Como montei o projeto Beijo Adolescente em crowdfunding

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Começo aqui dizendo que a alma de toda iniciativa coletiva de colaboração depende majoritariamente dos amigos.

Tenho sorte de ter conhecido gente tão generosa e parceira nesse meio de quadrinhos no Brasil. Vivemos esse momento ímpar no mercado nacional, tão comentado na mídia nesses últimos tempos, motivo pelo qual temos espaços exclusivos de HQs em megastores e um público tão numeroso nos eventos pelo Brasil, e a coisa toda só cresce.

Daí o Beijo Adolescente.

A convite do IG, criei a história com o foco direcionado para algo que eu não tinha muita experiência: uma trama aventuresca juvenil, que pudesse ser ao mesmo tempo moderna e representativa de uma faixa etária que sempre me encantou (os adolescentes, impiedosos, autoconfiantes, frágeis, angustiados, dramáticos, incríveis).

A série engatou, em um primeiro momento online, e uma vez concluída sua primeira temporada, impressa em formato grande. Lancei de forma independente e tamanho foi o retorno das pessoas – e um crescente envolvimento pessoal com a trama – que resolvi apostar em uma segunda temporada. Resolvi colocar a teste a tão comentada plataforma do crowdfunding pra ver no que dava.

Tinha uma vaga ideia do que era, conheço poucos que fizeram e conseguiram arrecadar o necessário, e mesmo havendo um certo risco envolvido (tempo dedicado, trabalho de divulgação, eventuais desenhos, videos e reuniões buscando parceria), é um risco calculado e sem grandes perdas.

Quem apoia o projeto recebe produtos e serviços proporcionais ao investimento feito, tudo bem apresentado de forma bem clara pelo site intermediário (no nosso caso, o Catarse, que se mostrou um grande parceiro, muito receptivo e atencioso conosco).

Então bolamos o projeto, determinamos o período de duração, os prêmios e produtos a serem ofertados, tudo com muito cuidado – nesse começo é necessário muita atenção, porque não dá pra voltar e alterar essa parte depois. Uma vez publicado o projeto, os apoiadores não podem ter surpresas no meio, senão vira zona.

Aprendi como funciona o sistema de compra também, e entendi que cada apoiador recebe seu dinheiro de volta caso o projeto não vingue, o que sempre foi uma dúvida pra mim.

Ou seja, mais pressão pro criador. A pressão se expressa em manutenção constante do interesse das pessoas na sua ideia, e cabe a você criar iniciativas e brindes pra manter as redes sociais de olho. Nas primeiras semanas o apoio é bem maior (o que me avisaram no Catarse, sempre funciona assim, por ser novidade).

Depois de um tempo a coisa naturalmente esfria, e geralmente retoma sua força na última (pesadelo!). No nosso caso, não queríamos que esfriasse, então me mobilizei. Muita gente colaborou, fomos surpreendidos por alguns apoiadores com cifras altas, o que nos deixou ainda mais confiantes. Mas fato é que o fluxo diminuiu, e percebi que não só estava obsessivamente dando “refresh” na página de arrecadações, como entendi que existe um momento de ressaca, quando não há mais a fazer a não ser esperar (sempre há algo a fazer, o duro é conciliar com todas as tarefas diárias, como trabalho, casa, etc).

O maior dilema pra um autor adulto ao encarar a plataforma é esse: o projeto ainda não é o seu trabalho. Ele virá a ser, se der certo. No entanto, só anda se você trabalhar nele como se fosse, e diariamente dedicar uma parcela do seu dia bolando formas de criar interesse. Um leve dilema (contabilize um filho recém-nascido aí no meio).

É aí que os amigos entram. Fui surpreendido pelas mais variadas expressões de companheirismo e solidariedade nesse primeiro mês. Afora o apoio financeiro, apareceram entrevistas e reportagens, telefonemas, campanhas de amigos pros seus amigos, presentes de aniversário (do tipo “me deem de aniversário um apoio no Beijo do Rafa” – uau!), um FILME (gente que parou seu tempo pra atuar, filmar, editar, sonorizar e subir na web num nível de sensibilidade e requinte visual de dar inveja), textos de tirar lágrimas, parceiros que compraram conosco a briga. Sem essas pessoas, não há como fazer, e confesso que acho que pra mim não valeria tanto a pena.

A luta acaba de passar da metade do tempo estipulado, e passamos pouco mais da metade do valor a ser arrecadado. Não estou ainda na posição de mensageiro da boa hora, com o projeto concluído e pronto pra começar, e espero estar em breve. Mas a experiência tem sido muito gratificante, e digo isso não só como experiência mercadológica, um verdadeiro tratado de independência e livre comunicação entre público e artista, algo que pode de fato revolucionar o mercado de quadrinhos brasileiro.

Digo isso pelo que vivo e sinto través de retwittes, posts, likes, conversas e ligações, do quão emocionante é a iniciativa coletiva, de poder, junto com as pessoas mais importantes (e outras novas e incríveis que apareceram no caminho, gente do passado, fãs, familiares, amigos distantes, amigos de amigos), criar algo novo, impossível de existir sem eles. [Webinsider]

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Rafael Coutinho é quadrinista e artista plástico, além de dono da e-loja Narval Comics. Mantém o blog Bingo!.

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