Sobre pássaros, data analytics e nossa vida virtual

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Somos uma impossibilidade em um universo impossível.
Ray Bradbury (Escritor – 1920 – 2012)

Não tenho dúvidas do quanto complexo é compreender nossas relações sociais, culturais e políticas, dentro dos limites espaciais de nosso mundo concreto. Filósofos e sociólogos vêm buscando desvendar os mistérios de nossa sociedade faz séculos e ainda temos milhares de pontos de interrogação.

Como se isto não bastasse, criamos o universo virtual e projetamos nossas ideias, sentimentos, relações e pensamentos para este mundo paralelo, de uma forma tão intensa que, hoje muitos de nós investe mais tempo não somente online, mas também offline, pensando no que está acontecendo “dentro” do ciberespaço.

“A foto que postei, quantos curtiram?”; “Será que meu tweet de hoje ofendeu tal pessoa?”; “Quando ela vai responder o e-mail que enviei?”. E quanto mais deslocamos nossa vida para esta realidade paralela, mais delicado e complexo é o estudo do quem somos, como nos relacionamos e no que acreditamos. A pergunta é: onde está o sentido de nossa vida virtual?

A busca por uma resposta fez da área de Data Analytics, a menina dos olhos das redes sociais. Não por acaso, o buscador mais geek da internet, o Wolfram Alpha, lançou recentemente seu “Facebook report”. Um relatório de sua vida social dentro do Facebook. Com gráficos e dados quantitativos relacionados aos seus posts, links, amigos, etc.

Faz algum tempo, o SocialBakers já vem cavando profundamente o Facebook, publicando relatórios sobre marcas, celebridades, esportes, ranking de países, enfim o que está “bombando” na rede social mais badalada do mundo.

Mas tanto o Wolfgram Alpha quanto o SocialBakers estão longe de desvendar o significado dos milhões de posts, fotos, e-mails e diálogos virtuais que estão dando vida à internet todos os dias. Isto porque ambos não são capazes de ir além do fator quantitativo, da superfície dos dados digitais.

Não podemos negar entretanto a utilidade destas e outras ferramentas de análise de dados sociais para as áreas de publicidade, propaganda e comércio eletrônico, mas é preciso lembrar que nossas relações sociais não são construídas com base em valores monetários e não buscamos amizades ou romances para alimentar ou esvaziar nossas contas bancárias.

Assim, o Data Analytics ajuda a promover o reducionismo de nosso eu virtual: para elas, somos registros em bancos de dados, onde o que mais interessa é nossa quantidade de clicks sobre este ou aquele anúncio, nosso volume de compras neste ou naquele portal de comércio eletrônico, o quanto tweetamos sobre este ou aquele produto. Não tenho dúvidas, o que somos está muito além de nosso carrinho de compras.

Então é preciso observar as correntes e forças que nos movem. Talvez o sentido de nossa vida digital esteja em buscar porque milhões de pessoas estão migrando para o universo digital. E não estou usando por acaso o verbo “migrar”. Na natureza, sempre que alguma espécie realiza o ato de migração é por uma razão de sobrevivência, algo que irá levar a espécie a um novo estágio de sua existência.

Pássaros tem voado de continente para continente muito antes de nós estarmos aqui. Eles alcançaram o lugar mais frio da Terra, a Antártica, muito antes de nós. Eles podem sobreviver aos desertos mais quentes. Alguns podem permanecer em vôo por anos. Eles podem circular o globo.
Sir David Attenborough, A Vida dos Pássaros – Documentário da BBC.

A resposta não está na análise de nossos dados virtuais, no ciberespaço, mas exatamente aqui, em nossas cidades, lares e relações, as quais estão se tornando inconstantes, efêmeras e frias demais. Assim, migramos aos milhões, todos os dias, cada vez mais, buscando em nossa vida virtual o sentido que nos falta em nossa vida real. [Webinsider]

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Ricardo Murer é graduado em Ciências da Computação (USP) e mestre em Comunicação (USP). Especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Mantém o Twitter @rdmurer.

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Uma resposta

  1. Artigo do ano! Excelente reflexão, é impressionante como tentamos encontrar sentido neste mundo virtual e esquecemos de dar significado ao mais essencial e elementar que são nossas vidas reais.

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