Composição, enquadramento e montagem em imagens fotográficas

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A imagem fotográfica, de instantâneos ou do cinema, tem sempre a mesma base metodológica para composição e enquadramento. O cinema acrescenta a montagem, por se tratar de parte da linguagem de uma imagem em movimento, mas nada impede que o fotógrafo faça um compósito, que não deixa de ser um tipo de montagem.

Quando eu ainda era adolescente e estudava cinema (teoria, técnica e crítica), ainda que de forma introdutória, eu aprendi conceitos sobre câmera alta e câmera baixa, termos esses cunhados no Brasil por um Padre Jesuíta da PUC-Rio, que deu algumas aulas de técnica como convidado, mas cujo nome eu não lembro mais.

Diz a lenda que durante a filmagem de Cidadão Kane, Orson Welles estava fazendo uma tomada de cena com câmera baixa mas estava percebendo que o ângulo ainda não estava correto. E aí o genial diretor de fotografia Greg Tolland teria dito que “mais baixa a câmera não poderia ficar”. Isso porque a tomada, do jeito que estava, ou cortava os pés dos atores ou as suas cabeças. Foi quando então Welles pegou um machado e começou a destruir o assoalho do estúdio, fazendo ali um buraco, onde a câmera finalmente ficou. O incidente está ilustrado no filme de TV “RKO 281”. Welles queria uma tomada com o corpo todo dos atores incluído na cena.

Se a gente fizer uma retrospectiva do que cineastas antigos conseguiram no cinema, a gente vai notar que para tudo existe uma primeira vez. Charles Chaplin, por exemplo, fez a câmera andar para manter o enquadramento, durante o curta “Easy Street”, e este teria sido um dos primeiros, senão primeiro, “travelling” de câmera criativo. John Ford cansou de usar câmeras sem movimento algum, em tomadas de longa duração, e sem necessariamente destruir o ritmo do filme. Alfred Hitchcock estabeleceu as bases do cinema de suspense alterando o ângulo da câmera para cima ou para baixo. Este tipo de tomada está bastante evidente no filme “Psicose”.

 O olho da câmera

Meus professores de técnica de cinema diziam a todo instante que a câmera é o olho do cineasta, ou seja, você na plateia “vê” o que os realizadores dos filmes veem. Isto é particularmente verdadeiro para o cineasta documentarista, que intenciona mostrar aos outros as cenas de uma realidade que só ele enxerga. Talvez tenha sido isto o que Jean Luc Godard tenha dito quando afirmou que “o cinema é a verdade a vinte e quatro quadros por segundo”. Na verdade, e isto é notório, o cinema é um entretenimento escapista, e como tal, ele está mais próximo da fantasia do que da realidade. A “verdade” para valer é privilégio dos documentaristas, e provavelmente por isso a nouvelle vague tenha se valido deste tipo de linguagem em diversos de seus filmes.

O visor que existe na câmera convencional ou na tela de TV que monitora a tomada de cena (“Video Assist”) é o dispositivo que permite a composição da imagem, tanto na câmera fotográfica quanto na de cinema.

A composição fotográfica se refere à disposição no campo visual de pessoas ou objetos, dispostos em determinada ordem. E para concretiza-la é preciso enquadrar a imagem no visor ou na tela traseira da câmera.

A tendência natural do fotógrafo iniciante ou amador é enquadrar o objeto principal no centro da imagem. Uma das regras básicas da composição mais esmerada e mais criativa é, entretanto, baseada na divisão da tela em quadrantes: é a chamada “regra dos terços”, que propõe o contrário. Ela sugere que o fotógrafo divida a área fotográfica em uma matriz 3 x 3, ou seja com três linhas e três colunas. Tendo feito isso, uma das primeiras iniciativas é tirar o objeto principal do centro da matriz, de modo a iniciar o processo de composição. A ideia é exibir na captura componentes que tenham algum tipo de significado, como por exemplo, objetos do ambiente que ajudem a identificar onde a foto foi feita. Câmeras modernas permitem inserir a matriz (chamada de “grade”) no visor ou na tela, facilitando ao operador o emprego desta regra.

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Na imagem acima, que mostra um amigo e ex-colega da universidade em viagem conosco, o detalhe que identifica o local onde ele está pode ser encontrado nos dois quadrantes superiores do lado esquerdo: o cartaz de rua do antigo restaurante Girassol, em Penedo, Rio de Janeiro.

