Caixas Atmos-Enabled para fazer em casa

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Devido à necessidade de implementar processos de adaptação das trilhas Dolby Atmos, uma série de montagens alternativas foram propostas pelos laboratórios Dolby, dedicadas ao ambiente doméstico. Passa a impressão que os proponentes deste codec entenderam claramente que muitos usuários não podem ou não querem usar o teto da sala como local de instalação de alto-falantes ou caixas, ou simplesmente gostariam de desfrutar do som do Dolby Atmos sem alterar em demasiado o layout de caixas acústicas atualmente em uso, o que eu acho justíssimo.

Pensando nisso, e me incluindo neste último grupo, eu resolvi partir para a montagem de um par de caixas Dolby Enabled do tipo “up-firing”, que nada mais é do que um sonofletor apontando os alto-falantes para cima. Segundo fontes da Dolby, a inclinação dos alto-falantes deve estar entre 10 e 30 graus. Notem que não há valor específico citado, o que nos dá a chance de fazer uma montagem com unidades sonofletoras com várias opções de drivers existentes no mercado.

E foi um amigo meu que é dedicado ao áudio quem me chamou a atenção para alto-falantes BSA montados em ângulo para instalação no teto ou na parede, dedicados aos projetos de home theater. E dentre esses eu acabei escolhendo o modelo SAK6, dentro das especificações que melhor me interessaram. Mas, o leitor tem liberdade de escolher um modelo similar, nas características elétricas e acústicas que melhor lhe interessarem, e usar os mesmos princípios de montagem aqui demonstrados.

O estímulo que me mais me impulsionou a tentar construir eu mesmo caixas Dolby Enabled “up-firing” foi ter tido a chance de ver caixas deste tipo no comércio local com um custo acima de 6500 pratas, o que é, convenhamos, demasiado para este tipo de produto.

A construção das caixas

Uma das grandes vantagens do uso de alto-falantes como o SAK6 reside no fato de que eles são projetados para trabalhar com o chamado “baffle infinito”, onde não há limite teórico para o volume da caixa onde o alto-falante é instalado ou, se quiserem, limite da distância entre a traseira do driver e a parede mais próxima.

Conversando a este respeito com o suporte técnico da própria BSA eu confirmei que não precisaria me preocupar com o volume interno da caixa acústica e, consequentemente, do seu tamanho. Isto fez com que eu automaticamente me preocupasse com o tipo de madeira a ser usada. Em tempos áureos se usava compensado marítimo quando se queria montar uma caixa acústica. Como eu não entendo patavinas de madeira, eu recorri ao meu compadre, que com a sua generosidade habitual se propôs ele mesmo a fazer o par que em precisava, recomendando o uso de MDF marítimo, que é bastante rígido e leve. A madeira não pode entrar em ressonância e vibrar com o som produzido pelo alto-falante, sob risco de provocar distorção incontornável na reprodução do com. O raciocínio é válido para pedestais também, e eu já tive a experiência de trocar pedestais para eliminar distorção de um par de caixas de boa qualidade.

A caixa SAK6 é na verdade um conjunto de dois alto-falantes (woofer/médio e tweeter) montados em uma estrutura pré-desenhada de ABS de alto impacto. A rede divisora é acoplada na parte traseira deste conjunto, com duas presilhas com mola, de maneira a fixar a fiação externa, portanto sem soldagem envolvida. Os alto-falantes são montados com ângulo fixo de 20 graus, mas o tweeter é pivotante, podendo ter a sua orientação mudada se desejado. Neste tipo de projeto, eu achei conveniente não alterar a posição de fábrica do tweeter (reto e coaxial), forçando o conjunto para emitir som em uma única direção. O driver para graves e médios tem cone de Kevlar, que é de aplicação moderna, conferindo rigidez e leveza necessárias para um ótima performance.

Antes da montagem na caixa de madeira, a estrutura dos alto-falantes precisa ser parafusada em um arandela, e o conjunto pousado depois na superfície do topo. A arandela trabalha com um conjunto de quatro parafusos cada um em um clamping, os quais uma vez acionados fazem com que eles prendam a estrutura toda por baixo, e desta forma permitindo total vedação e sem necessidade de se furar nada na superfície onde a SAK6 será instalada.

A fiação interna e mais os conectores ficam a critério de quem monta. E eu escolhi instalar um par de plugues fêmea do tipo banana. Na ponta do conector a fiação pode ser rosqueada ou inserida com um pino de anel redondo, o qual se conecta facilmente ao fio com um alicate. Tudo isso elimina o uso de ferro de soldar, o que hoje em dia eu acho ótimo, mas ninguém é obrigado a fazer desta maneira.

Internamente se coloca, por precaução, algum tipo de material absorvente, que tanto pode ser espuma, algodão ou lã de vidro. Uma vez instalada a fiação e a estrutura pousada em um recorte da tampa (ver nas fotos abaixo), basta apertar a retenção e depois das caixas testadas, colocar as tampas de acabamento.

