Quando a Copa passar já seremos diferentes

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schweden58_fifa_427_1685_full-lndO “Nobel de Economia” Milton Friedman foi certeiro: “Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, vai faltar areia em 5 anos”.

Desde 2010, o Brasil investiu R$ 825,3 bilhões em educação e saúde. Não sei se é muito ou se é pouco; o que tenho certeza é que estes valores ou não são suficientes ou estão sendo muito mal aplicados.

Este é apenas um exemplo da má gestão do dinheiro público, que é desperdiçado pela corrupção e diluído pela incompetência.

Por outro lado, desde 2007, o Brasil conquistou o direito de ser palco de eventos internacionais, como os Jogos Pan-Americanos, os Jogos Mundiais Militares, a Rio + 20, a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações. Os próximos desafios serão a Copa do Mundo, as Olimpíadas e os Jogos Mundiais Universitários, em 2019. Isto sem considerar a visita do papa Francisco ao Brasil e a movimentação econômica gerada pelo Rock in Rio.

Estudo realizado pela Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, estimou que o impacto financeiro, apenas com a Copa do Mundo, será de R$142 bilhões até o final de 2014.

Qual é a relação dos serviços essenciais com os eventos mencionados? Com a palavra, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo: “Desde que o Brasil conquistou o direito de sediar a Copa, investimentos da União em educação quase triplicaram e os destinados à saúde mais que dobraram”.

Justamente esta incongruência entre a teoria política e o pragmático sentimento popular explica porque, a partir do início da organização destes eventos, recrudesceram as recentes ondas de manifestações. Sendo legítimos, os protestos são válidos. E serão justos sempre que exigirem o “padrão FIFA” de comportamento coletivo.

Momento pede lucidez

A mobilização social organizada deve ser amplamente incentivada, mas a ingenuidade é imperdoável. Devemos estar atentos para não levantarmos bandeiras típicas dos aproveitadores de plantão ou postarmos mensagens “sou contra tudo”, típicas do vandalismo politiqueiro. São ações que, ao engessar o raciocínio e cercear a coerência, inibem o sincero movimento de transformação, contribuindo tão somente para aterrorizar o futuro e manter a nociva passividade.

Por outro lado, a tão premente mudança da sociedade passa, previamente, por avaliações nas atitudes individuais, afinal, toda a nossa retórica ficará inconsistente se, como brasileiros, queimarmos a “ordem” e rasgarmos o “progresso” estampados nos símbolos de nosso patriotismo; e se, como cidadãos, atuamos como justiceiros espancando a revolta nas esquinas da violência, depredando sinais verdes daqueles que só querem avançar e assassinando o saudável debate esportivo com vasos sanitários voadores que, na realidade, deveriam limpar dos estádios o superfaturamento orçamentário.

Ou, ainda, movidos exclusivamente por interesses pessoais, agirmos para “levar vantagem em tudo”, como apregoava um comercial de TV na década de 70, estrelado pelo “canhotinha” Gerson.

Estamos vivenciando um momento histórico. Que exige profunda lucidez. O empresário Abílio Diniz alerta que será um papelão fazermos protestos durante a Copa do Mundo, quando os olhos do planeta estarão sobre nós.

Ainda mais contundente é a visão do publicitário Nizan Guanaes: “Não faz sentido achar que festa de aniversário é hora adequada para mamãe e papai discutirem a relação. Poderemos debater nossos problemas com a profundidade e a urgência que eles merecem quando as visitas forem embora. A Copa não é do governo, a Copa é nossa”.

A ponte superfaturada por onde passamos

Podemos torcer, vibrar e nos emocionar tendo, ao mesmo tempo, o discernimento e o bom senso de questionar o que quer que seja, mas “a posteriori”, na ocasião mais oportuna – para o Brasil. Neste sentido, o blogueiro esportivo Rica Perrone colocou a bola no ângulo: “A Copa, vilã de muita gente, é como uma ponte superfaturada. Você não deixa de usar a ponte pra ir trabalhar, deixa? Óbvio que não. Porque você sabe, se for razoavelmente inteligente, que a ponte não tem culpa mas, sim, quem eventualmente a superfaturou. Será que é tão difícil curtir o benefício sem abrir mão de questionar os problemas dele? O futebol não é culpado pela má-fé alheia”.

Sem dúvida, o Mundial não é o responsável pelos males que desde sempre nos afligem. E não se iluda: a crescente decepção com os dirigentes públicos e o profundo descontentamento com os serviços básicos também não se resolvem instantaneamente com um simples “abracadabra”, por mais magia que tenhamos na “Copa das Copas”.

A necessária voz das ruas não deve calar o grito esperançoso da imensa torcida nem ofuscar o brilho das vitórias que, mesmo pelo placar mínimo, não merecem ser jogadas para escanteio. É inegável que muitos avanços, mesmo que tímidos, na infraestrutura, nas telecomunicações e na mobilidade urbana, só estão acontecendo devido ao Mundial. Ricardo Trade, diretor-executivo do Comitê Organizador Local, chama a atenção: “Absortos pelos desafios que o nosso país enfrenta, muitos brasileiros fecham os olhos a tudo aquilo que já conquistamos antes mesmo de a bola rolar”.