Ninguém é obrigado a seguir regras quando fotografa ou filma. A imaginação é o elemento mais importante, neste caso, do processo criativo. Técnicas como a regra dos terços, entretanto, ajudam o fotógrafo a pensar.

 A composição no cinema

O cinema é fruto de três elementos básicos: roteiro, filmagem e montagem. No roteiro, procura-se estabelecer quais serão as tomadas, chamadas genericamente de “planos”. Muitas vezes, para ajudar a se conseguir capturar um plano, o cineasta recorre a um “storyboard”, uma espécie de revista em quadrinhos que ajuda a visualizar o que irá aparecer depois na tela. A seguir, é mostrado um exemplo deste tipo de composição:

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A assistente de Alfred Hitchcock Peggy Robertson disse em entrevista que o mestre fazia ele mesmo ou mandava fazer os storyboards e nem se sentava perto da câmera na hora das tomadas. Ele simplesmente dizia aos técnicos onde colocar a câmera. O cineasta tinha o “olho da câmera” na sua própria cabeça, e obviamente confiava na capacidade da sua equipe.

Os planos descritos no roteiro são “colados” na mesa de edição. Os americanos e ingleses usam a palavra “editing”, enquanto que países de língua latina costumam chamar esta colagem de “montagem”.

A montagem é um dos grandes trunfos do cinema. Na montagem pode-se salvar ou arruinar completamente o filme. Durante a montagem, o técnico e/ou o diretor tem que decidir quanto tempo dura um plano. A técnica de contagem é chamada aqui de “minutagem”. Esta contagem é importante, porque ela irá dar ritmo na cadência do filme. Cenas de ação, por exemplo, pedem minutagem curta. Aqui abro um parêntese para fazer crítica ao que se convencionou chamar de “montagem MTV’, que é a colagem de planos com minutagem de 2 a 3 segundos cada. Pessoalmente, acho esta técnica confusa e desnecessária e sempre me lembra que ela parece encobrir falhas de tomadas ou dos roteiros.

Na montagem é possível se fazer uma série de truques de fotografia. E o principal criador desses truques foi, sem dúvida, Georges Méliès.

A montagem nas mesas de edição antigas era feita com corte físico do negativo e fita adesiva ou cola com um produto químico transparente. De tempos para cá a montagem é feita por software, depois da película digitalizada.

 As controvérsias nas montagens

Quando Roman Polanski filmou A Dança dos Vampiros, a M-G-M remontou o filme e tirou cerca de vinte minutos do original. Polanski ficou uma fera, e negou-se a identificá-lo como diretor. De fato, o filme deixou de ser dele. Nós aqui no Brasil, por sorte, assistimos o filme antes dos cortes. Anos mais tarde, o cineasta foi chamado para recuperar o que foi perdido, mas a montagem neste ponto não conseguiu salvar algumas cenas, talvez por falta dos negativos.

Pior foi a vingança contra Orson Welles, criminosamente perpetrada por aqueles que se ressentiram do cineasta ter tido carta branca para fazer Cidadão Kane. Quando Welles filmou “The Magnificent Ambersons” (no Brasil, “Soberba”), o filme foi violentamente cortado e algumas cenas refilmadas. Ainda assim, muitos consideram o melhor filme feito pelo cineasta. Mas, a verdade é que com quase uma hora de cortes, não há obra prima que resista.

 A criatividade não tem limites para quem pretende dizer ou contar alguma coisa

O cinema poderia já ter morrido, com a “modernidade” dos meios de comunicação, mas não foi isso o que aconteceu. E ouso dizer que se tivesse morrido iria ressuscitar depois, porque o ser humano gosta de contar estórias ou de se expressar com a ajuda de uma imagem fixa (fotografia, pintura) ou em movimento.

Contar uma estória é, na minha opinião, um dos maiores triunfos do cinema norte-americano. Eles fizeram isso com competência, desde os primórdios do cinema mudo. E se Orson Welles tem algum mérito importante em Cidadão Kane, é o de contar a saga de um personagem sem uma estrutura cronológica previamente definida. Na realidade, as regras de continuidade são quebradas propositalmente: o filme começa pelo fim. E isto, notem bem, muitos anos antes dos cineastas da Nouvelle Vague francesa tentarem a mesma coisa.

E quando a gente pensa que já viu tudo, aparece sempre algo novo, o que demonstra inequivocamente a imensa criatividade que se tem guardada e que encontra algum meio novo de expressão. [Webinsider]

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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