O iphone da Gradiente é o Bruce Li

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Opinião: mesmo tendo direito ao nome por tê-lo registrado no Brasil antes de existir o iPhone da Apple, a Gradiente não deveria lançar um aparelho com o nome iphone. Concorda?

 

Quando Bruce Lee morreu em 1973, a indústria cinematográfica asiática imediatamente buscou “atores” de porte e estilo próximos ao do lendário astro dos filmes de artes marciais. Os estúdios apostaram em imitadores como Bruce Le, Bruce Li, Dragon Lee, entre outros. Óbvio que a estratégia não deu certo e os “clones” tiveram vida curta. O público não engoliu outros Bruces que estavam longe de ter o carisma e a presença do original. Para eles, restou apenas um breve destaque na história do cinema unicamente pelo aspecto bizarro que envolvia tais produções.

Acompanhando as notícias sobre a perda da marca iPhone da Apple para a Gradiente (veja no Businee Insider: Brazilian Company Launches Android ‘iPhones’ After Winning Right To Name), me ocorreu uma estranha associação entre o smartphone da companhia brasileira e os clones do astro dos murros e coices voadores.

Ao que tudo indica, a decisão do INPI será favorável à Gradiente, ressaltando que se trata de uma decisão correta, se realmente o pedido de registro foi feito primeiro pela empresa brasileira. Porém, o que incomoda é imaginar que as companhias nacionais de tecnologia parecem ainda viver nos tempos da reserva de mercado e da Política Nacional de Informática. Mesmo com o direito de utilizar o nome iPhone para os seus aparelhos, o que pretende a Gradiente com isso? Qual é a estratégia brilhante que motiva essa organização a lançar no mercado um Bruce Li, quando todos desejam o verdadeiro Bruce Lee?

Duas alternativas, que talvez se mesclem. Aos que não lembram ou não viveram este período, nos tempos da reserva de mercado, muitas empresas brasileiras de tecnologia não se esforçaram um milímetro para desenvolver suas próprias capacidades produtivas. Pelo contrário: a indústria nacional adotou a “esperta” solução de quebra de patentes de produtos importados para “desenvolver/copiar” seus sistemas e suas arquiteturas em produtos nacionais (sem pagar royalties, taxas nem nada, na cara de pau mesmo). Na prática, isso significa que nossos engenheiros pegavam a tecnologia criada por terceiros, copiavam tudo e relançavam os clones no mercado brasileiro.

A Gradiente já estava lá: lembram do Phantom System? Este videogame, assim como Bit System e outros, não passava de um clone nacional do Nes (Nintendinho, para os íntimos), clássico aparelho da Nintendo que mudou a história dos videogames, inclusive tirando o setor da crise de 1984. Com a abertura do mercado nacional para as multinacionais, boa parte das brasileiras fechou as portas. Como não desenvolveram tecnologia própria e apenas copiavam o que vinha de fora, estas empresas não tinham condições de competir, mesmo após quase uma década de privilégios e exclusividade. A clonagem de tecnologia foi proibida e as cópias não resistiram à concorrência dos produtos originais.

 

Ao lançar o seu smartphone Android com a marca “iphone”, a Gradiente parece querer reviver estes tempos de “glória”. Sua tática desta vez não é de desmonte de tecnologia para quebra de patentes. Porém, trata-se quase de uma pirataria institucionalizada de marca. Por que uma organização, mesmo tendo o direito legal de utilizar a marca Iphone, toparia lançar um produto com o mesmo nome de outro que é absolutamente consagrado no mercado e infinitamente superior, em todos os aspectos?

Possivelmente, a Gradiente usará isso como arma jurídica para arrancar alguma coisa da Apple. Mas o pior é imaginar que a empresa usará do nome para ludibriar consumidores incautos. E não se trata apenas do público menos favorecido. Conheço muito gente esclarecida e com boa formação que compra tablets de outras marcas e chega em casa anunciando para a família que comprou um iPad. Os jovens estão mais familiarizados com estas tecnologias e com as empresas do setor, mas para pessoas de outras faixas etárias, a confusão realmente acontece.

Portanto, com essa estratégia rasteira e com o seu inacreditável lançamento, a Gradiente apenas reforça que a indústria nacional está há anos luz de competir em pé de igualdade com marcas globais. O “iphone” brasileiro, além de piada, é indicativo do nosso atraso, tanto industrial quanto gerencial. Uma pena.

E que não me venham com patriotismo fuleiro ou de qualquer tipo de defesa às empresas nacionais. Por mais de 500 anos, o Brasil vem usando estes e outros argumentos para justificar a incompetência e os problemas crônicos em seus processos. Também não sou fanboy da Apple. Atualmente uso Android. Mas temos que ser justos e coerentes.

Encerro este artigo com uma frase do saudoso Joelmir Beting: “a verdade é que o Brasil teima em não fazer 70% do que deveria fazer, nem 50% do que já poderia ter feito. O tal de neoliberalismo nada tem a ver com isso”.

