A gentrificação das cidades pela perspectiva dos NewsGames

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Gentrificação, uma tradução literal do inglês gentrification, termo que deriva de gentry, cujas raízes remontam o Francês arcaico genterise, que significa de origem gentil, nobre. Tal fenômeno afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local.

Essa valorização é seguida por um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores no local. Também pode significar a reestruturação de espaços urbanos residenciais e de comércio independentes com novos empreendimentos prediais e de grande comércio, ou seja, causando a substituição de pequenas lojas e antigas residências.

A palavra gentrification foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964.

Mas somente no ensaio The new urban frontiers: gentrification and the revanchist city, do geógrafo britânico Neil Smith, que esse processo é analisado em profundidade e consolidado como fenômeno social presente nas cidades contemporâneas. Entre as décadas de 1980 e 1990, Smith identificou vários processos de gentrificação no mundo, especialmente em Nova Iorque, com destaque para a gentrificação no Harlem, e na região do Soho, em Londres.

A gentrificação em São Paulo

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Em São Paulo, o projeto Arquitetura da Gentrificação é encabeçado pela jornalista Sabrina Duran. O objetivo é explicitar como a gentrificação se intensificou na cidade nos últimos anos. Entender processos é também uma forma de resistir, participar e transformar. Três verbos que conjugam com quatro adjetivos da Teoria dos NewsGames: participação, discussão, cogestão e execução de projetos sociais através de plataformas ludo-infomativas.

Com a chancela da ONG Repórter Brasil, o projeto fez um levantamento dos bairros localizados entre os rios Pinheiros e Tietê, centro expandido da cidade, e descobriu que a região tem sofrido intenso processo de especulação imobiliária. A ONG organizou informações divulgadas pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).

A pesquisa centrou-se no preço dos aluguéis com base em levantamentos feitos em 38 bairros da cidade, de março a julho de 2013. Detectou-se que essas áreas estão cada vez mais caras. Foram analisados os valores médios de aluguéis de apartamentos considerados bons e regulares, de um, dois e três dormitórios.

Transformação de dados em mapas

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Todas as informações coletas foram condensadas dentro de um visualizador de dados dinâmico, que oferece um mapa da real situação do processo de gentrificação da maior cidade do país. O valor do aluguel por metro quadrado vem discriminado na seção superior esquerda do mapa. Ao passar o mouse sobre as opções, o usuário visualiza as regiões onde estão localizadas as respectivas áreas, partindo das mais baratas (pontos brancos), passando pelas de custo médio (pontos em degradê), até chegar àquelas consideradas mais caras (pontos vermelhos).

Ao clicar em cada ponto do mapa, surgem informações sobre o bairro referente com os respectivos valores do aluguel (por metro quadro) praticado naquela região em imóveis de um a três dormitórios. No visualizador de dados não há informações disponíveis sobre apartamentos de quatro dormitórios. A visualização só é possível no infográfico abaixo na seção referente às dez zonas mais caras da capital paulista. Nesse mapa estão destacadas ainda as dez regiões de São Paulo onde o custo da moradia é mais baixo.

Basta clicar em uma das opções destacadas acima do infográfico. Ao passar o cursor sobre o nome dos bairros, o usuário pode saber o valor médio do aluguel de apartamentos de um, dois e três dormitórios, referente ao período em que a pesquisa foi realizada pelo Secovi-SP. Em Londres, o site rentonomy disponibiliza um mapa interativo que mostra em tempo real a variação de preços do aluguel na capital londrina.

A Operação Pelourinho

O mesmo processo de gentrificação vem ocorrendo em outras cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Bahia. Aliás, na capital baiana, o principal patrimônio histórico de Salvador passou um recente processo de elitização. O Pelourinho foi revitalizado para atrair turistas, mas acabou ‘expulsando’ moradores da região em função do alto preço do aluguel praticado na região.

Operação Pelourinho, como ficou conhecido o projeto de recuperação de um dos mais expressivos conjuntos arquitetônicos do período colonial brasileiro, poderia ser considerada uma das primeiras operações de gentrification no Brasil. No centro histórico da cidade de Salvador, o Pelourinho sofreu uma reforma ‘relâmpago’ quando em 1992 foi aberta pelo governo do Estado uma licitação para que empresas privadas realizassem a reforma, com um prazo de 150 dias para a conclusão das obras.

Feita em curto espaço de tempo, a reforma foi muito criticada em vários pontos, especialmente por ter sido executada praticamente à revelia das instâncias municipais e federais de preservação. Isso sem dizer da parte mais interessada: o povo baiano. Por isso, esses processos são bastante criticados por alguns estudiosos do urbanismo e de planejamento urbano devido ao seu caráter excludente e privatizador.

Outros estudiosos, como o sociólogo Richard Sennett (Universidade Harvard), consideram demagógico o caráter das críticas, argumentando que problemas urbanos não se resolvem com benevolência para com as camadas mais pobres da população e, na sua opinião, “só se resolvem com alternativas que reativem e recuperem a economia do local degradado”. Tudo bem, mas é uma visão simplista das relações de poder. Onde fica o povo nessa história?

Na perspectiva dos NewsGames, o processo de mudança da arquitetura das cidades pode ser mais lúdico e menos truculento, uma vez que as grandes metrópoles já são berços de violência urbana. Transformar essa ideia em um simulador de jogo informativo pode elevar a participação popular e tornar mais transparente as discussões sobre o plano diretor das cidades. De quebra, equalizar as relações de poder na esfera pública. Tudo isso sem perder a atratibilidade jogável que notabilizaram os games. Se precisar de uma ajudinha, estamos à disposição! [Webinsider]

Luciene Santos, jornalista e especialista em games como informação e notícia. É co-autora do e-book “Do Odyssey 100 aos NewsGames – uma Genealogia dos Games como Informação”. Nascida em BH, está radicada atualmente em Treviso (Itália), onde atua como apresentadora da WebTV do Blog dos NewsGames.

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