tipo de energia espectral acima de 22.05 kHz é o raciocínio usado por muitos usuários, ao se sentirem enganados neste tipo de transação.

Para ilustrar esta tese, passo a mostrar na figura a seguir o espectro de uma gravação em CD (44.1 kHz e 16 bits). Para interpretar o gráfico, o leitor deve observar que no eixo de X estão dispostos os valores de freqüência em Hertz (Hz) encontradas no arquivo e no eixo de Y a variação em decibéis (dB) dessas freqüências. O pico dessas variações em Y mostra o valor máximo de cada amplitude, em função da freqüência:

image001

Uma rápida inspeção deste gráfico mostra que a faixa do CD analisada exibe energia espectral até o máximo previsível (22.05 kHz) e também que os valores de amplitude a partir de 12 kHz diminuem consideravelmente, chegando a cerca de – 100 dB, ou seja, praticamente a sons inaudíveis.

Agora, tomando este mesmo arquivo e fazendo um upsampling a 96 kHz e 24 bits, veja o resultado da análise espectral:

image003

É fácil perceber que a partir de 22.05 kHz não há informação espectral nenhuma. Não vou mostrar aqui, mas se o upsampling fosse para 192 kHz e 24 bits, o gráfico seria rigorosamente o mesmo, em distribuição de freqüência.

Tal fato leva o usuário a concluir que o material de origem nunca foi de fato submetido à amostragem de alta resolução anunciada (96/24 ou 192/24).

A questão de uma suposta fraude é mais complexa do que imagina a nossa vã filosofia

O audiófilo ou o entusiasta que procuram conseguir discos ou arquivos de alta resolução não podem ignorar alguns fatos:

Existem dois momentos distintos onde a freqüência de amostragem tem peso diferente no resultado do áudio obtido. O primeiro e mais importante, diz respeito ao da captura propriamente dita. Se a gravação for feita digitalmente é de se esperar que valores de amostragem e bit depth mais altos, como, por exemplo, 96 kHz em vez de 44.1 kHz (CD) ou 50 kHz (Soundtream) e 24 bits ao invés de 16 bits, posam resultar na captura de maior quantidade de detalhes (melhor resolução) na área que efetivamente o ouvinte tem percepção auditiva garantida.

Esta faixa auditiva costuma se estender até cerca de 15 kHz. Embora existam acalorados debates sobre este tema, por parte da comunidade de áudio, a verdade é que o engenheiro de gravação ortodoxo só irá se preocupar com a faixa espectral que se estende até cerca de 13 kHz aproximadamente, porque é nesta faixa que se ancoram os sons fundamentais e harmônicos de interesse, emitidos pela maioria dos instrumentos.

Foi por causa disso inclusive que o design original do Compact Disc se restringiu na época à amostragem de 44.1 kHz, com resposta de freqüência plana de 0 até 22.05 kHz. Para os padrões de hoje, este parâmetro passou a ser discutível, em função do aumento de resolução na faixa audível em função de amostragens mais altas (48 kHz nem tanto, mas de 88.2 kHz para cima os resultados são mais fáceis de demonstrar).

Em princípio, um CD atenderia às necessidades fundamentais da boa reprodução de áudio. Audições de vários CDs têm evidenciado que esta regra de amostragem alta não é absoluta. Além disso, no caso específico do CD ou de uma mídia PCM abaixo de 48 kHz, há ainda que se considerar a questão do método de filtragem e leitura. Alguns equipamentos demonstram reproduzir CD com mais resolução, sem que nada tenha sido acrescentado ao material de origem!

O segundo aspecto se refere ao material previamente gravado, e é neste ponto que o usuário final pode ter razão, principalmente se a fonte for analógica. Mesmo que o download seja de material com resolução alta (88.2 kHz e acima), não haverá garantia de que a fonte propriamente dita assim o seja, e com isso se estará comprando gato por lebre.

O upsampling de material digital, por exemplo, pode ou não dar bons resultados. E se não houver informação suficiente no material oferecido aí pouco importa aumentar a amostragem do mesmo para 96 ou 192 kHz, que o resultado auditivo será o mesmo!

Para não iludir o consumidor, o fornecedor ou estúdio teria que ser honesto em relação a isso, não porque a faixa de distribuição espectral é pequena, mas porque a resolução nesta faixa é insatisfatória.