Até a próxima! [Webinsider]

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Bruno Garcia (bruno.garcia@com2b.com.br) é o editor do Mundo do Marketing. Sócio da Com2B, mantém o site Com2Business e o Twitter @bruno_com2b.

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11 respostas

  1. Bruno,

    Penso que o Lançamento do C600 muda tua opinião quanto à Gradiente não querer lançar produtos de melhor qualidade. A Gradiente lançou a primeira versão do Iphone com recursos de início de retorno e agora, após ouvir, ler e respeitar ainda mais seus clientes, traz esse Iphone que é, sem dúvidas, muito melhor e MUITO competitivo. Então, é preciso ter consciência do que se escreve. Você está certo pelo ponto de vista da data do teu comentário, mas afirmar algo é estranho. Mas você tem teu espaço e tem que ser respeito. Agora, a Gradiente tem direito à patente e é a única e oficialmente mente dona dela – ou seja, A APPLE ROUBOU POR 5 ANOS o que é da Gradiente e usou INDEVIDAMENTE contra a Gradiente e todos os demais concorrentes algo que NUNCA FOI DA APPLE. Isso é ATITUDE de empresa CORRUPTA. Pela ficha corrida, a Apple é expert. Sucesso ! Parabéns a Gradiente pelo seu primeiro grande passo o Iphone C600.

    Teu comentário trecho * Não há qualquer intenção por parte dela de colocar no mercado um produto de boa qualidade. Claramente, ela quer se aproveitar da fama de outra companhia para vender o seu telefone ordinário. E isso é lamentável. Se uma empresa nacional precisa deste tipo de artifício para conquistar consumidores, então realmente deveríamos voltar aos tempos de reserva de mercado*

  2. Vejo que você misturou bem os assuntos, como quebra de patentes, tecnologia nacional importada, bem, confesso que durante a leitura fiquei um pouco perdido com suas “viajadas” pois bem.

    Não vejo em nenhum momento algum comentário seu do que você faria se estivesse no comando da Gradiente. Com o nome iphone em suas mãos ( “dono da Gradiente” vamos dizer assim) tivesse que lançar algum produto para comprovar que utilizou a marca registrada até meados de Jan/13, caso contrario seu nome e sua visão de futuro ( na época de registrar o nome) fosse tudo por agua abaixo.

    O que você fazia? Qual seria sua estratégia ? Conte para nós !

    Criticar atitudes dos outros e bem fácil, crie um Blog, ou coisa parecida e manda bala.
    Você deixaria seu mérito, sua dignidade, sua visão de futuro de criar algo, que seja um nome, um produto ser levado de “mão beijada” por outra empresa???… o mérito é todo seu. Vejo varias reportagem que a maça vem utilizando patentes, nomes e está sofrendo vários processo no mundo inteiro por conta disso, aqui é apenas mais um.

    Agora, a Gradiente lançar um produto com o mesmo nome da maça é errado? Não concordo de forma alguma. por um único e simples motivo, a Apple chegou no Brasil (2007) sabendo do registro da Gradiente, pois o processo de cadastro de marcas no INPI é aberto e qualquer pessoa pode acessar e ver as marcas registradas ou seu pedido de registro, e mesmo assim lançou seu produtos no Brasil, quem começou errado essa historia ?

    Sabe porque a Apple não procurou a Gradiente, porque ela estava falida, realmente estava, mas hoje ela esta de volta ao mercado sem ter recebido qualquer valor da Apple. A Apple pensou que a empresa iria falir e caducar seu registro por não uso da marca, bem pelo visto não ocorreu conforme planejado pela Apple.

    Não sou fã de nenhuma marca, e nem quero discutir tecnologia nem suas patentes de hardware ou de software, apenas espero sua opinião e de outros que nos lê do que fariam como sendo “dono da Gradiente”

  3. Muitas pessoas estão sendo injustas com a Gradiente, afirmando taxativamente que os seus produtos são de baixa qualidade.

    Quem têm mais de 40 anos sabe que a empresa, no passado, era sinônimo de ótima qualidade em matéria de aparelhos de som.

    Até hoje eu tenho um aparelho de som da década de 80, que têm uma qualidade excelente. Além do som ser ótimo, ele nunca deu problema, em quase trinta anos de uso.

    Infelizmente a empresa, na época da abertura, optou erroneamente por colocar sua marca em produtos “made in china”, que eram de péssima qualidade (mesma coisa que a Philco faz hoje). Quem não se lembra dos DVD player, que negavam-se à ler os discos? E os péssimos celulares?

    Esta política gerencial equivocada levou a empresa à falência. Quem sabe se ela tivesse mantido a fabricação própria, daquilo que ela sabia fazer bem (aúdio), ela ainda não estaria melhor no mercado.

    Quanto à discussão do “iphone”, vejo que é uma tentativa desesperada da Gradiente conseguir capital para retornar ao mercado, quer seja através da venda dos aparelho aos incautos, ou através da venda da marca para a Aple.

