Trabalhando com imagens fotográficas digitais

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Com a inundação no mercado de aparelhos celulares equipados com algum tipo de câmera nota-se que o consumidor brasileiro se viu tomado de uma verdadeira obsessão em capturar imagens, por vezes, diga-se de passagem, longe de ser uma contemplação da natureza ou das reuniões das pessoas da família.

Mas, o fato em si é altamente positivo, sob o ponto de vista da observação e da preservação da memória, porque, caso contrário esta última ficaria exclusivamente por conta do olhar do observador.

E é isto, em última análise, o que a imagem fotográfica se propõe a ser: a preservação na forma de uma captura, de um momento vivido por alguém ou por um grupo. Além disso, é uma forma de arte que fala por si própria e que encanta gerações desde que foi inventada.

Os fabricantes de telefone perceberam que a integração de aplicações poderia ser facilmente incorporada ao aparelho de forma eficiente, desde que ele trabalhe com a ajuda de um sistema operacional, o qual roda de forma transparente ao usuário, por conta da sua interface gráfica. Ou seja, ninguém nunca precisará digitar nenhum comando na linha de algum prompt, a pessoa simplesmente descobre a maneira como completar tarefas dentro do aplicativo que está rodando.

No momento três sistemas operacionais dominam este cenário: iOS (para os produtos Apple), Android (da Google, para a maioria dos demais fabricantes) e o Windows Phone (para os Nokia Lumia e similares).

A captura de imagens é também, pelo que se observa, fortemente estimulada pelas mídias sociais, seja da internet, seja das emissoras de TV, que encorajam o espectador a documentar eventos e mandar para os sites das emissoras.

A inclusão de uma câmera fotográfica em um celular ou tablet, com capacidade de capturar vídeo não nos causa mais nenhuma surpresa, e sem dúvida passou a estimular o consumo de modelos mais modernos, nos quais a sofisticação e o aperfeiçoamento são de fato incríveis.

 A fotografia digital

A fotografia digital é resultado de três elementos básicos: sensor de captura (CMOS ou CCD) + lentes + software. Nos telefones e em muitas câmeras inteligentes, o software é uma combinação entre o sistema operacional e um dado aplicativo, sendo que para os telefones é possível perceber a melhor imagem de um aplicativo quando comparada com outro similar.

A imagem capturada pelo sensor é armazenada na forma de um mapa de bits. Câmeras profissionais fazem este armazenamento 1:1 e salvam a imagem em um arquivo sem compressão. Nas demais câmeras a captura é armazenada de forma comprimida, e geralmente o padrão é o JPEG.

A imagem nativa é chamada genericamente de RAW (do inglês, “sem refinamento”). A imagem RAW pode ser armazenada na memória da câmera ou do telefone e depois trabalhada com um programa editor de fotografia. Fotógrafos profissionais por unanimidade consideram os programas Adobe Photoshop e Adobe Lightroom os aplicativos ideais para manipular e depois converter ou imprimir profissionalmente fotos RAW.

A imagem RAW contém todas as informações necessárias ao refinamento na pós-produção, o que permite ao usuário especialista trabalhar a imagem do jeito que quiser. O mesmo não se pode dizer de uma imagem JPEG, porque ao se comprimir a informação original uma série de dados da imagem ficam perdidos e sem chance de recuperação. Na prática, pode-se dizer que uma imagem JPEG é editável, mas com muitas limitações. Por causa disso, é procedimento comum guardar-se a imagem RAW para trabalhos mais sofisticados.

As imagens RAW são pesadas, cerca de 20 MB ou mais de espaço de memória. Este peso dificulta o pós-processamento em computadores mais antigos ou naqueles desprovidos de adaptadores de vídeo com pouca eficiência de co-processamento. Por isso, quem gosta de trabalhar com imagem deve se preocupar primeiro em ter um sistema com uma plataforma operacional, boa CPU, disco rígido ou SSD e memória RAM generosos, e o melhor cartão gráfico que o orçamento permite comprar.

Um dado importante é que toda a imagem RAW tem embutida uma versão JPEG da imagem nativa. E como cada fabricante de câmera tem seu formato exclusivo de arquivos RAW, esta cópia JPEG permite que a imagem possa ser vista em qualquer computador. Ou até mesmo que a imagem possa ser impressa.

A existência de formatos diferentes de arquivamento para a imagem RAW não deixa de ser uma dor de cabeça para o usuário que tem mais de um marca de câmera. Uma tentativa recente de “organizar a bagunça” foi tentada pela Adobe, ao criar o formato DNG (Digital NeGative). E a própria Adobe fornece o conversor RAW para DNG, de modo a que se possa trabalhar com um padrão só.