Colocando os pingos nos “is”

Não quero aqui defender ninguém, mas o fato é que a análise espectral dos arquivos oferecidos para download não traz nenhuma informação conclusiva a respeito de que houve fraude no tratamento do material de origem, como querem os audiófilos.

Para citar um exemplo da acusada HDTT, eu passo a exibir a análise espectral de uma faixa da sua melhor gravação, “L’histoire du soldat”, remasterizada em 192/24 e enviada a mim no formato 96/24. A análise demonstra conclusivamente que a informação se estende a 48 kHz, como seria de se esperar em um programa com esta amostragem (ver figura abaixo). Porém, a transcrição anterior (direta para 96/24), que foi retirada de catálogo, demonstra espectro praticamente idêntico. Então, o que muda entre uma transcrição e outra é a diferença de resolução facilmente detectável, até mesmo pelos meus ouvidos, e isto dificilmente se mostraria evidente num espectro deste tipo:

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Outro exemplo que escancara a falibilidade deste tipo de controvérsia é o da gravação “Audiophile Jazz Prologue III”, realizada pelo reputado engenheiro de gravação chinês Kent Poon. Depois da análise do disco, extremamente favorável, diga-se de passagem, aparecem críticas de quem baixou os arquivos, reclamando de ausência de sinal a partir de 22 kHz. A partir daí, fez-se carga em cima do Sr. Poon, pedindo explicações sobre as suas versões de 96/24 e 192/24, que nada mais seriam do que a gravação original com amostragem baixa, submetida a upsampling.

Kent Poon declina a acusação! Ele diz que retirou dos arquivos qualquer informação acima de 20 kHz propositalmente. Ele mantém como filosofia de trabalho que informações de áudio acima de 10 kHz não fazem parte da “área de trabalho” e se declara ser um engenheiro de gravação da “velha guarda”, que respeita isto.

Então, porque fazê-lo? Por causa do fato já razoavelmente estabelecido de que a decodificação digital-analógica exige uma filtragem drástica a partir da maior frequência amostrada e que pode potencialmente produzir artefatos, ao interagir com a faixa espectral de baixo, onde o som está registrado. Mas ao trabalhar com arquivos de 96 kHz e acima a filtragem se afasta significativamente da área onde a gravação efetivamente está contida (até 20 kHz). Kent Poon acredita piamente que estaria “facilitando” a eliminação de artefatos de reprodução na fase de conversão digital-analógica ao encarcerar material de áudio abaixo de 20 kHz, em arquivos amostrados em 96 e 192 kHz.

O fulcro da polêmica

O “x” do problema em todas estas discussões, algumas delas beirando a futilidade, é saber como o áudio gravado pode se apresentar “resolvido” na faixa que realmente interessa. Há de se convir que se este objetivo for atingido com algum método de gravação, pouco importa, relativamente, qual é o formato onde a gravação está.

O que prejudica, entretanto, esta avaliação não é só o fato de que não existem instrumentos de medida para convencer se este ou aquele método de gravação é melhor, é preciso confiar nos ouvidos de quem grava e de quem ouve.

Ora, quem grava obviamente leva vantagem, porque dentro do estúdio é possível fazer comparações auditivas com as fontes que o usuário doméstico jamais terá acesso. Nas remasterizações, o engenheiro tem acesso à fita de origem e pode saber se é a primeira ou a segunda geração, e se o resultado do seu trabalho espelha a fidelidade original seja lá qual for.

Em contrapartida, o que o consumidor doméstico pode fazer e geralmente faz, é comparar edições diferentes da mesma gravação. Mas, será que se chega a alguma conclusão útil fazendo este tipo de comparação?

Matrizes diversas, a maioria de origem analógica, exibem timbre e fidelidade diferentes, quando masterizadas por qualquer mídia. E neste ponto o que tem sido historicamente mais evidente no raciocínio do assim chamado “audiófilo ortodoxo” é o preconceito de que “analógico soa sempre melhor do que o som digital”. Por conta disso, a referência de qualidade que mais se lê em fóruns da Internet é classifica-la como o som “próximo ao analógico” ou coisa parecida.