Note que alguns fabricantes estão instalando alto-falantes angulados em um recesso escavado no topo das caixas. Este tipo de instalação é problemático porque pode provocar a difração do som emitido pelo alto-falante. Creio não ser por acaso que nestes casos se observa a inserção de espuma nas paredes do recesso. Mas, no caso da montagem que eu fiz, a estrutura com os alto-falantes faceia a tampa da caixa, impedindo a difração do som emitido.

Finalmente, depois de tudo pronto na base das caixas foram instalados protetores autoadesivos anti-impacto da 3M transparentes, capazes de aguentar 9 kg de peso.

A sequência ilustrada da montagem é mostrada a seguir:

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Ajustes:

O receiver atualmente em uso na minha instalação impede a conexão de caixas Height (Atmos) junto com as caixas Surround Back, o que me obrigou a desconectar estas últimas e modificar o setup, indicando a presença de caixas Dolby Enabled na posição frontal. Embora não seja radicalmente obrigatório, eu preferi assentar as caixas no topo dos canais esquerdo e direito frontais como, aliás, é recomendado para este tipo de instalação.

Infelizmente, o receiver não permite o ajuste de nível de pressão sonora e nem da distância das caixas, o que não deixa de ser uma limitação grave. Por outro lado, ele permite acertar a frequência de corte, mas não houve necessidade de se mudar os 80 Hz default para frequências mais altas, como recomendam alguns especialistas. Caso haja alguma mudança interna na curva de resposta de frequência destes canais, ela passa transparente ao ouvinte.

Resultados e conclusões

O leitor deve tomar cuidado na interpretação do que está descrito abaixo, já que se trata de uma observação pessoal e subjetiva, destituída de qualquer processo de medição.

Eu já havia feito testes preliminares com a SAK6 ao ar livre e com resultados interessantes, mas o encaixe dessas unidades em baffle adequado melhorou e tornou bastante evidente a qualidade do surround espacial.

Logo em uma das primeiras cenas de “Transformers: A Era da Extinção” um dos personagens joga uma bola de futebol americano para o chão, ela resvala e sobe até encontrar uma vidraça. Eu ouvi distintamente o estilhaçar do vidro na parte alta próxima ao teto à direita, o que torna convincente a renderização pretendida.

O objetivo do Atmos e de qualquer outro processo 3D é criar uma abóboda sonora em torno de quem está sentado ouvindo, não necessariamente a dispersão de sons vindos do teto. E esta atmosfera parece ser criada não somente pelas caixas Atmos da frente, mas também pelos dois canais surround adjacentes. Os meus canais surround estão instalados nas paredes, próximos do gabarito original do Dolby Digital. É possível que caixas surround instaladas mais abaixo, ao nível dos ouvidos de quem está sentado possam não exibir o mesmo efeito.

Resultados similares aos meus foram encontrados pelos analistas do HighDef Digest, um dos quais (Joshua Zyber) trocou comigo vários e-mails sobre áudio no passado distante, e merece a minha credibilidade, até prova em contrário. Eles dizem, e eu concordo totalmente, que ainda é cedo para se chegar à conclusão do que é a instalação Dolby Atmos ideal, em face do custo alto da amplificação. E concordo também que se deveria continuar a tentar outros layouts, porque a omissão do surround back poderá ter enorme influência nos resultados obtidos para se conseguir a atmosfera construída pela mixagem.

Não creio ser mera coincidência o fato de que nós todos fizemos testes com caixas Atmos com alto-falantes próximos da superfície. Eles usaram caixas prontas, desenhadas pelo projetista britânico Andrew Jones para a Pioneer, que inclusive prefere e advoga as caixas Enabled no lugar das caixas no teto, alegando menos direcionalidade e melhor surround. O topo das caixas Pioneer mostra a inclinação feita diretamente na madeira, com os alto-falantes (woofer/médios + tweeter concêntrico) faceados no topo da caixa. Todas as caixas Atmos da Pioneer seguem este design.

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Embora não se possa descartar a hipótese de que caixas no teto possam ser mais eficientes do que as caixas Enabled, só o fato de que a instalação no teto exige um monte de pré-requisitos, tais como altura do pé direito da sala, superfície totalmente plana, etc., nem todo mundo poderá fazer este tipo de instalação, com o risco de o resultado ser idêntico ou até pior do que com caixas Enabled “up-firing”.

Outro detalhe que chama a atenção é a elevação da trilha sonora, acima das caixas frontais esquerda e direita. No filme “Gravidade” a mixagem leva os diálogos para o mesmo plano, e desviados em todas as direções. Eu confesso ter sido a primeira vez que eu ouvi este tipo de recurso e sou assim obrigado a reconhecer que a mixagem é exemplar.

