Trabalhando com imagens fotográficas digitais – Parte 2

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Eu quero deixar logo bem claro que eu não sou fotógrafo nem aspiro a ser um. Na verdade, eu tenho admiração pelos que assim o são, e o Brasil é pródigo de bons fotógrafos, principalmente na área jornalística. Quando se chega a um nível de um Sebastião Salgado, por exemplo, alcançando fama no exterior, a gente tem diante de nós pessoas com sensibilidade semelhante aos bons cineastas documentaristas. Na prática, é a visão do ser humano substituída pelo visor da câmera e pela composição da imagem fotografada. Em última análise, a boa fotografia guarda muitas vezes o momento histórico, e neste caso a gente nem se importa com a qualidade da imagem capturada.

Mas, como já foi comentado nesta coluna em um texto anterior, fazer fotos virou mania de quem tem ao seu alcance um telefone, tablet ou algo semelhante. E com imagens digitais, cujo gasto é ínfimo quando comparado aos filmes 35 mm, não custa nada experimentar coisas novas e se envolver com isso.

Na minha adolescência as melhores câmeras eram também muito caras e geralmente só quem adotava o hobby é que tinha interesse em adquirir bons modelos e lentes. Por isso, as minhas melhores fotos foram todas tiradas com câmeras emprestadas. Uma vez, um colega de trabalho me pediu para testar uma lente teleobjetiva (não me lembro com que alcance) com uma câmera Asahi Pentax Spotmatic.

Essa Pentax tinha um medidor de exposição TTL (“Through the Lens”), inédito naquela época, mas apenas em um ponto da imagem (daí o nome de “Spot” na descrição do modelo) e geralmente no centro. Com isso, condições que poderiam afetar a medição nas áreas adjacentes não são contabilizadas. Este tipo de medição era considerado como de grande precisão e talvez por isso a câmera ganhasse sua fama entre os aficionados.

A graça da fotografia nesta época eram também revelar e ampliar, e isso era factível até em casa, para fotos em preto-e-branco. Havia segredos a serem descobertos ou aprendidos nos livros, e tudo isso ajudava a tornar o hobby fascinante para os seus participantes.

Por outro lado, o uso de lente teleobjetiva dá a vantagem ao fotógrafo de capturar imagens a distância do objeto, mais fácil quando se quer obter espontaneidade da pessoa fotografada. Ela funciona bem inclusive para close-ups e portraits. Eis aqui uma imagem da minha filha mais velha tirada do álbum da família, onde ela está distraída observando a paisagem da varanda, em um dia típico de verão do fim da década de 1970:

image001

 

A imagem foi digitalizada de uma cópia em papel sobrevivente. Com o devido cuidado estas cópias duram uma eternidade. A vantagem óbvia é guardar o momento, que é especial e a gente nunca quer que acabe. O tempo passa, e depois haja saco para aturar os filhos… Aliás, uma colega pediatra no hospital universitário costumava brincar conosco, chamando adolescente de “aborrecente”, e a gente sabe que as descargas hormonais típicas desta fase impedem que seja diferente. A fase da criança, desde que sadia, é, ao contrário, rica de momentos inusitados. Eu tive colegas homens que acabaram se casando outra vez depois de velhos, só para viver tudo isso de novo.

Méritos do ambiente digital

A imagem fotográfica digital ganha significativa vantagem quando se trata de aplicar uma programação inteligente dentro e fora da câmera. Fotos inconvincentes ganham vida através de um aplicativo capaz de trabalhar a imagem.

Enquanto o fotógrafo amador de outrora montava uma câmara de revelação em um quarto escuro, hoje isso é feito em um programa. O importante para se conseguir milagres com uma imagem é a capacidade do sensor da câmera em guardar o máximo de informações e salvá-las junto com a foto.

É por isso que as imagens RAW (sem refinamento) têm a preferência no momento da “revelação”. É mais fácil refinar exposição e outros parâmetros em uma foto RAW, mesmo com a inexperiência natural de quem nunca manipulou uma imagem digital. Por exemplo, uma foto originalmente um pouco escura ou sem detalhes nas áreas de sombra pode ser compensada eletronicamente, sem perder qualidade, e com apenas pequenos ajustes. O compósito abaixo mostra em cima a imagem original e em seguida a versão modificada com um mínimo de ajustes:

image003

O importante nos ajustes é sempre ser conservador quando se é inexperiente, e o ideal é trabalhar com programas que editam a foto sem alterar o original, a chamada edição não destrutiva. E, na dúvida, é sempre recomendável fazer cópia do original antes.

