Programadores são focados em aprender. Não estrague isso

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Programadores passam grande parte do seu dia adquirindo conhecimento sobre detalhes de um domínio específico. Quer o domínio seja o de comércio eletrônico, ou médico, ou estatístico ou agropecuário (e tantos outros ‘ou’).

Esse é o principal trabalho de um programador. Compreender um grupo de problemas que caracterizam uma área de negócios.

Transformar isso em código é a outra parte do trabalho.

Se me pedissem para dizer o peso de cada um, diria que adquirir conhecimento é 90% do trabalho de um programador.

Essa constatação por si já é importante. Ajuda a entender por que algumas vezes eles parecem estar olhando para o nada ou preenchendo seu tempo com cliques desordenados por sites de conteúdos tão variados quanto conjectura ABC, o gato cleptomaníaco ou filosofia Rousseauniana. Estão concentrados em descobrir padrões minúsculos que possam ser transformados em código e resolvam algum problema existente.

Esse fato implica outro. Quanto mais tempo dentro de uma empresa mais desses pequenos padrões ele coleciona. Mais conhecimento ele tem sobre o domínio e mais ele pode responder a questões que ajudariam os outros a resolver problemas. Basta que perguntem.

É proibido perguntar?

Mas os que precisam desse conhecimento acabam descobrindo (sem perguntar), que é proibido perguntar.

Na maior parte dos ambientes de desenvolvimento de software, aliás, como também em outros ambientes de trabalho, veladamente, perguntar é interpretado como um sinal de fraqueza. Indica que você não tem algum dado que deveria ter. Alias, que supostamente deveria ter.

Herança de modelos antigos de administração. Reflexo de algo hereditário existente no comportamento animal. Não vem ao caso esse questionamento. Vem ao caso o prejuízo gerado por isso.

A mesma empresa que paga pelo tempo de aprendizado (numa constante de 90% do tempo total de trabalho) deveria ser a empresa que economiza ao conseguir criar um ambiente onde perguntar não é pecado. Onde é permitido e incentivado perguntar.

Em geral, quanto maior for a empresa, mais esta cultura esta disseminada e maior é a dificuldade para combatê-la.

E quanto mais pessoas ocuparem a mesma posição, mais a informação é um diferencial e por isso mesmo, tende a ser tratada como propriedade.

No final, empresas instáveis e em declínio como as que estão se extinguindo, ou em ascensão como por exemplo as startups, se tornam os locais-comum desse tipo de disputa onde a principal vítima é o próprio negócio.

Mas como vencer essa barreira? E uma vez vencida, qual o ganho que existe além do ganho economico?

Creio que um exemplo ajuda.

Vamos falar de José. Ele acaba de ser contratado como programador pleno em uma empresa de desenvolvimento. Feitas as apresentações, indicam o seu computador. Ele senta e se prepara para fazer a primeira pergunta.

– Pessoal, como é ambiente de desenvolvimento que vocês utilizam?

Duas possibilidades existem aqui. A primeira é que alguem indique a url da wiki interna, onde tudo é explicado detalhadamente. A segunda, é que um desenvolvedor senior vá sentar ao lado dele, indique a mesma página da wiki e junto dele faça toda a configuração.

No primeiro caso ele terá que, a partir de um documento, configurar sozinho o seu ambiente de desenvolvimento.
Como na primeira pergunta foi indicado um documento é muito provavel também que, ao ter uma nova dúvida, procure outro documento de apoio, e outro e outro, até que tenha compreensão dos detalhes e finalize a tarefa em, digamos, um dia inteiro ou dois.

A grande lição aqui para José foi que ele deve correr atrás e, se tiver que perguntar, preparar bem suas perguntas.

No segundo caso ele entra em contato com a cultura da empresa.

O desenvolvedor senior faz a leitura do documento junto dele, realize a tarefa em par, procede ajudando em qualquer dúvida e completa a tarefa em, digamos, quatro horas.

José também interage com seus colegas de maneira positiva pois sente confiança devido ao ambiente de colaboração.

Mas, certamente, o maior aprendizado é o de que é permitido fazer melhor. Superar as expectativas e, por consequência disso. É permitido errar.

Essa ideia vem da presença de membros na equipe que respondem e perguntam. Fazem circular o conhecimento e dão segurança para que se pergunte “E se?”

Como os membros da equipe sabem que as pessoas respondem de maneira positiva, não ficam temerosos em propor novos paradigmas, criticar os atuais e expor seus pontos de vista. Não há o medo da “pergunta besta”, “ideia errada” ou “falta de conhecimento”.

E esse é o maior ganho da empresa.

Se uma empresa tem funcionários que não têm medo de errar, a possibilidade de inovar é realmente maior.

Agora vejamos.

Programadores são pessoas focadas em aprender.

Aprender é um processo de pesquisa, reflexão, tentativa e, por consequência, descoberta de maneiras erradas e maneiras certas de fazer algo.

Se uma empresa não permite e estimula perguntar, não há aprendizado. O nível de erros é menor, mas também o é o nível de inovação.

E sem inovação, um programador não aprende, logo, não faz o que gosta. Se desestimula e some no mar de processos que funcionam enquanto procura uma oportunidade para aprender.

Estamos diante de um impasse onde os resultados de uma empresa estão totalmente associados à produção de um bem ou serviço mas para produzir mais e melhor é necessário trocar informações, gerindo perguntas e respostas. O que custa tempo de “produção”.

De um lado está a produção sem questionamento. Mais rápida e palpável. Mais objetiva.

Do outro lado esta o “perguntar e responder”. A geração de conhecimento. A menor rotatividade nas equipes. Um produção mais qualificada; afinal, quanto mais informação se tem sobre o “como?”, o “por que?” e “quando?”, mais apto se está para produzir e mais prazeroso é esse processo.

Quanto mais informação sobre o atual estado das coisas se tem, mais confortavel o ser humano fica com relação a desafiar esse estado.

Enfim, talvez a melhor maneira de descobrir o que uma equipe de desenvolvedores produziu não seja perguntar pela produção em si, mas sim, questionar sobre que respostas eles estão trabalhando para as perguntas da empresa. [Webinsider]

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Ivo Nascimento é desenvolvedor e mantém o blog Ianntech e o Twitter @ivonascimento.

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3 respostas

  1. Ivo, este artigo está nota 10!

    Um ambiente colaborativo, que permita o desenvolvedor realmente aprender a lógica de negócio de forma confortável, podendo perguntar, realizar sugestões e questionar certos pontos só traria vantagens tanto para quem desenvolve o sistema, quanto para a empresa que receberá este sistema.

    Abraços, Enrico.

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