NewsGames 10 anos: o valor da informação colaborativa

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O ano de 2013 é um marco importante para a Galáxia dos Newsgames. Há 10 anos, o termo surgia sem fazer muito alarde. Com o passar do tempo, a novidade foi ganhando espaço merecido até conseguir provocar a grande revolução no universo das notícias. Apesar do tempo razoável, os poucos autores que se arriscam a tratar do tema ainda não conseguem chegar a um consenso sobre conceitos básicos. Alguns tratam do assunto sem desvincular o novo conceito do velho jornalismo pautado por editoriais.

Há autores que tratam a notícia baseada em suportes de games de forma compartimentada, como se o novo modelo de jornalismo online fosse pautado pelos velhos modos de produção de notícia. Temos que reconhecer que alguma coisa mudou. Ou pelo menos ter a humildade de perceber que as notícias emuladas em tabuleiros de jogos são diferentes daquelas editadas em papel jornal, ou em telas brancas de sites de notícias. Não é concebível mais pensar o conceito de newsgame olhando pelo retrovisor.

Teoria da Gestalt pondera

É um equívoco pensar os newsgames de forma compartimentada em eventos correntes, infográficos, documentários, jogos de quebra-cabeça, ou como meros games de plataforma. Ou ainda dividi-los em subcategorias: newsgame editorial, newsgame tabloide ou newsgame reportagem. Por quê? Pela teoria da Gestalt não se pode ter conhecimento do “todo” por meio de suas partes, pois o todo é maior que a soma de suas partes. Ou seja “A+B” não é a mesma coisa que “(A+B)”.

Mas sim um terceiro elemento “C”, que possui características próprias. Pelo critério da transponibilidade, independentemente dos elementos que compõem um determinado objeto, a forma sempre sobressai. Ou seja, as letras [n, o, t, i, c, i, a] não constituem apenas uma palavra em nossas mentes. Podem evocar a própria imagem de democracia, responsabilidade social e, sobretudo, liberdade de expressão, cujas propriedades não estão exatamente relacionadas às respectivas letras que compõem palavra.

A maior mudança do jornalismo

Com o advento do newsgames, jornalistas ou não, podem participar dos processos de produção, circulação e consumo da notícia. Tudo isso graças ao modelo colaboracionista aberto pela cibercultura, através do qual cada cidadão comum pode pensar, construir e influenciar a sua própria realidade cotidiana em plataformas de jogos que, de alguma forma, atendem às necessidades modernas de customização em massa.

Jogando com a realidade das notícias, os cidadãos podem colocar em perspectiva os problemas relacionados a um evento atual e apontar uma cossolução de forma participativa. Afinal, o jornalismo, desde o Iluminismo, sempre foi um campo propício para o debate de interesses públicos. E ainda hoje se revela um dos modos legítimos para compreender e atuar sobre a realidade. Assim como antes, o jornalismo rodado em plataformas de games se desdobra sobre a mesma importância social de outrora.

Regaste da função social

Se o “jornalismo é a arte de publicar aquilo que alguém não quer que se publique e que todo o resto é publicidade”, como preconiza George Orwell, não seria nenhum absurdo reconduzi-lo ao crivo dos interesses somente sociais. Por isso, a Teoria dos NewsGames, defendida pelo jornalista e professor Geraldo Seabra, encara os games baseados em notícias a partir de uma premissa básica: engajamento social do cidadão.

No organograma proposto por Seabra, as breaking news alimentam a plataforma de jogo por meio de agregadores (feeds) de conteúdo e/ou mediante assinatura (on demand) de notícias. Ao mesmo tempo, as top trends (principais tendências) das redes sociais servem de inspiração para pautar o início de cada trama. A escolha do tema partirá dos usuários (jogadores e empresas) ou pelos chamados NewGatekeepers (novos editores).

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A NewNews e o lugar da pauta social

Diferente da postura hierarquizada de seus antecessores, os novos editores atuam como promotores de ações na busca de cossolução de problemas reais apontados pelas notícias usadas como base narrativa do jogo. Atuam também como novos agitadores sociais, ao propor jogos paralelos de previsão de desfecho de notícias em andamento (news prediction).  É um tipo de quiz que ajuda a pautar o envolvimento local dos usuários.

Visa ainda escolher temas para rodar jogos com relevância social. O simulador de jogo funciona como um tabuleiro de realidade aumentada de cidades geoprocessadas via satélite, colocando em pauta anseios e necessidades de comunidades reais. Todo processo de animação ocorre a partir de ações textuais. Comentários, sugestões, estratégias, propostas e cossoluções se transformam em notícias cartografadas. A soma das ações culmina em novas notícias (NewNews).

Portanto, a chamada pauta social é fruto da produção coletiva de conteúdo. A nova pauta sugere também fontes de notícias diferenciadas focadas em temas sociais. O conteúdo gerado é carregado de demandas sociais, cuja angulação pode servir de inspiração para pautas online. Antes de virar base de conteúdo, todo material passa por filtros de agências de verificação de notícias para certificação de sua procedência.

