A garagem cognitiva do pai de Steve Jobs I

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Com Luciene Santos.

A história da Apple começa a se desenhar em 1955 quando o casal Jobs adota um garoto que mais tarde se tornaria um dos maiores visionários do setor da informática. A nova família se muda para a casa número 2066 da Rua Crist Drive, em Mountain View ao sul de Palo Alto, Califórnia (EUA). Em seu novo lar, as primeiras lições de design de Steven Paul Jobs foram aprendidas durante as horas em que passava na garagem de seu pai adotivo. No filme inspirado na sua biografia, o então garoto Jobs mergulha naquela atmosfera tecnológica de Palo Alto, no início dos anos 1960.

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Aos poucos, Jobs aprofunda-se no campo da eletrônica, cujas habilidades também foram descobertas durante o tempo que passava na garagem do pai. Foi nesse pequeno espaço lúdico que Jobs cresceu. Um ambiente cognitivo favorável para que pudesse desenvolver toda a sua capacidade criativa da forma mais plena possível. O tempo provou isso! Durante o ensino médio, Jobs muda de local e passa a frequentar a garagem do engenheiro Larry Lang, que o introduz no Clube do Explorador da Hewlett-Packard.

Semanalmente, Jobs se reunia com um grupo de estudantes no refeitório da empresa. Em pouco tempo, Jobs seria contratado. Os conhecimentos em eletrônica logo o levariam para o universo dos jogos. Em 1974 é contratado pela Atari e, dois anos depois, ajudaria a criar a Apple Computer INC, empresa que lhe permitiria ampliar a sua capacidade criativa e se tornar o homem que revolucionaria nada menos que seis indústrias:

  1. Computadores pessoais
  2. Filmes de animação
  3. Música
  4. Telefones
  5. Tablets
  6. Publicação digital

A disciplina das dietas

Não seria necessário ler a biografia de Steven Jobs para saber que é preciso haver um ambiente cognitivo básico para que o ser humano possa desenvolver todas as suas habilidades e competências ao logo de sua vida útil. Não foi ao acaso que Jobs se tornou co-fundador da Apple. Grande parte de seu sucesso advém da disciplina das dietas a partir de um ambiente cognitivo favorável – a garagem de seu pai adotivo.

Para se atingir à plenitude cognitiva, cada um de nós precisa construir uma estrutura física e emocional, a partir de um ambiente familiar saudável. Em um mundo cada vez mais competitivo, habilidades e competências caminham juntas e são avaliadas a partir de infinidades de variáveis que compõem o nosso mundo cada vez mais interconectado. Mas que critérios devemos nos cercar para separar o joio do trigo? Essencialmente, os nossos atributos físicos e emocionais são adornados por oito dietas básicas:

  1. Alimentar
  2. Corporal
  3. Emocional
  4. Recreativa
  5. Cognitiva
  6. Midiática
  7. Informacional
  8. Gamificada

Dietas para o corpo e a alma

Da lista acima, as quatro primeiras dietas (alimentar, corporal, emocional e recreativa) devem ser aplicadas de forma concomitante, especialmente até os 15 anos de idade, quando as principais estradas cognitivas foram traçadas, dentro do cérebro, pelo nosso processo educacional (familiar, social e escolar). Não é preciso nem falar da importância das dietas alimentar e corporal para uma vida saudável.

Seguir uma rígida dieta de educação física e nutricional é combustível necessário para gerar a energia suficiente, que dará suporte físico e mental às duras jornadas que enfrentamos. E dentro do universo das dietas físicas englobam-se ainda as dietas emocional e recreativa. Aquelas que nos permitem manter o equilíbrio entre corpo, mente e ambiente. Por isso, essas duas dietas são indissociáveis. Precisam caminhar juntas para o nosso bem-estar.

Dando respostas às crises

Quando propomos uma dieta emocional, estamos nos referindo a tudo aquilo que pode contribuir para otimizar o nosso desenvolvimento psiquico-emocional, principalmente para saber dar respostas rápidas e positivas em momentos de crises emocionais e existenciais. Nesse sentido é importante a perfeita harmonia entre as dietas emocional e recreativa, sem as quais é impossível qualquer busca de solução compensatória.

São atitudes triviais cotidianas, mas que surtem um efeito emocional incomensurável ao logo do tempo, como um singelo passeio com os filhos no parque. Aliás, pesquisadores da Universidade de Illinois (EUA) afirmam que uma simples caminhada de 20 minutos num lugar verde e tranquilo ajuda a elevar a concentração de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O estudo foi publicado no Journal of Attention Disorders.

Como esperado, o passeio no parque foi o mais eficaz que caminhar em uma área residencial (um pouco menos verde), ou uma zona comercial (cinza e barulhenta). Na dieta recreativa, vale ainda ir ao cinema com a mulher no meio da semana, reunir a família para jantar sem data especial, jogar videogame com o filho… São atitudes simples que adornam a estrutura emocional de uma família saudável, pois a rotina é a praga silenciosa que mata qualquer um lentamente.