No passado recente e se estendendo até hoje, alguns selos puristas incentivaram este conceito. Termos como “pure analogue”, “super analogue” e outros, são usados como forma de propaganda de que a fonte é pura!

Sinceramente, até hoje eu sou um que não consigo imaginar que “pureza” é esta. Engenheiros de gravação do passado davam cambalhotas e plantavam bananeiras, para se livrarem das limitações do som magnético analógico, coisas como saturação da mídia magnética em alta freqüência, crosstalk, “print-through” e um monte de outros artefatos. E o que a gente ouve de boa qualidade desta época não é senão fruto da perseverança deste esforço!

Se a gente partir do princípio que somente o som analógico é “puro” não será possível apreciar mais nada. Existem, em qualquer ambiente (analógico ou digital), gravações esplêndidas e gravações péssimas, e assim somente se o ouvinte tiver a mente aberta ele pode chegar a comparações que não dependam deste tipo de parâmetro.

Isto se aplica literalmente ao CD e ao SACD, acusados por puristas de não terem resolução temporal na faixa audível, mas sem que os mesmos esclareçam que resolução temporal é esta. Seria fasamento? Se for, o argumento é pífio, porque se existe algo que qualquer gravação digital consegue é absoluta coerência de fase. E não é à toa: isto se deve ao próprio princípio de transformar a captura de microfones (analógica) em informação computada com alta precisão.

O debate analógico versus digital precisa ser deixado de lado, caso contrário não se anda para frente. E quem quer saber o que pensa o lado de quem não quer saber mais deste tipo de discussão basta ler o controvertido editorial de Peter Aczel “As Dez Maiores Mentiras Em Áudio”, publicado na revista The Audio Critic.

A ficha ainda não caiu…

A modernidade da tecnologia de áudio vem andando para trás há mais de dez anos e é simplesmente inacreditável observar o desaparecimento da imensa maioria das gravadoras ou a sua submissão a uma loja qualquer de venda de arquivos de baixa resolução ou comprimidos.

Este tipo de produto serve muito bem às massas, mas não serve para a preservação do material gravado, muito menos para o amante de música que resolveu investir em um equipamento de melhor resolução.

Em tese, a ação de preservação e/ou disponibilização de gravações antigas é muito simples: ele consiste na conversão direta para uma mídia adequada, sem manipulação de qualquer espécie, e na formatação do material resultante no número de canais desejados!

Isto tem sido feito extensivamente no passado, com as edições “Living Stereo”, pela BMG, e disponíveis em SACDs de três canais. Mas, em outras variantes, como no caso das reedições de jazz em SACD do selo Concord, a master analógica de 24 canais, por exemplo, é imediatamente transcrita para DSD e depois mixadas em 2 ou 5.1 canais, dando assim a opção de se ouvir em dois ou em múltiplos canais, com a manutenção da resolução da fonte.

Uma parcela enorme dos atuais downloads não permite ao usuário a obtenção de discos de alta resolução, estéreo ou multicanais, se o usuário não tiver programas de autoração adequados. Restam assim soluções em outro nível, como usar um computador ou servidor de mídia, capazes de reproduzir o material baixado.

Existem aqueles que defendem a idéia de que a passagem de material de alta resolução para uma mídia em disco pode prejudicar a audição da mesma, por motivos diversos. Um desses motivos é a desconfiança (a meu ver, totalmente infundada) de que o processo de queima pode gerar erros de transcrição ou de que a vibração dos drives prejudica a queima correta da mídia. Por isso, é colocada uma proposição na mesa de que o usuário deve fazer uso de uma mídia sólida, tipo flash drive (pen drive), como fonte de reprodução.

Seja lá qual for o método para se escutar música, o que me preocupa é ver um imenso catálogo de gravadoras que desapareceram no curso do tempo e sem que haja uma consistência de relançamentos, até mesmo na chamada “alta definição” de áudio.

Testes recentes demonstraram inequivocamente que matrizes de fitas analógicas em base 35 mm, vindas de alguns desses selos, já deram sinal de deterioração irreversível. Isto nos mostra a urgência de recuperação deste material.