Empresas atuam como jogador

Assim como os jogadores normais, escolas, ONG’s, governos, sindicatos e entidades sociais, classistas e eclesiásticas podem interagir na trama do jogo: sugerindo pautas, missões, estratégias, propostas e cossoluções para problemas cotidianos das cidades onde atuam. Também algumas empresas de mídia já estão se aventurando a atuar como jogador em games criados por elas, como o portal UOL e a Rede Globo.

No primeiro caso, o newsgame UOL Invest é um simulador baseado em informações reais pautadas pelo índice BM&FBovespa. Além de aprender sobre o mercado de ações, os participantes ainda podem ganhar prêmios, como viagens, cursos e passagens aéreas. Na segunda experiência, a Globo percebeu que pode monetizar atuando também como jogador, ao pautar missões a seus fãs das redes sociais.

Atualmente, o canal por assinatura SportTV (Globosat) é o líder no número de seguidores em seu segmento no Facebook com mais 5 milhões de fãs. Para chegar ao topo, a Globo utiliza como estratégia de monetização o newsgame CartolaFC – um jogo de futebol virtual. Os jogadores são pautados com dados estatísticos das partidas em tempo real.

Como os telespectadores estão migrando da tela grande para tablets e smartphones, o pessoal de marketing da Globo percebeu que os novos dispositivos se tornarão uma promissora fonte de receita no futuro. Mas uma coisa o competente marketing global ainda não conseguiu responder: como traduzir tudo isso em lucros reais?

Content marketing – conteúdo que gera lucro

Apesar de atuar com operadores de marketing agressivo, a Globo anunciou a sua saída do Facebook. Segundo o site da revista Meio & Mensagem, a decisão foi baseada em uma pesquisa anual da Content Marketing Institute (CMI), de Cleveland (EUA), sobre as táticas e ferramentas mais eficientes de comunicação. Em 2012, as redes sociais (87%) foram as mais usadas pelas empresas. Mas, os resultados apontaram que as redes sociais não aparecem nem entre as dez ferramentas de marketing mais eficientes.

No topo da lista estão eventos presenciais (67%), estudos de case (64%), webinars (61%), blogs (59%) e vídeos (58%). Embora sejam mais populares, as redes sociais estão longe de serem consideradas as ações de marketing que geram mais dividendos. A pesquisa caiu como uma bomba dentro da Globo, o que fez a empresa passar a encarar o site de Mark Zuckerberg como despesa e não como um investimento. Com isso, a Globo decidiu retirar do Facebook os links para suas matérias.

O argumento é de que os internautas não clicam no link porque se satisfazem com as chamadas na rede social. Outra razão gira em torno do fato de ninguém conseguir mensurar o retorno sobre investimento (ROI) no Facebook, pois os dados são fechados a sete chaves pelo dono da rede social. Desta forma é quase impossível extrair dados essenciais que revelem quantos internautas são realmente clientes da empresa.

Abaixo ao conteúdo de segunda

A forma de apresentação e a relevância do conteúdo são a chave do enigma da pirâmide do sucesso. Segundo a mesma pesquisa da CMI, os profissionais de marketing B2B apontaram que o conteúdo bem-sucedido começa com uma narrativa envolvente e convincente (81,5%), seguida da originalidade (52,6%) e conteúdo personalizado (49,2%), cópia bem-editada (38,5%) e uma redação profissional (38,3%).  No caso das redes sociais, o problema estaria na baixa qualidade do conteúdo disponibilizado.

Enquanto a forma de apresentação é de primeira, o conteúdo é de segunda. O culto às celebridades e a cultura do voyuerismo empanam qualquer pretensão de marketing sério. Então, como mudar o comportamento do usuário? As empresas devem assumir algum risco e propor envolvimento social dos usuários no lugar onde atuam, enquanto fazem ações de marketing gamification em torno da marca, produto, ou serviço. Afinal, 2013 é o ano da integração de ações de marketing: canais, ferramentas e campanhas.

Eficácia do conteúdo gráfico   

Outro dado da pesquisa CMI revelou que os conteúdos gráficos (gráficos, infográficos, visualizadores de dados, aplicativos, mashups) estão ganhando em eficácia de marketing. Para 43% dos profissionais de marketing B2B, o conteúdo gráfico é citado como o formato mais eficaz de monetização, contra 28% registrados em 2011. Apesar do último lugar dos games (11%) na mesma pesquisa, podemos inserir os jogos como notícia no hall dos formatos de conteúdo considerados nobres em táticas de marketing.

Se por um lado, os newsgames emulam uma narrativa envolvente e original, por outro geram conteúdo personalizado produzido pelos próprios cidadãos e pelas empresas em comunidades onde estão socialmente engajadas. Em uma mesma plataforma, jogadores e empresas podem, pela primeira vez, travar uma experiência única de influência mútua. Logo será difícil diferenciar jornalismo de publicidade, e vice-versa. Então, qual deve ser o próximo produto à venda? Algo que eleve o status da nossa própria cidadania! [Webinsider]

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Luciene Santos, jornalista e especialista em games como informação e notícia. É co-autora do e-book “Do Odyssey 100 aos NewsGames – uma Genealogia dos Games como Informação”. Nascida em BH, está radicada atualmente em Treviso (Itália), onde atua como apresentadora da WebTV do Blog dos NewsGames.

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