Jornalismo 4.0: games, redes sociais e notícias no tabuleiro

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Com Geraldo A. Seabra*

Estamos em meados de 2012 e o mundo não dá sinais de que tudo vai acabar no final do ano! Mas, as mudanças proporcionadas pelas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTCI’s) continuam a formatar a cada dia um jeito novo de fazer jornalismo na web. De forma inequívoca, os números da pesquisa apontados no artigo “Pequenos jogos, grandes negócios”, de autoria de Michel Lent Schwartzman, anunciam o limiar de uma nova fase dos  NewsGames como notícia cartografada. O levantamento reforça ainda mais o argumento dos games como plataforma de diversão, informação e mobilização social para solução de problemas cotidianos por meio da notícia.

Na pesquisa, os games aparecem em primeiro lugar na porcentagem de usuários que baixam e pagam por uma app – aplicativos destinados a facilitar o desempenho de atividades práticas do usuário, principalmente em plataformas mobile a exemplo dos tablets e smartphones.

Nada menos que 93% dos usuários que usam dispositivos móveis baixam app’s de games, 84% de mapas, 73% de notícias e 56% de redes sociais. Em suma, esses são os quatro pilares que sustentam o nosso argumento que encara a possibilidade dos NewsGames como notícia cartografada. Esse novo modelo informacional convida o usuário a ser coautor na produção de notícias, utilizando a interface do Google Maps como tabuleiro de jogo.

Ao se redigir um post a partir de uma notícia-tema, a imagem do texto escrito é automaticamente transformada em cenário real de jogo, por meio do qual cada jogador poderá propor soluções para problemas reais apontados no lead da notícia. A escolha do assunto se dá de acordo com o tema que os jogadores estiverem pessoalmente envolvidos.

A pergunta que não quer calar é: quando a indústria de jogos vai promover a mistura entre games, redes sociais, mapas e notícias num mesmo tabuleiro de jogo? Existem algumas iniciativas no mercado, mas ainda não contam que a mesma dinâmica proposta pela Teoria dos NewsGames. Os jogos da empresa Zynga rodados no Facebook são tramas fechadas que não usam notícias como base narrativa e nem mapas abertos geoprocessados em tempo real.

Geração do Jornalismo 4.0

Após o surgimento da galáxia da internet, há mais de 15 anos, assistimos quase silenciosamente ao nascimento da geração do Jornalismo 4.0, baseado em aplicativos mobile que permitem a participação ativa do usuário na produção, publicação e consumo da notícia. Nos primórdios da internet, a primeira geração do jornalismo digital deu origem ao que chamamos de Jornalismo 1.0, cujo conteúdo era a mera reprodução daquele subscrito em mídias tradicionais ou meios analógicos. Por sua vez, o Jornalismo 2.0 é a criação exclusiva de conteúdo de e para a rede, enquanto o Jornalismo 3.0 ou Jornalismo de Participação, pauta-se pela socialização do conteúdo e dos próprios meios.

No jornalismo de terceira geração, todos nós, jornalistas ou não, fomos convocados, pela primeira vez na história da comunicação, a participar de uma forma efetiva da criação, edição e publicação de conteúdo, inaugurando a era colaboracionista aberta pela rede. Surge então o novo paradigma da informação viral. Na esteira do Jornalismo 3.0 estão os blogs e as redes sociais e toda a sua irreverência quase irresponsável. Mas não podemos negar que essas novas mídias ajudaram a formatar um novo modelo de jornalismo, que nasceu graças às NTCI’s de código aberto (open source). Desde então qualquer um pode editar a rede de todos. Neste novo paradigma comunicacional, tanto o jornalismo quanto à publicidade tradicional devem rever seus conceitos.

