Dolby Atmos Reloaded

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Quando uma tecnologia nova de qualquer coisa aparece é muito comum haver um período de descoberta e/ou adaptação dos aspectos que o usuário final não está ainda familiarizado.

Em uma coluna recentemente publicada sobre Dolby Atmos eu fiz menção ao primeiro lançamento em Blu-Ray do novo codec, com o filme “Transformers: A Era da Extinção”, dirigido por Michael Bay.

Por acaso, eu cheguei em uma revenda do shopping center local no exato momento em que o promotor da Paramount estava montando os cartazes de propaganda deste lançamento. Longe de ser um fã da franquia eu ainda assim vi ali a oportunidade de ouro de testar a reprodução do codec nas condições reais de uso.

Aqui é preciso explicar alguns detalhes sobre a reprodução do Dolby Atmos com o uso de um disco Blu-Ray:

Sendo o codec Atmos uma extensão de outro codec (no caso do Blu-Ray a preferência foi pelo Dolby TrueHD), a demanda em cima da velocidade de transmissão de dados (bitrate) aumenta significativamente, a tal ponto que é possível que alguns leitores de mesa não consigam reproduzir o filme sem queda de som (“dropout”) ou até interrupção da reprodução na forma de congelamento ou pausa. E vale lembrar que nós estamos à mercê das idiossincrasias impostas na transmissão do bitstream por HDMI, sem o qual a reprodução não pode ser feita, porque os atuais players não têm decodificar interno para este codec.

Talvez consciente disso e prevendo potenciais desastres no lar do usuário, a Paramount tratou de oferecer vários planos B, na forma de duas trilhas Dolby Digital Legacy, uma 5.1 e a outra 2.0 surround. Estas trilhas só serão necessárias caso o sistema de reprodução empaque com a trilha principal. Normalmente, esta última poderá ser usada para a reprodução da parte referente ao Dolby TrueHD 7.1, em equipamentos que não têm decodificadores para Dolby Atmos.

Uma explicação preliminar sobre a escolha das trilhas é oferecida na tela de setup do disco:

Dolby Atmos-1-1

 

Até hoje, a posição dos laboratórios Dolby sobre Blu-Rays é a de que o aparelho de reprodução deve obedecer a normas e padrões previamente estabelecidos, o que na prática não quer dizer nada, até porque o consumidor não tem acesso a este tipo de informação na hora da compra. A Dolby em nenhum momento fala em bitrate, quando agora se sabe que sem uma transmissão de dados veloz e estável as chances de erro na reprodução da trilha Atmos são muito maiores do que se imaginava.

E aconteceu que, por uma estranha coincidência, o meu aparelho Blu-Ray de mesa, um Oppo BDP-93, começou já há algum tempo a apresentar um erro na reprodução de material de vídeo. Durante a troca de mensagens com o suporte, o pessoal da Oppo me informou que, diante da cobrança de performance em bitrate para o Dolby Atmos, eles não estavam garantindo a reprodução desta trilha pelos aparelhos das séries 8x e 9x. Naquele momento eu já havia feito testes com trailers Dolby Atmos, via USB, sem apresentar problemas, porém este material vem da fonte empacotado em um codec de vídeo comprimido, o oposto dos discos Blu-Ray em termos de bitrate.

Condições de teste

Sem poder dispor do meu velho e bom Oppo BDP-93 eu pedi ao meu irmão o empréstimo de um Sony BDP-S380, que estava encostado na casa dele. Trata-se de um aparelho BD-Live sem 3D, fabricado já há algum tempo. Antes, eu fui verificar a existência de firmware novo para este aparelho, mas não encontrei nenhum.

Há males que vem para bem. Se o Sony passasse nos testes, das duas uma: ou ele é construído rigorosamente de acordo com as tais “normas” apontadas pela Dolby ou este problema de bitrate não é tão assustador assim como andam dizendo. Eu prefiro ficar, por enquanto, com a primeira opção.

Para rodar a trilha eu usei um A/V receiver Onkyo modelo TX-NR737. A conexão por HDMI entre o player e o receiver é obrigatória, e para tal eu usei um cabo HDMI de alta velocidade da minha confiança. O sinal avançou para uma TV 4K, sem qualquer pré-processamento dentro do receiver (opção “Through”).

Para quem não conhece o Onkyo TX-NR737 é preciso esclarecer que o aparelho vem equipado com apenas uma saída alimentadora para caixas Height e Surround Back. Isto reduz as opções de montagem para as configurações Atmos 5.1.2 e 7.1.0 B, esta última escolhida como a melhor, na minha avaliação.