  4. Senhores, fico bastante feliz com tantos comentários sobre o meu artigo, mesmo os negativos. Importante frisar que não é uma reportagem, tampouco sou jornalista do WebInsider. Trata-se de um texto opinativo que reflete unicamente o meu ponto de vista.

    Sim, a Gradiente pode ter o direito de usar o nome (inclusive defendo isso no texto). Porém, a estratégia que a empresa utiliza na minha opinião é realmente rasteira.

    Não há qualquer intenção por parte dela de colocar no mercado um produto de boa qualidade. Claramente, ela quer se aproveitar da fama de outra companhia para vender o seu telefone ordinário. E isso é lamentável. Se uma empresa nacional precisa deste tipo de artifício para conquistar consumidores, então realmente deveríamos voltar aos tempos de reserva de mercado.

    Talvez alguns tenham ficado ofendidos porque critiquei a antiga política nacional de informática ou tenham se sentido atingidos quando disse que nossos engenheiros apenas desmontavam patentes. Infelizmente era o que acontecia, salvo raras exceções.

    Mas cá entre nós, acho que tamanha irritação se deve ao fato de eu ter falado supostamente “a favor” da Apple. Senhores, não podemos ser infantis neste nível. Não sou consumidor da Apple, nunca tive qualquer produto da maçã. E nem se trata disso, pois não estamos discutindo aqui qualidades e defeitos de tais produtos.

    Em nenhum momento do texto, defendi a Apple. Pelo contrário: disse com todas as letras que se a Gradiente registrou primeiro, tem direito ao uso do nome. Legalmente ela pode estar em seus direitos, mas em termos de estratégia empresarial (aliás, o tema do artigo) ela está bastante equivocada. A repercussão negativa do lançamento do seu iPhone (que aconteceu em dezembro) foi tão grande que a empresa brasileira publicou um vídeo se explicando que não se tratava de uma cópia etc.

    Que papelão, senhores! É este o modelo de indústria de tecnologia nacional que queremos? Gostaria de saber quantos dos senhores que condenaram o meu texto comprarão o iPhone da Gradiente para ajudar na construção de uma “indústria nacional de ponta”.

    Isso é patriotismo fuleiro sim, para não dizer coisa pior.

    Ah, e a minha empresa, a Com2B, não é uma agência de publicidade e sim uma editora. A insinuação em um dos comentários é um triste micro indício do nosso macro atraso enquanto nação supostamente desenvolvida. Quero acreditar que seja apenas um perverso efeito da ressaca de carnaval.

    Cordial abraço a todos!

  5. Peraí, tem gente realmente achando que a Gradiente é coitadinha nesse processo? Estão achando mesmo que ela não quis dar uma de malandra?

    Menos, gente. O texto deixa claro que é justo que anGradiente ganhe a causa. Mas não é por isso que vamos bater palmas para a atitude dela.

    Não compro e jamais comprarei nada da Apple que pra mim é grife. Mas não concordo com a “malandragem” usada pela Gradiente.

  6. Adoro o Webinsider, e posso afirmar que esta foi a reportagem mais ridícula e parcial que eu já vi por aqui!!! O Google teve que mudar o nome do aparelho Galaxy Nexus para Galaxy X quando lançou o produto no Brasil, e ninguém questionou nada pois foi o correto, pois quem tinha o direito ao nome era a Nexus Telecom!! Aí vem uma Apple da vida, registra um produto indevidamente por mais de 5 anos no nosso país e ainda sou obrigado a ver um repórter tosco querer defender a Apple!! Se fosse um país sério, a Apple teria que pagar uma indenização milionária, senão bilionária, para a Gradiente!!! Mas em se tratando de Brasil, já sabemos como deve terminar esta história!!

  7. A Com2B foi descartada no último minuto para ser a agencia que ia lançar o iPin da Gradiente? Então esta explicado o artigo favorecendo a Apple.

  8. Em qualquer pais de primeiro mundo não haveria nem o que discutir, a marca pertence a quem primeiro a registrou. Se a situação estivesse ocorrendo nos EUA, a Apple não teria a menor chance.

  9. Eu só posso lamentar um artigo como esse…
    Além de impor as declarações com a frase “E que não me venham com patriotismo fuleiro“ compara ganho legitimo de registro de marca com pirataria.
    Não tenho nenhum produto da Gradiente e nem terei pela baixa qualidade dos produtos, mas é um direito que ela tem de usar o nome e deve utilizar.
    É claro que ela irá negociar este registro, mas isso é uma prática extremamente utilizada em qualquer país, mas aqui não devemos utilizar porque é da Big Apple e devemos abaixar a cabeça toda vez que uma dessas grande empresas tenta ganhar o que não é dela.
    Isso mesmo senhor Bruno Garcia… Continue empresas que colocam nosso país como ultimo da lista em suas diretrizes.
    Você é editor do Mundo do Marketing e sócio da Com2B?
    Vou te enviar uma matéria de como o Marketing no Brasil esta a 1 milhão de anos luz de qualquer país e que nossas agências não tem criatividade, pois só fazem campanhas de caixinha…

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