Somada à ação participativa dos usuários, o Jornalismo 4.0 nasce carregando no seu DNA a formatação da notícia em suportes lúdicos de comunicação baseados em quatro pilares fundamentais:

  1. Games.
  2. Rede sociais.
  3. Mapas.
  4. Notícias.

Com isso deixa para trás, uma vez por todas, a velha dicotomia entre razão apolínica (razão pura) e razão dionisíaca (razão lúdica). Em 2002, a infografia digital fincou as bases do jornalismo de quarta geração, ao misturar texto e imagem de forma dinâmica. A iniciativa permitiu o advento dos NewsGames – games online baseados em notícia ou acontecimentos em tempo real. A edição de notícias em suportes de jogos abre um novo capítulo contra a geração de jornalistas tutelada por órfãos de informação centralizados.

A era dos gamers jornalistas

Da maneira como o cenário vem se desenhando, os NewsGames tendem a formatar uma nova geração de profissionais 4.0 – a era dos gamers jornalistas. O monopólio informativo da mídia se desloca lentamente de um universo centralizado e passa a ser governado por pessoas que se tornam guias uma das outras e não mais reféns de alguns “iluminados”. Afinal, muitos não querem mais ficar calados; querem falar; difundir a sua própria informação, colocando sob ameaça o reduto daquele jornalista tradicional, até então um Cidadão Kane – acima de qualquer suspeita. Assim, “o jornalismo e os jornalistas se afastam do velho modelo informacional ainda personificado na central telefônica dos anos 20”, profetiza Geraldo Seabra.

Ao longo da história fomos formatados pela narrativa do jornalismo de fatos (factual), passando pelo jornalismo de relatos (sob a dependência da fonte) até chegar ao jornalismo como conversação – uma troca dialógica de informação verdadeiramente participativa. Por meio do jornalismo participativo são criadas as chamadas nanoaudiências, micro comunidades de usuários que subvertem (mas não findam) a lógica da comunicação de massa. “Essas comunidades reproduzem-se infinitamente como vírus, levando dentro de si o mesmo germe da informação e os interesses àqueles que enganam” (ODUÑA, Otávio I., et al. Blogs: revolucionando os meios de Comunicação, 2007).

Então, passamos a viver a Era da Personalização em Massa. Nesse novo cenário, cada um de nós ganha força especial, pois precisamos aprender o que os amantes dos games já sabem: construir o próprio universo cognitivo através de influências que supram as suas necessidades individuais. Agora, estar em grupo soa como uma falsa ideia de abdicar de nós mesmos. Afinal, estar no mundo é, sobretudo, estar consigo mesmo.  Mas, para quem ainda teme os games em função de sua narrativa atual e “sem controle”, resta-nos um grande consolo: os games elevam a capacidade cognitiva de quem joga independente de sua narrativa.

Seja ela boa ou ruim. Bingo!

* Geraldo Seabra, jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. Na área acadêmica lecionou no UniBh, Unipac Lafaiete e Funorte. No mercado trabalhou em diversos órgãos de imprensa: Rádio Itatiaia, Rede Minas de Televisão, Rádio Alvorada, Agência de Publicidade CMK3, Revista AMIRT, Diário de Belo Horizonte e Jornal Sabará em Minas. Nascido em Belo Horizonte, está radicado atualmente em Treviso (Itália), onde atua como editor e produtor do Blog dos NewsGames. [Webinsider]

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Luciene Santos, jornalista e especialista em games como informação e notícia. É co-autora do e-book “Do Odyssey 100 aos NewsGames – uma Genealogia dos Games como Informação”. Nascida em BH, está radicada atualmente em Treviso (Itália), onde atua como apresentadora da WebTV do Blog dos NewsGames.

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  1. Nada menos que 93% dos usuários que usam dispositivos móveis baixam app’s de games, 84% de mapas, 73% de notícias e 56% de redes sociais. Em suma, esses são os quatro pilares que sustentam o nosso argumento que encara a possibilidade dos NewsGames como notícia cartografada. Esse novo modelo informacional convida o usuário a ser coautor na produção de notícias, utilizando a interface do Google Maps como tabuleiro de jogo.

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