No setup do 737 as opções de montagem para o Dolby Atmos estão disponíveis, com o acesso pela opção “Height Speaker Type”, e elas se referem ao tipo de caixas usadas:

1 – Front High (normalmente usadas para Dolby ProLogic IIz)

2 – Top Front (caixas “in-ceiling” para Atmos, com montagem na parte da frente do teto)

3 – Top Middle (caixas “in-ceiling” para Atmos, com montagem na parte do meio do teto)

4 – Dolby Enabled Speaker (Front)

5 – Dolby Enabled Speaker (Surround)

6 – Not use

N.B.: as opções 4 e 5 podem ser usadas para caixas fabricadas com um módulo Dolby Atmos no topo ou para caixas acrescentadas (tipo “add-on”) com a mesma finalidade.

Selecionando-se a opção 6 (Not (in) use), resta ao usuário indicar ou não a presença de caixas para Surround Back no sistema. Como eu anteriormente usava o formato 7.1, eu passei a ter a configuração 7.1.0 B, ou seja, Dolby Atmos virtualizado com o uso de caixas Surround Back.

Depois de fazer vários testes sem o uso de caixas Atmo, e de angular as Surround Back de várias maneiras, eu encontrei o que seriam as melhores condições de reprodução no ambiente onde elas estão instaladas, e cada usuário terá que fazer o mesmo, de acordo com a sala e com as caixas, aliás nada de novo na estratégia habitual de montagem.

Praticamente todas as configurações e instalações de caixas acústicas estão previstas quando o codec foi projetado. O Dolby Atmos tem escalabilidade suficiente para se adaptar à sala doméstica, não sendo, portanto, um codec excludente. E neste ponto não é prudente “enganar” o setup do receiver indicando caixas acústicas que o usuário não tem. Eu fiz um teste nessas condições e o resultado foi um surround de péssima qualidade, o que é coerente com o fato de que a mixagem foi prevista para funcionar com as caixas existentes no sistema. Se o leitor ler a mensagem na tela com atenção notará que a própria Dolby reforça este aspecto, ao mencionar a “reprodução de som multidimensional sem a restrição de canais – mesmo sem as caixas no teto”, sou seja, o Dolby Atmos irá tocar com as caixas identificadas no setup do decodificador.

O Dolby Atmos foi construído no princípio de “quanto mais caixas melhor”, mas como o número de caixas varia, o codec prevê a adaptação da trilha sonora para as mesmas.

O processo em si não é novo. Quando o Dolby Digital (na época conhecido como AC3) foi lançado nos videodiscos durante a década de 1990, o codec previa que o usuário poderia não estar equipado com caixas 5.1 (a maioria ainda usava Dolby Prologic que é um formato 4.0 matricial). Então a Dolby introduziu um processo chamado de “downmixing”, que consiste na redução de canais, de 5.1 para o número de canais instalados. O ajuste é feito no decodificador automaticamente, a partir do momento em que o usuário instala as suas caixas e informa no setup do processador ou receiver que caixas são essas.

Em contrapartida, quando o número de caixas é maior do que o número de canais contido no codec o processo se inverte, e é por isso chamado de “upmixing”. Tal é o caso de trilhas 2.0 surround, remixadas para 4.1, 5.1, 6.1 ou 7.1, por exemplo.

Como o Dolby Atmos é montado com um número muito superior ao de caixas usadas, tanto no cinema como em casa, ele irá prever o processo de “downmixing”, a não ser que a mixagem já esteja preestabelecida para um número de canais específico. É o caso, por exemplo, da trilha do filme Transformers, lançado para 7.1 canais.

Apreciação

Toda apreciação é, por natureza, subjetiva e esta a seguir deve ser lida com a necessária cautela. O disco usado para a descrição a seguir não é 3D nem contem cenas em IMAX.

“Transformers” parece ter sido propositalmente o tema escolhido para inaugurar uma trilha Dolby Atmos em disco. A reprodução se “transforma” do surround tradicional para um surround muito mais envolvente, mesmo com as limitações de caixas no ambiente.

Logo que o filme se inicia é possível ter uma ideia desta transformação. E trocando-se momentaneamente para a trilha 5.1 do disco pode-se ter uma exata noção da perda da informação circundante.

Esta perda não é pequena. E quem está acostumado com trilhas 6.1 ou 7.1 discretas irá observar a presença de som na parte fronteira superior da sala, mesmo sem as caixas Atmos. A ausência destas últimas dificulta saber se os resultados seriam muito diferentes caso elas fossem instaladas, e pelo menos em uma análise do disco que eu tive chance de ler esses dias, os analistas correram para as instalações da Panasonic, para conseguir decodificador e caixas apropriadas para as comparações e conclusões a este respeito.