O DNG é um formato de software aberto e, portanto, não implica em royalties para arquivamento ou uso de imagens, aplicativos, etc. A observação direta do formato em plataforma operacional Windows exige um decodificador, mas este é fornecido gratuitamente pela Adobe.

O codec DNG pode ser baixado e instalado, permitindo que fotos RAW em formato DNG possam ser vistas no Windows Explorer ou qualquer aplicativo semelhante como o “Fotos” da interface nova do Windows 8/8.1 ou no “Photo Viewer”, pequeno utilitário embutido no Windows, ótimo para imprimir imagens.

 O DNG nos telefones Nokia Lumia

Alguns modelos dos telefones Nokia da série Lumia são capazes de fotografar imagens DNG em plataforma operacional Windows Phone 8.1, e isso tem dado a estes aparelhos uma boa reputação pelos adeptos de fotografia. Afinal, são telefones do tipo Smart (ou Inteligentes, se quiserem), e tem por isso um mesmo um monte de recursos que a maioria das câmeras mais sofisticadas não tem como, por exemplo, conexão com o servidor da nuvem, para fazer backup das imagens ou gravação dos dados do GPS para a identificação do local onde a foto foi tirada.

Os modelos Lumia 1520, 1020 e mais recentemente o 930 dão suporte ao formato DNG. As observações a seguir são baseadas no uso deste último. Com a atualização para a versão Denim do Windows Phone 8.1 é possível usar o aplicativo Lumia Camera no Lumia 930 gravando vídeo com até 4K de resolução e fotos RAW no formato DNG, com até 20 MP de resolução. Para tal, basta o usuário entrar no aplicativo, e depois nos ajustes de configuração, escolher vídeo ou foto. A resolução para foto é mostrada na captura a seguir:

image001

 

A câmera do 930, com lentes Carl Zeiss Pure View, captura fotos DNG fazendo cópia imediata (“on-the-fly”) para JPEG em resolução menor, como mostrado na ilustração acima, para imagens 16:9.

A propósito: o leitor desta coluna já poderá ver imagens JPEG capturadas em um Lumia 930 nas últimas colunas publicadas, sem qualquer tipo de pós-processamento. A imagem JPEG é excelente para exibição na internet, por conta da renderização dos navegadores. Além disso, a carga de memória é bem menor, com uma compressão razoável. Algumas das minhas capturas excedem o tamanho permitido pelo Webinsider, mas isto é facilmente resolvido com um aplicativo capaz de reduzir o tamanho em bytes da foto até este limite, sem prejuízo da qualidade.

Depois da imagem capturada o telefone da Nokia armazena dois arquivos, um deles com a imagem DNG e a outra, com a informação JPEG contida na mesma. Se as fotos da câmera forem copiadas para a nuvem ou compartilhadas somente a versão JPEG será usada. E se, por acaso, as fotos forem apagadas da memória do telefone ambos os arquivos (JPEG e DNG) serão deletados.

Para poder preservar a imagem DNG é preciso lançar mão de um cabo USB, que ligue o telefone ao computador. Dentro do Windows Explorer o Windows Phone é automaticamente reconhecido. Os arquivos das imagens (DNG e JPEG) são facilmente achados no diretório de fotografias do telefone. Se o usuário não instalar o codec DNG da Adobe ele verá uma imagem com um dado nome de arquivo e ao lado o seu corresponde DNG, sem imagem e com a sigla DNG acrescida ao nome do arquivo e não na extensão. Instalando o decodificador o nome do arquivo DNG muda para acrescentar a sigla na extensão, como mostrado a seguir:

JPEG: WP_20150512_10_40_10_Raw.jpg

DNG: WP_20150512_10_40_10_Raw__highres.dng

Se o usuário não tem Photoshop ou Lightroom ele poderá usar um software alternativo. Um aplicativo muito bom para quem não tem grandes pretensões de pós-processamento é o FastStone Image Viewer, que pode ser usado gratuitamente por pessoas físicas sem interesse comercial. O programa permite ver imagens DNG sem a instalação do codec da Adobe. Permite ainda fazer alguns melhoramentos e mais importante imprimir o resultado ou converter para outro formato.

Uma alternativa um pouco mais ambiciosa é o programa do projeto LightZone. Para baixar o aplicativo é preciso fazer uma inscrição no site, mas não há cobrança envolvida. O editor é bastante poderoso para qualquer foto RAW, mas ele não se propõe a ser um substituto do Photoshop. No site existem vários vídeos para orientação do usuário inexperiente.