Resta saber, porém, quando é que vai cair a ficha! A minha não, a deles… [Webinsider]

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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19 respostas

  1. Caro Renato Manoel,
    Vi propaganda na TV a respeito do IMAX no Rio.
    Conheço a sala da S.Paulo com tela de 14×21 metros e um bom som. O Paulo Elias tem razão ao afirmar que não sabe se valerá a pena ver fora do 70mm. Quando da inauguração em SP, em janeiro de 2009, a projeção era em película. Tive o prazer de assistir lá uma animação em 3-D. Formidável! Depois de um tempo passaram para digital como deve ser aí no Rio. A perda em qualidade de imagem foi enorme. Nada de cristal clear que eles apregoam. O projetor tem duas objetivas e em função disso a qualidade é um pouco superior ao digital “convencional”.
    Abraço.

  2. André,

    Acredite: eu entendo perfeitamente a indignação que você e muitos outros sentem.

    Se eu não colecionasse discos há tantos anos, estaria hoje sem os Mancini (trilhas e álbuns diversos) que fizeram parte da minha adolescência e das minhas idas ao cinema.

    Por isso, acho que, a par de um lado torto de disponibilizar o que é dos outros, os blogs de downloads estão cumprindo um papel social, entrando no espaço do qual as gravadoras todas (e agora as que representam seus catálogos) abdicaram.

    A única solução que eu vejo é as próprias gravadoras entrarem corretamente nos downloads, mas respeitando os direitos do consumidor de ver a fonte corretamente transcrita.

    Não me sinto importunado pelos seus comentários, pelo contrário. Escreva sempre que achar que deva, e se depender de mim sempre haverá espaço aqui para trocas de opiniões ou informações, de forma sadia.

  3. Obrigado Paulo Elias, pelo respeitoso tratamento e pela saudável discussão que aqui se trava.

    Sei que já devo estar sendo chato, mas ainda tenho algo para falar, sobre midia e internet.

    Há poucos dias assisti a um concerto sinfônico onde ouvimos os clássicos do cinema italiano: (São Paulo,Teatro Municipal,Orquestra Experimental de Repertório) Nino Rota, Henry Mancini, Morricone, etc. Não é um repertório “clássico” no sentido de erudito.

    Extasiado, voltei para casa e quis a todo custo achar aquelas músicas, ao menos em formato FLAC, tocadas da mesma forma. Onde encontrei? Claro, em nenhum lugar, a não ser sob a forma do polêmico mp3! CD em loja, nem pensar! Esse repertório simplesmente não existe ou foi apagado
    da memória do mercado. Vou me contentar em ficar apenas com a lembrança na cabeça daquelas músicas? Não eu queria ouvir de novo! O jeito foi, me desculpem e neste momento não vamos fazer juízo moral:
    procurei demoradamente nas redes sociais até encontrar alguém que disponibilizou o tal repertório italiano em formato ape!

    Como vê, não existe nenhum interesse nas gravadoras em disponibilizar esse material “antigo”, pois a maioria contenta-se com o repertório popular e “moderno” de baixa qualidade. Se o mesmo material existisse
    à disposição para download pago eu o faria sem pestanejar.

  4. Só para esclarecer:

    96/24 já é padrão de masterização da maioria dos estúdios faz muito tempo.

    A HD Tracks e as suas representadas, por exemplo, podem se dar ao luxo de oferecer conteúdo de SACD em PCM 88.2/24 sem nenhum esforço técnico ou perda de resolução.

    192/24 vem ganhando espaço em vários selos, inclusive na edição de CDs, por conversão dedicada (sem perda).

  5. Olá,

    Não tenho experiência nem conhecimento para tecer grandes comentários. Porém nunca vi necessário amostras como 96kHz e 192kHz. Resolução sim os 24 bits são necessários. Quanto maior a precisão na conversão analógico digital melhor.

    Em relação aos comentários anteriores 2 coisas:

    A música digital pode chegar de varias formas. Tanto o blu-ray quanto DVD ou o cd ate mesmo um pendrive seriam containers para música. O que nao pode acabar é o encarte, ficha tecnica, etc.

    Outra soa preocupante, CDs vindos de mp3.

    É só.

    Abraços

  6. Meu caro André,

    A indústria fonográfica tradicionalmente fornece um encarte ou contra-capa com informações sobre a obra gravada, até como forma de dar crédito a quem merece (artistas, engenheiros, produtores, etc.).