Um outro aspecto que conta para esta diferença é a instalação de caixas surround na altura “padrão” de cerca de 2/3 da altura máxima das paredes, o que provavelmente ajuda a melhor dispersão do som surround da trilha Atmos. É possível que usuários que instalam caixas surround em estante pousada no chão e sem caixas Atmos não consigam ter a mesma percepção dos efeitos.

Crítica

De uma maneira geral, a trilha Atmos contida neste disco inaugural apresenta uma qualidade superior às trilhas que eu ouvi recentemente.

Por outro lado, ela vem carregada de uma quantidade absurda de efeitos de baixa frequência e ruídos de tudo quanto é sorte, tornando a audição cansativa em vários trechos do filme.

Acrescente-se a isso à duração do filme de 02h45min, rodando praticamente o tempo todo com cenas barulhentas de ação e combate. Quando não, só a presença de uma das naves ou robôs é suficiente para fazer a sala toda tremer, e nos deixando desejosos de ter assistido aquilo tudo em um estúdio com isolamento acústico, para não assustar os vizinhos.

Não sendo fã desta franquia, eu me torno suspeito para afirmar que o filme em si é muito longo para o quase inexistente desenvolvimento da estória e da trama. Eu sei que eu não deveria ser muito exigente em filmes projetados para tipos específicos de plateia, mas do jeito que este em particular se apresenta, somente os fãs é que poderiam se contentar com o conteúdo incipiente nesta magnitude.

Por outro lado, cabe salientar a excelência do processo de captura da imagem e a qualidade da mesma transcrita para o Blu-Ray. Rodado quase todo com câmera digital de 2K, a produção usou película em algumas cenas, e a gente percebe nitidamente a presença do grão fotográfico nas mesmas.

Demanda de reprodução

Levando este disco ao computador, e rodando em ambiente Windows 8.1 com alguns programas leitores, ele mostrou duas coisas: a primeira, com o Nero Blu-Ray player, que o aplicativo consegue reproduzir a trilha Atmos, mas é incapaz de identificar que tipo de trilha é aquela, mostrando na tela DTS 6.0. A segunda, com o Aiseesoft Blu-Ray player e o popular VLC, que nenhum dos dois consegue reproduzir a trilha Atmos, e assim se é obrigado a trocar para o plano B (Dolby Digital 5.1) acima citado.

A explicação me parece óbvia: nem o sistema operacional (alguém imagina a Microsoft dando suporte a Blu-Ray?) nem os aplicativos são dotados de decodificador Dolby Atmos. O do Nero ainda consegue ignorar a extensão Atmos, mas não sabe de que base é.

Finalmente, cabe um último comentário sobre o Sony BDP-S380: o aparelho, apesar de conter tecnologia ultrapassada, não apresentou problema algum para reproduzir a trilha Dolby Atmos, mesmo pausando o filme ou trocando para as outras trilhas e voltando à original.

O Sony S380 consegue ler o bitrate da trilha sonora em separado. Ela varia de 4 a 6 Mbps, que é um valor alto, e se soma ao do vídeo, dando um total de cerca de 36 Mbps aproximadamente.

É difícil saber por enquanto quantos Blu-Ray players terão problemas em reproduzir esta e outras trilhas Atmos. Mas, diante dos resultados obtidos, eu posso me arriscar em dizer que é possível não ser tão problemático ou alarmista quanto dizem os técnicos. [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Oi, Abílio,

    Diante da sua indagação, eu fui reler o meu texto, para ver onde tinha errado, mas o que eu afirmei é que o disco com Atmos que eu reproduzi apresentou um valor em torno de 36 Mbps, portanto não correlacionado com os limites da mídia.

    Você tem razão em questionar estes números, entretanto, porque as especificações publicadas raramente computam algumas variáveis, como por exemplo, o somatório dos bitrates de áudio e vídeo, se a fonte é 2D ou 3D, e assim por diante.

    Existem limitações e problemas também a nível do transmissor HDMI. Na época em que eu rodei este teste e estava com problemas de travamento no meu Oppo BDP-93 eu recebi um e-mail da Oppo dizendo taxativamente que aquele modelo não era adequado para reproduzir trilhas Atmos. Eles alegaram terem feitos testes no laboratório e recebido queixas de clientes a este respeito. No final, concluíram que o problema estava ligado à conexão HDMI. Quando a trilha Atmos era reproduzida, a demanda em cima do chip de transmissão travava a reprodução. Eu não pude comprovar isso na época, porque o meu aparelho estava inconfiável.

  2. Blu-ray tem 36 Mpbs de bitrate total? Meu aparelho mostra o bitrate, e já vi em várias cenas encostar em 40 Mbps de vídeo.

    Procurei em algumas fontes, inclusive algumas da BDA, e listam 54 Mbps totais e no máximo 40 para vídeo.

    Essas informações são confiáveis?

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