E-books didáticos mas nem tanto

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A Apple é mesmo a cara do Steve Jobs. Pode ser ao mesmo tempo genial e não ter escrúpulos quando a meta é vender e ganhar um mercado.

Fiquei muito mal impressionado com a propaganda – abaixo – sobre o novo campo de atuação da empresa: livros escolares digitais.

O que há de novo e verdadeiramente relevante nesse produto? Uma coisa: reduz muito o peso que o estudante leva na mochila.

Agora, assisto a propaganda e me lembro de outro produto, pré-internet, que fez certo sucesso e desapareceu: o CD-ROM. (Lembram da Enciclopédia Encarta?)

A retórica é a mesma: falar para pais que não entendem nada do assunto e que ficam deslumbrados com animações.

E fica a pergunta: onde está a interatividade do produto? Esses meninos vão poder aprender uns com os outros, entre pares, que é o novo da comunicação em redes digitais, que é o que está por trás da transformação trazida por Wikipédia, YouTube e Flickr, para citar alguns?

Resposta: não existe. Esses produtos não se ligam entre si. Esse tipo de “livro” não serve para isso.

A traição deste comercial é vender algo genuinamente ultrapassado e obtuso com uma roupagem nova, siliconada.

As “novidades” que eles colocam dentro desses livros, os estudantes já encontram pesquisando na rede há muito tempo. Não é novidade.

E o que é entregue junto mas não está explicado é uma plataforma de venda de livros digitais. (Leia, se quiser, o post deste advogado especializado em licenças de uso falando sobre o software de produção de livros lançado pela Apple.)

Em uma das falas de professores defendendo o produto, há uma que argumenta que o livro físico perde a função. E o que a gente faz com o livro digital da Apple: devolve e recebe o dinheiro de volta?

Aliás, será que dá para emprestar esse livro? Ou revender para um sebo? Ou passar adiante para um amigo? Não sei e gostaria de saber.

O comercial é intelectualmente desonesto, inclusive por se fazer passar por documentário quando a gente sabe que as falas foram escolhidas para vender o produto. Não há poréns…

Acho que essa iniciativa é uma furada e, mais, ele tem cara daqueles produtos que governos compram de baciada só porque parece ser a “grande novidade do momento”. Como se isso fosse resolver o problema do aprendizado.

Ps. 1: Quem está “pensando diferente”, “fora da caixa” nesse quesito da educação são os finlandeses – leia aqui – e até os americanos estão tentando repetir a fórmula.

Ps. 2: Tem um professor no comercial que fala que usar livros impressos é condenar os estudantes a usarem tecnologia de ensino dos anos 1950. OK, ele está se referindo a livros didáticos, mas, antes dos didáticos, como as pessoas estudavam?

[Webinsider]

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Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

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