 Os valores de sempre

Mesmo o fotógrafo ocasional, que deseja algo mais do que simplesmente tirar uma foto no modo automático das câmeras, deve se obrigar a conhecer um mínimo dos conhecimentos básicos de ótica e dos controles e notações das câmeras.

Tudo aquilo que um dia aprendemos para a fotografia analógica, papel ou filme, pode ser usado literalmente para a fotografia digital. Alguns desses conceitos existem nas câmeras modernas, e com os mesmos valores, que descrevo resumidamente:

1 – Velocidade do obturador:

O obturador é o dispositivo da câmera que abre e fecha em uma determinada velocidade, de maneira a permitir momentaneamente a passagem de luz para o sensor. O ajuste da velocidade é representado por números que indicam frações de tempo, por exemplo, 60 é igual a 1/60 avos do segundo, e assim por diante. Nas câmeras antigas, existia um ajuste chamado de B (“Bulb” ou “Bulbo”), que abria e ficava aberto até que o operador o fechasse manualmente. Nas câmeras digitais, a velocidade de abertura atinge valores elevados, como 1/16000, por exemplo.

Nas tomadas de objetos ou pessoas em movimento a velocidade do obturador é importante para a captura correta e sem distorção. Em câmeras digitais é possível programar a captura dando prioridade à velocidade do obturador. Neste caso, o computador de bordo ajusta primeiro esta velocidade, congelando objetos em movimento. O resto dos ajustes é feito de acordo com as limitações da luz incidente no sensor.

2 – Abertura do diafragma:

Em toda câmera existe um diafragma, localizado dentro da lente utilizada. No centro dele existe uma íris (semelhante à do olho humano), cuja pupila se abre ou fecha de acordo com um ajuste feito pelo operador, deixando passar mais ou menos luz. O ajuste da abertura é determinado por passos fixos, e com o auxílio de números discretos (1.4, 2, 2.8, 4, 5.6 8, 11, 16, 22, etc.).

Cada número desses diz ao operador que o diafragma abre até uma determinado ponto e para. Cada valor de abertura é determinado pela relação entre a distância focal da lente e o diâmetro efetivo da pupila para uma dada abertura. A notação usada é a do número f (“f-number”). Da mesma forma, o ponto de interrupção da abertura é conhecido como “f-stop”.

Os números de parada têm uma relação inversa com a abertura: quanto menores os números maiores as aberturas das pupilas. Em contrapartida, quanto menor o número da abertura, menor também será o campo focal da imagem. Assim, se o fotógrafo quiser uma maior área de objetos da imagem em foco ele deverá optar pelo maior número f possível como, por exemplo, f8, f16, etc.

A matemática dos números f é simples e definida pela fórmula N = F/D, onde N é o número f, F é a distância focal da lente e D o diâmetro da pupila. N não tem dimensão porque ambos os valores de F e D são medidos em milímetros.

Se invertermos a fórmula, veremos que D = F/N, o que leva a notação de abertura para f/N ou f/N (por exemplo: f/16 ou f/16).

A abertura de diafragma e a velocidade do obturador estão interligadas. Na prática, isto significa que para uma dada sensibilidade do sensor, ao abrir o diafragma a velocidade de exposição deve ser menor, e vice-versa. Quanto menor for a abertura do diafragma maior será o campo focal da imagem capturada, portanto em um local com muita luz, eu posso usar um f-stop pequeno (por exemplo, f8) e compensa-lo com uma velocidade do obturador compatível.

As câmeras digitais fazem esta computação automaticamente ou permitem que o usuário possa fazer a medição manualmente, com a ajuda do software interno.

3 – Exposição de luz no sensor:

O valor de exposição (conhecido como “Exposure Value” ou EV) é calculado pela câmera digital de modo a se conseguir um balanço entre velocidade do obturador e abertura do diafragma que atinja o meio da escala de cinza (nem mais claro nem mais escuro). Ou seja, capturar o máximo possível de áreas claras e escuras, sem perder detalhes em ambas.

O ponto 0 (zero) da escala de EV é calculado dentro da câmera. O fotógrafo pode, entretanto, alterar a escala para cima ou para baixo, se desejar enfatizar mais as zonas claras ou as mais escuras, respectivamente. O ajuste pode também ser feito após a imagem ser capturada, com a ajuda de um aplicativo.

4 – Sensibilidade do sensor:

Aquilo que nós no passado classificamos como sensibilidade do filme se aplica integralmente aos sensores das câmeras digitais. A única diferença era que com o uso do filme analógico o valor de sensibilidade é fixo e na câmera digital é variável e ajustável. E as medições são as mesmas: 100 ISO para baixa sensibilidade e valores acima de 1000 ISO para o contrário.