    Eu acho justíssimo o seu direito de empacotar a sua discoteca na mídia que desejar, e, aliás, eu sou um que sempre defendi o direito ao uso justo e contra o infame DRM.

    O que eu não acho correto é a exploração constante e o vilipendiamento de fonogramas, recentemente executado pela Apple (bem lembrado pelo Nolan), sem dar maiores opções a muita gente.

    Acho também que este mercado ainda tem muito para se ajustar: compra MP3 que quer ou gosta, mas é preciso ter opções para outras alternativas.

    Embora a qualidade de muitos media players seja hoje exemplar, eu ainda prefiro o velho e bom player universal, que hoje em dia tem opção para discos e mídia, indistintamente, e a saída é HDMI, que é indiscutivelmente a melhor conexão para bitrates elevados, apesar dos pesares.

    E finalmente que, se é para se baixar discos daqui por diante, eu sou um que gostaria de ver de volta aquelas edições que foram retiradas de catálogo, ou nunca mais viram a luz do dia. A propósito, eu estou escrevendo ao Robert Witrack sobre isto, e porque ele agora está abrindo opções para repertório não clássico. Tem muita gravação americana das décadas de 50 e 60 que merece ser redescoberta por audiófilos, e como não são vendáveis na forma ortodoxa, podem perfeitamente serem alvo de remasterização e download em arquivos de alta resolução.

  7. Eu tambem esquecia dos cds colecionados que ficavam apenas juntando poeira. Toda minha colecao foi digitalizada em alac e os libretos transformados em pdf. Acho mais facil achá-los agora e re-ouvir. É, evidentemente uma opção, o que não significa que sirva para todo mundo. Mas para quem não sabe a diferença entre arquivo com perdas e sem perdas, e tambem não se interessa por leitura, pouco importa a mídia, infelizmente.

    Qualquer stream de audio ou video para ser reproduzido depende de um buffer feito em memória pelo player. A limitação de hardware pode ser ocasionada pelo software ou sistema operacional, má configuracão e outras variáveis. Em geral os melhores players via software pertencem à classe do open source e sáo muito eficientes. Há muito Linux embarcado em servidores de mídia que se saem perfeitamente bem com as taxas de transferencia do usb. Uma tv recente de led da Lg, por exemplo, reproduz com fluidez um arquivo 1080p de um dispositivo usb, usando basicamente software livre. Há tambem o problema da qualidade da memória flash. Um Compact Flash é mais rápido que um Sd 6, que por sua vez é mais rápido que um pendrive e por aí vai.

  8. Se você corta toda a documentação que vem com os discos, você acaba com a sua coleção, a não ser que você seja uma pessoa que não se interessa pelos créditos e comentários.

    Na minha opinião (e note que eu não quero impô-la a ninguém) uma vez mantidos os downloads em memória física (sem disco) o usuário termina com um monte de pastas e arquivos que ele depois nem lembra que tinha. É mais ou menos como a situação de quem usa câmera digital, e sai por aí fotografando sem preocupação com economia de filme. O resultado geralmente é que nunca mais ele dará valor ou verá aquelas fotos, ou seja, vira um entulho digital.

    Sobre o USB, eu ainda não tenho a versão 3.0, mas a 2.0 não me satisfaz. Eu já usei SATA-E, que é muito superior e eu tenho notado que muitos equipamentos novos já vem com este tipo de porta.

    Não creio que as limitações de hardware sejam propositais. Aqui eu quero lembrar do extinto HD-DVD, cujo player usava um Pentium IV e não passava de 1080i, se não me engano. Quando surgiu o Blu-Ray, o leitor já vinha com processador dedicado.

  9. Olá a todos,

    Näo acho Paulo, que o Usb seja lento. Nas minhas reproduções via computador de conteúdo de alta resolução, seja musica ou video a 1080p, a taxa é de cerca de 30 MB/s o que é suficiente. É evidente que os fabricantes limitam seus hardwares, senão para que vender players (sacd,bd)também da mesma marca?

    Eu concordo com o Nolan e reafirmo que só enxego o futuro com música sendo reproduzida a partir de mídias do tipo flash memory (sd,cf, pendrive, ssd, etc).