O lugar da felicidade

Afinal, como afirmam alguns pesquisadores, tristeza e felicidade são sentimentos transitórios. Nem sempre temos o controle sobre eles, mas ações individuais podem controlar a intensidade de cada um. “A felicidade é a vitória do equilíbrio entre as nossas necessidades materiais e espirituais. É a busca de um estado”, explica Ruy Marra, autor do livro “Decolando para a felicidade”.

Segundo o livro The Myths of Happiness  (Os Mitos da Felicidade), da professora de Psicologia da Universidade da Califórnia, Sonja Lyubomirsky, um dos enganos mais comuns sobre o tema é vincular a felicidade à chegada de algum evento, como viagem, filhos, um novo emprego. Não é saudável buscar a satisfação pessoal a longo prazo, na dependência de um fator externo. O nosso bem-estar advém do fato de adotarmos diariamente uma dieta emocional/recreativa balanceada.

Mudanças nas relações humanas

Quando nos referimos à esfera emocional, estamos falando de viver uma espiritualidade saudável, reciprocidade nas relações afetivas e, sobretudo, estamos falando de amor, parafraseando o cantor e compositor Leoni. Não podemos mais pensar o amor apenas a partir da perspectiva do sexo, embora a publicidade insista em vender qualquer coisa baseada em nossos instintos mais baixos.

Como afirma o psiquiatra Flávio Gikovate, as relações afetivas no futuro serão mais pautadas pela afinidade. “Tem aumentado o número de pessoas que buscam parceiros e afins, com os quais se estabelece uma relação de companheirismo, lealdade e confiança recíproca”. Relações desse tipo são estáveis, duradouras e correspondem ao que Gikovate chama de mais amor.

É o único tipo de relacionamento capaz de sobreviver a um mundo em que cada vez é mais interessante ficar sozinho. Um relacionamento em que a individualidade de cada um é respeitada. Colocado desta forma seria puro descompasso cultural questionar a relação entre duas pessoas do mesmo sexo? Na perspectiva tratava por Gikovate, o amor não será mais pautado pelo sexo, mas, sim, pelas afinidades.

Fator emocional de um país

O fator emocional é tão sério que afeta até a identidade de um país inteiro. “A Itália foi o último país a iniciar o processo de recuperação econômica entre todos que integram a União Europeia (UE).” A afirmação é do gerente geral do Banco da Itália, Salvatore Rossi. Segundo ele, “os danos da crise estiveram conosco mais do que em outros países, mesmo que para estes essa recuperação fosse mais difícil.” Podemos citar exemplos, como Grécia e Malta, que praticamente foram à bancarrota.

Então, o que explica a atual situação da Itália? Além do fator ‘burocracia’ e valor das taxas de investimento maior que as praticadas pelos demais países da UE, a questão emocional emerge como uma postura cultural que decorre de um país historicamente fragmentado por diversos fatores sociopolíticos. Mas dois deles ainda pesam no imaginário emocional dos italianos: a derrota nas duas grandes guerras e a recente integração da Itália.

São apenas 150 que separam o país dividido de uma nação que ainda busca a sua identidade nacional. Mas as diferenças regionais ainda são gritantes a ponto de gerar um isolamento cultural do país. As rivalidades culturais entre Sul e Norte são bastante visíveis no cotidiano dos italianos. Nos filmes, essas diferenças são motivo de sátira, mas no cotidiano geram uma espécie de paralisia social que alimenta a gestão da inércia.

Emocional pós-ditadura

Essa questão emocional afeta também os brasileiros. Os resquícios socioculturais de 20 anos de ditadura militar (1964-1985) ainda deixam o povo muito anestesiado. Até hoje, muitas relações familiares são pautadas por códigos culturais de repressão. Como criar talentos em garagens repressivas? O mesmo modelo ainda é reproduzido nas escolas, ambiente cognitivo que não coaduna com uma cultura repressiva. Em julho passado, o brasileiro ousou e decidiu tomar às ruas em defesa de seus direitos violados.

Assim como fez no passado recente no movimento pelas ‘Diretas já’. No auge dos protestos, a presidente Dilma perdeu apoio popular e caiu 24% em pesquisa de avaliação de governo. Mas dois meses depois, Dilma se recupera e passa a ostentar 38% nas pesquisas de intenção de voto, condição que praticamente lhe garante a reeleição. O que acontece com o emocional do povo brasileiro? Em que os uruguaios podem se orgulhar? Talvez, a resposta esteja dentro da garagem cognitiva do pai de Steven Jobs…

Infográfico: a despedida de um gênio

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[Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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