Todo investidor de ações sabe a importância dos fluxos financeiros oriundos dos Estados Unidos na performance da Bolsa de Valores brasileira. É uma dependência irritante na maioria das vezes, sendo que apenas em momentos de ‘descolamentos’ entre os índices dos dois países representa ou um alívio ou uma grande frustração.

Abaixo vou pontuar as razões da importância das decisões políticas e econômicas nos Estados Unidos para os investimentos em renda variável e fixa aqui no Brasil.

Lembremos que em face à crise financeira de 2008, o Tesouro americano vem adquirindo mensalmente bilhões de dólares em títulos do governo e em outros atrelados às hipotecas no sentido de manter os juros cobrados em níveis bem reduzidos.

Assim, em um contexto político complicado, os investidores internacionais começam a duvidar da capacidade de Washington de construir acordos no sentido de evitar a paralisação do governo e o calote de credores dos Estados Unidos. Portanto, é plausível pensar que os players globais passarão a cobrar mais caro para adquirir dívida americana, o que resultará em uma taxa de juros mais elevada. E quais são os impactos no Brasil?

Uma maior taxa básica nos Estados Unidos forçará o governo brasileiro a tomar a mesma providência no sentido de evitar uma indesejada saída de capital do Brasil, que pode resultar em um aumento da taxa de câmbio e um maior nível de inflação. Algo ainda pior pode acontecer.

As reservas internacionais do Banco Central brasileiro são utilizadas para manter o fluxo de capital para o Brasil em um nível considerado benéfico para a economia. Caso as questões políticas americanas se agravem e Washington monte novamente o circo visto recentemente, os investidores cobrarão mais caro para manter os títulos norte-americanos em suas carteiras, puxando a taxa de juros para cima e, consequentemente, secando a liquidez nos emergentes.

Nesse contexto, para manter a oferta de dólares no Brasil, o Banco Central será obrigado a “queimar” suas reservas mediante a venda de moeda americana no mercado de cambio. Em contrapartida, a autoridade monetária irá adquirir reais, reduzindo a oferta de moeda na economia e também interferindo na disponibilidade de recursos para investimentos.

Em conclusão, não é nenhum exagero afirmar que as perspectivas da economia brasileira dependerão dos desdobramentos políticos nos Estados Unidos, profundamente contaminados por ambições pessoais e partidárias. [Webinsider]

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Artur Salles Lisboa de Oliveira

Artur Salles Lisboa de Oliveira é especialista em Escrita Criativa pela Universidade da California Berkeley. Twitter @artur_slo.