Dolby Atmos Upmixing

Um dos benefícios da instalação de caixas Atmos é o uso do recurso Dolby Surround Upmixer (ou DSU), que é chamado por convenção de “Dolby Surround” pelos fabricantes de receivers e processadores. Este nome foi adotado no passado distante para a reprodução de trilhas Dolby Stereo dentro de casa, com a ajuda de decodificadores passivos (antes do Dolby ProLogic). Agora, Dolby Surround uma vez acionado mimetiza o som Dolby Atmos para trilhas que vão de 2 até 7 canais, independentes do codec usado.

Para o leitor que não sabe ainda do que se trata, esclareço que “upmixing” é o processo de remixagem em tempo real (“on the fly”) de programas com número de canais mais baixos para um número de canais superior. O processo é previsto em metadados contidos no codec, mas neste caso o Dolby Surround avalia o número de canais da trilha, reconfigura a mixagem e promove a renderização espacial para o layout de caixas Atmos.

Finalmente, seja com DSU ou com trilhas Atmos originais, a adoção de caixas acústicas no padrão Atmos me parece ser de grande valia. Ainda mais que o DTS:X, quando lançado, promete se adequar ao número e ao layout de caixas instaladas no sistema. Mesmo o Auro3D poderá, segundo do seu criador, se adequar ao layout Atmos, o que nos leva a concluir que a adoção de caixas Atmos, se possível, não se revelará como tempo perdido, para se desfrutar da tecnologia do áudio 3D. [Webinsider]

Postscript (07/11/2015): as caixas descritas na coluna trabalham agora com amplificação 9.2 canais, em layout 7.1.2 Atmos. Os resultados são bem melhores, quando comparados com a configuração 5.1.2, e eu credito a diferença pela presença mais uniforme do surround com a contribuição das caixas traseiras. Maiores detalhes serão dados em um futuro próximo, quando possível.

Leia também:

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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5 respostas

  1. Ola, boa tarde, obrigado pelos esclarecimentos acima;
    Confesso que, a principio, muito pouco encontro sobre o tema, e seu texto foi esclarecedor, estamos agora em 2020 e muito se passou após a publicação de seu texto, diante disto, e frente ainda ao auto custos de caixas que se dizem atmos, seu projeto me parece uma excelente opção;
    Apesar de ser possível desenvolver com as informações presente, o possui, o projeto, de forma detalhada?
    Sua resposta anterior, perdão pela falha na interpretação, acredita que usa-las como caixas Height frontais seria mais eficiente do que o seu projeto inicial apresentado aqui, sobre as torres, ou sub,?
    Novamente obrigado pelo texto

  2. Tenho uma sala de 5.00 x 7.00 onde funciona o meu home. Disponho de um Rec eiver ONKYO -tx-nr636 subwoofer ativo, caixa central frontais e traseiras JBL. que tipo de caixa devo comprar para reproduzir ATMOS e quantas? 2 ou 4. Grande abraço

  3. Boa tarde, Paulo! Li vários de seus artigos e me interessei, em especial, por este sobre montagem de caixas no padrão Dolby Atmos Enable. Estou pensando em fazer o mesmo e seguir seu tutorial, para desfrutar do padrão Atmos em um sistema que, atualmente, funciona no esquema 5.1 (Receiver Yamaha RX-A1070, trio frontal da Kef – Q300 e Q200c – e surrounds JBl Sp6ii no teto). Porém, antes gostaria de saber se, passado algum tempo de uso, você ainda mantém a opinião sobre essas caixas? Você mudaria algo no projeto? Acredita que esses alto-falantes que você utilizou seriam os mais indicados para o meu caso? Desde já, agradeço por seus eventuais comentários. Abço.

    1. Oi, Marcello,

      Eu nunca mais usei este tipo de caixa, e para te ser sincero nunca me convenci totalmente daquilo que os exegetas diziam sobre a eficiência do som batendo no teto e voltando para onde o ouvinte está. Eu diria que este tipo de layout está mais para um quebra galho. Os resultados não são ruins mas as caixas Height frontais e traseiras são as que melhor funcionam para a reprodução do Atmos como deve ser feita. Acho que você pode correr o risco e não se arrepender. Muita coisa em Atmos ou DTS:X não tem tido a expressão desejada em termos de mixagem, e a meu ver continua sendo um trabalho onde pouca gente conseguiu explorar o potencial deste tipo de mixagem.

      Por outro lado, note que o número de discos com Dolby Atmos tem aumentado bastante. Só ontem eu vi 3 lançamentos na loja que eu frequento. Então acho que vale a pena o esforço da instalação. As caixas enabled feitas em casa bem ou mal funcionam, e são infinitamente mais baratas de fabricar do que as lançadas no comércio, que irão dar o mesmo resultado.

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