Os números realmente impressionam: em obras realizadas nas cidades-sede, foram alocados R$ 17,6 bilhões – que permanecerão como legados permanentes. De cada R$ 1,00 aplicado pelo setor público, R$ 3,40 serão investidos pela iniciativa privada. Segundo a Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas da USP, só a Copa das Confederações movimentou R$ 10 bilhões em 2013 e gerou 303 mil empregos. E a Copa do Mundo, como um todo, vai gerar três vezes mais, adicionando cerca de R$ 30 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2014, além de propiciar 3,6 milhões de novos postos de trabalho, o equivalente a 45 Maracanãs lotados.

As estimativas dão conta de que, com o Mundial – o maior evento midiático do planeta, com 32 bilhões de espectadores em audiência acumulada de todos os jogos -, o Brasil vai superar vários recordes. O jogo final será assistido por quase 50% da população mundial e transmitido por quase 400 emissoras de televisão em 215 países.

Foram 152 mil inscritos no “Programa de Voluntários” e 11 milhões de solicitações de ingressos. Serão 18 mil profissionais de imprensa cobrindo o evento e, de acordo com informações da Embratur, haverá uma movimentação de recursos turísticos de mais de R$25 bilhões apenas durante o mês dos jogos.

Engajamento

Realmente estamos colecionando números inéditos e até mesmo contraditórios. Apesar da insistente campanha #nãovaiterCopa nas redes sociais, a seleção brasileira é a mais seguida do mundo no Twitter e, de acordo com a vice-presidente mundial do microblog, Katie Jacobs Stanton, “esperamos que a final da Copa quebre todos os recordes, tanto em termos de volume de mensagens, quanto no número de pessoas participando de conversas sobre o evento”. O Brasil também se tornou o maior mercado da Panini, editora que publicou o álbum do Mundial. Como brinca o humorista José Simão, “o gigante acordou e está trocando figurinhas”. Quarenta milhões delas são impressas diariamente.

Este ano, a empresa espera ultrapassar os 8 milhões de colecionadores no Brasil e superar os 300 milhões de cromos vendidos. Um recorde! As figurinhas se tornaram “commodities” tão cobiçadas que um caminhão de entrega com 300 mil delas foi assaltado no Rio de Janeiro. Já o “Tour da Taça” atraiu 20 mil moradores em Macapá, número cinco vezes maior de participantes do que o “Dia de Fúria contra a Copa”, que abrangeu o Brasil inteiro.

Esta mobilização é apenas um exemplo de que, no fundo, nós realmente #queremosaCopa! E nem mesmo a inaptidão do governo está sendo suficiente para tirar o fanatismo do povo pentacampeão do mundo. Recentemente, a revista “Veja”, através do Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Editora Abril, promoveu uma pesquisa com seus leitores quando perguntou o que eles pretendem fazer durante o Mundial: 100% dos respondentes revelaram que vão acompanhar a Copa do Mundo. A grande maioria afirmou que pretende assistir não apenas à seleção brasileira, mas também a outras partidas. Para mais de um terço dos participantes, o objetivo é ver o maior número possível de jogos. E 10% deles vão sentir todo o clima da competição ao vivo, nas novas arenas.

A Copa do Mundo vai muito além da “alegria do povo” e dos muitos zeros da vida econômica:

#porcausadacopa… antes de cada uma das partidas, bilhões de pessoas vão assistir à mensagem “Pela paz e contra o racismo”. Que outra ocasião o Brasil teria para encabeçar esta causa tão nobre e pertinente?

#porcausadacopa… uma campanha inédita irá movimentar o país: o “Tour do Carinho”. Trata-se de uma iniciativa da Johnson & Johnson (patrocinadora oficial do evento), que irá percorrer as 12 cidades-sedes para realizar a maior campanha de doação de sangue do Brasil. O objetivo é salvar “um Maracanã de vidas” – o equivalente a 80 mil pessoas.

#porcausadacopa… haverá ações de inclusão social: 50 mil operários que construíram as arenas receberão convites para o show, que ocorrerá no palco erguido por eles. Cerca de 10% do total dos ingressos serão disponibilizados a R$30,00 para grupos etários e sociais específicos.

#porcausadacopa… no primeiro jogo da Copa do Mundo, no Estádio do Itaquerão, em São Paulo, os torcedores vão presenciar também um dos mais emocionantes e recentes progressos tecnológicos feitos pela medicina: o pontapé inicial na bola será de um paraplégico, que dará seis passos. O feito só será possível graças ao trabalho do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que desenvolveu um exoesqueleto mecânico capaz de devolver os movimentos para pessoas com limitações físicas através de comandos dados pelo próprio cérebro da pessoa.

O projeto se concretizou, graças à iniciativa The Walk Again – uma parceria entre instituições de pesquisa dos EUA, Suíça, Alemanha e Brasil. Uma contribuição fantástica da ciência brasileira que bilhões de telespectadores verão ao vivo.

#porcausadacopa… esta será a Copa do Mundo da sustentabilidade ambiental já que, pela primeira vez na história, um jogo deste evento será disputado em um local com uma usina em pleno funcionamento: a Solar Fotovoltaica do Mineirão (MG), que já está injetando mais de 1 MW de energia no sistema de distribuição, e vai abastecer, além do estádio, cerca de 1.200 residências de médio porte.

Sim, #vaiterCopa. Desta vez, mesmo conquistando o hexa no gramado, o Brasil não será integralmente campeão, mas pelo menos fica a esperança de que o país possa aprender as lições e sair da UTI. Agora é vestir a camisa canarinho e bola para frente!

Se quiser “trocar figurinhas” sobre este artigo, é só escrever para mauro@mwcomunicacaoempresarial.com.br. [Webinsider]

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Mauro Wainstock - é jornalista, cronista e editor de livros.

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