    O que acho que não pode morrer é a gravação ( e reprodução ) em HD. Não apenas pelo prazer de se ouvir a obra na sua complexidade dinâmica, mas sobretudo por respeito aos músicos, que despendem vidas se aprimorando para tocar um instrumento (imagine uma orquestra). Por essas duas razões acho que o registro em HD sempre existirá, só não haverá mais midia física, com capa e
    libreto.

  10. Oi, Nolan,

    Eu concordo contigo, mas existem ainda sérias limitações de hardware. No meu receiver atual, que instalei este ano, a reprodução por pen-drive está limitada a sinal estéreo convencional e a 96 kHz. Eu acho que um dos motivos deve ser o maldito barramento USB que é muito lento.

    A indústria fonográfica a meu ver peca por ganância. Um SACD é um DVD com camada dupla ou simples. O custo de fabricação não deveria ser alto, concorda?

    Mas, o que adianta ter um SACD barato, se o conteúdo é um lixo técnico e/ou artístico? Uma mídia de melhor qualidade obriga técnicos e engenheiros a se reciclarem. Você como homem de estúdio conhece bem as dificuldades e a resistência que isto representa.

    E, neste particular, o que também está morrendo é o número de pessoas que investem o seu tempo no aperfeiçoamento dos seus produtos.

    Eu li um comentário de um engenheiro de gravação de um estúdio alemão dizer aproximadamente o seguinte: “eu não quero viver em um futuro cujo padrão é o MP3”, e eu faço dele as minhas palavras. Porque é um vexame usar um codec desenhado para portabilidade como se fosse de alta resolução e dinâmica!

  11. Olá Paulo:
    Como você sabe,trabalho a mais de 30 anos em uma gravadora e conheço bem o modo de operação de todas elas:o investimento em equipamento de gravação caro hoje não existe e impera a terceirização.O lucro vem em primeiro lugar e um CD contendo musicas oriumdas de material MP3 está cada vez mais comum.Os audiófilos como nós estão envelhecenso e morrendo(enquanto escrevo estas linhas,se foram mais dois)e a turma nova em sua esmagadora maioria só usa formatos digitais de música e/ou que ver a imagem também,como o DVD e o bluray. Os rádios de automóveis estão vindo agora com entradas USB e de linha(ps2)e dispensando o drive de CD.A Apple ,que domina o mundo com os seus IPods também é a grande culpada,juntamente coma tal de “evolução”,que faz da música um item de consumo igual ao fast food.O preço de produtos com qualidade obviamente disparou e tende a custar cada vez mais.Em breve até o CD comum ficará inviável,quanto mais um SACD.O audiófilo do futuro,porém poderá ouvir musica em HD,desde que em formato digital.E qualquer reprodutor que use discos acabará também,mesmo porque qualquer coisa mecânica a nivel de multimídia estará obsoleta.Será tudo em chips ou em pen-drives.Eu sempre disse,Paulo:No começo,com Edisom,só havia som mecânico,pois a eletrônica não existia.Quando existiu,tivemos uma multitude de formatos que combinavam eletronica com mecanica como discos ,fitas,CDs,cassetes até o advento da digitalização total e arnazenamento em chips.Que vai incluir musica em extrema qualidade cujo custo será o da gravação aprimorada e espaço maior de memória.

  12. Exato, porém o transporte por mídia em disco é útil, não só como forma de armazenamento colecionável como meio de transporte para reprodutores de mesa ou de carro.

    A gente se pergunta que diabos aconteceu com o DAD (DVD-Video a 96/24)? O formato é fácil de reproduzir em qualquer DVD-player, e o som um excelente substituto para o CD.

    O que se viu foi o lançamento de um sampler, alguns poucos discos e praticamente mais nada!

    A mídia, entretanto, continua sendo útil. Se você baixa arquivos em 88.2 ou 96, passa fácil para um DAD com o Lplex, que é gratuito.

    Então você vê que a indústria fonográfica é historicamente incerta, se perdeu em um mar de dúvidas e de falta de clareza na cabeça do consumidor, quando teve a chance de fazer isso e não fez.

    Sem falar nas inúmeras gravadoras que não quiseram se arriscar. Afinal, existe ainda mercado para música gravada ou não?