Baixa sensibilidade é sinônimo de baixo grão (filme) e baixo ruído (sensor). Valores mais baixos permitem ampliações da imagem com mais qualidade. Em ambiente digital, considerando-se impressões em papel fotográfico A4, é preferível deixar o ajuste da câmera em Auto.

Sensores de má qualidade costumam exibir um nível de ruído alto em ambientes com pouca luz. Em contrapartida, sensores de alta qualidade conseguem trabalhar com luz ambiente e sem flash, com excelentes resultados.

5 – Distância focal da lente:

Em qualquer tipo de fotografia (analógica ou digital) a qualidade da lente é metade do caminho andado. Por isso, existem lentes de todos os tipos e preços, de maneira a permitir a escolha da lente certa para um determinado tipo de aplicação.

A distância focal é medida em milímetros. Ela é a distância entre o ponto nodal traseiro de uma lente e o sensor da câmera.

Lentes entre 35 a 50 mm são lentes que mais se aproximam do campo de visão do olho humano, quando o mesmo está observando uma determinada cena. São, por isso, consideradas “lentes normais”. Valores mais baixos aumentam este campo de visão e por isso a lente é chamada de “grande angular”. Mas, à medida que a distância focal aumenta o ângulo de visão diminui, e com isso objetos que são diminutos a grande distância se tornam mais próximos do observador: são as lentes chamadas de “teleobjetiva”.

Lentes podem ser classificadas arbitrariamente, de acordo com a distância focal. Uma dessas classificações pode ser esta feita abaixo:

1 – Lente ultra grande angular: 14 a 24 mm.

2 – Lente grande angular: 24 a 35 mm.

3 – Lente “normal”: 40 a 50 mm.

4 – Lente teleobjetiva moderada: 85 a 105 mm.

5 – Lente teleobjetiva convencional: 150 a 300 mm.

6 – Lente teleobjetiva de longo alcance: acima de 300 mm.

As lentes podem ser ainda do tipo “fixo” (chamadas de “prime”), com o comprimento focal em um único valor, ou com comprimento focal variável (lentes “zoom”).

6 – Campo focal:

É importante que até mesmo o fotógrafo ocasional ou amador tenha noção do que é o campo focal, para evitar perder uma boa imagem. E não é preciso aprender física para entender este conceito, basta observar a imagem a ser capturada. O campo focal é definido mais precisamente como “profundidade de campo”, onde se podem ter objetos mais à frente ou mais para trás completamente “em foco”.

A profundidade de campo é afetada pela abertura do diafragma e pela luz ambiente: quanto menor a abertura e maior a luz, maior será o campo focal. A qualidade do foco depende também da qualidade da lente, e é por isso que as lentes ou câmeras mais caras são dotadas de componentes trabalhados à exaustão.

 Fotografias HDR

A imagem HDR (“High Dynamic Range”) ainda está no futuro imediato das telas de TV, mas ela é conhecida em fotografia há mais tempo. Ela consiste na fusão de imagens com valores de exposição (EV) diferentes, de maneira a se conseguir aumentar os detalhes nas áreas de sombra e nas áreas de luz, sem deixar a fotografia ficar sub ou super exposta.

Para montar uma foto HDR é preciso capturar a mesma cena em valores de EV para menos e para mais, como por exemplo: – 2, 0 e +2.

Existem várias maneiras de se obter uma imagem HDR e a fusão pode ainda ser feita na própria câmera. Quando não, o fotógrafo pode usar um modo pré-programado na câmera ou ajustar ele mesmo a mesma cena com valores de exposição diferentes. Neste caso, é preciso usar um aplicativo capaz de alinhar e fundir as imagens obtidas. Teoricamente não há limites para o número de fotos a serem fundidas, mas é preciso observar a equivalência dos valores de exposição. Por exemplo, se for tirada um foto com EV = -2 deve-se repetir a captura com Ev = +2, e assim por diante. E como o zero da escala reflete todos os meios tons, é preciso inclui-lo no processo de fusão também.

 Considerações finais

Existe na Internet uma quantidade apreciável de blogs e cursos sobre fotografia aos quais o leitor pode e deve, na minha opinião, recorrer, se quiser aproveitar um pouco mais a câmera que se está usando.

Os modos automáticos de câmera, mesmo nas mais sofisticadas, são ótimos para quem não quer esquentar a cabeça com ajustes complicados ou simplesmente ter certeza de capturar o momento da melhor forma possível. E geralmente os resultados são muito bons, em alguns casos até próximo do trabalho de um fotógrafo experimentado.

O importante é saber que existe espaço para todo mundo no mundo da fotografia, e caberá ao usuário decidir em que nível de trabalho ele irá ficar.

[Webinsider]

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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