A grande contradição do NYTimes

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Com Luciene Santos.

Enquanto dá com uma mão, tira com a outra. Essa parece ser a grande contradição estratégica do modelo de negócio montado pelo New York Times para continuar rodando a megaestrutura do maior jornal do mundo. Ao mesmo tempo, que cobra pelo conteúdo do site, o jornal nova-iorquino oferece de graça aos seus usuários uma plataforma de aplicativos (API), que disponibiliza cerca de 2,8 milhões de artigos do seu banco de pesquisa. A API inclui 28 campos pesquisáveis e o conteúdo é atualizado de hora em hora.

Aberta ao público em 2009, a plataforma de aplicativos do NYTimes permite a qualquer site adicionar links dinâmicos para artigos publicados pelo jornal desde 1981. Para ser considerado um grande negócio, um órgão de imprensa deve se dispor a oferecer dados abertos para consumo de toda a web. O que significa isso? O NYTimes busca sair do seu isolamento jurássico para flertar com a interconexão total. Porém, na prática, a ideia de transformar o jornal em uma plataforma esbarra na contradição da própria iniciativa.

Enquanto abre as portas dos fundos (banco de pesquisa de dados), o NYTimes fecha as portas da frente (site) do jornal online. Desde março de 2011, o jornal passou a cobrar pelo conteúdo disponibilizado no site (nyt.com). Foi o primeiro diário do mundo a utilizar um sistema de cobrança da notícia online, ambiente até então pautado pelo consumo gratuito da informação. É a segunda vez que o jornal norte-americano toma essa decisão. Na primeira tentativa, o TimesSelect durou dois anos (2005 a 2007).

O sistema de cobrança foi extinto por não ter conseguido ampliar a sua base de anunciantes online, tampouco aumentar o montante de leitores que acessava o site via resultados de buscas. Não bastasse cobrar por um conteúdo que logo depois será oferecido de graça, o NYTimes montou uma complicada engenharia de cobrança que ‘pune’ o usuário pelo suporte que usa. Por US$15 a cada quatro semanas é possível acessar o site a partir de um computador ou um smartphone. Mas, não a partir de um tablet, pois o site bloqueia o acesso desse tipo de aparelho.

Mas já é liberado para quem possui iPad ou Samsung Galaxy Tab. O acesso custa US$ 5 a mais, ou seja, o preço mensal da assinatura sobe para US$ 20. Se fizer essa opção, o leitor perde o acesso via smartphone. Achou confuso? Quem assina o jornal impresso não precisa desembolsar mais nada para ler a versão digital. Quem não quiser pagar terá acesso gratuito a 20 textos por mês. Se passar desse limite o leitor só pode ler artigos gratuitamente por meio de links de outros sites, ou a partir do blog do jornal.

Mas nem toda essa engenharia de cobrança do NYTimes impede que headlines caiam no burburinho das redes sociais e as matérias possam ser lidas sem qualquer pagamento por quem quiser. Outra forma de não bater com a cara na página de cobrança é fazer uma varredura em sites de busca com o título no mesmo idioma da matéria que se deseja ler.  Talvez, esse seja um dos motivos pelos quais o sistema de cobrança do jornal não tenha conseguido elevar a sua base de assinantes quando implantado pela primeira vez.

Não é segredo para ninguém que a grande mídia ainda sabe fazer bem a gestão de recursos de processamento de informação e conteúdo disponível em seus arquivos. Os jornais estão muito melhor preparados para organizar esse tipo de informação bruta e oferecer conteúdo gratuito que qualquer editor individual. Desta forma, o jornal como plataforma oferecido pelo NYTimes é uma excelente ferramenta, pois a grande imprensa sempre teve condições de oferecer conteúdo suplementar para enriquecer outros.

Mas como cobrar pela notícia se uma das características da Cibercultura é o acesso livre à informação? É fato que este ano começou e agora termina com a internet cobrando cada vez mais por produtos, aplicativos e serviços que até o ano passado eram gratuitos. Nem chegamos ao fim de 2012 e a gigante Google já anunciou que vai passar a cobrar pelo uso do Gmail e do Docs por empresas. O reino das contradições na web é tão fantástico que não se estranha que até o Carrefour esteja deixando a rede de lado.

Se navegar na web não está nada fácil nem para as grandes empresas, como pensar na fragilidade do usuário que já paga caro pelo acesso à internet? Em 2000, as bolsas de valores pintaram de vermelho a bolha das empresas ponto.com. E não faz muito tempo que o FBI mandou prender o fundador do Megaupload, sob acusação de oferecer de graça aquilo que até então não tinha preço. O grande jogo da rede começou antes mesmo que 2013 anuncie as suas boas novas. Os dados estão rolando… Façam as suas apostas! [Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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