  13. Olá Paulo Roberto,

    Sim concordo inteiramente. A respeito do assunto formatos, acho inútil aparecerem
    novos formatos físicos (sacd, hddvd, etc).Em minha opinião o mundo caminha para
    os formatos digitais em forma de arquivo baixáveis como fala o seu texto,em alta resolução.

    Já existe um movimento capitaneado por alguns sites, como o computeraudiophile.com
    de promover a audição via computador de formatos HD.Sou partidário desta solução.

    É barato, para um usuário brasileiro, construir um computador dedicado apenas a ser um player digital de música,
    Basta um gabinete htpc, uma placa mãe barata com saída spdif e um processador barato como um pentium,celeron, atom,ou amd semprom. Lembrando que essa máquina seria apenas para tocar música. Para provar o que digo, construí um
    player desses com peças de computador obsoletas. Você pode usar um Linux para movê-lo (veja o voyage linux),
    e usar um ipod como controle remoto usando MPod (ipod) ou Mpad (para ipads). Não é necessário monitor.Montei as peças em uma carcaça de um aparelho de som também obsoleto. Ainda farei um site explicando como fazer.

    Para os gringos existem player prontos que nada mais são do que um computador montado nas condições acima, porém mais bem acabados, veja por exemplo o Aurender A10 (aurender.com).

    Dessa forma você consegue reproduzir qualquer formato digital em alta resolução, como Flac,Alac,Ape,Wav,etc.

  14. Oi, Felipe,

    Você tem toda a razão: o espalhamento acústico (sem amplificação) dos instrumentos musicais é o que se costuma classificar como “som absoluto”. E este é o principal objetivo a ser alcançado pelo audiófilo, desde o purista até o amante de música que ouve com equipamentos mundanos.

    Eu tenho uma coluna pronta, que sairá em breve, sobre CD e formatos equivalentes.

    Eu posso te adiantar que é uma falácia esta estória de que o CD não cumpre a sua finalidade como mídia digital, e eu e vários amigos temos exemplares de sobra para demonstrar isso a nós mesmos.

    O problema parece estar centrado no ato de masterizar. Este processo, se cuidadoso, leva ao CD comum a plena capacidade de resolução desejada. Recentemente, eu ouvi a versão 96/24 de Antiphone Blues e eu ainda prefiro a versão do CD original da Proprius.

    A mídia de alta resolução tem muito valor e eu acho que já era tempo de se padronizar um meio de se disponibilizar material que qualquer um possa ouvir sem grandes transtornos ou suspeitas. Inventar formatos novos, que vão acabar morrendo daqui há alguns anos, é que não vai resolver nada, concorda?

  15. Olá Paulo Roberto,

    O debate sobre o que é um “som puro” pode ser resolvido de forma muiiito simples.
    Basta o audiófilo ir a um teatro do seu município e assistir uma orquestra ou, apenas um
    concerto solo ou orquestra de câmara. Se o teatro tiver uma boa acústica (caso dos teatros municipais
    do Rio e São Paulo), ele ouvirá a pureza dos instrumentos sem amplificação ativa, o tempo que leva para o som de uma nota se esgotar uma vez interrompida a execução e a reverberação resultante disso, na sala.
    Não custa caro, a maioria das pessoas pode fazê-lo e muitos destes concertos são gratuitos já que a maioria das orquestras são instituições bancadas pelo Estado ou por entidades filantrópicas.

    Então o parâmetro de uma boa gravação (e reprodução) em qualquer mídia deveria ser esse. O objetivo do audiófilo deveria ser o de reproduzir o mais fielmente possivel esta “sensação” física de forma virtual em sua casa.

    Mas aí entram muitas variáveis, é claro. Formato e qualidade da mídia, amplificador e caixas.

    Um arquivo mp3 jamais terá a mesma gama dinâmica. Experimente ouvir uma orquestra gravada em mp3 nos momentos de pico. O som sai cortado ou clipado em ruídos amarfanhados e metálicos. A ambiência é perdida, etc.

    Para músicas “elétricas”(amplificadas) o problema é menor,já que não se exige
    tanta fidelidade e essa é a razão do sucesso desses arquivos comprimidos.A música
    pop é mais fácil de “caber” em um mp3.