 A impressão de fotos DNG

Não é possível imprimir uma captura RAW ou, no caso, DNG, diretamente. Se o usuário possui um programa conversor (por exemplo: Able Rawer , da Graphic Vision, gratuito) ele poderá converter para qualquer formato sem compressão, como o TIFF ou equivalente.

Programas como Photoshop ou Lightroom são os mais indicados para imprimir fotos RAW/DNG. Eles permitem baixar perfis de impressoras profissionais e assim converter a imagem original para as informações que a impressora é capaz de entender e dentro do espaço de cor permitido pela mesma.

Impressoras não profissionais como, por exemplo, as da linha Stylus Photo da Epson e vários tipos da marca Canon permitem ainda assim impressões de excelente qualidade, respeitadas as limitações de cada modelo. Mas, se usadas para imprimir fotos RAW (DNG) sem nenhuma conversão ou driver adequado a imagem impressa poderá ficar escura, sem exibir detalhes e com a cor exageradamente saturada.

 Tipos de impressora jato de tinta

Se o usuário não quer usar uma impressora profissional e não tem um programa com mais recursos, ele pode pelo menos prestar atenção para os recursos da impressora que deseja comprar e ver como ela compõe as cores.

Toda impressora jato de tinta tem que ser obrigatoriamente seguidora do padrão CMYK: Ciano, Magenta, Amarelo e Preto. Mas, uma variedade de modelos modifica este padrão para incluir tons intermediários, mesmo nas impressoras não profissionais. É o caso das que operam com o formato CcMmYK (Ciano, Ciano claro, Magenta, Magenta claro, Amarelo e Preto).

Em alguns modelos acrescenta-se ainda um cartucho preto específico para impressões com cor. A presença da cor preta (K) na impressão colorida foi introduzida bem no início das fabricações de impressoras com jato de tinta. Antes disso, a combinação de CMY (Ciano, Magenta e Amarelo) não dava o tom de preto correto (parecia meio esverdeado). A composição da tinta preta é complexa e os fabricantes procuram “esconde-la” na fabricação de seus cartuchos.

Existem vários tipos de tinta que podem ser usadas, sendo as principais e mais populares as tintas com corantes e as tintas com pigmentos. A Epson foi a primeira a introduzir tintas pigmentadas, logo seguida pelos demais fabricantes.

As tintas pigmentadas contêm partículas que variam de tamanho e cor. São consideradas de eleição para preservação de imagens impressas, devido à durabilidade e estabilidade da cor ao longo dos anos. São consideradas ainda preferências para arquivamento de imagens.

As partículas das tintas pigmentadas podem, entretanto, se tornarem uma enorme dor de cabeça para o usuário final, porque elas tendem a se sedimentar e depois entupir os condutos de tinta e as cabeças de impressão. Alguns fabricantes de tinta incluem substâncias para dificultar o entupimento, mas mesmo assim o problema não desaparece. A quem usa tinta pigmentada é recomendado nunca deixar a impressora parada por mais de quinze dias ou às vezes, dependendo da tinta, por mais de uma semana.

As tintas corantes não são as ideais para a preservação de imagens impressas, porém os resultados com a impressão em papel brilhante (glossy) ou fosco (matte) são muito melhores do que aqueles obtidos com tintas pigmentadas. Como as tintas corante são solúveis em água, a chance de entupimento das cabeças existe, mas é mínima.

Algumas coisas novas devem, no entanto, serem consideradas: muitas tintas corantes têm excelente durabilidade, por causa da inclusão de protetores químicos contra luz visível e ultravioleta, que são agentes físicos que descoram a imagem. Por outro lado, a formulação de papéis de impressão mais recentes faz com que determinados tipos de papel sejam mais adequados para um ou outro tipo de tinta.

As tintas pigmentadas (ou mais especificamente as suas partículas) se depositam no papel no momento da impressão, e as tintas corantes precisam penetrar na malha interna do papel, que é normalmente composta por fibras de celulose. Vários modelos de papel tem secagem rápida, eliminando um super problema no uso de tintas corantes. Depois de totalmente secos a tinta da imagem não escorre nem colocando debaixo da torneira. Além disso, uma das formas de aumentar o tempo de preservação da imagem impressa com tinta corante é coloca-la em uma moldura coberta com vidro que absorve luz.

 Espaços de cor

A imagem DNG (RAW) capturada na câmera ou telefone não tem espaço de cor definido, mas pode ser convertida para o espaço de cor desejado, com a ajuda de um programa ou até dentro da própria câmera.

