Crowdfunding com finalidade pública: o caso da Grécia

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Gostaria de comentar essa notícia histórica, sob o ponto de vista do uso de financiamento coletivo (crowdfunding) direcionadas ao Poder Público ou a problemas ligados ao setor público.

Feliz ou infelizmente, o caso emblemático é a Grécia, já altamente desacreditada pelos credores mundiais e em uma rota de colisão financeira sem precedentes a países da zona do euro. Contudo, a crise mostrou-se o meio a viabilizar uma das campanhas mais históricas, inovadoras e impressionantes até o momento, com a mobilização mundial em torno do caos da crise grega.

IGG_Greece_Bailout_infographic_070715Foi lançada no site Indiegogo uma campanha idealizada por um britânico, buscando financiamento coletivo para ajudar o pagamento da dívida grega e socorrer os milhões de gregos que estão vendo suas economias evaporarem dos bancos. A campanha pedia a arrecadação, via doação e mediante recompensas, do valor de EU$ 1,6 bilhão de euros.

A lógica da campanha foi bem simples: se pegasse o total da dívida, e dividisse pelo total de habitantes da zona do euro, cada um poderia ajudar a resolver o problema grego com apenas EU$ 3,00. Isso mesmo, três euros! O número de doadores precisaria ser de mais de 500 milhões de pessoas… mas a iniciativa apontou um norte, até então pouco explorado, e que temos insistido já há algum tempo, especialmente em nossa obra “Dinheiro da Multidão: burocracia x oportunidades no crowdfunding nacional”.

A campanha já foi finalizada e não foi ativada. Era uma campanha de tudo ou nada, ou seja, apenas seria arrecadado todo o valor para o fundo grego se atingissem o valor total pleiteado. Contudo, apesar de não ter sido ativada, a campanha mostrou que surpreendentes 109.000 (cento e nove mil) doadores acessaram o site e doaram! O volume de financiadores é o maior da história do financiamento coletivo. A campanha rompeu todos os recordes (valor pleiteado, segmento do projeto, inovação publica, volume de participantes).

O valor arrecadado ao final foi de mais de EU$ 1,9 milhão de euros, uma quantia alta se comparado a media de projetos e mercado de crowd. Ainda mais se tratando de uma questão ligada a uma crise pública.

O idealizador, independentemente de ter concluído ou não a campanha, alertou para o problema e mostrou que sim, mundo afora existem milhares de pessoas que estão dispostas a financiar questões humanitárias (sim, a crise está sendo tratada como humanitária!).

Um infográfico criado pelo próprio site mostrou que a origem dos valores ao redor do mundo e os povos que mais doaram, impressiona! Veja no final do texto.

Com toda essa movimentação, não poderíamos deixar de assinalar que, para o Poder Público, trata-se de um instrumento fortíssimo de mobilização social, especialmente em países, estados e municípios em estados críticos financeiros. Instrumentos como este, se bem utilizados, podem transformar de maneira totalmente inovadora, a realidade de povos inteiros.

Apesar do governo grego não atribuir caráter oficial a campanha (já que ela foi iniciada por um estrangeiro), admite-se que o motor que incentivou o envolvimento humanitário na campanha foi exatamente a natureza e forma das recompensas por cada doação.

As recompensas, além de baratas, seriam todas enviadas por empresários gregos, ou seja, movimentariam, além de tudo, o comércio grego! E essa vinculação demonstrou ser uma ferramenta fortíssima para motivar financiadores a aderirem a campanhas.

Abaixo, uma pequena análise objetiva e que poderia ser aplicável a projetos de financiamento coletivo para o setor público em todo o mundo:

  • Simplicidade da campanha e da explicação dos motivos – de forma clara, objetiva, fácil de entender e curta;
  • Indicação clara de que a campanha não tem finalidade lucrativa, mas sim, social;
  • Definição clara e objetiva das recompensas, em um número suficiente para atender diversos gostos e bolsos;
  • Valores de doação pedidos bem baixos, estruturando-se a campanha para financiamento em massa, não em concentração individual por doação;
  • Sinceridade em informar que a campanha pode não dar certo, mas que todos os esforços serão aplicados para que ela ocorra;
  • Proposta de transparência na demonstração da entrega e transferência dos valores ao povo grego ou a instituições nacionais que administrariam os fundos;
  • Utilização de recompensas produzidas pelo povo grego, ou seja, autenticas. Outro ponto forte foi o envolvimento do empresariado grego;
  • Amplificação mundial da campanha;
  • Gestão de risco e devolução imediata de valores, caso a campanha não se efetivasse.

Como venho dizendo em outras matérias, credibilidade e transparência são as palavras de ordem desse mercado! Imaginem 109.000 pessoas que precisem ser atualizadas, informadas ou reembolsadas em uma campanha desse nível? Imaginem se essa crença, essa identidade com o problema, for simplesmente desrespeitada?

O caso mostra a viabilidade do uso de financiamento coletivo para questões públicas, desde problemas nacionais, estaduais, municipais e ate mesmo da minha rua, do meu condomínio! Afinal, se as pessoas perceberem que os valores serão tratados com respeito e responsabilidade, não terão receio em doar e subsidiar campanhas. Mas elas precisam ser bem sucedidas!

Eu diria, sem medo de errar, que essa campanha tornou-se o maior estudo de caso, até o momento, de projetos de crowdfunding para fins sociais, políticos, humanitários e públicos! [Webinsider]

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Vinicius Maximiliano é advogado corporativo, gestor contábil e financista. Autor do livro Dinheiro na Multidão – Oportunidades x Burocracia no Crowdfunding Nacional.

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