    Na minha opinião o cd ainda vai existir por um bom tempo como mídia de referência, uma vez que ele supre as necessidades da maioria. Mesmo as melhores gravações custam a fazer caber uma orquestra em um CD,aí eu concordo que outros formatos podem suprir a necessidade, mas infelizmente são poucos os audiófilos que usam o som ao vivo como medida de comparação em sua reprodução caseira.

    Abraços,

  16. Oi, Renato,

    A culpa disto que está aí não é das gravadoras que lançam clássicos mas sim daquelas que se omitem, algumas por questão de custo, de lançar os discos que você gostaria de comprar.

    E também você deveria compreender que são exatamente as gravadoras que lançam clássico que ainda mantém o SACD vivo, e agora estão se lançando em Blu-Ray. Foi por causa da música clássica que muitas gravadoras americanas e européias aperfeiçoaram vários métodos de gravação, então elas têm o seu mérito.

    Eu não sou fã de erudito, eu ouço jazz, que é música popular em qualquer país (aqui mesmo no Brasil sempre teve jazz ao vivo à vontade) e, sinceramente, não tenho culpa de que muita gente ainda considera isto música de elite.

    A minha adolescência foi cercada pela bossa nova, que acabou sendo mais “popular” lá fora do que aqui no Rio, onde ela nasceu. Tom Jobim morreu esquecido pelas massas, então você vê que nem tudo são flores no meio musical.

    Sobre o IMAX do UCI eu ainda não consegui arrumar tempo para ir lá. Mas posso adiantar que gostaria de ter visto o formato em película, porque a minha experiência de vida com 70 mm é muito grande. E por isso ainda não decidi se valerá à pena escrever sobre o sistema adotado lá.

    Desculpe, mas em todo o caso agradeço a sua sugestão.

  17. A propósito, bem que você poderia uma hora dessas esmiuçar mais pra nós mortais essa questão dos IMAX (geometria de salas e telas, projetores, tipos de áudio e etc…)!

    Abs

  18. Muito bom o seu artigo sr Paulo.

    Mas, toda vez que leio algo sobre restauração de áudio, sacd, dvd-áudio e etc…, o que me vem à mente é que grande parte da culpa da não aceitação, ou incorporação dessas mídias no nosso dia a dia pode (eu disse: “pode”) também ser pela falta de identificação com o programa musical gravado.

    Não tenho nada contra música erudita e coisa e tal (principalmente quando bem executada e reproduzida se torna um alento), mas, seria interessante ouvir algo mais popular ao meu tipo de público. Por exemplo: eu tenho 34 anos. Tem muita coisa da década de 80, 90 e início dos anos 2000 que eu gostaria de ouvir em sacd. Assim como eu, devem existir muitos amantes de áudio nessa faixa de idade que gostaria de apreciar um conteúdo mais com sua cara em alta resolução.

    Por exemplo, quando ouço o show da Gal Costa cantando Jobim em cd, acho a gravação excelente. Fico imaginando então este mesmo show em sacd. Eu compraria fácil! Se algum amigo chega na minha e percebe aquele som bem familiar e popular ao seus ouvidos, fica fácil convencê-lo de que aquilo é sacd e que ele precisa ter também.

    Adoro Jorge Vercillo e pergunto como não ficaria a música “Me transformo em luar” num sacd. E o Djavam com seu show ao vivo cantando “Se”. Pra minha geração que (pelo menos aqueles que têm apreço pela qualidade do áudio) está começando a se estabilizar mental e financeiramente seria muito interessante incorporar essa tecnologia em sua vida. Se tiver começando a criar filhos seria mais fácil ainda incutir-lhes o prazer da audição, além de lhe passar a sensação de ouvir boa música.

    Desculpe se quase sou um patinho feio no meio de vocês que ouvem música mais erudita e afins, mas se o desejo é ter este tipo de mídia consolidada e em larga escala, ela precisa ficar além de um determinado nicho musical.

    Obs (que não tem nada a ver com o assunto): a sala IMAX do Rio já está funcionando no New York City Center – Barra. Se puder, qualquer hora dá uma chegada lá. A tela pode não ser super-hiper- ultra-gigante, mas, além de ela ter excelente qualidade o áudio da sala é extremamente bom. O filme que está passando lá é Super 8.

    Abs

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