O espaço de cor é definido em teoria e pode ser aplicado a qualquer equipamento que tenha capacidade de reproduzi-lo. Praticamente todas as câmeras fotográficas digitais são capazes de armazenar imagens no espaço sRGB, aquele mesmo usado nos monitores de computador. Algumas câmeras permitem que a imagem seja convertida da imagem RAW da captura para um determinado espaço de cor diferente, como Adobe RGB ou até ProPhoto RGB.

No diagrama de cromaticidade abaixo o leitor poderá observar as diferenças nas gamas de cores dos diferentes espaços, indo de sRGB para Adobe RGB e finalmente ProPhoto RGB, em ordem crescente.

image003

Na prática, isto significa que as câmeras convencionais, como as portáteis, terão a sua capacidade de capacidade de reprodução de cores imediatamente reduzidas, de RAW para sRGB. Porém, se a câmera consegue armazenar na memória a imagem RAW (DNG) o usuário poderá usar a mesma para fazer esta conversão fora da câmera e através de um aplicativo apropriado.

Esta conversão, entretanto, só terá sentido se for encontrada uma finalidade específica, como o uso da imagem para impressão em equipamentos de alta resolução. É neste ponto que programas como o Adobe Photoshop e o Adobe Lightroom são úteis, porque eles se adaptam ao tipo de impressora profissional usada.

Impressoras não profissionais poderão dispor de um driver capaz de trabalhar com um desses espaços de cor, como por exemplo, o Adobe RGB, e aí basta converter a fotografia RAW para Adobe RGB e imprimir.

 Histogramas de imagens capturadas

O histograma é uma representação gráfica estatística baseada na contagem da incidência de dados iguais de uma determinada população. Ele pode ser usado em fotografia digital computando-se o número de pixels por cor de uma determinada imagem.

Esta computação pode ser feita dentro da câmera ou fora dela, através de um programa de tratamento de imagem. O histograma de uma imagem pode representar a plotagem da luminosidade (luminância) ou das cores em conjunto (RGB) ou individuais (R, G ou B).

image005

O objetivo é ter uma ideia da intensidade do que é capturado. Normalmente observa-se uma curva em forma de sino, tendendo para um lado ou para o outro, dependendo das condições de luz ambiente na hora da captura.

Na parte esquerda do gráfico estão representadas as intensidades de luminância das áreas com menos luz e na direita as áreas com mais luz.

Quando a curva se desloca totalmente à esquerda é sinal de que a imagem capturada ficou subexposta e, ao contrário, o deslocamento à direita mostra uma imagem superexposta. Em ambos os casos ocorrerá uma obliteração ou desaparecimento das áreas de sombra e dos detalhamentos da mesma. Se a câmera fizer uma análise in situ, com a ajuda do histograma, o usuário poderá evitar capturar uma imagem com falta ou excesso de luz.

 Fotografia e diversão

Deixando de lado a baixaria das imagens que percorrem os escândalos diários da mídia, fotografar é um hobby para muitos e uma forma de guardar memória para outros. Em qualquer hipótese, a evolução das câmeras digitais permite o mais amplo espectro de uso, seja pelos modos automáticos e inteligentes de captura, seja pelos métodos mais sofisticados de ajuste da câmera e pós-produção.

Todos os parâmetros da fotografia analógica convencional se aplicam. Assim, aqueles que um dia fizeram algum curso explicando coisas como abertura e velocidade do diafragma, sensibilidade do filme, etc., poderão usar este conhecimento para uso na fotografia digital, se assim o desejarem. E com a vantagem do processo de captura em si ser incomensuravelmente mais econômico: se a imagem não agrada basta apagar e fazer outra!

Por outro lado, esta baita economia precisaria se acompanhada de bom senso. Armazenar fotos significa espaço de memória e excesso de imagens que nunca mais serão vistas. O projetor tradicional de slides foi substituído por um programa e uma tela de televisão, e é muito comum nas pessoas que eu conheço mostrar as fotos uma vez aos amigos e depois guarda-las para sempre.

Se existe algo que a imagem digital tem de bom é pegar aqueles negativos e cópias em papel de fotos antigas e submete-los a um scanner competente ou até mesmo a uma boa câmera montada em uma estativa, na qual podem ser usadas lâmpadas especiais ou até incandescentes, com ótimo resultado.

Diz o ditado que uma imagem vale mais do que mil palavras. Fotos podem trazer de volta os bons momentos que a vida nos proporcionou e isso, eu lhe garanto, não tem preço!

Agradecimentos:

Eu gostaria de agradecer os esclarecimentos que me permitiriam terminar de escrever este texto, generosamente compartilhados pelo meu compadre Dr. José Carlos Diniz, cujo site de astrofotografia merece ser visitado. [Webinsider]

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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